quinta-feira, 30 de outubro de 2014

As bodas de Xoxa com o "Prego" parte 1 (UM AMOR IMPÓSSIVEL)

 

                                        FOTOS ILUSTRATIVAS -GOOGLE INTERNET

"UM AMOR IMPOSSÍVEL"   (Novela)
Paulo Lisker
Israel.
Tema: As bodas de Xóxa com o "Prego" (parte 1)

Xóxa entrou na casa de seus pais no sobradão da Praça Maciel Pinheiro. Nesta casa ela viveu desde que nasceu no Recife. Agora retornou depois de quase sete meses após a sua fuga com Dadinho o "goi" (não judeu), o seu namorado.
Primeiro se dirigiram para fazenda "Os três Cipós" do pai de Dadinho em Alagoas e de lá para Triunfo no interior de Pernambuco.
Para o Recife ela voltara sozinha, pois Dadinho tinha um compromisso a realizar, terminar em Triunfo o ano escolar onde estava lecionando.
A empregada abriu a porta da casa, a surpresa foi "de lascar" (Enorme, na língua do povo), começou uma confusão dos diabos.
Ninguém esperava por isso, uma verdadeira surpresa, pensavam que ela nunca mais voltaria. Pelo menos era isso que previam duas videntes de "grande experiência" da Rua Visconde de Goiana (Madame Jael e a vidente Coração de Jesus).
Depois da fuga deram parte a policia na delegacia da Rua do Aragão.
O delegado Mota veio pessoalmente em casa escutar o acontecido, balançou muito com a cabeça como se estivesse dando a máxima atenção aos fatos mas foi categórico ao dizer que ele não poderia fazer muito, afora colocar um anuncio na seção de desaparecidos, nada mais!
A policia, disse ele, não sai a procurar um casal de namorados que resolve fugir do alcance dos pais.
Isto é um fenômeno que acontece todo santo dia "de três por quatro" (muitas vezes).
Sabiam todos que da policia do Recife nenhuma ajuda seria recebida.
Nesta atmosfera super carregada com a volta de Xóxa, a empregada foi a primeira que voltou a realidade e saiu correndo pelas escadas gritando:
- "Sinhá Xóxa" voltou, ela voltou pra ficar pra sempre, graças Nosso Senhor e o Espírito Santo!
Gente, ela voltou, Nossa Senhora dos Prazeres aceitou as minhas oferendas que pus no altar da Matriz toda semana, mas que bom!
As vizinhas abriam as portas e postigos e colocavam a cabeça pra fora para escutar as novidades.
Outras vizinhas judias, do jeito que estavam vestidas saiam às carreiras para saudar a família com as boas "bessirem" (boas noticias em iídiche, derivado do hebraico).
Em casa um "reboliço danado" (muita confusão), o chefe da família, senhor Shloime que desde a fuga de Xóxa, não consertava mais relógios, vivia sentado lendo a bíblia (ha Tanach) junto à janela do seu quarto que dava de cara (em frente) com a Praça Maciel Pinheiro.
Vivia resmungando em iídiche pelo terrível castigo que Deus lhe impôs na velhice. A fuga da filha querida com um "sheiguetz goi".  (em iídiche, vagabundo, não judeu).
-"Oi vaies mir mit maine tzures" (ai de mim, esta vida desgraçada, do iídiche). Continuava murmurando: "Eu e minha família que a gerações não colocamos na nossa casa nem retrato nem estatuetas (Lo tmuná vê lo pessel - em iídiche)", rezo e faço ao pé da letra tudo como exige as nossas santas escrituras e logo a minha filha foge com um goi e depois de meio ano volta com uma caixa cheia de "bonecos de barro" (arte em barro do famoso Vitalino) e nem pede perdão pelo que fez a nossa família, que vergonha!  (Oi a finstere biche, Gotiniu)!
Agora na minha casa no Recife, eu abro a janela do meu quarto e a primeira coisa que me entra todos os dias pelos olhos adentro é a estátua de uma índia nua (colocada numa fonte no meio da Praça Maciel Pinheiro) ai meu bom Deus, é de morrer!
O velho Shloime (Salomão em português) arrastava os pés, estava realmente aos pandarecos com o acontecido, nem a volta da sua filha querida, o conseguira reanimar.
A mãe de Xóxa, dona Golde choramingando e os irmãos (Uriel, Benchik e Duvidle) não sabiam onde "meter as mãos e os pés" (expressão de descontrole total), só à empregada que os criou desde criança ficou apegada a ela.
Sem perder tempo, foi logo dar uma arrumadela, e colocar as coisas no seu quarto que ficou vazio desde o dia que ela fugiu.
