sexta-feira, 5 de agosto de 2011

O poço de petroleo em Salgadinho.

"DAS CONVERSAS COM MEU AVÔ"
Paulo Lisker.
Tema: O poço de petróleo em Salgadinho.

Meu avô gostava muito de veranear em Salgadinho, bem perto da cidade de Limoeiro.
Era veraneio para pobre, pois os mais abastados iam para Garanhuns, ou mesmo para Fazenda Nova que tinham um hotel com mais classe que este mixuruca de Salgadinho.
Um dia estávamos no terraço do nosso casarão da Gervásio Pires e meu avô começou a rir sem ninguém ter dito nada. Sabes como é velho, às vezes têm reações esquisitas no meio do dia.
Olhei para ele meio espantado e depois que me acalmei, tive a ousadia de perguntar: Zeide estás rindo de que? Ficaste leso? ("meio fora de orbita", em nordestino).
Ele continuou rindo e medisse me lembrei de um fato verdadeiro que se passou em Salgadinho perto da cidade de Limoeiro quando por lá estive fazendo uma "estação de águas" (veraneio de águas sulfurosas) e esta lembrança me fez rir, porque Paulinho? Não pode?
Então conta pra nós esta estória que te fez rir que até me assustou!
Ajeitou-se na cadeira de balanço e começou a contar o acontecido.
Assim foi à coisa:
Um fazendeiro rico resolveu cavar um poço para obter água doce, pois Salgadinho tem águas sulfurosas de mau cheiro e mau gosto.
Foi o fazendeiro a feira e contratou dois matutos para fazer a tal obra.
Começaram os dois a cavar e logo viram que com pá, picareta e enchada nunca chegariam à profundidade necessária onde possivelmente se encontraria o lençol freático. (deposito de águas subterrâneas).
A terra estava dura que nem concreto armado.
Mesmo nas mãos calejadas de sertanejo, acostumados ao trabalho duro do campo, começaram a aparecer as bolhas d'água tão conhecidas como calos frescos e dolorosos.
Sentaram os dois e começaram a matutar como sair desta encrenca sem perder os 20 contos prometidos pelo fazendeiro.
Foi aí que veio a idéia genial do Chico Gomes.
Disse Chico ao companheiro da tarefa: Pedro dá uma corrida até a bomba de gasolina e compra meia lata de querosene. Se lá não tiver vai à venda do senhor Romão perto do mercado, lá com certeza tem, pois vende a granel para encher candeeiros de querosene, pro mode de alumiar as casas de noite.
Mas pra que querosene seu Chico?
Não te preocupa, vai e volta rapidinho.
Pedro foi e voltou com meia lata de querosene Jacaré.
Chico despejou no buraco raso que fizeram na terra dura.
Que estás fazendo homem, pra que compramos o querosene? Pra jogar no mato? Homi tas doido?
Aguenta as pontas rapaz, agora pega a lata vazia e joga naqueles monturos atrás da cacimba velha é pra ninguém ver, depois te avia corre até a Casa Grande e chama o fazendeiro pra cá.
O fazendeiro chegou viu a fundura do buraco e perguntou é tudo que vocês fizeram?
Não senhor, chegamos até meio metro e começou a minar uma água meio fedorenta eu acho que é petróleo, foi por isso que paramos e mandamos lhe chamar. Se quiser que a gente continue até que jorre o petróleo é só dizer e nós tocamos pra frente.
O fazendeiro sentindo o cheiro que emanava do buraco escavado, já imaginava os milhares de contos de reis que lhe daria este poço de petróleo no seu, quintal.
Preferiu guardar a coisa em segredo e deixar para fazer sociedade com a ESSO e que eles se encarregassem de perfurar tecnicamente o poço de petróleo e quem sabe outros mais existentes no seu quintal.
Pagou os 20 contos aos dois matutos sabidos e deu mais 20 para guardar segredo e não espalhar a noticia pelo mundo afora.
A noticia nunca saiu nos jornais do Recife, mas todo Limoeiro conhece a estória do poço de petróleo na fazenda de Coronel Craveiro Dutra.
Dizem que ainda hoje nas noites quentes, a velharada da cidade senta-se nas espreguiçadeiras nas calçadas junto ás portas das casas para conversar e tomar brisa.
Em Limoeiro, quando ela toma corpo e sopra forte depois das 10 da noite, se escuta no zumbido do vento um eco feito gargalhadas.
Dizem que é gente contando em todo canto, como dois "matutos sabidos da peste" enganaram o coronel fazendeiro, não com um "conto do vigário", porem com um conto do poço de petróleo em Salgadinho.
Paulo Lisker.
(Todos os direitos reservados).
01-08-2011.