segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

IPÊ ROXO - HA TORAH

O pergaminho onde se escreve a TORÁH

                       O "SIDUR" o livro de rezar  judaico.
                                        (Fotos Google Internet)


"UM AMOR IMPOSSÍVEL" 
Paulo Lisker
 Israel
(parte 8)
Tema: O Livro Sagrado, "Ha Toráh".
                         "BORRADOR"                         


Dona Genoveva veio avisar que a ceia está posta na mesa e que todos estão convidados a lavar as mãos e sentar-se para jantar.
A caixa com a "judaica" foi levada de volta para o "quarto escuro", até amanhã de manhã quando seria novamente analisada. 
A pedido do Licenciado senhor Efraim deixaram uma caneca para que ele  lavasse suas mãos antes de sentar para jantar. Vale a pena lembrar que judeus religiosos lavam as mãos despejando a agua duma caneca e nunca diretamente da torneira ou da fonte.
A explicação para esta atitude francamente desconheço, porém busco saber com algum entendido na matéria. 
Uns dizem que a agua que vem diretamente da torneira ou no passado longinquo duma fonte pode estar impregnada de impurezas grosseiras e ao colocar antes num recipiente, possivelmente possibilitará retirar tais impurezas antes de usar a agua. Tem quem diga ou interprete esta maneira de utilizar a agua, como um costume muito antigo que enraizou com os anos e se tonou tradição de uso cotidiano até os dias de hoje. 
Este povo tem uma quantidade enorme de cuidados no seu dia a dia (Filosofia de comportamento) e quem sabe lhes possibilitou manter-se isento de muitas doenças que poderiam ser fatais na épocas em que a medicina nem tinha vindo ao mundo. E aí ficou até os dias de hoje como uma herança do passado.
Quase não se falou durante a ceia, dona Genoveva sentou e deixou a empregada que vinha nos dias de visitas dar um mão nos trabalhos caseiros e servir a comida.
Como sempre, no jantar era servido ovos da granja, cocretes de verduras, carne de pato, temperado com "peri peri" e outros condimentos de cheiro e gosto, pois sem eles esta carne, não "tem graça"(insípida), acompanhava arroz, pão comprado numa padaria próxima, café coado no bule e uma fatia de queijo tipo "coalho de Minas" e umas fatias de goiabada "Peixe", de Pesqueira.
Ao terminar fizeram a digestão deitados nas redes no alpendre. Beberam agua fria das quartinhas e foram dormir.
A empregada tinha seu quarto para pernoitar e ajudar no dia seguinte.
O amanhecer do campo é mesmo madrugar.
Já às 4 da manhã a empregada e dona Genoveva estavam de pé, atiçando o fogo e preparando o "pequeno almoço" (uma expressão que só ouvi no interior).
Este "pequeno almoço" (às 5 horas da manhã é o nosso conhecido café matinal).
Prepararam num dos terraços, uma bacia com agua morna,  um pedaço de sabão de coco, uma toalhinha de rosto para o licenciado se lavar ao despertar.
O coronel tomava uma ducha de agua gelada que vinha da caixa d'água no telhado.
Interessante que o coronel ao se banhar cantarolava ou assobiava  o hino francês "La Marselhesa", lembrança ruim do tempo que fez em Toulon, na França, o curso de artilharia quando servia no glorioso exercito brasileiro!
Então em qualquer dificuldade da vida, era o que lhe saia dos lábios.
Na mesa do "pequeno almoço" como de costume, o café da terra cheiroso demais, macaxeira rosa com manteiga, mingau de maizena, (com canela e cravo da Índia), estrias de carne do sol e a eterna fatia de queijo com goiabada de sobremesa.
Os guardanapos muito brancos com monogramas em azul, o açucareiro com açúcar mascavo úmido, produto de algum engenho vizinho, o saleiro e o paliteiro, sempre estavam presentes. Este último, em forma de um peru ou um bacurau e neles estavam espetados os palitos (coisa comum no interior), pois no fim de todas as refeições era um prazer e costume fazer uma pausa para "palitar" entre os dentes.
O coronel costumava dizer: "Uma refeição de pobres numa casa humilde", só depois disso, era servido o café aromático fumaçando no bule. 