Passaram-se uns dias muito tensos e Xóxa não tinha para onde recuar, estava entrando no segundo mês de prenhez e a família ao saber quase toma arsênico ou estrichinina para acabar de uma vez com esta enorme difícil situação criada. Um verdadeiro desespero agudo daqueles.
Mandaram chamar urgentemente os dois casamenteiros, (shidech maher, em iídiche) que estavam de momento a disposição da comunidade, dona Berta e senhor Faierboim.
Toda conversa era cochichando em iídiche e desta forma relataram a eles a desgraça do acontecido. 
Estas importantes "figuras" da colônia israelita do Recife tinham acesso imediato aos serviços de urgência dos Correios e Telégrafos na Praça Maciel Pinheiro, para eles não tinha lista de espera para serviço nenhum.
Enviaram telegramas aos seus homólogos em outras cidades brasileiras e até para Argentina e Venezuela.
Tentaram contactos por telefone, mas naquela época "que se amarrava cachorro com linguiça" (tempo antigo), já viu né? Só dava ocupado! Vocês com certeza não lembram, porém naquele tempo conseguir uma ligação através de uma agência de correio era humanamente impossível, mesmo tendo as melhores relações com os funcionários locais.
Saíram telegramas de máxima urgência comunicando os dados da "dita cuja", da família tradicional e de respeito na comunidade, à origem ashkenazita (procedentes do Leste europeu), não havia problemas de organizar de uma hora para outra, o enxoval, (nedunie, em iídiche), noivado (tnoim), e casamento. (hassene, também do iídiche). Até aqui o texto do telegrama.
A mãe dona Golde, durante anos comprava aos poucos, tudo que uma noiva deveria possuir para casar quando chegasse "à boa hora". (in a guite chú, também do iídiche). 
O enxoval (há nedunie em iídiche) estaria prontinho e empacotado, com muita naftalina para evitar os estragos dos panos com o tempo. Esse era um costume das famílias judias. 
Agora o importante é que a solução desse caso fosse a mais rápida possível, pois a moça está prenha e o casamento teria que ser antes da menina "criar bucho" (a gravidez ser notada).
Sorte, sorte e grande! Não é que encontraram um homem solteiro "dando sopa" (disponível). A coisa era de máxima urgência, "questão de vida ou morte", pelo menos assim pensava a família e se via na cara deles o desespero total.
Todo casamenteiro (shidech macher) judeu, entendia em qualquer idioma em qualquer parte do mundo o que o texto do telegrama dizia claramente que tem um "goi" (não judeu), envolvido nesta bagunça. Então a solução teria que ser imediata. Sempre que está envolvido um goi nesta situação delicada, as coisas se complicam por demais.
Não adiantaram os lamentos e choros de Xóxa, ela estava "encurralada" nas tradições judaicas, que nem casamento com goi, nem parir o rebento sem casar eram aceitas segundo as tradições milenares deste povo. Ela ainda tinha sorte que esta criança nasceria judia, pois segue a religião da mãe, assim é segundo o judaísmo, ademais não seria considerada "mamzer" um bastardo, ai meu Deus, que sorte!
No dia seguinte todos da família saltaram como "mordidos de cobra" (surpresos, no dizer do povo), mas logo respiraram a fundo quando irrompeu Senhor Faierboim com um telegrama chegado agorinha da Bahia, comunicando que acharam um possível candidato para servir de noivo.
Havia uns "pequenos" problemas, mas na hora do "Deus nos acuda" todo problema poderia ser contornado.
A família do noivo era Sefaradita, o nome de família Abucassis, meio escurinhos, eram procedentes de Iquitos no Peru, a arvore genealógica os levava até o Marrocos no tempo que os judeus fugiram das perseguições dos Reis Cristãos na península Ibérica, nos fins do século XIV.
Já viviam no Brasil há muitos anos, primeiro em Belo Horizonte em Minas Gerais, onde o pai da família se dedicou ao comercio de pedras semi-preciosas e diamantes. Com o passar dos anos se transferiram para Bahia e se instalaram no Recôncavo, lá continuaram com o mesmo tipo de comercio, ademais eram donos de plantações de cacau e café. Dinheiro não faltava!
Fim da primeira parte: As bodas de Xóxa com o "Prego"
Todos os direitos autorais, reservados.
Cuide com os créditos.   

