segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

IPÊ ROXO - HA TORAH

O pergaminho onde se escreve a TORÁH

                       O "SIDUR" o livro de rezar  judaico.
                                        (Fotos Google Internet)


"UM AMOR IMPOSSÍVEL" 
Paulo Lisker
 Israel
(parte 8)
Tema: O Livro Sagrado, "Ha Toráh".
                         "BORRADOR"                         


Dona Genoveva veio avisar que a ceia está posta na mesa e que todos estão convidados a lavar as mãos e sentar-se para jantar.
A caixa com a "judaica" foi levada de volta para o "quarto escuro", até amanhã de manhã quando seria novamente analisada. 
A pedido do Licenciado senhor Efraim deixaram uma caneca para que ele  lavasse suas mãos antes de sentar para jantar. Vale a pena lembrar que judeus religiosos lavam as mãos despejando a agua duma caneca e nunca diretamente da torneira ou da fonte.
A explicação para esta atitude francamente desconheço, porém busco saber com algum entendido na matéria. 
Uns dizem que a agua que vem diretamente da torneira ou no passado longinquo duma fonte pode estar impregnada de impurezas grosseiras e ao colocar antes num recipiente, possivelmente possibilitará retirar tais impurezas antes de usar a agua. Tem quem diga ou interprete esta maneira de utilizar a agua, como um costume muito antigo que enraizou com os anos e se tonou tradição de uso cotidiano até os dias de hoje. 
Este povo tem uma quantidade enorme de cuidados no seu dia a dia (Filosofia de comportamento) e quem sabe lhes possibilitou manter-se isento de muitas doenças que poderiam ser fatais na épocas em que a medicina nem tinha vindo ao mundo. E aí ficou até os dias de hoje como uma herança do passado.
Quase não se falou durante a ceia, dona Genoveva sentou e deixou a empregada que vinha nos dias de visitas dar um mão nos trabalhos caseiros e servir a comida.
Como sempre, no jantar era servido ovos da granja, cocretes de verduras, carne de pato, temperado com "peri peri" e outros condimentos de cheiro e gosto, pois sem eles esta carne, não "tem graça"(insípida), acompanhava arroz, pão comprado numa padaria próxima, café coado no bule e uma fatia de queijo tipo "coalho de Minas" e umas fatias de goiabada "Peixe", de Pesqueira.
Ao terminar fizeram a digestão deitados nas redes no alpendre. Beberam agua fria das quartinhas e foram dormir.
A empregada tinha seu quarto para pernoitar e ajudar no dia seguinte.
O amanhecer do campo é mesmo madrugar.
Já às 4 da manhã a empregada e dona Genoveva estavam de pé, atiçando o fogo e preparando o "pequeno almoço" (uma expressão que só ouvi no interior).
Este "pequeno almoço" (às 5 horas da manhã é o nosso conhecido café matinal).
Prepararam num dos terraços, uma bacia com agua morna,  um pedaço de sabão de coco, uma toalhinha de rosto para o licenciado se lavar ao despertar.
O coronel tomava uma ducha de agua gelada que vinha da caixa d'água no telhado.
Interessante que o coronel ao se banhar cantarolava ou assobiava  o hino francês "La Marselhesa", lembrança ruim do tempo que fez em Toulon, na França, o curso de artilharia quando servia no glorioso exercito brasileiro!
Então em qualquer dificuldade da vida, era o que lhe saia dos lábios.
Na mesa do "pequeno almoço" como de costume, o café da terra cheiroso demais, macaxeira rosa com manteiga, mingau de maizena, (com canela e cravo da Índia), estrias de carne do sol e a eterna fatia de queijo com goiabada de sobremesa.
Os guardanapos muito brancos com monogramas em azul, o açucareiro com açúcar mascavo úmido, produto de algum engenho vizinho, o saleiro e o paliteiro, sempre estavam presentes. Este último, em forma de um peru ou um bacurau e neles estavam espetados os palitos (coisa comum no interior), pois no fim de todas as refeições era um prazer e costume fazer uma pausa para "palitar" entre os dentes.
O coronel costumava dizer: "Uma refeição de pobres numa casa humilde", só depois disso, era servido o café aromático fumaçando no bule. 