O coronel continuava relatando a Dadinho o desenrolar deste encontro com o licenciado senhor Efraim.
Dadinho e Susana sentados abraçados na rede escutavam e tragavam as palavras do coronel como se fosse o melhor néctar de Fruta do Conde (Graviola).
Continua o coronel: A caixa estava em cima da mesa, o licenciado tirou com muito cuidado o "rolo de pergaminho" e começou a desamarrar os nós das fitas que o amarravam.
Não durou mais que 2-3 minutos e tudo já estava desatado.
Aí começou o verdadeiro trabalho, abrir o rolo que tantos anos estava sem uso.
Todo cuidado era pouco, sem danificá-lo nem com o mínimo arranhão no pergaminho, ou em qualquer letra do texto.
A coisa não era fácil, claro que seria mil vezes preferível, fazê-lo num laboratório como na universidade de Pádua.
Mas estamos no Ipê Roxo, em Triunfo e estas eram as condições existentes. Então tocamos para frente.

Devagarinho, devagarinho, o licenciado suava frio e ia abrindo o "Livro dos Livros", a Toráh dos judeus.
A cada movimento se escutava nitidamente o ruído como ela ia se "descolando" uma face da outra e o licenciado sussurrava:
Está escutando senhor coronel, este é o cantar sagrado da "Torah" ao receber novamente a liberdade.
Esta é a sua função principal, sempre estar às ordens, aberta para o uso religioso, nas rezas do seu povo.
Ele parou por uns minutos, estava muito tenso e necessitava um descanso.
Pegou na mão do coronel e o aproximou, venha ver coronel, veja como as letras são tão bonitas, veja que caligrafia, e esta tinta preta dá a impressão que as letras estão em alto relevo, não é?
O coronel nem respirava, só balançou a cabeça em sinal de aprovação.
Dona Genoveva, trouxe limonada e bolachinhas caso os "arqueólogos" tivessem alguma necessidade de mastigar algo, vivendo este clima de tensão danado, desde manhã cedinho.
-Você sabia coronel, naquele tempo não se comprava a tinta na quitanda, esta tinta é algo muito especial, não é tinta comum.
A tinta para escrever no pergaminho uma escrita duradoura e que não desbote com o tempo, era feita artesanalmente pelo escriba.
Dizem que da casca de uma árvore do deserto  de nome "Rotem" ou de um inseto parasita dos Cactos que ao esmagá-lo liberta um liquido que se utiliza como base da tinta!
Tinha que ser um "alquimista" para conseguir esta tinta tão preta e lustrosa. 
Como não ficou nada documentado como esta tinta era elaborada, paira a duvida se foram realmente estes os métodos usados. 
O instrumento para escrever era um estilete de madeira ou a pena de um ganso ou outra ave de penas longas.
O profissional que se dedicava a esta arte deveria ser um tipo muito especial. Religioso, honesto, não carregar maldade nem crimes de espécie alguma, humilde, bom pai de família e quase sempre um pobre necessitado. Deus o utiliza como seu escrivão.  Este profissional "escriba" denominam em hebraico,   "Sofer Stam".