sábado, 18 de outubro de 2014

A volta de Xóxa ao Recife (parte 2)," Um amor impossivel" (novela)




                       Fotos do Recife antigo.
                                                   Google-Internet

"Um Amor Impossível" (novela)
                                          Paulo Lisker

                                          (BORRADOR)                      TEMA: A volta de Xóxa ao Recife. (Parte 2)

Já seu Simeão o chofer era também mecânico diplomado pela "Opel do Recife", um negro da cor de piche, sua pele até brilhava, a dentadura alva que  nunca viu dentista nem de longe, seu apelido na praça de estacionamento era "Jamelão" e claro torcia pelo Santa Cruz Futebol Clube.
Ele ao que me parece era "Crente" ou da "Igreja do Sétimo Dia" (estou em duvidas), um senhor de maneiras muito educada, prestativo, foi logo em busca da bagagem de dona Xóxa, meteu no bagageiro da "fubica" (assim denominavam os carros velhos naquele tempo) e saiu fumaçando em rumo do endereço que a passageira a sinhazinha dona Xòxa lhe dera. 
O aroma e as cores do Recife estavam espalhados nas ruas  próximas ao cais de Santa Rita e em volta do ponto terminal dos ônibus.
Não sei se também em outras cidades do nordeste se estampava o mesmo panorama.
Ali estavam as carrocinhas dos vendedores de "cachorro quente",  bolinhos de goma e pão doce salpicado com açúcar grosseiro, o carrinho de gelada de frutas da época (tamarindo, mangaba, graviola, limão da terra com nacos de casca, laranja comum, cajá, pitanga, pois frutas é o que não falta no nordeste.
Duas maquinas de caldo de cana que serviam em copos grandes com pedras de gelo um liquido doce, de cor verde intenso, tinham aqueles que preferiam adicionar também sumo de limão de pé franco. (Gosto e sabor, não se discutem). 
O cheiro da cana esmagada lembrava o cheiro que exalava as bagaceiras nas usinas de açúcar no seu processamento, ou mesmo dos canaviais em floração na zona da mata e agreste do nordeste.  
O vendedor de "garapa" (caldo cana azedado e algo alcoólico) anunciava o seu produto cantando seu conhecido pregão, outro anunciava quase gritando, "olha ai o mel de Uruçu, doce pra chuchu", ele trazia no segundo balaio, umas latinhas vazias de leite em pó ou do condensado da Nestlé, e cambucas para levar o produto pra casa. Quem não comeu pirão de farinha de mandioca com mel de Uruçu ou banana melada neste mel, não sabe o que é bom!
As tendinhas das costureiras, rendeiras e bordadeiras, com seus trabalhos manuais, as famosas rendas do Ceará, roupa usada, redes de Caruaru, estavam à venda nas calçadas.
O mais sui generis dos produtos crioulos, sempre estavam presentes, estes eram
os tamancos de madeira e as sandálias rústicas com o solado de pneus Firestone, pneus que saíram de circulação dos meios de transportes, porem nos solados destas sandálias eles não se acabavam nunca. Eu que o diga, pois as usei durante anos, nunca me envergonhei, muito pelo contrario, me vangloriava, pois os amigos usavam calçados da Casa Clark que eram os preferidos pelos "veados"(frescos na língua do povo), ricos da cidade.
E como em toda esquina estavam os vendedores de coco verde, malabaristas no uso do facão para preparar o coco (da Paraíba o de mais água e o mais doce), prô freguês beber e depois comer a "laminha saborosa" (sedimentação formada pela agua acumulada no interior do fruto), com uma colherzinha feita com a habilidade da própria casca do coco.
Não era raro escutar já de longe o vendedor de macaxeira rosa pregando:
-"Macaxeira Rosa, cozinha até em água fria, macaxeira rosa patroa, só hoje tem....." e por aí saía e desaparecia lá pros lados da Rua da Alegria ou do Beco da Mangueira.
Mais pra longe, estavam ancoradas no cais de Santa Rita, as barcaças, desembarcando fardos de algodão "Mocó" do agreste e do sertão, sacos de farinha de mandioca, sacos de açúcar, engradados com pequenos animais ou aves, um mundo de esteiras de todo tamanho, redes, vassouras de Piaçava, espanadores de carrapicho, varas compridas, gaiolas e alçapões de "barba de bode", eu mesmo não sei o que mais.
 Noutras, as barcaças carregavam pra levar o sal das salinas do litoral, carne de charque proveniente do Rio Grande do Sul, pequenos utensílios domésticos de alumínio, tecidos, vestimenta, calçado (sapatos e botas), roupa de cama, garrafas de refrigerantes e bebidas em geral, tudo que era material manufaturado na capital ou vinha do sul do País.
Todas essas operações, carregar, descarregar, empilhar, arrumar, amarrar eram feitas por negros musculosos, brilhando de suor nas quenturas e sem brisa no Recife do verão eterno.
Estes intrépidos estivadores crioulos, que vestiam camisas feitas de sacos de açúcar, usavam só seus braços e cabeças neste trabalho pesado. Era um costume dessa gente sempre estar cantando durante estas operações "portuárias". Eu nunca vi por lá guindastes ou cousa que o valha.

Imaginem o colorido e o aroma de tudo isso apresentado ao publico. Era mesmo para "limpar a vista" e que nem Walt Disney conseguiria colocar na tela do cinema, e que ele   me desculpe.

A fubica de seu Simeão ia rodando devagar pelas ruas apinhadas de transeuntes carregados de compras.
Ao passar defronte da famosa estação de trens da "Gretoeste" (Great Western.),
surgiam novamente os vendedores ambulantes e aqueles das barraquinhas.
Na pracinha em frente à estação e junto ao paredão do pátio onde ficavam as "Marias Fumaça"( locomotivas acionadas a lenha ou carvão vegetal), chiando e recebendo algum tratamento mecânico antes de se atrelar aos seus vagões de bitola estreitam (assim era naquele tempo as ferrovias no nordeste) e partir para as viagens no interior pernambucano.