O coronel continuava relatando a Dadinho o desenrolar deste encontro com o licenciado senhor Efraim.
Dadinho e Susana sentados abraçados na rede escutavam e tragavam as palavras do coronel como se fosse o melhor néctar de Fruta do Conde (Graviola).
Continua o coronel: A caixa estava em cima da mesa, o licenciado tirou com muito cuidado o "rolo de pergaminho" e começou a desamarrar os nós das fitas que o amarravam.
Não durou mais que 2-3 minutos e tudo já estava desatado.
Aí começou o verdadeiro trabalho, abrir o rolo que tantos anos estava sem uso.
Todo cuidado era pouco, sem danificá-lo nem com o mínimo arranhão no pergaminho, ou em qualquer letra do texto.
A coisa não era fácil, claro que seria mil vezes preferível, fazê-lo num laboratório como na universidade de Pádua.
Mas estamos no Ipê Roxo, em Triunfo e estas eram as condições existentes. Então tocamos para frente.

Devagarinho, devagarinho, o licenciado suava frio e ia abrindo o "Livro dos Livros", a Toráh dos judeus.
A cada movimento se escutava nitidamente o ruído como ela ia se "descolando" uma face da outra e o licenciado sussurrava:
Está escutando senhor coronel, este é o cantar sagrado da "Torah" ao receber novamente a liberdade.
Esta é a sua função principal, sempre estar às ordens, aberta para o uso religioso, nas rezas do seu povo.
Ele parou por uns minutos, estava muito tenso e necessitava um descanso.
Pegou na mão do coronel e o aproximou, venha ver coronel, veja como as letras são tão bonitas, veja que caligrafia, e esta tinta preta dá a impressão que as letras estão em alto relevo, não é?
O coronel nem respirava, só balançou a cabeça em sinal de aprovação.
Dona Genoveva, trouxe limonada e bolachinhas caso os "arqueólogos" tivessem alguma necessidade de mastigar algo, vivendo este clima de tensão danado, desde manhã cedinho.
-Você sabia coronel, naquele tempo não se comprava a tinta na quitanda, esta tinta é algo muito especial, não é tinta comum.
A tinta para escrever no pergaminho uma escrita duradoura e que não desbote com o tempo, era feita artesanalmente pelo escriba.
Dizem que da casca de uma árvore do deserto  de nome "Rotem" ou de um inseto parasita dos Cactos que ao esmagá-lo liberta um liquido que se utiliza como base da tinta!
Tinha que ser um "alquimista" para conseguir esta tinta tão preta e lustrosa. 
Como não ficou nada documentado como esta tinta era elaborada, paira a duvida se foram realmente estes os métodos usados. 
O instrumento para escrever era um estilete de madeira ou a pena de um ganso ou outra ave de penas longas.
O profissional que se dedicava a esta arte deveria ser um tipo muito especial. Religioso, honesto, não carregar maldade nem crimes de espécie alguma, humilde, bom pai de família e quase sempre um pobre necessitado. Deus o utiliza como seu escrivão.  Este profissional "escriba" denominam em hebraico,   "Sofer Stam".

