Tema: EPILOGO (NO
SÓTÃO).
Rehovot,
24-06-2011.
PAULO
LISKER-Israel.
Depois do sumiço
(desaparecimento, em nordestino) do meu avô para sempre, as coisas mudaram
muito.
O casarão na
Gervásio Pires e os personagens do cotidiano já não eram a mesma coisa como
antes.
Os amigos do meu
avô parte faleceram e outros já não nos visitavam e as reuniões dos
"bebedores de chá" se acabou.
Não é fácil se
acostumar com esta lacuna que se formou na nossa vida.
Os verdureiros já
não traziam mais o chuchu para a dieta, as "Mães de Santo" dos
terreiros do Xangô não precisavam mais invocar pela ajuda no restabelecimento
da saúde do velho galego da prestação.
Seus dois
ex-vendedores de mercadorias a prazo nos subúrbios deixaram de nos visitar
depois que faliram trabalhando por conta própria e pela vergonha do fracasso,
não vinham mais a nossa casa.
O pior de tudo era
ver a cadeira de balanço vazia no terraço e a sua cadeira junto à mesa de cear
que ninguém tinha coragem de sentar-se nelas durante meses, depois do seu
falecimento.
Minha mãe às vezes
se saia com umas "crenças da Idade Media" e quando via a cadeira de
balanço se mover (pela brisa) dizia: Papa que nos visita. Quando caia um prato,
um copo ou qualquer outra coisa na cozinha e fazia barulho, dizia: Papa está
querendo transmitir algo que não teve tempo de nos comunicar quando moribundo.
Minha tia Dina que
era meio supersticiosa pediu um encontro com a "vidente" Madame Jael
da Rua Visconde de Goiana, para botar em "pratos limpos" estas coisas
que insinuava minha mãe a "três por quatro".
Agora vá conseguir
um encontro com ela de hoje para amanhã. Era impossível.
A fila de gente já
começava as 4 da madrugada e não terminava nunca.
Um encontro com
ela pelos caminhos normais poderia levar pelo menos três meses.
Com tudo isso
resolveram marcar este encontro e pagaram algo adiantado.
Entretanto minha
tia Dina mais seu irmão o tio Jorge "o sertanejo", resolveram ir
falar com o Senhor Arigó, outro vidente e curador de doentes incuráveis em Belo
Horizonte. Dito e feito.
Custou os
"tubos", a viagem de ônibus (carro leito) e o que cobrava o senhor
Arigó pela seção extraordinária com o alem.
Voltaram de avião,
pois não aguentariam outra viagem de ônibus de volta ao Recife.
Estavam muito
desapontados com o que revelou o "feiticeiro", o tal "Arigó de
galochas". Assim o chamavam os laicos, pois andava em casa com um
"guarda pó e de galochas".
Dizia ele entre
outras, que o "imortal Joseph" está bem instalado, muito satisfeito e
que ainda não mandou mensagem nenhuma.
O que está
acontecendo no casarão eram "capetas" mandados pelo satanás para
espantar a vocês e nada mais!
Levem este frasco
de "água benta" e gotejem algumas gotas em cada quarto sem deixar
nenhum.
Estes
"capetas", no mesmo dia fugirão e nunca mais vos importunarão! Eles
têm terror à Água Benta do Jordão.
Agora vá saber se
esta água é do Rio Jordão na Palestina ou de uma torneira da cidade Campos de
Jordão em Minas, eu acho que é desta ultima. O preço era igual a uma dúzia de
garrafas de Uísque irlandês.
Ao voltar de Minas
relataram para toda família a decepção total e a "safadeza" deste
vidente "de pés descalços", desculpem de galochas.
Tudo estória para
"boi dormir", mas aqui está o frasco que ele mandou para gotejar em
todas as dependências da casa e a paz celestial voltará a reinar no nosso
casarão, pois tudo que está acontecendo é um produto de "mau olhado"
de gente invejosa!
