domingo, 18 de agosto de 2013

OS VENDEDORES DE FRUTAS NAS RUAS DO RECIFE

 2011


Os pregões que me lembro do Recife "matuto" 

TEMA: OS VENDEDORES DE FRUTAS

Paulo Lisker 
Israel


Nas épocas de safra apareciam os vendedores de frutas "crioulas" que para os gringos eram frutas "exóticas".
Mangaba, cajá, pitomba, jamelão (deixava a língua roxa), caju amarelo e vermelho (bom danado para chupar com cachaça), banana comprida pra cozinhar e comer no café da manhã, banana maçã, muitas vezes "pedrada", porém quando sãs e maduras era a banana mais gostosa do mundo.
Muito raramente aparecia o cheiroso e gostoso araçá, já naquele tempo estava em fase de extinção assim como a mangaba, sapota, o sapoti, a cajarana e outras, pois naquele tempo não tinha como hoje quem saísse em defesa destas espécies de fruteiras nativas.
Quando aparecia o araçá nos balaios dos fruteiros, era uma festa para as donas de casa que sabiam preparar geléia desta frutinha. Sem dúvida a melhor geléia do mundo, cor linda, sabor excelente e que aroma, uma verdadeira delícia. O mundo inteiro sentia o cheiro e todos sabiam que na casa de alguem estavam preparando a tal geleia de araçá.
Um mundo de frutas de todas as cores, a jabuticaba, conhecida também como uva sertaneja, mangas "Rosa (de muita polpa pra comer), a Espada (fazer um furinho e depois chupar), a Jasmim, a rainha das mangas, também conhecida como manga de Itamaracá, igual não havia no mercado", graviolas ou pinhas, tudo isso geralmente era produzido nos quintais das casas do Recife e junto dos modestos barracos dos tais fruteiros fora da cidade.
Algo também vinha do interior próximo a capital.
Se minha memória não falha, naquele tempo, não existia plantações comerciais dessas deliciosas frutas no nosso Estado.
A nossa rua era um verdadeiro "Frutadromo", por ali passavam dezenas de vendedores ambulantes durante todas as horas de luz do dia.
O pregão de um deles no tempo do Cajá:
"JÁ CAIU CAJÁ, JÁ CAIU CAJÁ, JÁ CAIU CAJÁ.... JACAIIIIUUUUU"..
Sempre depois de fortes ventos ou chuvas que derrubavam os frutos de uma árvore majestosa, danada de alta e de tronco grosso que nem 6 pessoas de mãos dadas juntos não alcançavam abraçá-la. Nunca vi ninguém trepar nela e para que o fruto cajá fosse colhido só tinha um jeito, apanhar no chão depois de um forte aguaceiro ou ventania. A nossa empregada procedente de Currais Novos dizia: -"Mas que frutinha sem graça, pequena e só tem casca e caroço, só presta pra chupar um tiquinho e cuspir logo no monturo".
Tinha um tempo que pela cantiga do fruteiro eu pensava que o nome desta fruta era "jacaiu"!
"JÁ CAIU CAJÁ, JACAIIIUU"....
Outros que passavam por lá também era o vendedor de Pitomba, com seu pregão:
"PII-TOM-BA! CHORA MENIIINO PRÁ COMPRÁ PITOMOOOMBA, CHORA MENINO!"....
Da Banana:
-"BA-NA-NA PRATA MADURINHA, BANANA COMPRIDA, BANANINHA NANICA E BANANA MAÇÃ, A MELHOR BANANA DO MUNDO. AMARELINHA, CHEIROSA, MADURINHA DO PÉ. NUNCA CHEIROU CARBURETO! MADURINHA DO PÉ. BAAA-NA NEIRO, BANANA NANICA MADURA SEM CARBURETO".
Da Laranja:
-"LARANJA DA BAHÍA, COMUM E MIMO DO CÉU, LARANJA CRAVO, LIMA, LIMÃOZINHO DA TERRA PRA BATIDA... LARANJA. OIA A LARANJA... DOCE DOCINHA, MIMO DO CÉU!"
Do jambo do Pará:
-"JAAAMBRE (JAMBO) DO PARÁ, MADURO, MADURINHO, SEIS POR QUATROCENTOS RÉIS, JAMBRE DO PARÁ, NÃO PRECISA IR PRÔ PARÁ, TEM JAMBRE AQUI NO BALAIO. TENHO TAMBÉM JAMBRE DAGUA, JAMBRINHO DAGUA GOSTOSO. VEM DE CACHO, TEM VREMEIO (vermelho) E AMARELIN, (amarelo) DOCINHO, DOCINHO. TENHO CARAMBOLA GRANDE E DOCE. CARAMBOLA... CARAAAAAM BOLA"
Do Maracujá Açu:
-MARACUJÁ AÇU DE GOIANA, MARACUJÁ AMARELO PRA PONCHE, MARACUJÁ AÇU... BOM DANADO COME INTÉ A CASCA, OIA O MARACUJÁ "....
Era um verdadeiro paraíso de frutas tropicais que segundo as distintas épocas do ano chegavam quase todo dia às portas das nossas casas.
Estes pregões, hoje fazem parte da clássica popular deste gênero no Recife e agora só existem em museus etnológicos. Nos nossos dias os supermercados ou quitandas anunciam sua mercadoria na radio ou T.V e não em pregões de rua tão bem lembrados pelo povo.
Interessante que em geral estas frutas não eram vendidas por quilo e sim por lata (em geral pequena) ou por unidade.
Quando o interventor Agamenon Magalhães declarou a "guerra santa" contra os mocambos, o que ele não conseguiu aniquilar foram exatamente os mocambos, mas sim grande parte das fruteiras nativas em volta deles.
No grande Recife vegetavam estas fruteiras nativas também nos pequenos quintais das casas de família.
Finalmente com a ampliação da urbanização, acabaram com o restante. Derrubaram as casas antigas e seus amplos quintais, os terrenos baldios, neles sempre estavam cheias de fruteiras nativas. Tudo acabou.
Quanto lamentei (quase choro), quando derrubaram no quintal da minha casa as fruteiras seculares, a de Sapota gigante, que ninguém sabe quen e qundo foi plantada, a Goiabeira enorme, de futas vermelhas e doces, as Mangueiras, os Mamoeiros caiano, o Abacateiro, o pé de Pinha, as Bananeiras "Prata", até um pé de Coco anão que cada coco dava quase um litro d'água doce e um monte de pitangueiras das quais fazíamos ponche para o almoço. Tudo isso o "vento levou", agora só "espigões" e não de milho verde. Uma pena.