Ali estava, o eterno vendedor de abacaxi descascado com arte, sem sequer um espinho na sua polpa, sempre cortados em quatro partes com pauzinho espetado para se poder ir comendo no caminho ou sentado no local, na sombra dos enormes pés de Fícus Benjamin.
As pilhas de abacaxi de cor verde (muitas vezes meio acido, bom pra refresco) e os de cor amarela, doces como mel e de um aroma que se alastrava até a Ponte Velha.
Estes estavam à espera dos compradores em atacado.
O cheiro era embriagador!
No outro lado, na calçada oposta, estavam as pilhas de melancias de Pesqueira, com estrias mais claras na casca, esta variedade nunca foi muito doce, porem os judeus sempre as apreciavam.

As de Escada eram melancias enormes de casca verde escuro, algo mais doce. Da sua casca grossa, algumas donas de casa judias, faziam delas conservas, assim como de pepinos ou pimentões, técnica  trazida da longínqua Europa de invernos frios e judeus pobres.
Pilhas de manga rosa, espada e manguitos diversos, que vinham de Catende e Palmares, tinha para todo gosto dos clientes.
Encostados e pendurados no paredão da Estação Central estavam os quadros de pintores crioulos com suas "obras primas". Pinturas "inocentes" em aquarela, óleo, e até material mais sofisticado (butique, esmalte, etc.).
Nas inúmeras telas estava estampado o nordeste brasileiro, sua gente, seus bichos, as plantações, as danças da roça e a exuberante vegetação tropical. Parece que o Sertão com suas periódicas secas, os resultados funestos por ela causada, a terra nua ardendo, carcaças de animais, os "paus de arara", o êxodo rural, a fome, os olhos tristes do sertanejo, não eram modelo ideal para os quadros dos pintores matutos!

Estava presente quase sempre  o vendedor de galinhas vivas da raça Carijó, estas de pescoço pelado e vermelhão.
Mais de lado debaixo de um Fícus frondoso, um "montão" de gaiolas cheias de passarinhos dos mais diversos, que eram pegos em alçapões em todo nordeste vendidos a preços irrisórios. Os mais procurados eram os papagaios (louros), canários, galos de campina, e periquitos. Nunca faltou mercadoria.
Vendedores de loteria estadual e nacional anunciando a sua mercadoria e contando dos prêmios fabulosos que seriam sorteados logo depois das 16 horas.
Era muito comum encontrar também os vendedores de letras de musicas populares da época (CORDEL, musica e ou poesias populares). Esta mercadoria sempre foi muito procurada pelo publico, pois "cantores de banheiro" sempre houve no Recife romântico daquela época. 
Nesta área, estavam  presentes os repentistas ou violeiros sertanejos, dando um concerto de sua arte e angariando uns tostões para comprar o almoço num bar junto da Ponte Velha.
A fubica atravessa a Ponte Velha e de lá se vislumbrava toda a beleza do Recife entre os rios e pontes, ela é mesmo a Veneza brasileira.
Na vazante do Capibaribe, dezenas de "catadores" de Siris.
Eles, assim como na sua própria vida, estavam atolados na lama do rio até meia canela, procurando tirar dela o seu misero ganha pão.
Também as barcaças aproveitavam a vazante do rio, e valentes nordestinos retiravam areia do leito para vender aos pedreiros e empreiteiros de construção.
Meu bom Deus, essas eram as cores, os sons, os cheiros, os apitos das "Maria Fumaça", anunciando a saída ou chegada na estação da Great Western ( Gretoeste, na língua do povo), os pregões dos vendedores ambulantes anunciando as suas mercadorias, os mesmos mendigos anos e anos sentados nas pontes com as suas chagas expostas para quem quiser ver e dar uma esmola. Nós até já conhecíamos alguns deles.
A vegetação exuberante para todo lado que se olhava, vazantes e enchentes, maré alta e maré baixa, jangadas de pau balsa e velas de sacos de sal ou açúcar, pontes pra "dar e vender" e uma delas até giratória, a primeira do Brasil.
Bondes para todo canto, fubicas (Ford Bigode do ano 29), corso e carnaval humilde, frevos para o folião, gente pacata e acolhedora do Recife, será que hoje ainda é assim? 
Será meu Nosso Senhor? Será? 

A fubica fumaçando, seguia pela Rua Velha e já - já chegaríamos à Praça Maciel Pinheiro e no sobradão, onde numa das casas, morava a família de Susana.
Ao passar pelos Correios e Telégrafos estava um grupo grande de gente discutindo e lendo uns comunicados que os funcionários de vez em quando colavam no quadro de avisos.

- Que aconteceu? Alguma greve? Perguntou Susana ao motorista senhor Simeão.
- Não senhorita, neste tempo de Getúlio ninguém tem coragem de fazer greve, oxente!
-Então o que é esta balburdia na porta dos Correios?
- Olhe, foi alguma coisa seria, afundaram um comboio de barcos brasileiros que estavam transportando tropas para reforçar as posições dos americanos no nordeste, Falam muito num tal Baependi, não sei se é o almirante da esquadra ou o nome de um dos barcos.
- E quem os afundou senhor Simeão?
- Dizem que foram os submarinos alemães nazistas e depois  que torpedearam, subiram "os filhos da peste, safados" à tona e metralharam os sobre viventes, para não deixar testemunhas! 
- Quando foi isso?
- Não sei dizer não sinhazinha, acho que foi essa noite! Agora com sua licença podemos estacionar na porta da sua casa?
Tremula como uma "vara verde" diante este reencontro com sua família depois da  fuga com seu namorado Dadinho, deu-lhe a devida permissão.
Ela não sabia o que esperar, qual seria a reação dos seus familiares.
Compreensão seria positivo ou o contrario raiva e desprezo, quem sabe? Porém agora "não se chora pelo leite derramado"(ditado, derivado do iídiche), e o que será, será! Assim diz o sábio.