Meu pai que não
era muito crente nessas coisas ria como se tivesse assistindo a comedia divina
e murmurava em iídiche:
"Tipshim,
machen zich hoizik", (Tolos, imbecis, estão se ridicularizando).
Minha mãe depois
de uns dias que o nego Capitulino fez uma limpeza geral na casa toda foi e
pingou em todas as dependências, água benta da garrafa mandada pelo Arigó e que
custou uns bons contos de reis.
Meu pai até hoje
ri desta idiotice e diz, "tolos não morrem nunca, sempre existirão outros,
para cair nestas esparrelas".
Depois disso, como
um milagre, a calma voltou a reinar no casarão da Rua Gervásio Pires.
A luz dos
acontecimentos resolveu-se não ir ao encontro com a tal madame Jael, mesmo
perdendo o pagamento em adiantado que fizeram para garantir este encontro. Se o
de galochas não vale nada que dirás esta madame da Rua Visconde de Goiana, na
entrada da Ilha do Leite.
Pronto, fim de
crendices idiotas, tudo voltou a girar em torno do eixo normal da vida.
Agora ficou vazio
o sótão do falecido e a casa sem assombrações.
Foi
aí que me veio à idéia de instalar-me lá.
Deixar
o andar térreo onde antes habitava, controlado a cada instante pela família e
até as empregadas muitas vezes eram quem semeavam encrencas (discórdias em
nordestino) com meus pais e eu "pagava o pato", (eterno culpado, o
"bode expiatório").
Elas
reclamavam para minha mãe ou tia Dina quando ainda morava conosco:
-"Ele
escondeu o nosso fumo e os cachimbos"...
- "Peguei
ele espiando (olhando, em nordestino) por baixo da porta nós nuinhas tomando
banho"...
-"Ele
emborcou uma caixinha inteira de pimenta do reino no nosso feijão"....
-
"Esse menino faz muita traquinagem, entra com os pés cheios de lama depois
de nós lavarmos o chão da saleta e da cozinha"...
Eram
queixas sem "pé nem cabeça" e que não tinham fim e minha mãe sempre dava razão a elas.
-Agora
minha gente, vou-me embora lá pra cima, vou viver no sótão e lá faço o que
quiser e nem quero ver mais vocês!
Quero
ver quem vai escrever ou ler os recados dos namorados de vocês, né? A quem
vocês vão pedir agora, eu não quero nem ouvir mais!!!
Porém
para esta proeza deveria receber o consentimento de meus pais.
Uma
noite quando entrei em casa encontrei todos sentados na sala de jantar a minha
espera para cear. Fui lavar as mãos e junto à pequena pia sem desviar o olhar
para ninguém, como que falando para a parede disse:
-Meus
queridos, de amanhã em diante vou morar no sótão de Zeide e sobre isto não
quero discussão nenhuma. Tia Dina também já foi morar na "republica de
estudantes de enfermaria" da FEB junto do hospital Pedro Segundo.
(Preparar enfermeiras alfabetizadas para servir a "Cobrinha Fumando"
na Força expedicionária Brasileira, na Europa).
Agora
o sótão ficou vazio e eu vou morar lá e fazer dele a minha casa.
Meus
pais se entre olharam e me miraram espantados e com certa admiração, pois
sentiram com certeza que estou "ficando gente grande" e este era o
meu "Grito de Independência" ainda muito antes de completar os 13
anos.
Sem
nenhuma discussão, reinou um silencio quase sepulcral e minha mãe exclamou:
-Amanhã
mesmo Maria do Carmo (a empregada), fará toda a mudança de tuas coisas para o
sótão, agora come o jantar que já deve estar frio.
Minha
vida de menino mudou completamente.
De
repente fiquei mais independente, trocava as lâmpadas queimadas, reparava as
vidraças partidas, estudava e fazia os deveres porque queria e não obrigados
por minha mãe, vestia o que me dava na veneta e tomava decisões eu mesmo quando
cortar o cabelo, tomar banho, mudar de roupa ou mandar a suja para a lavadeira
lavar. Um ser independente! (não totalmente é claro).