CHUVAS DAS FRUTEIRAS:
Como era comum crer que estas frutas estacionais estão intimamente ligadas às chuvas temporais da Zona da Mata, daí também o nome das chuvas: chuva do cajá, chuva do caju ou da manga.
A "chuva da laranja" era de capital importância. Se não vinham em tempo as frutas ficavam totalmente secas por dentro, especialmente a laranja cravo (tangerina) e a laranja de umbigo (laranja Bahia).
As calçadas de nossa rua eram a passarela desta gente que possibilitava nossa vida normal quando ninguém imaginava que toda esta fartura iríamos comprar nos monstros super mercados de hoje.

Todos os direitos autorais registrados.
Cuidem dos créditos.

3 comentários:


  1. Ildo Lederman, Recife.
    Eng. Agronomo. EMBRAPA.
    DISSE:


    Paulo, não só li os seus últimos pregões como tb. me chamou muita atenção, particularmente, daqueles que fazem referência as nossas frutas nativas e típicas do nordeste brasileiro.
    Manuel Bandeira, o maior de todos os poetas brasileiros, certa vez disse, ao voltar ao Recife depois de muitos anos ausente, que embora o Recife não fosse mais aquele Recife de sua infância, para ele o Recife continuaria sendo o mesmo Recife enquanto ainda pudesse encontrar nas pontes e ruas da cidade, vendedores de frutas com balaios cheios de cheirosas mangabas, sapotis, pitangas, cajás e pinhas maduras.
    Essas e outras frutas nativas foram objetos de minhas pesquisas durante o período que trabalhei na Embrapa e cujo foco foi, exatamente, fazer um trabalho de melhoramento genético dessas plantas de ocorrência espontânea via seleção de materiais promissores e que reunisse alem de alta produtividade, principalmente, qualidade dos frutos (tamanho, forma, cor e sabor).
    Alguns avanços foram feitos e alguns desses materiais selecionados já são, hoje, plantados em pomares comerciais de graviola, pitanga, sapoti, umbu-cajá e carambola.