Fim da parte 2 (A volta de Xóxa ao Recife), "Um amor impossível". (Novela)
Paulo Lisker, Israel  07-12-2010.
A próxima parte: : As bodas de Xóxa com o "Prego"
   





segunda-feira, 13 de outubro de 2014

A VOLTA DE XOXA AO RECIFE (Parte 1) - Novela




Recife a beira do cais.
Foto: Google, Intrnet



"Um Amor Impossível" (novela)
                                          

Paulo Lisker

                                           "BORRADOR"
TEMA: A volta de Xóxa ao Recife. (Parte 1)


Xóxa arrumou suas coisas no quarto da pensão, uma mala com roupas e uma caixa de madeira com todas as artesanias que juntou durante este tempo no interior do Estado.
Por onde ela passou comprou trabalhos de artistas de feira de rua e agora para que tudo chegasse bem no Recife pediu ajuda a Serginho, filho de criação da dona da pensão.
Ele logo veio e trouxe palha e muito jornal velho para envolver os bonecos e calungas de barro que juntou sinhazinha Susana.
Quando tudo estava acondicionado e bem fechado na caixa, ela saiu para a rua e passou na Agência de Viação "Itabaiana", que fazia a linha para o Recife e comprou uma passagem para terça feira próxima.

Ao voltar para a pensão de dona Raimunda, lá esperava o fiel continuo da prefeitura, senhor Salgado com a carta de recomendação prometida e um envelope com o pagamento que lhe deviam. Eram cédulas de mil para não fazer muito volume.
Ela tirou uma cédula e deu ao continuo, agradeceu a ele por ter esperado ela voltar e não deixar o envio na portaria da pensão.
Senhor Salgado não quis de jeito nenhum aceitar a gorjeta, mas no fim aceitou só depois que senhorita Susana disse que ficaria muito triste se ele não recebesse, pois ele merecia por todos os favores que fazia na rua para ela e também para as outras funcionarias nas horas do expediente normal de trabalho.
O Senhor Salgado era um tipo interessante. Veio de Campina Grande na Paraíba e tinha o ginásio completo, lhe faltavam as ultimas provas parciais (no passado tinha disso no ensino nacional).
Aconteceu que numa pequena diferença de tempo seus pais faleceram de tuberculose e ele teve que cuidar dos três irmãos e uma irmã, até que foram aceitos no internato dos padres Salesianos
Logo depois se mandou para Pernambuco e foi parar no fim da linha, em Triunfo.
Mas como não tinha "padrinho" (algum conhecido de influencia) não "virou" funcionário publico credenciado, porém tinha todas as condições para isto, pois era escolarizado.    
Muito tempo ele trabalhou como pedreiro em residências na cidade até que o engenheiro Rubinsky do DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra a Seca), que fazia inspeção nas obras de "açudagem" (construção de açudes e barreiros para captação de águas pluviais aceciveis na época de estiagem), viu seu desempenho e a preparação que ele tinha e no momento adequado recomendou ao anterior prefeito contratá-lo a fazer parte da folha normal de pagamento.
Ele foi logo aceito e assim começou como ajudante do continuo veterano e depois da morte deste, foi finalmente promovido a continuo principal da prefeitura.

O continuo voltou a seus afazeres e Xóxa voltou para seu quarto a dar os toques finais na sua bagagem. 


Nestes dias até a viagem, não tem poeta que possa descrever as relações amorosas entre Dadinho e sua amada Xóxa.
Deixemos para que o leitor ponha todo o "vapor" da sua imaginação, mesmo assim não creio que seja o suficiente para descrever estas relações amorosas do jovem casal. Numa só palavra: PAIXÃO.

Terça de manhã logo cedo, a charrete e o carroção do Ipê Roxo, mais três trabalhadores  estavam na porta da pensão.
O pessoal  ajudou a carregar a bagagem no carroção e levar para o ponto de embarque da "sopa" (assim denominavam o ônibus em grande parte do nordeste brasileiro).
Lá já estava o coronel e dona Genoveva (com guloseimas de fabricação caseira), Ramiro o filho adotivo que de momento estava de ferias, o diretor da escola local, o prefeito da cidade o Sr. Sampaio e uma porção de funcionarias amigas da senhorita Susana.

Dadinho vinha na charrete abraçado com seu amor de verdade e seus olhos revelavam quanto sofrimento estava atravessando com esta separação.
Dizia Ramiro, que até parecia os olhos de Jesus carregando a cruz  no vale de Gólgota.