Eu
ainda usava algumas mordomias no térreo, mas logo subia para o meu mundo
particular, muito orgulhoso de mim mesmo.
Acabaram-se
os carões (repreensões) por qualquer coisa, eu evitava os contatos com o mundo de baixo ao
mínimo necessário e pronto.
Foi
o meu avô que com seu sumiço me herdou o primeiro passo da independência e me
fez sentir como homem! Aí vô não te esqueço, te agradeço, parece que tu estas
olhando pra mim pela clarabóia do telhado cheio de goteiras.
Logo
me transformei numa espécie de "fantasma da opera", comecei a
explorar todos os quartos, as salas, abria os baús que ainda vieram com a
mudança da Áustria na velha Europa. Os
guarda roupas cheios de mostruários, cortes de fazenda, sombrinhas, lista de
devedores, passaportes, dezena de chapéus, mas eu procurava uma pistola, besteira
de menino. Deve ter alguma arma escondida por aqui, não é possível que não,
dizia eu a meus botões.
Aí
meu Deus, se encontrar uma pistola daquelas dos filmes de "caubói",
virgem Maria, todos meus amigos vão ficar com uma inveja danada. Vou pedir a
eles segredo absoluto, pois se isso chega aos ouvidos dos meus pais é bem capaz
que me internem numa escola de padres!
Vige,
vou ter que ir a procissão carregando santos, servir nas missas do domingo,
sabe lá que mais. Nunca festejarei o meu "Bar Mitzva". (Evento judeu
comemorado para os jovens de13 anos de idade, quando o menino se torna homem e responsável
por suas ações com todos os direitos religiosos deste povo).
Pistola,
não achei e quem sabe foi até bom diante do que a imaginação me levou em
relação ao castigo que meus pais poderiam impor-me.
Num
baú achei muitos livros de atas de reuniões realizadas talvez na Maçonaria ou
em alguma organização "clandestina ou subversiva", tudo escrito numa
caligrafia linda e talvez só fosse a febril imaginação de um menino vendo
mistério em tudo.
Nunca
me aprofundei para saber qual a procedência daquele material. Hoje tenho
remorsos, pois se soubesse o que continha aqueles escritos, poderia com muito
mais categoria relatar o passado desta comunidade.
Hoje
só me restam as lembranças do que presenciei e ouvi quando menino e adolescente,
as estórias contadas por outrem e os boatos que alimentavam a colônia judaica
do Recife que tornavam o seu cotidiano mais interessante e alegre. Eu andava
atrás de achar um revolver, menino que queria ser Tom Mix.
Jayme Zimilis foi o primeiro dos meus amigos da infância á visitar-me no sótão. Ele me ajudou a espantar os
casais de morcegos que habitavam no telhado, isto fazendo vibrar uma longa vara,
dessas de espanador. O "radar" dessas "pestes voadoras" não
captavam e se chocavam contra a vara e saiam por qualquer fenda chiando de dor
e já não voltavam mais.
Vocês sabem e que é dormir com morcegos voando em volta da cama? Nem queiram saber, um suplicio.
Depois dessa feliz experiência com a vara, este suplicio acabou de vez.
Aqui e ali entrava algum morceguinho para visitar a sua antiga moradia, mas logo iam embora. A vara, sempre estava presente encostada num canto da parede para qualquer emergência. Parece que os morcegos aprenderam do famoso "efeito de Pavlov"( o tal reflexo condicionado).
Me faz até lembrar de um comercial de Detefon contra insetos caseiros, que dizia: "Na sua casa tem baratas? não vou lá. Na sua casa tem formigas? Não vou lá, peço licença pra mandar Detefon no meu lugar". Alguém lembra? Agora quem funciona é a "vara" e os morcegos acabaram de vez. "Na sua casa não tem vara, não vou lá".
Vocês sabem e que é dormir com morcegos voando em volta da cama? Nem queiram saber, um suplicio.