Tomaram a limonada e o licenciado voltou a sua faina de descolar o rolo e abrir o rolo da Toráh.
O coronel indagou-lhe:
-Me diga senhor licenciado, vosmecê no "fim dos contados", poderá me dar à informação com o que já temos em mãos, qual seria a origem verdadeira de meus antepassados, os Barbur*?
-Não sei não, senhor coronel!
Se não encontrar as pistas para isto nestas escrituras ou nos outros objetos do ritual judaico contidos na caixa, então com certeza, só no bom laboratório como o da universidade de Pádua, terá o prazer de responder a esta sua inquietude.
Chegaram ao fim do rolo sem que houvesse o mínimo problema de espécie alguma, intacto. (Kasher le Mehadrin).
Porem a grande surpresa foi encontrar (o que não é comum) um pequeno "bilhete" em papel arroz.
Ali poderia estar contido todo o segredo de quem encomendou ou de quem escreveu este rolo das escrituras sagradas.
-Confesso francamente senhor coronel, o idioma usado não é o hebraico usual das escrituras, parece que é Aramaico, um idioma que antecedeu ao Hebraico, porem ainda não tenho certeza, possivelmente poderia pertencer a uma das ramas do judaísmo.
-Oi, se surpreendeu o coronel, o judaísmo tem ramificações?
-Sim senhor, os Hebreus depois da conquista de "Sion", eram compostos de 12 tribos**, diz o licenciado. 
Quando dividiram o território foi doada a cada uma delas, a sua gleba.
Claro  que sem alterar uma letra das escrituras, poderia cada tribo interpretar as escrituras de sua maneira e criar tradições diferentes.
Bom, mas isso foi no passado longínquo.
Hoje, na diáspora do povo judeu, causado pelo êxodo imposto pelos conquistadores romanos, a Bíblia continua sendo a mesminha em qualquer parte do globo onde se encontram os judeus, sem botar ou tirar.
Porem as diferenças nas tradições se faz sentir.
Hoje temos judeus Sefardim (de origem oriental), Ashkenazim (de origem leste europeu), Karaim ( do Egito que só aceitam o testamento escrito, sem emendas do " Shulhan Aruch"), Teimanim (originários da península arábica e que se dizem ser os verdadeiros judeus, pois nunca se mesclaram com outro povo), Kuzarim ( convertidos pelo Rei deste povo , nas estepes  da Rússia), Falashmura (originários da Abissínia, hoje Etiópia), Bnei Menasse ( se dizem filhos da tribo perdida Menashé e hoje vivem na India), os Samaritanos (que nunca abandonaram a área da Samaria e hoje restaram um grupo pequeno, pois proíbe casamento com outros grupos judeus, desta forma ficaram reduzidos a umas poucas famílias em Nablus e nas proximidades da cidade milenar de Jaffa), com certeza existem outros grupos humanos de judeus ainda não detectados ou escondidos, dizem que mesmo no Portugal e Espanha eles vivem escondidos, na rua agem como bons cristãos e de noites ou nas festas judaicas retiram dos esconderijos os apetrechos de seus avós e celebram de janelas fechadas no ferrolho os rituais judaicos.
A Inquisição na península Ibérica, foi a causadora desta moderna  dispersão pelo mundo depois daquela causada pelo Império Romano, no tempo de Jesus Cristo e lá vai para quase 2000 anos.

Agora nos resta definir a qual desses grupos pertenceu à família Barbur.
Vamos tentar decifrar o "bilhete" deixado pelo escriba, quem sabe lá encontraremos a resposta ao que buscamos.
Senhor coronel tem por acaso uma lupa para aumentar o tamanho do escrito no tal bilhete?
-Como não, claro que tenho ,comprei mais de uma para Ramiro, quando fez o curso de entomologia pratica, na escola técnica de Tapera. Espere aí já vou buscar!
O licenciado murmurava para si mesmo:
-Meu Deus que sorte ter encontrado estas relíquias aqui no Ipê Roxo em Triunfo.
Isto vale cem vezes mais do que as lajes de falecidos judeus ou cristãos novos, que procuro e não encontro.
Dizem que a razão disso é que enterraram os judeus e os cristãos novos, nos cemitérios comuns.
Será possível que com tanta documentação existente, nomes, atuação na comunidade e na sinagoga, datas de nascimento e óbitos, como é possível que num cemitério cristão no Recife ainda não detectaram uma única sepultura desses finados.
E "falando com seus botões", lembrava do que afirmava um brasileiro que estudava com ele na universidade de Pádua, que no Recife, mas não só lá, a igreja católica fez tudo para apagar, fazer desaparecer, desorientar, desnortear, a todos aqueles que buscam estes últimos vestígios deste fenômeno no Nordeste.
Quem sabe, pode ser!
Nunca houve um grande "amor" pelos judeus por parte da igreja católica, nem no nordeste do Brasil, nem no mundo cristão em geral.
Complementou a informação afirmando que na União Soviética, fizeram o mesmo com a historia dos "Kuzarim", não se encontram vestígios de um povo enorme que desapareceu como por encanto, tudo isso para evitar que conste na historia soviética que existiu lá, um povo de religião judaica com Rei, exercito, cidades e um enorme território independente.
Segundo minha maneira de pensar eles não poderão esconder os fatos por muito tempo, pois no futuro sem o comunismo, se Deus quiser, a nova geração de estudiosos farão as pesquisas necessárias e "desenterrarão" a verdadeira historia dos judeus "Kuzarim".
O licenciado falava para si mesmo como se tivesse perdido o juízo.
Aí, neste exato momento voltou o coronel com duas lupas que o licenciado pediu para ajudar a desvendar o que contem o bilhete do escriba.
Depois de examinar e ré examinar o minusculo "bilhete", tirou a primeira conclusão:
Está escrito em hebraico e árabe, não é aramaico como pensei antes de analisar mais a fundo.