Tomaram a limonada e o licenciado voltou a sua faina de descolar o rolo e abrir o rolo da Toráh.
O coronel indagou-lhe:
-Me diga senhor licenciado, vosmecê no "fim dos contados", poderá me dar à informação com o que já temos em mãos, qual seria a origem verdadeira de meus antepassados, os Barbur*?
-Não sei não, senhor coronel!
Se não encontrar as pistas para isto nestas escrituras ou nos outros objetos do ritual judaico contidos na caixa, então com certeza, só no bom laboratório como o da universidade de Pádua, terá o prazer de responder a esta sua inquietude.
Chegaram ao fim do rolo sem que houvesse o mínimo problema de espécie alguma, intacto. (Kasher le Mehadrin).
Porem a grande surpresa foi encontrar (o que não é comum) um pequeno "bilhete" em papel arroz.
Ali poderia estar contido todo o segredo de quem encomendou ou de quem escreveu este rolo das escrituras sagradas.
-Confesso francamente senhor coronel, o idioma usado não é o hebraico usual das escrituras, parece que é Aramaico, um idioma que antecedeu ao Hebraico, porem ainda não tenho certeza, possivelmente poderia pertencer a uma das ramas do judaísmo.
-Oi, se surpreendeu o coronel, o judaísmo tem ramificações?
-Sim senhor, os Hebreus depois da conquista de "Sion", eram compostos de 12 tribos**, diz o licenciado. 
Quando dividiram o território foi doada a cada uma delas, a sua gleba.
Claro  que sem alterar uma letra das escrituras, poderia cada tribo interpretar as escrituras de sua maneira e criar tradições diferentes.
Bom, mas isso foi no passado longínquo.
Hoje, na diáspora do povo judeu, causado pelo êxodo imposto pelos conquistadores romanos, a Bíblia continua sendo a mesminha em qualquer parte do globo onde se encontram os judeus, sem botar ou tirar.
Porem as diferenças nas tradições se faz sentir.
Hoje temos judeus Sefardim (de origem oriental), Ashkenazim (de origem leste europeu), Karaim ( do Egito que só aceitam o testamento escrito, sem emendas do " Shulhan Aruch"), Teimanim (originários da península arábica e que se dizem ser os verdadeiros judeus, pois nunca se mesclaram com outro povo), Kuzarim ( convertidos pelo Rei deste povo , nas estepes  da Rússia), Falashmura (originários da Abissínia, hoje Etiópia), Bnei Menasse ( se dizem filhos da tribo perdida Menashé e hoje vivem na India), os Samaritanos (que nunca abandonaram a área da Samaria e hoje restaram um grupo pequeno, pois proíbe casamento com outros grupos judeus, desta forma ficaram reduzidos a umas poucas famílias em Nablus e nas proximidades da cidade milenar de Jaffa), com certeza existem outros grupos humanos de judeus ainda não detectados ou escondidos, dizem que mesmo no Portugal e Espanha eles vivem escondidos, na rua agem como bons cristãos e de noites ou nas festas judaicas retiram dos esconderijos os apetrechos de seus avós e celebram de janelas fechadas no ferrolho os rituais judaicos.
A Inquisição na península Ibérica, foi a causadora desta moderna  dispersão pelo mundo depois daquela causada pelo Império Romano, no tempo de Jesus Cristo e lá vai para quase 2000 anos.

Agora nos resta definir a qual desses grupos pertenceu à família Barbur.
Vamos tentar decifrar o "bilhete" deixado pelo escriba, quem sabe lá encontraremos a resposta ao que buscamos.
Senhor coronel tem por acaso uma lupa para aumentar o tamanho do escrito no tal bilhete?
-Como não, claro que tenho ,comprei mais de uma para Ramiro, quando fez o curso de entomologia pratica, na escola técnica de Tapera. Espere aí já vou buscar!
O licenciado murmurava para si mesmo:
-Meu Deus que sorte ter encontrado estas relíquias aqui no Ipê Roxo em Triunfo.
Isto vale cem vezes mais do que as lajes de falecidos judeus ou cristãos novos, que procuro e não encontro.
Dizem que a razão disso é que enterraram os judeus e os cristãos novos, nos cemitérios comuns.
Será possível que com tanta documentação existente, nomes, atuação na comunidade e na sinagoga, datas de nascimento e óbitos, como é possível que num cemitério cristão no Recife ainda não detectaram uma única sepultura desses finados.
E "falando com seus botões", lembrava do que afirmava um brasileiro que estudava com ele na universidade de Pádua, que no Recife, mas não só lá, a igreja católica fez tudo para apagar, fazer desaparecer, desorientar, desnortear, a todos aqueles que buscam estes últimos vestígios deste fenômeno no Nordeste.
Quem sabe, pode ser!
Nunca houve um grande "amor" pelos judeus por parte da igreja católica, nem no nordeste do Brasil, nem no mundo cristão em geral.
Complementou a informação afirmando que na União Soviética, fizeram o mesmo com a historia dos "Kuzarim", não se encontram vestígios de um povo enorme que desapareceu como por encanto, tudo isso para evitar que conste na historia soviética que existiu lá, um povo de religião judaica com Rei, exercito, cidades e um enorme território independente.
Segundo minha maneira de pensar eles não poderão esconder os fatos por muito tempo, pois no futuro sem o comunismo, se Deus quiser, a nova geração de estudiosos farão as pesquisas necessárias e "desenterrarão" a verdadeira historia dos judeus "Kuzarim".
O licenciado falava para si mesmo como se tivesse perdido o juízo.
Aí, neste exato momento voltou o coronel com duas lupas que o licenciado pediu para ajudar a desvendar o que contem o bilhete do escriba.
Depois de examinar e ré examinar o minusculo "bilhete", tirou a primeira conclusão:
Está escrito em hebraico e árabe, não é aramaico como pensei antes de analisar mais a fundo.