Depois dessa feliz experiência com a vara, este suplicio acabou de vez.
Aqui e ali entrava algum morceguinho para visitar a sua antiga moradia, mas logo iam embora. A vara, sempre estava presente encostada num canto da parede para qualquer emergência. Parece que os morcegos aprenderam do famoso "efeito de Pavlov"( o tal reflexo condicionado).
Me faz até lembrar de um comercial de Detefon contra insetos caseiros, que dizia: "Na sua casa tem baratas? não vou lá. Na sua casa tem formigas? Não vou lá, peço licença pra mandar Detefon no meu lugar". Alguém lembra? Agora quem funciona é a "vara" e os morcegos acabaram de vez. "Na sua casa não tem vara, não vou lá".
Com
o tempo vieram os outros amigos, podias sentir a inveja de todos ao ver o que alcancei
nesta idade vivendo quase que independente.
Eu
no sétimo céu. Me "amostrando"! (termo nordestino para regozijar).
Um
dia avisei a todos os amigos na escola que iria transformar uma das salas num
local para fazer "experimentos", armar radio de galena, maquina de
projeção de cinema e um estúdio de pintura.
Tem
lugar para tudo e tempo não falta.
Logo
pintei uma parede de branco para a tela de projeção e comecei a procurar como
armar uma câmara de cinema de cacos, ferro velho e uma caixa de madeira de
sabão, que recebi do senhor Lopes o dono da venda de "Secos e Molhados"
na esquina das Ruas Gervásio Pires e da Conceição.
Nomeei
Jaimezinho de sócio e ficamos de falar com Honório nosso vizinho de defronte
que botava todo ano uma "rifa" de venda de fogos na época junina. Ele
entendia de muitas coisas, até conseguia captar eletricidade grátis por
"indução" dos fios de alta tensão que passavam rente as nossas casas.
Porem sua participação nesta
"sociedade de inventores" seria mais adiante, caso encontrássemos
dificuldades nos nossos "projetos" futuros.
O
primeiro problema não demorou a chegar. Encrencou (complicou em nordestino) com
a câmara de passar cinema, então fomos à busca do Honório e propomos a ele ser
também sócio dos nossos "projetos e invenções".
Honório
veio e olhou a "maquina de passar cinema" que bolamos (inventamos, no
linguajar da rua). Uma caixa de madeira, de lado uma janela com dobradiças e
fechadura, dentro um lâmpada de 100 velas com interruptor, uma lente que fazia
zoom manual dentro de duas latinhas de Pó Royal, uma manivela, polias,
correias, tudo que deveria fazer uma "maquina de cinema", mas
resultado zero. Que decepção!
Logo
de saída tivemos dois problemas:
Primeiro:
O calor da lâmpada queimava o filme de celulóide.
Segundo:
O filme corria porem as calungas não se moviam na tela.
Honório
não titubeou e achou logo soluções para os problemas. Primeiro, afastar a
lâmpada do filme e colocar um espelho para aumentar a claridade perdida com o
afastamento.
Segundo,
introduzir um "corta quadro" que desta forma evita a nossa visão ver
quando correm as fotos entre a luz e a lente. Genial, as duas idéias resolveram
os problemas e as "calungas" que formavam o elenco da "fita" (filme em nordestino), começaram a se mover na tela.
Pedaços
de filmes de verdade conseguíamos com os senhores Sampaio e Álvaro os
faxineiros do cinema Politeama na Rua Barão de São Borja e do cine Parque na
Rua do Hospício respectivamente. Eles juntavam estes "fitas"
sobrantes nas casas de maquina do cinema e queimavam no fim da limpeza, até que
um dia descobrimos e fizemos negocio. Eles não mais queimariam e nós
compraríamos por uns tostões cada pedaço de metragem dos filmes jogados no lixo.
Sempre
eram pedaços curtos, mas nós aprendemos a colar com esmalte de pintar unhas e
em pouco tempo já tínhamos um rolo significativo.
