Estimado Dr. Meraldo, shalom!
1. Agora terminei de ler seu livro "JACOB DA BALALAICA" e fiquei triste, pois ele deixa o gosto de querer mais.
Não adianta procurar, o livro terminou, não tem mais paginas para ler. Voltei a umas paginas para trás, li de novo, mas no fim chegamos ao fim da viagem.
2. Por que triste?
Triste como no fim dum passeio de ônibus e chega à hora de descer, pois o passeio terminou. Não é TV que tem "repeteco".
3. Triste também pela descrição da atual situação da nossa pracinha. Numa das minhas "crônicas" eu faço esta pergunta "como estará a nossa pracinha hoje" e imaginava ela como eu a conheci na década de 40-50!
Agora tenho que refazer a ordem das "cartas no meu baralho" e me acostumar não mais com uma ilusão de garoto.
É triste amigo da infância Dr. Meraldo.
4. Esta "viagem de ônibus" com centenas de personagens sentados em minha volta, uns muito conhecidos outros menos, uns de cara aberta outros fantasiados, a viatura ia passando pelo Recife matuto dos judeus e de vez em quando o guia contava coisas também que aconteceram na Europa antes da grande viagem para as Américas.
Respirávamos os aromas, víamos as cores do que nos rodeava, ouvíamos os sons das musicas dos repentistas e dos rádios de válvulas e vitrolas de manivela nas casas da Rua da Alegria, Aragão, São Borja, Conceição, Hospício, Manuel Borba e tantas outras. Sentíamos o vento quente e a brisa do mar.
Pela janela víamos e até reconhecíamos os garotos que iam para o Ginásio Pernambucano (fardados de cor caqui) e outros em civil para o Osvaldo Cruz.
5. A leitura do seu livro nos leva ao passado nesta viagem de ônibus. Uma parada aqui e ali, na Sociedade, na Unificada (escutávamos com grande interesse as discussões entre os judeus sionistas e progressistas). No clube Hebraico alguém tocava um instrumento musical ou ensaiavam uma peça teatral, sob a batuta de senhor Rotman ou senhor Morguenstern.
No porto raso do Recife sentíamos o cheiro da maresia, fazíamos uma passadinha para tomar um maltado com bolinhos de bacia na galeria que nunca teve portas para fechar, aberta 24 horas.
O passeio pela trilhas do nosso passado começava e terminava na querida Praça Maciel Pinheiro.
6. No principio do livro vi a foto do senhor Jacob e me lembrei das conversas com um homem inteligente de boa prosa no terraço da sua casa na Gervásio Pires, sentado num balanço que lá estava.
Tentei convence-lo de permitir que Fernando seu irmão mais novo fosse jogar futebol na posição de goleiro na nossa equipe do movimento juvenil israelita. Não consegui então eu mesmo tive que jogar de goleiro nas partidas contra os filhos dos italianos, e depois contra os moleques do Largo da Santa Cruz e com um goleiro fuleiro perdemos as duas partidas.
No fim do livro está à foto de Meraldo, Fernando e dona Anita, a sua mãe.
Os tempos mudaram nestes 50 anos para mim em Israel fora do Recife, assim também a querida família Zisman que lá ficou. Não sei se nos reconheceríamos caminhando pela Rua Nova ou da Imperatriz, porem com a leitura do seu livro "JACOB DA BALALAICA" as nossas ligações retornaram ser como nos tempos em que empinávamos papagaio na campina da Alegria ou na Ilha do Leite.
7. Este livro será uma lembrança eterna do senhor Jacob, que desta forma sempre estará entre nós, com ou sem a balalaica, porém com a sua filosofia de vida e seus conhecimentos da Cabalá.
8. Dr. Meraldo lhe felicito por ter me permitido voltar ao passado de uma forma tão legal, meus parabéns. Um grande abraço daqui da "Terra Santa", Israel.
PAULO LISKER
PAULO LISKER