Em tradução livre diz o seguinte:

Eu, Moshé Ben Rachel Pinto, damasquenho, escriba de Deus, coloquei neste pergaminho a "toráh" divina, ditada pelo Senhor.
Eu servo do senhor, só servi com a minha mão humana, para registrar os fatos que Deus me ditou.
Este livro sagrado é dedicado a memoria do venerável rabino e patriarca da família Barbur, o respeitável e o mais humilde dos humanos, Shmuel Ben Sara Rivká Ben Barbur. 
Originários do Marrocos viveram lá muitos anos, depois se passaram para a Turquia e lá também se assentaram por seculos.
A família inteira abandonou a Turquia com destino a "Eretz Israel",  nesta viajem se salvaram, com a ajuda de Deus do naufrágio da embarcação, chegando por um milagre divino, são e salvos as costas da Síria.
Aqui viveu, construiu uma sinagoga criou uma grande família de justos (tsadikim) ***  e sempre contribuiu com dinheiro para "tsdaká ve matan be seter." ****
Deus abençoe esta "família de justos", (mishpahá tsadeket). ***** 
 (Contribuições anónimas, para evitar a vergonha de quem as recebe).
"Escrito no idioma sagrado e em árabe aqui usado, no ano da maior produção de olivas em todo império sírio".

O coronel olhou para o licenciado Efraim e perguntou:
-O senhor entendeu? Que podes me adiantar sobre minha origem?
-Uma parte esta clara. Fugiram da península Ibérica para o Marrocos, lá não diz quanto permaneceram, abandonaram e se instalaram na Turquia (império Otomano?) depois para Síria (naufrágio no caminho), finalmente se instalaram na Síria. Até ai diz o "bilhete".
Quanto tempo num lugar e noutro não dá as suficientes pistas, não tenho a mínima ideia qual o ano da "grande produção de olivas na Síria".
Em Pádua analisaremos com mais detalhes e máximo cuidado e sem duvidas chegaremos a alguma conclusão mais aproximada à verdade das coisas.

O senhor coronel pensa que seus antepassados saíram para o Brasil, da Grécia ou Turquia, olhe tudo pode ser. O povo judeu,  foi um povo errante.
Uma coisa está mais que clara vossa família, tanto pelo nome como pelas andanças de um lugar para o outro, por onde desenvolveram suas raízes, provavelmente é uma família de origem Sefaradi!****** 
Pelo menos parte de vossa historia está desvendado.
Com seu consentimento, eu levarei esta caixa para Itália e lá no laboratório que a especialidade é desvendar o passado das coisas, poderão chegar a maiores detalhes com a ajuda desta relíquia aqui encontrada, através da idade do pergaminho, química da tinta, estilo da prataria, bordado das tocas, qualidade dos diversos tecidos etc, etc, etc...).
Eu prometo estar em contacto com o senhor logo que tenha maiores detalhes do achado.
Proponho que o senhor fique com um candelabro para lembrança, um livro de reza (sidur), uma ou duas toucas bordadas, dois ou três tubinhos (mezuzot) para pendurar nas portas, todo o resto levarei comigo, enviarei para Itália por barco do Recife.
Ao terminar a pesquisa, com seu consentimento, esta relíquia será doada ao pequeno museu etnográfico da Universidade, ou será oferecida a grande sinagoga de Roma, como o senhor achar mais conveniente.
Vou arrumar minhas coisas, me diga quando tem hoje trem ou ônibus para o Recife.
O coronel tirou do bolso da algibeira seu relógio de ouro "Pateque Philippe", que passa por herança na sua família, olhou e disse:
-Agora são  quase onze horas, as 14, 30 têm ônibus de primeira, muito confortável para a capital. Se quiser mando preparar a charrete e irá também uma outra com duas pessoas de confiança vos acompanhando por questão de segurança.  
O meu pessoal ficará na estação até que o senhor embarcar.
Venha  de lá um abraço licenciado Efraim, eu até comecei a gostar de vosmecê e é quando o senhor se manda de volta para Itália. Se lembre que aqui ficamos a sua disposição para o que der e vier, a casa é sua, estará sempre as suas ordens.
Dona Genoveva e a empregada olhavam aquela cena de despedida entre os dois homens adultos com um passado longínquo comum, com água nos olhos e não percebiam que os homens também tinham os deles da mesma forma. 



Paulo Lisker
 Israel.