Todos concordavam que com a viagem de Xòxa, deixando Dadinho "a ver navios" (dizer popular quando se procura alguém que nunca virá), as coisas em Triunfo de agora para adiante, não seriam mais as mesmas.
A despedida foi triste, a "sopa"( o ônibus) partiu lotada (todos os assentos ocupados), rumo ao Recife, naquele tempo era uma viagem de algumas horas com paradas para descanso e reabastecer.

A chegada de Susana no Recife foi lá para as 14 horas, estava chuviscando.
Nos dias de céu anuviado se sentia um forte cheiro que exalava a usina do Gasômetro, quando despejava as águas quentes do processamento do gás , no "coitado" rio Capibaribe.
Diziam que era ótimo para proliferação de caranguejos e siris nas lamas ribeirinhas ao rio, porém para os peixes, estes não tinham chance de se proliferar naquelas águas poluídas.
Susana ao descer do ônibus, procurou logo um carro de aluguel (Assim denominavam naquele tempo no Recife, um táxi) e por sorte achou um que trazia um passageiro para a rodoviária.
Para sua surpresa era um chofer da Praça Maciel Pinheiro, o senhor Simeão, que andava sempre engravatado e vestia o seu terno de brim de linho, super branco e engomado como se tivesse sido "passado no ferro" do china, por nós conhecido como seu Júlio.
O nome original dele na China, era  Chu Li Óh, (parecido com Júlio em português), assim era mais fácil para o uso das lavadeiras matutas que trabalhavam na sua lavandaria na Rua Gervásio Pires no bairro da Boa Vista, onde se concentrava grande parte das famílias judias do Recife.
Eu passava perto das janelas da lavandaria, ficava espiando para ver e muito gostava da "técnica chinesa" dele espirrando água da boca para umedecer a roupa na hora de passar o ferro a carvão e que para esquentar mais, abanava com um abanador de palha de bananeira, ai quantas chispas voavam pelo ar. Bonito danado! 
Seu Júlio era um "china" gorducho ( você já viu chinês gordo, aonde)?
Isto já era o resultado da assimilação aos costumes locais:
Primeiro, vivia amigado com uma mulata de Beberibe, viúva sem filhos.
Segundo, a comida brasileira que sempre alguma lavadeira no trabalho preparava para o almoço do patrão.
Colocavam a comida de manhã logo cedo no fogo de lenha e carvão  num panelão de barro no quintal e de vez em quando davam uma abanada e mexidinha. Ao meio dia o almoço estava prontinho com um cheirinho tão bom que endoidava (quase que enlouquecia) todos os moradores da Rua Gervásio Pires e redondezas.
Sabiam todos que o "china" está almoçando e não era hora de ir entregar roupa suja ou buscar roupa lavada pronta, nem que fosse para casamento ou missa do sétimo dia! Não aborrecer o "china" na hora do almoço.

Terceiro, logo se acostumou a descansar e se balançar na rede com sua viúva, beber água de quartinha, comer feijão preto todo santo dia, charque e pirão de agua, e não terminava uma refeição sem uma fatia de marmeladada (aquela da lata redonda da fabrica Peixe de Pesqueira).  Às vezes tomava uma "bicada"(um gole) de Pitú (aguardente local), isto era raro, só quando chovia muito, o sol não saia, e fazia um pouco de frio, praguejava em português e também em mandarino. Nesses dias de chuva, ia atrasar a entrega das roupas por não estar seca (a secagem era toda baseada no sol nordestino).

Quarto, andava descalço no trabalho, na rua de tamanco e quando ia tratar de sua naturalização, o calçado oficial era as sandálias com o solado de pneus usados.
Então assimilado matuto brasileiro, ou não? Serio me digam mesmo. Brasileiro da "gema"ou não?
Sempre sorridente este "china", prestativo e principalmente barateiro, cobrava a metade dos preços das lavandarias dos italianos que no Recife tomaram conta do ramo,
Mesmo que toda "operação" fosse feita manualmente pelas lavadeiras (usavam "Anil", claro) e ele engomava cantorilando em mandarino (parece), as roupas resultavam super limpas, com um engomado ímpar e um cheirinho que não tem outro igual.
Ademais o homem era mesmo generoso e depois de seis meses distribuía toda roupa que não era reclamada. Esvaziava a sala na qual se empilhava a roupa durante meses e ninguém vinha retirar.
Ele dizia sempre com um sorriso de chinês na cara:
- "Rôupa no pude ficou sin donho, si rico no quere levá pra casa, nois dá  prôs pobri".

Mas eu mesmo vi também judeus, não tão pobres, nas filas para medir algo do seu tamanho e para os filhos menores e ninguém se envergonhava disto.
Ai meu Deus assim era o meu Recife que não voltará nunca mais, só falto chorar.

