Será que ele conta a verdade ou é tudo lenda pra netinho?
DAS CONVERSAS COM MEU AVÔ
Tema: Será que ele conta a verdade ou é tudo lenda pra netinho?
Paulo Lisker, de Israel
Como não tínhamos fontes mais fidedignas para comprovar o passado do "semi Deus" (nosso avô) em Viena, me permito relatar o que se passou com meu primo, o medico Dr. Shneier, recifense e também neto do nosso avô materno, o Sr. Joseph Weinberg.
Depois de muitos anos este meu primo médico, foi a Europa e visitou Viena, a terra natal do nosso avô.
Lá constatou a existência da tal Casa de Espetáculos (que ele contava da qual era sócio), constatou a presença de inúmeros fotógrafos ambulantes na praça central da cidade que vendiam um postal com tua foto junto ao Molin Rouge em Paris ou na Praça Vermelha em Moscou ou no Corcovado com um zepelim no ar. Tudo era foto montagem da melhor, mesmo nos anos 20 do século passado quando por lá vivia meu avô.
Isto posto, já não ponho "minha mão no fogo" nessas estórias do ancião "semi-Deus" com o carro de luxo e a casa de espetáculos, quem sabe tudo eram "estórias da carochinha" para guri novo e enaltecer o seu passado na Europa.
Depois com mais idade fiquei sabendo que era uma praxe dos judeus vindos da Europa, trazer este tipo de fotos para o "novo mundo" com o intuito de "se mostrar" ( fazer-se figura importante). Eu mesmo vi fotos dessa gente, fardado, com dezena de medalhas ganhas por honra ao mérito nas mais sangrentas batalhas, que nunca existiram na realidade e se consideravam "polkovnick" ( general ou marechal no idioma russo).
Mas quem sou eu para por em duvida o "bem estar" desta gente anciã "fazendo farol"(se mostrando, se enaltecendo do que não possui na realidade), perante a comunidade de emigrantes.
Pode ser que tudo isso tem muito mais imaginação do que a verdade!
Assim é a vida, nem tudo é real foi para isso que o criador nos colocou o cérebro e ele danasse a imaginar coisas.
Este meu primo já que estava em Viena foi ao antigo cemitério judeu (judeu tem um apego enorme a cemitérios, para mim inexplicável) e realmente encontrou a sepultura da nossa "bobe" (avó, em iídiche).
O seu nome era Pessie (meu nome Paulo foi-me dado em lembrança a esta minha avó e não em homenagem ao apostolo Paulo o seguidor de Jesus).
Segundo consta na laje, a data do falecimento, aconteceu antes do meu avô viajar em busca de uma vida melhor na América do Sul.
Vale a pena relatar um episodio engraçado (humorístico em nordestino) que se passou com este meu primo durante a sua visita a Viena.
Ele sempre quando era menino ouvia os descendentes austríacos de família contar que um dos pratos mais apetitosos da cozinha vienense, era "Ganso Assado na brasa" (Eine Guebratene Katshke).
Entrou ele no mais elegante restaurante na "Franziozef Platz", sentou-se e nem olhou o cardápio.
Ao se aproximar o garçom, sem titubear fez o seu pedido do prato que imaginava toda a vida saborear. Comer um "ganso assado na brasa" em Viena.
"Metralhou" com a maior segurança e água na boca (fenômeno de Pavlov) o seu pedido: "Eine gebratene Katshke", bite shein!(um ganso assado, por favor)!
O garçom ficou estupefato.
- O que deseja o senhor? Perguntou mais de uma vez e meu primo voltava a fazer o mesmo pedido.
Foi chamar outro garçom e este chamou um outro, e nada.
Ninguém entendia o que queria este jovem com um pedido tão estranho!
Então foram chamar o "maitre" do restaurante e depois para encurtar a estória, o próprio Chef da cozinha e o impasse não se resolvia.
Meu primo pedia "eine gebratene katshke" e agora só faltava chorar de desespero e ninguém da equipe completa do restaurante, em volta de sua elegante mesa, entendia do que se tratava.
Perguntaram de qual região da Áustria ou Alemanha era ele, possivelmente poderia ser uma especiaria assim denominada nas áreas montanhosas longínquas ou dos vales do Reno.
Meu primo Dr. Shneier já pensava que não estava na Áustria e que desceu num aeroporto errado.
Desesperado quase chorando ao ver a situação caótica, conseguiu dizer: "Ich bin Von Brazilien, aus Brasil", filhos duma peste, vocês não entendem alemão?
Começou fazer pantomima, fazia com as mãos azas, com dedos penas, grunhia: quá, quá, quá, mostrava o lugar do fígado (ele é medico), riscou fósforos e imitou como se preparasse brasas, fez os chiados parecidos e nada.
Ai europeu da "cabeça do caralho" exclamou frustrado danado, cheguei do outro lado do mundo, me sento no melhor restaurante de Viena e este bando de jumentos não entendem o meu pedido!
Por favor, me tragam "Eine guebratene catshke", ignorantes!
