sexta-feira, 19 de setembro de 2014

PROBLEMAS EM TRIUNFO



                                                    Foto Internet- Google


"UM AMOR IMPOSSÍVEL"
 Paulo Lisker
 Israel.
Tema: Problemas em Triunfo.
                                                                       "BORRADOR"

Quando se diz que "nem tudo que reluz é ouro, nem tudo que balança cai",  pode acontecer também entre amantes, assim como no caso de Dadinho e Susana.
Depois de seis meses em Triunfo, a vida começou a ficar chata e monótona.
Dadinho longe das farras com os estudantes no Pina, ou os encontros com os músicos e poetas em Olinda, discussões calorosas sobre a política com os amigos, agora estava só e praticamente sem amigos.
Os outros professores não escondiam a inveja do moço que conseguiu em pouco tempo colocar na cabeça dura dos alunos o amor pelos estudos, em especial nas matérias que ele ensinava, Historia do Brasil e Geografia.
Não podia mais esconder as intentadas das professorinhas em querer "tirar linha"(namorar, na língua da rua) com ele e fazia tudo para que estas relações aplatonicas, não viessem ferir a sua Xóxa, o seu xodó, e a primeira paixão da sua vida.
Ele se tornou uma sombra do que era no Recife.
A sorte era que o diretor do colégio e os alunos o adoravam, isto ainda o segurava de pé.

Por outro lado Susana,esta jovem moça judia, tinha um sexto sentido.
Nos poucos meses que trabalhou na comissão de indenização por perdas das estiagens, sem experiência nenhuma, descobriu que grande parte das queixas que os agricultores alegavam terem sido vitimas e que ela preenchia nos formulários, era tudo mentira.
A única camionete "Fargo" que estava à disposição do DNOCS, para inspeções, estava mais tempo parada por problemas mecânicos, falta de peças de reposição, ou mesmo falta de verba para o combustível, coisa muito comum no interior do Estado, ninguém sabia onde metiam as verbas que deveriam ser dedicadas ao funcionamento normal das coisas.
Eu que o diga, pois trabalhei em extensão rural e me deparava com tais fenômenos negativos "a três por quatro" no interior do Brasil.
Às vezes era mais fácil conseguir verba para alugar uma avioneta e realizar este serviço de extensão do que manter os meios de transporte terrestre em dia.
Isto posto, sabendo que não haveria nenhum meio de fazer as inspeções, os camponeses e donos de terras inventavam prejuízos e vinham registrá-los na comissão, para receber indenização.
Era a tal estoria da "indústria da seca", vigente e muito conhecida no Polígono da Seca do Nordeste brasileiro!
Mas quando Deus quer, "até uma vassoura dispara" e numa bela manhã a tal camionete "Fargo", estava "tinindo"( pronta) para sair ao campo com o topógrafo com o seu teodolito a fita métrica e ademais o técnico agrícola com os mapas das propriedades rurais. 
Ele era lotado em Bezerros, porem veio substituir ao Orlando o técnico local, que estava de ferias pelo luto da morte de sua bisavó em Caruaru.
No interior tinha dessas coisas, a avó ou a bisavó "morriam diversas vezes" assim também se conseguia  as despesas pagas das "ferias".
O topógrafo, o senhor Pedro Velho de Arruda, uma pessoa muito educada e prestativa propôs a senhorita Susana que os acompanhasse nesta saída ao campo para que tenha a idéia do que ela registrava nos formulários oficiais da repartição.
Ademais passariam por uma ou duas "feiras de rua" e lá poderia comprar artesanato que tanto procurava, assim como o "fumo de corda", que prometera trazer para as faxineiras do hotel onde estava hospedada e que fumavam cachimbo de barro, feito artesanalmente.
Para falar serio, na realidade eram as únicas amigas de verdade, que ela tinha em Triunfo.
Assim foi, saíram as 08 h.30m. e às 15 horas já estavam de volta, porque começava a chuviscar.
Voltaram com os dados necessários para escrever o relatório mensal.
Susana estava perplexa, 80% do que registrou da boca dos agricultores, não tinha cabimento.
Os terrenos não foram nem semeados, as sementes que receberam grátis do Departamento de Fomento Agrícola, foram vendidas a terceiros para alimentar aves e porcos.
Esta não era a primeira nem segunda vez, que estas mesmas pessoas alegavam danos. Assim também nos anos anteriores.  Assim testemunhou o topógrafo e também o técnico agrícola.
O pagamento pelas perdas que nunca existiram, essa gente recebeu não mais tarde que de quatro a seis meses.
O topógrafo e o técnico agrícola assinaram os documentos como se fora tudo verdade, fizeram medições, acrescentaram quais restos de "cultivo imaginário" que ainda estavam de pé e secos no campo. Assim funcionava a coisa!
É a tal estória, "uma mão lava a outra", ninguém quer se complicar nesta curta vida.
O técnico, com um sorriso amargo disse: "Eles que são brancos, que se entendam".