Um
dia compramos por 2mil reis um desenho animado completo. O maquinista do Cinema
Parque se "arretou" (ficou abusado), pois cada 2 minutos o filme se arrebentava, então ele jogou o
rolo todo, em pedaços é claro, no lixo. De lá chegou as nossas mãos, com muita
paciência colamos tudo de novo, acabamos com duas garrafinhas de esmalte de
minha mãe e tivemos que mentir dizendo que não fomos nós "os
cineastas" os responsáveis pelo desaparecimento dos ditos cujos.
Este
desenho animado era uma estória de um grupo de esqueletos músicos que saiam das
covas com seus instrumentos e começavam a tocar e dançar no cemitério, entre as
sepulturas.
Este
sim, depois dos arranjos que fez Honório, as calungas (esqueletos) se "buliam"
na tela que era uma beleza.
Não
éramos tão sofisticados, pois musica não acompanhava este "tragicômico
desenho animado", mas Jaimezinho propôs trazer uma velha vitrola que
estava na garage da sua casa, um par de discos, aqueles de baquelita, uma caixa
de agulhas usadas e pronto teria até som no nosso cinema.
Vejam
só que "alcance espetacular" chegamos, só com um pequeno atraso de
meio século. Mas que importa, estávamos orgulhosos e já nos comparávamos com os
estúdios da "Metro Goldwin Maier" de Holiwood, que por acaso também são judeus, estávamos em família.
Comunicamos
na escola e vinham muitos amigos e conhecidos ver o milagre daquela caixa de
sabão transformada em projetor de cinema com musica e tudo, e bem baratinho,
cobrávamos entrada que custava só um cruzado.
Ganhamos
um dinheirinho até que o publico raleou e não comparecia mais. Foi nesta
situação que passamos a "fabricar" Radio de Galena.
O
especialista neste campo era o Honório. Ele fez o primeiro, ensinando a nós que
coisas seriam necessárias conseguir e depois como montar.
Outro
milagre que historicamente antecedeu ao aparelho de radio com válvulas ou o
portátil de pilhas
Esse
funcionava sem pilhas ou eletricidade, tudo baseado em cristais de Galena, imãs
e bobinados que conseguiam captar as ondas sonoras transmitidas palas estações
de radio. Era preciso uma antena arretada de grande e um fio pegado a uma
torneira ou cano d'água.
O
problema da antena resolvemos com um artefato que Honório conhecia dos seus
experimentos anteriores, era só meter num dos orifícios de uma tomada elétrica
(evitava passar corrente elétrica) e toda rede do Recife era a nossa antena.
Melhor que isso, impossível!
Não
dávamos maiores informações sobre o "invento" para não perder a
"patente", mas todos que viam o tal milagre, falando e tocando as musicas
transmitidas pela Radio Clube De Pernambuco ficavam deveras muito surpresos e
não importa se eram meninos ou adultos. Toda tropa de "boca aberta"
em volta do radio a Galena e nós no sétimo céu.
Aqui
entre nós este "engenho" era do vosso tempo?
A garotada
de "papai rico" que podiam pagar 5 mil reis (uma moeda de prata com a
esfinge de Santos do Mont) comprava a "maravilha". Nunca antes de deixar
bem claro que o tempo de funcionamento nós não garantimos mais de um mês, apesar
de que no interior do Estado eles aguentavam muito tempo, não menos que um
candeeiro e só um baque (queda) os inutilizava.
Foi
vendida pelo menos uma dúzia deles.
Com
o tempo Honório foi estudar eletricidade e motores elétricos na Escola Técnica
do Derby. Só o víamos quando colocava junto à porta de sua casa a
"Rifa" para a venda de fogos juninos. Aí íamos conversar com ele e
aproveitávamos para soltar uns "peidos de velha" e quando passavam as
garotas, jogávamos entre elas uns "traques de massa", elas saltavam
feito cabritas no mato. Eita tempo bom danado!