Breve Glossário:

* A palavra "BARBUR", significa em hebraico: CISNE.
** As 12 tribos que compunham o Povo de Israel eram: Reuven, Shimon, Levy, Ishsachar, Zevulon, Iosef, Biniamin, Dan, Naftalí, Gad, Asher, (as tribos Efraim e Menashé, lutaram pela conquista do território, porem se assentaram na Cisjordânia).
***Tsadikim: Honestos, Justiceiros.
****Tsdaká ve Matan be Seter: Contribuições e ajuda anonimas, aos necessitados.
*****Mishpachá Tsadeket: Família honrada e honesta.
****** Sfaradí: Judeus de origem Oriental.
******* Ha TORÁH: A Bíblia Sagrada, (o Velho Testamento).


Nota:
NETILAT YAADAIM
Explicação de quem entende:
 Estimados,shalom!
Nesta minha  croniquetas teci um breve comentário sobre "NETILAT YADAAIM".
Peço a vosmecês desculpas pois coloquei um sentido errado sobre o tal costume judaico.
Agora recebi do neto de um leitor que vive em Israel a verdadeira explicação sobre este costume judaico e logo resolvi transmitir a todos aqueles que receberam uma explicação errónea do tal fenómeno.
Desculpem.
Paulo
AÍ VAI A EXPLICAÇÃO RECEBIDA HOJE DE TARDE:



Vovô pergunta: por que precisa do balde para lavar as mãos antes de comer pão?


Tentativa de resposta:
Pela torá a purificação esta ligada à água. Qualquer pessoa que esteja num estado de Tumá (cuja tradução errônea é "impureza") precisa imergir em água para atingir o estado de Tahará ( também maltraduzido como pureza). O que é Tumá, Tahará e o porque da água ser o meio para mudar destes estados são assuntos por si só.

Antes de comer Pão ou alimentos molhados que são passíveis de receber Tumá, é uma Miztvah (maltraduzido como mandamento) Letaher, "purificar", as mãos. Esta purificação deve ser feita por meio de um Kli (instrumento) e "koach gavra" (força do homem).

Explicando bem Superficialmente a virtude da pureza da água, devemos adiantar que a Tahará ("pureza") esta relacionada com a Kedushá, ("santidade"). A Vida é a maior Tahará que pode existir, pois é o mais próximo da maior que Kedushá que pode existir: D"s ele mesmo.

 Deste modo, o contrário da Tahará, ou seja, a Tumá ("impureza") está relacionada com a falta de vida. Não existe vácuo, Qualquer decaímento no nível de Kedushá (ou vida), abre espaço para absorção de Tumá.

Assim, o cadáver contém o maior nível de "impureza", pois tem a maior ausência de vida possível. Uma grávida quando dá a luz, perde de dentro de si uma vida e portanto absorve Tumá. Se a criança era mulher, a quantidade de Tumá é dobrada, pois neste caso, a perda é de uma vida que tem a capacidade de conceber vida. A mulher que perde um óvulo sem fecundar - menstrua - perde um potencial de gerar uma vida ,e em seu lugar, portanto, absorve Tumá (que agora está claro que não tem nada de impuro/sujo e o quanto a tradução errada pode gerar confusões).

No entanto, a água é o líquido da vida, que propicia a existência de todos os tipos de flora e fauna. Além disso, a água precedeu toda a criação, antes mesmo do início do Gênesis, foi dito: "E o "Espírito de Deus" pairava sobre as águas." A água é a mais antiga fundação. Por isso, é possível, que a Torá ordenou que uma pessoa que absorveu Tumá e se afastou da fonte de vida- que mergulhe em uma micvê de água, para que. assim, por meio de que seu corpo esteja todo imerso pela fonte primordial da vida do mundo, desperte todas as raízes da vida, no seu interior. Assim, sua alma "pura" tahará, se eleva, e a "impureza" tumá aderida ao corpo vai embora. A agua é também comparada ao útero, ao espiritual, ao fluído, mas a essência da água foge desta resposta.

Esta razão pertence também a ablução das mãos antes da refeição. Pois, comer pode ter um foco materialista e baixo, mas também pode ter um objetivo espiritual, uma vez que a comida e o bom sabor dão força e alegria para levar uma vida significativa e com ideal. Para que a alimentação não seja materialista, devemos letaher "purificar" as mãos em água, a base da vida no mundo. Talvez seja por isso que nós não devamos economizar nesta água, mas sim devamos abluir as mãos em abundância de água.

