segunda-feira, 5 de agosto de 2013

O sítio encantado -( Parte 2)

 2013


O sítio encantado - Parte 2



O SÍTIO ENCANTADO - Parte II

Paulo Lisker, de Israel
O gosto da manga Itamaracá, só tinha uma árvore no sitio e quem sabe no Recife todo. Eu que andei pelo mundo tropical nunca saboreei uma manga tão gostosa assim, totalmente sem fibra, polpa pura.
Esta árvore magnífica estava encostada ao paredão do fundo do nosso quintal e quando estava carregada de frutas maduras e a brisa das 22 horas balançava seus enormes galhos, caia uma dezena dessas mangas no telhado dos quartos dos fundos.
De manhã logo cedo as empregadas recolhiam as mangas e serviam na hora do almoço.
A mesma rotina com uma linda árvore de jambo do Pará, este exemplar superou o desmatamento dos padres Maristas e continuou produzindo por muitos anos mais.
Ai, meu Deus. Neste sitio poderia também morar Tarzan, tinha de tudo.
Árvores de trapiá, ingá, tamarindo (só de pensar me vem água na boca) araticum do mato (cagão), mata fome ( umas frutinhas vermelhas por fora e de polpa branca), diziam que quem come estas frutinhas, não tem fome uma semana. Nem os filhos do senhor Ramos se atreviam a prová-la, de mim nem se fala, medroso que eu era!
Assim mais afastado, lá pro lado da Rua do Hospício perto do cinema aberto do Parque, tinha umas árvores de madeira boa pra móveis ou construção, uns pés de jenipapos e outras árvores da mata litorânea.
Encostadas nos muros (verdes de musgos), centenas de pitangueiras de tudo que é cor, mamoeiros de tudo que é tamanho, formas e paladares. (Diziam os "entendidos" que mamoeiro, só vegeta encostado a paredes, nunca no meio do mato).
Numa oportunidade o senhor Ramos nos regalou uma dúzia de mudas de mamão "caiano", sem sementes e que plantamos no nosso quintal, frutificava cedinho, eita mamão bom danado.
Naquele tempo não entendia como sem sementes, o danado do mamoeiro se reproduzia!
Coqueiros, dois ou três que alcançavam as nuvens.
Bananeiras da banana comprida (pra cozinhar) e banana maçã (às vezes "pedradas"), mas aquelas que não, tinham o paladar melhor do mundo.
Toda variedade de manguitos, oitis, jambo comum (rosado e branco, que produziam frutas em cachos), araçá, mangaba do mato e até um pé uva sertaneja (jabuticaba), enormes jaqueiras (dura e mole).
Sapota e sapotí, uma enorme goiabeira de frutas de polpa vermelha e que vivia em simbiose mais que perfeita, com as galinhas carijós, bravas danadas.
Ao anoitecer as galinhas costumavam trepar nos galhos mais altos para dormir. Durante o dia viviam a devorar os milhares de cupins que encontravam na majestosa goiabeira, um lugar ideal para sua instalação e procriação!
Todo o tempo que o galinheiro existiu a árvore tinha esta defesa natural. Ao diminuir a quantidade de galinhas, o cupim conquistava galho atrás galho e levava a árvore à morte lenta!
Meu avô, senhor José, escutou do problema relatado pelo seu amigo o vigia senhor Ramos e imediatamente pediu a um dos seus vendedores que mandasse trazer de Paulista ou do Camaragibe, uma centena de frangos e frangas, que depois de uns dias chegaram em balaios carregados na cabeça dos carregadores, contratados pelo vendedor Valdemar nos sítios daqueles arrabaldes.
A batalha entre os insetos e as aves, foi ganha pelas últimas e a goiabeira continuou se desenvolvendo e produzindo.
Era tanto, que os vizinhos recebiam cestas ou latas cheias de frutas maduras e cheirosas para fazer doce ou geléias, o restante era comida para as valentes galinhas que se alimentavam totalmente do natural, (cupim vivo e goiaba madura que caia no chão).
Estas galinhas nunca nem cheiraram um grão de milho ou outro qualquer cereal.

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Fim da segunda parte de quatro do "SITIO ENCANTADO"

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