A "sala
dos engenhos" no sótão virou Studio de pintura. Era o tempo que já
tínhamos ingressado no movimento socialista juvenil judaico denominado
"Hashomer Hatzair" (Jovem Guarda).
Garotos
e garotas pertencentes a este movimento vinham visitar o nosso Studio.
Todo
o material necessário, assim como, pinceis, tintas, molduras com telas,
cavaletes, etc., estavam à disposição dos que queriam se meter na arte da
pintura.
Foi
o tempo que conhecemos o grupo de artistas plásticos de Abelardo da Hora cujo
atelier era na Rua Velha.
Passávamos
pelo Largo da Santa Cruz para tomar um copo de caldo de cana bem gelado com um
pão doce, num bar da esquina desta praça tão frequentada pela meninada das ruas
das adjacências.
Nas
visitas ao atelier de Abelardo íamos aprender a arte da pintura com um grupo que
era formado por jovens super talentosos e de ideologia radical vermelha.
O nosso
movimento juvenil judaico admirava este grupo porem com uma diferença que nós éramos
mais pacíficos e a nossa ideologia vermelha, levava o nosso pessoal no fim do
caminho a galgar a pátria dos judeus, Israel. Lá trabalhando duro para produzir
alimentos nas terras desérticas que nos herdou o Senhor.
Na
realidade iríamos praticar o socialismo nas áreas rurais do país e não mais
pichar paredes ou pintar faixas para as demostrações estudantis ou de
sindicatos de trabalhadores no Recife.
Em
tempo útil seria bom lembrar que a Segurança Publica do Recife não nos via com
bons olhos e até "batidas" eram realizadas nos nossos centros de
reunião, studio ou mesmo na casa dos lideres procurando algum material
subversivo.
Alguns
artistas deste grupo (de Abelardo da Hora) nos visitavam no nosso sótão, não me lembro se o próprio
Abelardo também esteve por lá. A amizade entre os grupos era bastante forte e até
uma das nossas pintoras principiantes, Guita, que depois se passou ao grupo de
Abelardo, se transformou numa artista de renome nacional.
Ai sótão, sótão bom danado.
Ai sótão, sótão bom danado.
Quantos namoros não começaram por lá, os primeiros beijinhos, coisa de namoros inocentes, as vezes não deva certo, ai ficávamos de mau, mas no fim continuávamos amigos. Coisa da mocidade.
Ao entrar na universidade passávamos as noites estudando para as provas. Usávamos o sótão para virar noites em claro, metendo na cabeça o material de ensino superior. Era uma "decoreba danada" (decorávamos, memorizávamos) o assunto, mesmo sem entender patavina (nada), o importante era tirar uma boa nota e passar de ano.
Minha mãe mandava com a empregada os lanches para meus amigos, os estudantes noturnos. Era café e sanduíches e sempre perguntava se queremos algo mais. Estes lanches noturnos eram lembrados muitos anos depois quando por acaso encontrava amigos do passado já formados e exercendo a profissão de agrónomo pelo Brasil afora.
Como também o meu irmão mais novo enveredou na mesma profissão, então o
Minha mãe mandava com a empregada os lanches para meus amigos, os estudantes noturnos. Era café e sanduíches e sempre perguntava se queremos algo mais. Estes lanches noturnos eram lembrados muitos anos depois quando por acaso encontrava amigos do passado já formados e exercendo a profissão de agrónomo pelo Brasil afora.
Como também o meu irmão mais novo enveredou na mesma profissão, então o
ritual
continuava da mesma maneira, virando noites estudando e deliciando os lanches noturnos preparados pela mamãe.
Derrubaram
o casarão depois que toda nossa família viajou para Israel.
Fim da serie "DAS CONVERSAS COM MEU AVÔ".
Todos os direitos autorais registrados.
Cuidem com os créditos
Fim da serie "DAS CONVERSAS COM MEU AVÔ".
Todos os direitos autorais registrados.
Cuidem com os créditos