Em tradução livre diz o seguinte:

Eu, Moshé Ben Rachel Pinto, damasquenho, escriba de Deus, coloquei neste pergaminho a "toráh" divina, ditada pelo Senhor.
Eu servo do senhor, só servi com a minha mão humana, para registrar os fatos que Deus me ditou.
Este livro sagrado é dedicado a memoria do venerável rabino e patriarca da família Barbur, o respeitável e o mais humilde dos humanos, Shmuel Ben Sara Rivká Ben Barbur. 
Originários do Marrocos viveram lá muitos anos, depois se passaram para a Turquia e lá também se assentaram por seculos.
A família inteira abandonou a Turquia com destino a "Eretz Israel",  nesta viajem se salvaram, com a ajuda de Deus do naufrágio da embarcação, chegando por um milagre divino, são e salvos as costas da Síria.
Aqui viveu, construiu uma sinagoga criou uma grande família de justos (tsadikim) ***  e sempre contribuiu com dinheiro para "tsdaká ve matan be seter." ****
Deus abençoe esta "família de justos", (mishpahá tsadeket). ***** 
 (Contribuições anónimas, para evitar a vergonha de quem as recebe).
"Escrito no idioma sagrado e em árabe aqui usado, no ano da maior produção de olivas em todo império sírio".

O coronel olhou para o licenciado Efraim e perguntou:
-O senhor entendeu? Que podes me adiantar sobre minha origem?
-Uma parte esta clara. Fugiram da península Ibérica para o Marrocos, lá não diz quanto permaneceram, abandonaram e se instalaram na Turquia (império Otomano?) depois para Síria (naufrágio no caminho), finalmente se instalaram na Síria. Até ai diz o "bilhete".
Quanto tempo num lugar e noutro não dá as suficientes pistas, não tenho a mínima ideia qual o ano da "grande produção de olivas na Síria".
Em Pádua analisaremos com mais detalhes e máximo cuidado e sem duvidas chegaremos a alguma conclusão mais aproximada à verdade das coisas.

O senhor coronel pensa que seus antepassados saíram para o Brasil, da Grécia ou Turquia, olhe tudo pode ser. O povo judeu,  foi um povo errante.
Uma coisa está mais que clara vossa família, tanto pelo nome como pelas andanças de um lugar para o outro, por onde desenvolveram suas raízes, provavelmente é uma família de origem Sefaradi!****** 
Pelo menos parte de vossa historia está desvendado.
Com seu consentimento, eu levarei esta caixa para Itália e lá no laboratório que a especialidade é desvendar o passado das coisas, poderão chegar a maiores detalhes com a ajuda desta relíquia aqui encontrada, através da idade do pergaminho, química da tinta, estilo da prataria, bordado das tocas, qualidade dos diversos tecidos etc, etc, etc...).
Eu prometo estar em contacto com o senhor logo que tenha maiores detalhes do achado.
Proponho que o senhor fique com um candelabro para lembrança, um livro de reza (sidur), uma ou duas toucas bordadas, dois ou três tubinhos (mezuzot) para pendurar nas portas, todo o resto levarei comigo, enviarei para Itália por barco do Recife.
Ao terminar a pesquisa, com seu consentimento, esta relíquia será doada ao pequeno museu etnográfico da Universidade, ou será oferecida a grande sinagoga de Roma, como o senhor achar mais conveniente.
Vou arrumar minhas coisas, me diga quando tem hoje trem ou ônibus para o Recife.
O coronel tirou do bolso da algibeira seu relógio de ouro "Pateque Philippe", que passa por herança na sua família, olhou e disse:
-Agora são  quase onze horas, as 14, 30 têm ônibus de primeira, muito confortável para a capital. Se quiser mando preparar a charrete e irá também uma outra com duas pessoas de confiança vos acompanhando por questão de segurança.  
O meu pessoal ficará na estação até que o senhor embarcar.
Venha  de lá um abraço licenciado Efraim, eu até comecei a gostar de vosmecê e é quando o senhor se manda de volta para Itália. Se lembre que aqui ficamos a sua disposição para o que der e vier, a casa é sua, estará sempre as suas ordens.
Dona Genoveva e a empregada olhavam aquela cena de despedida entre os dois homens adultos com um passado longínquo comum, com água nos olhos e não percebiam que os homens também tinham os deles da mesma forma. 