Todos os clientes do restaurante de luxo deixaram a comida e passaram a acompanhar o desenrolar deste acontecimento fora de serie que estava se desenvolvendo no mais famoso restaurante vienense.
Um dos garçons sussurrando diz ao Chef:
"Ehr iz von Brazilien, das iz deutch von Rio Grand du Zul"! (Ele é brasileiro, isso é alemão "pé duro" do Rio Grande do Sul).
O Chef suava feito um desesperado, não sabia onde meter as mãos. Mandou chamar imediatamente o faxineiro brasileiro gaúcho, responsável pelo preparo de brasas no restaurante (até na longínqua Europa sabiam da "arte de braseiro" dos gaúchos).
Ele veio "bancando o dunga" e foi logo perguntando:
- O senhor quer churrasco não é?
- Não, responde o meu primo Dr. Shneier:
- Conterrâneo, o senhor me desculpe, mas essa "corriola de metidos a bestas" são um bando de ignorantes. Eu quero uma Gebratene Katshke! Não tem? Digam que não tem e pronto! E obrigado por querer ajudar, mas nem sempre dá certo. Mais uma vez obrigado e manda este bando de brancos de merda tomar no cú, ta?
Não só ele chorava de desgosto, porém toda equipe de serventes do luxuosíssimo restaurante vienense, reconhecido por "Michelin" como um dos melhores da Europa.
Saiu o coitado do luxuoso restaurante com o "rabo entre as pernas", babando a saliva ocasionada pelo fenômeno do conhecido "Efeito Pavlov". Xingava a mãe dos austríacos colaboradores dos nazistas na segunda guerra mundial.
Já no táxi, dizia ao chofer que não entendia patavina de português: Estes filhos de uma égua não queriam me servir o delicioso prato, só porque sou judeu. Isto é produto da educação racista que receberam na infância amamentada com o leite dos pais nazistas, filhos de uma grande puta....
Foi dormir com fome e arretado da vida.
Voltou meu primo para o Brasil e só aqui lhe explicaram que iídiche é parecido com alemão, mas não é alemão, ainda mais na Áustria que cada área tem uma variação deste idioma materno.
"Gebraten" é alemão, porem "Katshke" não é alemão e sim iídiche derivado do polaco, que significa pato.
Em alemão deverias pedir "Eine gebratene Ganz", então receberias o prato que tanto sonhaste comer durante todos esses anos.
Agora quem sabe quando está oportunidade voltará a se realizar, talvez nunca mais.
Todos os direitos autorais reservados.
08/8/2012

ResponderExcluirDr.M. Rosenblatt- Israel
DISSE:
Nesse momento terminei de ler.
Sem comentarios.
Mesmo porque odeio a Austria.
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Izaias Rorenblatt- Recife
DISSE:
O Schneier da minha infancia era uma grande figura. Da ultima vez que o vi as doencas tinham reduzido ele a uma sombra do que foi um dia. Pena. Como está ele hoje ?
Um dia eu e minha ex mulher entramos num restaurante de Munique e pedimos um prato mit zvbln, e o cara teve que trazer na mesa o tzibales para gente morrer de rir com a cebola...rs
Acontece!
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Izaias Rosenblat- Recife.
DISSE:
Claro que gostei da crônica. Problema é que isso só fala pras gerações de 60 a 70 anos. Pessoas, situações, cenários, preservação de historias da comunidade nos anos 40-50.
As novas gerações já não lembram de nada disso, e hoje se viaja com facilidade, não ha jovem aqui que não tenha ido a Europa e aos EUA. E muitos já se aventuraram pela Ásia. Fico feliz que Schneier e Amos estejam bem. Pessach era meu amigo de infância e o filho dele Daniel nasceu no mesmo dia do meu filho Sami em 76. Daniel casou com uma moça goia, acho que aqui no Recife. Encontrei-os um dia no mercado da Boa Vista.
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Blogger Passiflora disse...
Paulo Lisker autor do texto-Israel
Responde as inquietudes dos amigos de Dr. Shneier:
Dr. Shneier está bem e já nos visitou em Israel diversas vezes e sempre nos traz farinha de mandioca, carne de charque e as vezes até umas postas de bacalhau, tanto para nós como para os Mutchniks, para que não esqueçamos o gostinho brasileiro.
Gostou da crônica que envolve a figura dele?
Aí se se não fosse eu, quem lembraria a nossa gente do Recife. Diz tu!
Um abraço e obrigado por retransmitir para os amigos.
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Israel Coslovsky, São Paulo-Brasil
DISSE:
PAULO
ENCONTREI O TEXTO.
PERFEITO! É UM DOS MELHORES QUE V. JÁ PRODUZIU, HUMOR NA DOSE CERTA.
MEU ÚNICO COMENTARIO, SE V. ME PERMITE: PARA EFEITO DE PUBLICAÇÃO, DIMINUA OS PALAVRÕES UM POUQUINHO, MESMO QUE ISSO REDUZA UM POUCO O HUMOR DA PEÇA...
UM ABRAÇO
NECO
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