Todos os direitos autorais registrados.
Cuide com os créditos

domingo, 5 de outubro de 2014

"NUVENS NEGRAS" (Um amor impossível) Novela



NUVENS NEGRAS
Foto: Google, Internet

Um amor impossível   (novela)
(PAULO LISKER)
                                                                                           "BORRADOR"
Tema: "Nuvens negras"
              No fim da semana Susana se apressou por terminar todos os despachos ainda pendentes, corrigiu todos os formulários com as queixas dos agricultores por "perdas" causadas pela longa estiagem (que na realidade não existiu).
Não assinou a nenhuma deles depois da visita ao campo, quando constatou que grande parte das perdas de colheita e animais, era fruto da imaginação dos agricultores.
Ela resolveu se demitir e não continuar assinando os formulários sabendo que grande parte deles continha informação falsa.
Juntou todas as pastas ainda pendentes, pediu a secretaria do diretor uma breve reunião, pois teria algo importante para lhe comunicar.
A secretaria, dona Elisabete, uma senhora já madura e prestes a se aposentar, muito prestativa, simpatizava bastante e nova e eficiente funcionaria, a judia dona Susana, imediatamente lhe concedeu uma sita com o senhor diretor o Licenciado Pedro Filipe de Chagas.
-Sente-se dona Susana, ele está já chegando. A senhorita aceita um cafezinho?
Entrou o licenciado e se surpreendeu encontrar a jovem funcionaria a sua espera.
-Bom dia senhorita Susana! Está a minha espera? Em que posso lhe ser útil?
Entrou na sala do licenciado, dona Elisabete veio com uma bandeja com um pequeno bule de café  bem quente cheiroso fumaçando, açucareiro, duas chicaras sobre pires e as colherzinhas para mexer.
-É tudo dona Elisabete, a nossa conversa aqui é confidencial.
 -Senhor diretor, não tomarei do seu tempo nem mais que 5 minutos.
-De que se trata menina: Retrucou o diretor.
-Eu trago comigo as ultimas pastas, já prontas, porem não assinadas, pois segundo o meu ver a nova funcionaria que virá me substituir deverá fazê-lo, pois eu hoje lhe entrego a minha demissão contida neste envelope, como exige o protocolo.
O diretor quase derrama o café no seu terno branco de brim de linho e ficou pálido, parecia que ia ter um "treco" (desmaio na língua do povo).
-Quem lhe ofendeu minha filha, o que aconteceu que você tomou esta decisão tão precipitada, o professor Abelardo está a par do caso?
-Ninguém me ofendeu, Senhor diretor. Tudo bem comigo, nada aconteceu.
-É que me voltou à vontade de fazer o curso de Farmácia em Recife e para isso tenho que retornar a capital, arrumar a papelada, me inscrever para fazer o concurso de entrada ainda em Dezembro e já está em cima da hora.
-Está é a razão, por favor, me entenda, não tente me convencer em ficar, pois também meu noivo, o Abelardo, não conseguiu  fazer-me retroceder desta decisão.
-Nossa Senhora, isto é mesmo uma surpresa nesta segunda feira, começar a semana com uma noticia destas, quando eu tinha para você planos sérios de lhe nomear como secretaria chefe no meu gabinete, logo após a aposentadoria de dona Elisabete com mais seis meses, esta agora é de "lascar" (inesperado e difícil), me desculpe o termo.
Susana segurava as lágrimas para não cair em prantos, pois sabia a causa real de sua demissão e o concurso de Farmácia era mero pretexto e lhe caia como uma luva na mão.
Estendeu a mão e disse:
-Muito obrigado por tudo, a sua ajuda para o nosso bem estar em Triunfo foi extraordinaria e eu nunca a esquecerei, agora me permita ir buscar umas coisas na minha sala, mais uma vez muito agradecida por tudo.
-Senhorita Susana, falo serio, saiba que eu tinha planos para sua carreira e a do Dadinho, aqui em Triunfo, mas "a vontade de uma pessoa é como a sua honra", desta forma quero desejar-lhe todo o sucesso e êxito na carreira que vosmecê escolheu para o futuro.
Dona Elisabete, chame o continuo o senhor Salgado, e, por favor, prepare uma carta de recomendação e agradecimentos dirigida à senhorita Susana pelo ótimo trabalho realizado aqui na prefeitura e mande o continuo levar na pensão onde ela mora.
E segundo, prepare uma ordem de pagamento e envie a contabilidade ordenando a tesouraria pagar o que devemos a senhorita Susana e que seja urgente antes que ela viagem para o Recife. O cheque mande também com o senhor Salgado.
Eu quero isso com a máxima prioridade e urgência.