O motivo do uso kli (instrumento), Pode ser possível de ser estudado, em seu significado mais simples, da seguinte maneira: cada idéia ou ideal, mesmo que a mais elevada, precisa de uma estrutura, conhecimento, para que possamos alcança-la. A água representa aqui o conteúdo, o ideal espiritual elevado, e o kli (balde), a estrutura, o conhecimento, sem a qual mesmo a água não pode letaher (purificar) as mãos.

O Koach gavra, força do homem, em seu significado mais simples pode ser estudado como a necessidade de que o homem por meio de suas ações e intenções se eleve e não que isto seja automático. A primeira água que sai da torneira ao abrir a manivela é considerada koach grava, mas o restante sai automaticamente, sendo inválido para ablução. Além disso, o encanamento não é considerado um kli (instrumento) pelas halachá (lei judaica) - aludindo qual tipo de estrutura devemos buscar para nossos ideais. Sendo necessário, portanto, o tradicional baldinho.

Como visto, tocamos em assuntos muito profundos e tudo foi explicado de maneira muito superficial. Como tudo no judaísmo, está tudo conectado e precisamos começar do começo para criar a rede de conceitos.

Espero ter ajudado um pouco!

Beijos!

Dani!


Fim da parte (8), O LIVRO SAGRADO, "HA TORÁH" *******.



sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Segredos do "Quarto Escuro no IPÊ ROXO"

                       Fazenda IPÊ ROXO E OS "SEGREDOS DO QUARTO ESCURO"
                       (ILUSTRATIVO) - Google, Internet

PAULO LISKER,
 ISRAEL
(22-11-2010)                                  
"Um amor impossível" (parte 7).
"Borrador"

Tema: Segredos do "Quarto Escuro".

Dadinho estava estupefato, calado, escutando a narração do coronel sobre o encontro com o visitante o Lic. Efraim Castanheiras que vinha em busca de sinais remanescestes dos Judeus no nordeste do Brasil.
A revelação do conteúdo da caixa que ficara por mais de século encerrada  no "quarto escuro" da Casa Grande, o deixava atônito.
O coronel Barbosa relatava sobre o encontro com o licenciado.
Depois que trouxe a caixa do "quarto escuro", começou a retirar peça por peça com o maior cuidado do mundo.
Quase tudo estava embrulhado em papel ordinário e já estava se esfarelando pelo tempo e o clima semi-úmidos da região.
O Lic. Efraim limpou os olhos e as lentes dos óculos embaçados, pediu desculpas pela sua emoção inesperada, se pôs de pé junto ao coronel para sentir mais de perto cada nova surpresa que iam descobrindo a cada minuto ao retirar o conteúdo secular (ou milenar, quem sabe a idade exata), contido nesta caixa muito bem guardada no "quarto escuro" da Casa Grande da fazenda.
Primeiro, tirou quatro candelabros de prata pura, (identificados como tal, pela cor escura que recebeu com o passar do tempo), uns cálices e tinha um deles  maior e mais luxuoso, uma bandeja, tudo isso do mesmo metal. Iria dar muito trabalho danado para limpar e esfregar todas estas peças com o conhecido "kaol". 
Uma varinha de madeira preta (talvez de ébano) na sua extremidade uma miniatura de palma da não com o dedo indicador esticado, meia dúzia de xales de seda (alguns deles perfurados por traças,), caixinhas pretas e tiras de couro da mesma cor  pegadas a elas, uma serie de camisolas com 4 tranças em cada extremo inferior, 10-12 livros de reza bem embrulhados que assegurou uma relativa boa conservação deles, partes de ramos de plantas secas e uma delas era a folha ainda fechada de alguma espécie de palmeira,  pequeninos frascos vazios (parece que era de alguma essência) e uma boa quantidade de toucas pretas, algumas delas  bordadas com fio de cor doirada ou prateadas, com simples enfeites de frutas ou flores, não imagens  de humanos ou animais.
Dezenas de velas de sebo e algumas lamparinas de azeite.
De um saquinho de seda fina de cor bege caiu sobre a mesa uma dezena de objetos de cor marrom, pareciam pequenos tubos com uma letra indecifravel no meio da parte superior e nos dois extremos, furos como para pendurar na parede, o tamanho de cada artefato com uns 10 centímetros por 2 de largo.

Quando pensavam que tudo já estava fora da caixa, o coronel retirou os restos de papel e palha e teve a surpresa da sua vida.
Embrulhado em 3 envólucros de veludo azul (em hebraico "Kissui ha Sefer"),  bordados com letras hebraicas doiradas, um rolo de pergaminho, (HA TORÁ), amarrado com uma fita azul e branco.