Paulo Lisker
 Israel.

Breve Glossário:

* A palavra "BARBUR", significa em hebraico: CISNE.
** As 12 tribos que compunham o Povo de Israel eram: Reuven, Shimon, Levy, Ishsachar, Zevulon, Iosef, Biniamin, Dan, Naftalí, Gad, Asher, (as tribos Efraim e Menashé, lutaram pela conquista do território, porem se assentaram na Cisjordânia).
***Tsadikim: Honestos, Justiceiros.
****Tsdaká ve Matan be Seter: Contribuições e ajuda anonimas, aos necessitados.
*****Mishpachá Tsadeket: Família honrada e honesta.
****** Sfaradí: Judeus de origem Oriental.
******* Ha TORÁH: A Bíblia Sagrada, (o Velho Testamento).


Nota:
NETILAT YAADAIM
Explicação de quem entende:
 Estimados,shalom!
Nesta minha  croniquetas teci um breve comentário sobre "NETILAT YADAAIM".
Peço a vosmecês desculpas pois coloquei um sentido errado sobre o tal costume judaico.
Agora recebi do neto de um leitor que vive em Israel a verdadeira explicação sobre este costume judaico e logo resolvi transmitir a todos aqueles que receberam uma explicação errónea do tal fenómeno.
Desculpem.
Paulo
AÍ VAI A EXPLICAÇÃO RECEBIDA HOJE DE TARDE:



Vovô pergunta: por que precisa do balde para lavar as mãos antes de comer pão?


Tentativa de resposta:
Pela torá a purificação esta ligada à água. Qualquer pessoa que esteja num estado de Tumá (cuja tradução errônea é "impureza") precisa imergir em água para atingir o estado de Tahará ( também maltraduzido como pureza). O que é Tumá, Tahará e o porque da água ser o meio para mudar destes estados são assuntos por si só.

Antes de comer Pão ou alimentos molhados que são passíveis de receber Tumá, é uma Miztvah (maltraduzido como mandamento) Letaher, "purificar", as mãos. Esta purificação deve ser feita por meio de um Kli (instrumento) e "koach gavra" (força do homem).

Explicando bem Superficialmente a virtude da pureza da água, devemos adiantar que a Tahará ("pureza") esta relacionada com a Kedushá, ("santidade"). A Vida é a maior Tahará que pode existir, pois é o mais próximo da maior que Kedushá que pode existir: D"s ele mesmo.

 Deste modo, o contrário da Tahará, ou seja, a Tumá ("impureza") está relacionada com a falta de vida. Não existe vácuo, Qualquer decaímento no nível de Kedushá (ou vida), abre espaço para absorção de Tumá.

Assim, o cadáver contém o maior nível de "impureza", pois tem a maior ausência de vida possível. Uma grávida quando dá a luz, perde de dentro de si uma vida e portanto absorve Tumá. Se a criança era mulher, a quantidade de Tumá é dobrada, pois neste caso, a perda é de uma vida que tem a capacidade de conceber vida. A mulher que perde um óvulo sem fecundar - menstrua - perde um potencial de gerar uma vida ,e em seu lugar, portanto, absorve Tumá (que agora está claro que não tem nada de impuro/sujo e o quanto a tradução errada pode gerar confusões).