Foi mais fácil do que ela pensava.
 Voltou a sua sala, pegou umas artesanias, (bonecos de barro originais do Vitalino, que comprou na feira de rua em Floresta dos Leões, (hoje Carpina). Levou sua esferográfica "Parker" no estojo de luxo (naquele tempo de grande valor, ("pois escreve até debaixo d água" e dura um tempão até acabar a tinta, nunca derrama na blusa). Era o comercial da caneta "Parquer 51".
Susana carregava consigo umas pedras com fosseis de peixe, caramujos e partes de plantas oriundas da Serra do Araripe, que contava a historia do nosso continente. 
Hoje esta região se encontra muito distante do oceano ou dos rios regionais, possivelmente no passado longínquo era toda esta área "terras marinhas", (cobertas de água).
Isto me faz lembrar quando numa excursão por aquelas bandas, o professor nos contou que esses lacustres, invertebrados e mais umas algas Diatomáceas, fossilizadas, indicavam ser toda esta área coberta pelo mar.
Um caboclo que nos acompanhava disse baixinho para os alunos eufóricos com a "descoberta", mas  sem que o professor ouvisse:
-"Esse professor é aluado (doido maluco), aqui no passado foi uma enorme vacaria da família do coronel Herculano. Mais que mar coisa nenhuma, tá doido esse velho".
Susana despediu-se das outras funcionarias que igualmente ficaram muito surpresas com a decisão tão repentina da funcionaria tão dedicada e bem quiista por todos.
Na pensão depois da janta, como de costume sentados no terraço envolvidos pelos aromas das flores das arvores seculares, os dois amantes, continuaram a dialogar o que seria de amanhã para adiante.
Ela reclamava da vida em Triunfo:
-Isto aqui não tem futuro, é um atraso total, eu passei as noites à luz de candeeiros folheando revistas velhas que vinham do Recife e tu começaste a ir nessa escuridão com outros professores solteiros, jogar sinuca e tomar cerveja no "Salão Século Vinte", isso é vida, me diz Dadinho!!! Que diabo de vida teremos neste "buraco escuro"? Com todas as dificuldades que sei que vou enfrentar em Recife, não me arrependo da minha decisão de voltar, nem um tiquinho (pouco tempo). Estou falando serio Dadinho isto não é futuro, isto é retroceder no tempo.
Dadinho triste pra burro (em demasia) ao ouvir estas declarações  de sua querida.
Mas honesto como sempre foi, disse que ela poderá agir como melhor entender e que metade do dinheiro do seu pai será transferida no seu nome para a Caixa Econômica ou qualquer outro Banco que ele prefira, assim poderá ser bastante independente nas suas ações quando chegar ao Recife. 
Ele terá que ficar e continuar até o fim do ano letivo e depois também voltará para prosseguir seus estudos de Direito. Antes quero apaziguar a situação com meu pai (pela mesada que deixou de receber) e se Susana ainda quiser, casaremos no civil e fim de estoria!
-Acredite-me que durante todo o tempo em Triunfo, você sempre foi o meu único amor, nunca "dei bola" (me interessei) por outra mulher, isso poso jurar por Deus se você quiser.
Agora quero lhe contar que hoje o prefeito ao saber da sua decisão me chamou e perguntou se também eu iria embora.
Expliquei que o meu compromisso com a escola é até o fim do ano letivo e depois "Deus é grande", possivelmente voltarei aos meus estudos de advocacia no Recife.
Ele tirou duma pasta um documento oficial que sondava as possibilidades que depois que terminasse o meu compromisso em Triunfo, ofereciam uma proposta alegando que existem excelentes condições que tu fosses nomeado o diretor do novo Ginásio "O Estado Novo", que seria inaugurado no próximo ano letivo na pacata cidade e de população aristocrata, fundada no ano de 1800, Piaçabuçu, a 15 kilometros de Penedo, cidade ribeirinha, localizada no extremo sul da Alagoas.
Os outros dois candidatos inscritos para concurso no Ministério da Educação são sulistas e o ministro que é muito regionalista daria preferência a um natural de Alagoas.  Ademais, ao ler os ótimos relatórios sobre seu desempenho como professor na escola de Triunfo, não pensou duas vezes! 
Ele mesmo foi que pediu a Secretaria em Maceió, que fizesse esta especulação.
-Então tome o seu tempo e em uma semana me dê uma resposta, positiva ou não, para que possa responder a este pedido do Senhor Ministro.
=Agradeci muito pela confiança, porem isto não mudará os planos de Susana, ela está decidida a ir estudar Farmácia, um sonho que tem desde menina e quanto a mim o tempo que vossa senhoria me dá será o suficiente para raciocinar e colocar no papel, de uma forma protocolar a minha resposta a esta honrada  proposta. Agradeço-lhe muito.

-Que achas Susana meu amor, para ti seria trocar um  "buraco" por outro, não é mesmo?
Eu irei ver como é essa Piaçabuçu no caminho aos "Três CIPOS"(Nome da fazenda dos pais de Dadinho, no interior de Alagoas), quando visitarei aos meus pais em missão de paz.
Porem continuo mais propenso a casar contigo no civil e ficar no Recife. Será mais uma família de judia com goi (não judeu), eles se acostumarão com o fenômeno.
Não será a primeira vez nem a ultima que acontece  isso na colonia judaica.
Esta noite tomaram umas bicadas (taças) de aguardente e abraçados foram para a cama acompanhados do gostoso cheiro de mel das flores das Camélias que nesta época estavam em plena floração.
Fizeram o amor a noite toda, como se fora a ultima vez na vida.
Fim da Parte "Nuvens Negras" da novela "AMOR IMPOSSÍVEL".
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 PAULO LISKER, Israel.