O coronel olhou para o licenciado Efraim como se pedisse alguma explicação para o significado do mesmo antes de desatar os laços ou os nós da fita que amarrava aquele (rolo de pergaminho), objeto desconhecido e que só agora descobrira no fundo da caixa empoeirada, à luz do restinho de sol no fim da tarde.
O Licenciado, à medida que as coisas iam sendo descobertas, sussurrava para si mesmo, os nomes dos "objetos" que eram do seu conhecimento, assim como, do "povo hebreu" (judeus de hoje), e era uma herança de tempos mais antigos.
O Lic. Efraim, tanta era a sua tensão por presenciar este evento, que só Deus poderia lhe ocasionar, não tinha mais forças para se manter de pés, sentou-se  e disse:
-Senhor coronel vai buscar lápis e papel para anotar os nomes desses objetos que agora, depois de quem sabe quanto tempo, voltaram a reviver, saíram da sua anonimidade e quem sabe lá, do esconderijo propositado por seus donos, teus ancestrais.
Vá traga com que escrever e comecemos já a catalogar os "achados".
Assim foi, o coronel voltou com um caderno e dois lápis, uma borracha e uma gilete caso necessário.
O licenciado foi pegando com o maior respeito e cuidado cada objeto, como se fosse feito do mais frágil cristal do mundo.
Sussurrando, dizia para o coronel, que ia tomando nota.
-Estas caixinhas pretas se chamam "Tefilim", as correias, essas pegadas a elas são de um couro especial unicamente de tenras ovelhas (Or shel Sé,  Behemá Daká), olhe estes xales de seda, são "Talitot, com ele o que reza se envolve o que pratica a reza".
Estas toucas, sem elas na cabeça ou qualquer outro chapéu, por tradição não se deve rezar ou ler na Bíblia, estas toucas são a solução mais simples para tal. Elas se denominam "Kipót" ou "Yarminka".
O candelabro de nove braços é a "Menorá", usada nos dias da festa religiosa, a festa de "Hanucá". Cada noite durante oito noites se acende uma vela ou lamparina, ("Banu Laila Legaresh" que significa: "Viemos para expulsar a maldita escuridão"), o nono braço, este do meio do candelabro, é o lugar do "Shamás", aquele que é usado para acender as outras velas ao anoitecer nesses oito dias que se comemora esta festividade de Hanucá (Festas das luzes).
Os cálices de prata (Kossiot) são para tomar vinho em ocasiões especiais, festas religiosas, batizados (brit milá), noivados (Tnoim, em hebraico), etc.
O cálice maior e com altos relevos mais belos, é o do profeta Elias (koss shel Eliahu, em hebraico).
Existe uma  tradição milenar, deixar um cálice na mesa e uma cadeira vazia na ceia da Pascoa (Peissach) para um ente querido ausente.
Para que a família não fique triste com esta ausência nesta festa familiar, é praxe "crer" que o profeta Elias (Eliahu) viria em seu lugar e tomaria este assento vazio e brindaria a família presente com o tal cálice ali deixado para ele.
Por isso mesmo é costume também deixar a porta da casa aberta, para recebê-lo.

-Devagar, reclama o coronel, vosmecê está ditando muito depressa. "Eu assimilo rápido quando me explicam devagar" e deu uma gargalhada pelo ditado expelido de sua autoria. 
-Ta bem, tá bem, vou diminuir o ritmo, pro senhor coronel não reclamar mais, vamos adiante?

Dona Genoveva trouxe limonada para os "novos arqueólogos" e logo mais trouxe três candeeiros já acesos e disse que a ceia com mais meia hora estará postada na mesa e o quarto de pernoite para o  licenciado Efraim, já esta pronto, e se foi.
Ela não tinha nenhum interesse no que estes dois homens estavam de momento "pesquisando" e voltou a seus afazeres.
-Continuamos coronel?  
Pois bem, as velas que o senhor tirou da caixa se chamam "Neirot Hanucá", usada para este evento e as lamparinas de azeite, são usadas para serem acesas nos dias de memorias aos finados e se denominam "Neirot Neshamá".

Estas camisolas brancas de tecido vulgar, sempre o judeu ortodoxo veste para lembrar que nem sempre tinha boa roupa, isto se chama "Tsissit" e estas quatro trancinhas na parte inferior das camisolas se chamam "ptililim".

Está anotando senhor coronel?
-Tô, tô, sim senhor, pode continuar...