No entanto, a água é o líquido da vida, que propicia a existência de todos os tipos de flora e fauna. Além disso, a água precedeu toda a criação, antes mesmo do início do Gênesis, foi dito: "E o "Espírito de Deus" pairava sobre as águas." A água é a mais antiga fundação. Por isso, é possível, que a Torá ordenou que uma pessoa que absorveu Tumá e se afastou da fonte de vida- que mergulhe em uma micvê de água, para que. assim, por meio de que seu corpo esteja todo imerso pela fonte primordial da vida do mundo, desperte todas as raízes da vida, no seu interior. Assim, sua alma "pura" tahará, se eleva, e a "impureza" tumá aderida ao corpo vai embora. A agua é também comparada ao útero, ao espiritual, ao fluído, mas a essência da água foge desta resposta.

Esta razão pertence também a ablução das mãos antes da refeição. Pois, comer pode ter um foco materialista e baixo, mas também pode ter um objetivo espiritual, uma vez que a comida e o bom sabor dão força e alegria para levar uma vida significativa e com ideal. Para que a alimentação não seja materialista, devemos letaher "purificar" as mãos em água, a base da vida no mundo. Talvez seja por isso que nós não devamos economizar nesta água, mas sim devamos abluir as mãos em abundância de água.

O motivo do uso kli (instrumento), Pode ser possível de ser estudado, em seu significado mais simples, da seguinte maneira: cada idéia ou ideal, mesmo que a mais elevada, precisa de uma estrutura, conhecimento, para que possamos alcança-la. A água representa aqui o conteúdo, o ideal espiritual elevado, e o kli (balde), a estrutura, o conhecimento, sem a qual mesmo a água não pode letaher (purificar) as mãos.

O Koach gavra, força do homem, em seu significado mais simples pode ser estudado como a necessidade de que o homem por meio de suas ações e intenções se eleve e não que isto seja automático. A primeira água que sai da torneira ao abrir a manivela é considerada koach grava, mas o restante sai automaticamente, sendo inválido para ablução. Além disso, o encanamento não é considerado um kli (instrumento) pelas halachá (lei judaica) - aludindo qual tipo de estrutura devemos buscar para nossos ideais. Sendo necessário, portanto, o tradicional baldinho.

Como visto, tocamos em assuntos muito profundos e tudo foi explicado de maneira muito superficial. Como tudo no judaísmo, está tudo conectado e precisamos começar do começo para criar a rede de conceitos.

Espero ter ajudado um pouco!

Beijos!

Dani!


Fim da parte (8), O LIVRO SAGRADO, "HA TORÁH" *******.



6 comentários:

  1. Dr. Ary Ruchansky Israel
    DISSE:
    Paulo : você é extraordinario.
    Fiquei emocionado com a descrição. .
    Continue para o nosso deleite.
    Abracos
    ary

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  2. Eng. I. Coslovsky São Paulo Brasil
    DISSE:
    PAULO
    LI COM O MAIOR INTERESSE, MUITO BOM MESMO, NÃO COMPAREI COM A SUA VERSÃO ORIGINAL, MAS ME PARECE MUITO MAIS COMPLETA, PERFEITA, PARABENS !
    PARABENS TAMBEM PELO SEU ESFORÇO EM SALVAR A MEMORIA JUDAICA DO NORDESWTE DO BRASIL.
    UM ABRAÇO
    ISRAEL


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  3. Eng. Isaias Rosenblatt Recife
    DISSE:

    Eu diria pra vc que estórias como estas se tornaram muito "normais" e usuais aqui no Nordeste do Século XXI, porque a grande maioria dos caras que vieram nos veleiros portugueses eram degredados, presidiários e marranos,.
    Todos judeus que vieram com a esperança (prometida pelas autoridades) de encontrar vida melhor no Novo Mundo.
    E que depois da Inquisição e do período holandês esse povão e seus descendentes se embrenharam pelo interior do Nordeste adentro.
    Eu não estou criticando o que vc escreveu. Acho muito bom a forma e o conteúdo. Apenas registro o fato de que muitas pessoas estão redescobrindo suas raízes judaicas. Eu mesmo já vi isso com montes de colegas não-judeus que de repente descobriram que seus avós foram judeus. Benedito Pires Bezerra Segundo foi meu colega de estudos em Manchester. Assistimos juntos The Dibuk. Ele me disse que todos aqueles rituais da peça eram os mesmos que os avos e pais dele mantinham ainda no interior da Paraíba, em Coremas. Meu colega Fernando de Barros Correia (sobrinho neto de João de Barros, hoje nome de avenida) descobriu que seu tio avo era judeu. Na verdade boas partes dos meus colegas de engenharia sabiam de suas origens judaicas. e muitos dos meus colegas da Chesf tb. meu amigo Carlos Alberto Hinrichsen sabia que o pai era judeu fugido da Alemanha. De onde vc pensa que vieram os Melos, os Cavalcantis, os Campos ? Não sei de onde vc tirou a palavra oportunistas. Aliás, vc tem uma maneira desagradável de dizer que só você sabe das coisas e só vc tem a verdade absoluta sobre tudo. Eu guardo sempre seus artigos. e tenho respeito por eles. Já vc não respeita o pensamento alheio.

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  4. Paulo Lisker
    Disse
    Como sempre obrigado!
    Porém de novo você não entendeu.
    Eu sempre coloquei duvidas nesses judeus negros que apareceram agora e que de repente se lembraram deste povo que conseguiu colocar um pais de "quase primeiro mundo" e ótimo ser parte dele.
    Agora é ótimo ser judeu,veja quem eram os "falashmura" (Etiopes, primitivos de primeira ordem) e quem são eles hoje depois que foram aceitos como judeus e vieram para Israel.
    Então por que toda África não deseja ser judeu e viver num país civilizado?
    Quando aos inúmeros "cristãos novos ou marranos", entendo que existem e que de vez em quando despertam e encontram o "tal judaísmo" que um dia seus antepassados abandonaram e se embrenharam no mato e viveram séculos como cristãos.
    Quero me explicar que não mantendo o mínimo de regras que adota o judaísmo, a missagenagem, o brit milá, bar mitzvá, casamento e divorcio assistido por um rabino e descendencia da mãe goia,o judaísmo não é coisa de eternidade, ele desaparece e só aqueles que continuaram a "ferro e fogo" continuaram sendo judeus o resto virou poeira e judaísmo, não tem mais nada.
    Sei que hoje o que conto acontecido no Recife na principio do seculo XX no caso do "O ROMANCE IMPOSSÍVEL", é coisa corriqueira.
    Um amigo da Agronomia que também descobriu seu passado me definiu a situação desta forma:
    "HOJE TODA FAMÍLIA JUDAICA NO NORDESTE, TEM UM PADRE, UM PRETO E UMA PUTA".
    Achei bastante significativo para esta situação especifica causada ao nosso povo pelo fenómeno negativo da assimilação galopante.
    Então espero que você como outros que ficam com "tezão" com o aparecimento destas noticias que toda África é descendente de Moisés, não é para tanto!
    Um abraço.
    Paulo

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  5. Dr.Mpshé Rosenblatt Hadera, Israel
    DISSE:
    Muito bom, Paulo.
    Você sabia que em Hulon tem um bairro de Shomronim (Samaritanos)?
    Nao e' so' em Nablus que eles vivem.

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  6. Paulo Lisker Israel
    Disse:
    Muito obrigado Doutor pelo seu comentário.
    Quanto aos Samaritanos, escrevi que um pequeno grupo vive perto da cidade milenária Yaafo. Sei que hoje vivem em Hoolon, porém quem naquele tempo em que se conta esta estória saberia onde é Hoolon, assim dizendo perto de Yaafo poderia ser mais captavel pelos inúmeros goim (Não judeus) que lêem estas croniquetas infantiloides sobre um passado muito desconhecido por muita gente. Mas está lá algo sobre os Shomronim fora de Nablus. Vá ao texto e encontrará.
    Me desculpe se não pus o local geográfico bíblico.
    Agradeço e espero sempre seus inteligentes comentários.
    Pena que os temas estão se acabando, que fazer, inventar não sei!!!
    Abraço.
    Paulo

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