    Um abraço,


    se...
    Ildo Lederman, Recife.
    Eng. Agronomo. EMBRAPA.


    Paulo, não só li os seus últimos pregões como tb. me chamou muita atenção, particularmente, daqueles que fazem referência as nossas frutas nativas e típicas do nordeste brasileiro.
    Manuel Bandeira, o maior de todos os poetas brasileiros, certa vez disse, ao voltar ao Recife depois de muitos anos ausente, que embora o Recife não fosse mais aquele Recife de sua infância, para ele o Recife continuaria sendo o mesmo Recife enquanto ainda pudesse encontrar nas pontes e ruas da cidade, vendedores de frutas com balaios cheios de cheirosas mangabas, sapotis, pitangas, cajás e pinhas maduras.
    Essas e outras frutas nativas foram objetos de minhas pesquisas durante o período que trabalhei na Embrapa e cujo foco foi, exatamente, fazer um trabalho de melhoramento genético dessas plantas de ocorrência espontânea via seleção de materiais promissores e que reunisse alem de alta produtividade, principalmente, qualidade dos frutos (tamanho, forma, cor e sabor).
    Alguns avanços foram feitos e alguns desses materiais selecionados já são, hoje, plantados em pomares comerciais de graviola, pitanga, sapoti, umbu-cajá e carambola.

    Um abraço,

    ResponderExcluir

  2. O escritor JACQ CANO Israel
    DISSE:

    EU TE ESCREVI QUE GOSTEI DO QUE VOCE RELATOU SOBRE O TEMA PREGÕES. ESTA BEM VIVO E ME FEZ VOLTAR AO RECIFE E AS LEMBRANCAS DOS VELHOS TEMPOS (OS MEUS TEMPOS SAO UM POUCO MAIS JOVENS, POIS EU CHEGUEI AO RECIFE SOMENTE EM 1947).
    UM ABRAÇO E CONTINUE SENÃO FICA TUDO NO ESQUECIMENTO.
    UM FORTE ABRAÇO.


    Faça um comentário


    ResponderExcluir

  3. Dr.Ildo Lederman, Recife.
    Eng. Agronomo. EMBRAPA.


    Paulo, não só li os seus últimos pregões como tb. me chamou muita atenção, particularmente, daqueles que fazem referência as nossas frutas nativas e típicas do nordeste brasileiro.
    Manuel Bandeira, o maior de todos os poetas brasileiros, certa vez disse, ao voltar ao Recife depois de muitos anos ausente, que embora o Recife não fosse mais aquele Recife de sua infância, para ele o Recife continuaria sendo o mesmo Recife enquanto ainda pudesse encontrar nas pontes e ruas da cidade, vendedores de frutas com balaios cheios de cheirosas mangabas, sapotis, pitangas, cajás e pinhas maduras.
    Essas e outras frutas nativas foram objetos de minhas pesquisas durante o período que trabalhei na Embrapa e cujo foco foi, exatamente, fazer um trabalho de melhoramento genético dessas plantas de ocorrência espontânea via seleção de materiais promissores e que reunisse alem de alta produtividade, principalmente, qualidade dos frutos (tamanho, forma, cor e sabor).
    Alguns avanços foram feitos e alguns desses materiais selecionados já são, hoje, plantados em pomares comerciais de graviola, pitanga, sapoti, umbu-cajá e carambola.

    Um abraço,


    O escritor JACQ CANO Israel
    DISSE:

    EU TE ESCREVI QUE GOSTEI DO QUE VOCÊ RELATOU SOBRE O TEMA PREGÕES. ESTA BEM VIVO E ME FEZ VOLTAR AO RECIFE E AS LEMBRANCAS DOS VELHOS TEMPOS (OS MEUS TEMPOS SAO UM POUCO MAIS JOVENS, POIS EU CHEGUEI AO RECIFE SOMENTE EM 1947).
    UM ABRAÇO E CONTINUE SENÃO FICA TUDO NO ESQUECIMENTO.
    UM FORTE ABRAÇO.


    Faça um comentário


    ResponderExcluir