Alertaram a dona Susana para que não faça "onda" e não fale nada pra ninguém, pois para eles é o único "ganha pão": - Se abrimos o "bico", amanhã no mais tardar, estaremos no "olho da rua" (desempregados).
Susana prometeu não relatar nada pra ninguém, ela não queria prejudicar a esta gente humilde que não tem para quem pedir socorro caso sejam despedidos. 
No seu coração jovem, ainda puro e honesto, "uma voz" se revoltava e ela resolveu pedir demissão e contar tudo a Dadinho depois da ceia na pensão.
Assim foi, depois da ceia, sentaram no terraço traseiro da pensão e ficaram uns minutos aspirando o ar perfumado da noite.
Em volta estavam os velhos jasmineiros todos floridos com flores bancas, camélias carregadas de cachos de flores com cheiro de mel, uns "paus" (arvores, assim denominadas no jargão da rua) de limão "galego" em plena floração também.
Nesta atmosfera embriagadora do jardim do paraíso, não era o clima mais propicio para relatar o que Xóxa tinha pra contar a Dadinho!
Mas a coisa estava no gogó (garganta) dela, "nem engole nem vomita".
Ademais lhe invadia um medo danado, que no final das contas, se a coisa for descoberta, poderiam acusá-la de receber coima (suborno) dos produtores para assinar as petições sem pedir ou receber nenhum suporte profissional  que pudesse confirmar as perdas causadas pelas estiagens.
Quase chorando soluçou: - Sou uma tola e inocente que acreditei em tudo que me relataram.

Dadinho escutou a estória contada por Susana, viu ela tremula e o temor nos seus olhos, porem sem ficar nada apavorado abraçou-a,  e disse:
-Minha querida, não te meta nisso, tu achas que alguém tem interesse em remediar esta situação?
Esta roubalheira é coisa normal aqui, no Estado e no interior do Brasil todo.
Todo mundo sabe, mas ninguém faz nem pode fazer nada, todos pensam nas eleições e querem ser candidatos.
 Quem se meterá a ser "Caxias" (Honesto, no jargão do povo) e irá em contra o seu eleitorado potencial, trazendo as leis e a justiça para o campo. Nenhum "cabra safado" dessa laia tem coragem.
Ninguém sofre com esta safadeza, no final das contas o Brasil é quem "paga o pato".
Pois é minha filha, não se meta nisso, a coisa é uma grande sujeira, faça de conta que não viu nada.
O "voto de cabresto" continuará a eleger estes indecentes, sem vergonhas e por que não dizer "grandes ladrões".
Susana não sabia onde meter a cara e exclamou:
-Hoje é quarta feira, amanhã irei arrumar a minha sala, entregar o que ainda está pendente e  na segunda feira, se Deus quiser levo para o chefe do gabinete o licenciado Senhor Pedro Filipe das Chagas, a minha carta de demissão. 
Dadinho, eu não tenho natureza para tal tipo de relacionamento  com o meu trabalho. Eu prefiro ir vender bananas na feira, que fazer esta sujeira de estar enganando o Cofre Publico.
Ela abraçou a Dadinho e disse:
-Não fique triste meu amor, melhor ter uma companheira honesta vendendo banana e cocada na rua, que uma sem vergonha fazendo "jogo sujo" (Ludibriando, no jargão do povo) para ganhar uns contos de réis por mês. Vamos dormir menino, já está tarde.   
Tarde no interior é quando às 22 horas  começa a soprar o vento dos vales internos da região seca do sertão.

Fim da parte "Problemas em Triunfo", (Um amor impossível - Novela).
Paulo Lisker.
 Israel.
Todos os direitos autorais reservados.
Cuide com os créditos
A seguir: "NUVENS NEGRAS".