-Os livros de capa preta se chamam "SIDUR", a escrita em caracteres desconhecidos até o momento, isso pode ser hebraico, aramaico, ladino, grego, árabe ou qualquer outra língua onde os judeus permaneceram por mais de 1000 anos, e por conveniencia escreveram as rezas no idioma local. Não é comum, porem pode acontecer! Como ainda não folheamos, não poso identificar.

Adiante, a bandeja de prata (Tzalahat ha Seider), é para uso festivo, na Pascoa, porem, não só.
Nela coloca de uma maneira simbólica o que comeram no deserto ou sinais divinos  lembrados na Agadá (a lenda que é contada de geração a geração sobre a saída do cativeiro no Egito, comandados pelo Patriarca Moisés).
-Conhecia a "lenda" senhor coronel?
-Não, conte, conte senhor licenciado....

-Falo dos castigos que o Patriarca Moisés impôs ao Faraó que não permitia a libertação dos hebreus dos longos 400 anos de cativeiro. 
No fim ele conseguiu e levou o povo judeu embora de lá, atravessou o mar Vermelho em seco, a caminhada de 40 anos pelo deserto,  foi aí que receberam as Tábuas com os Dez mandamentos e depois disso, finalmente se assentaram na terra de Israel, como ordenado por Deus. Conhecia tudo isso senhor coronel?
-Não senhor, nunca ouvi falar disso não!

-Bom vamos pra adiante, este "pauzinho de ébano" é  um "mentor"         (Maré Makom ou Simaniá), que vai acompanhando as linhas das escrituras, para ajudar na leitura das rezas que realiza o "Hazan". (este que reza lendo as escrituras em voz alta para os demais,  na sinagoga).
Estes tubinhos com a letra em alto relevo e os furos nas extremidades, são "Mezuzot", isto se prega na armação da porta e serve de mascote para a bênção, dos que entram e quem saem da casa.
A letra que esta em alto relevo é a letra hebraica "shin" que significa "shadai", uma das denominações de Deus, para evitar usar o nome do Senhor a toa.

Os raminhos de plantas que secaram na caixa são remanescestes dos quatro vegetais que representam qualidades diferentes e cada um por si só, não é perfeito. Porem os quatro juntos são imbatíveis, isto como uma alegoria ao povo judeu, separados em tribos seriam facilmente derrotados, porem como é praxe dizer: "A união faz a força", assim também quando estão os quatro "matinhos" juntos, não se consegue romper o fecho formado, assim também o povo judeu. Coisas de tradição milenar! 
Estes ramos secos de vegetais é praxe colocá-los na mesa da festa de "Sucot", (Tabernaculo) quando o povo tem por obrigação viver uma semana numa cabana com o teto de palha, para fazer sentir a aqueles que já possuem tudo, como se sentem os pobres que não tem sequer um teto humilde para se abrigar.

O coronel Barbosa, parecia que aprendia coisas que seus antepassados esconderam e nunca transmitiram as gerações subsequentes.
Coisa totalmente estranha ao judaísmo que preza e conserva este principio de transmitir por milénios para nunca esquecer.
Muita coisa na Bíblia, explica o licenciado, não consta abertamente ou não está suficientemente explicado.
Estas emendas ou interpretações feitas por patriarcas, profetas, juízes, grandes rabinos e estudiosos no passado longínquo (Hahamim, Gaonim, Iluim, Poskim), interpretaram, e transmitiram tais emendas em documentos escritos ou oralmente, de geração a geração, durante milénios. No decorrer destes milénios  não se mudou ou acrescentou nem sequer uma vírgula, palavra ou letra.
Por isso, mesmo que dispersos durante 2000 anos, a Bíblia 
(HA TORÁH), é a mesma, aqui na China, na Rússia,  ou em qualquer outra parte do mundo onde ora o povo Judeu.   
O licenciado Efraim, respirou fundo e como estivesse implorando, exclamou:
-"Agora senhor coronel, deixe-me tratar de abrir com o máximo cuidado este rolo de pergaminho, isto para não inutiliza-lo para usos sacros no futuro".
O coronel cedeu passo e afastou-se do "pacote misterioso".
 O licenciado fez o máximo possível para tratar deste "achado" como se fosse um paciente na sala de intervenção cirurgia das mais delicadas.

Fim da parte "7"  ("Segredos do Quarto Escuro") do relato:
"UM ROMANCE IMPOSSÍVEL"
 A parte (8) versará sobre o tema "O misterio da TORAH"