"Um amor impossível" (Capitulo 3 da novela)
por: PAULO LISKER
ISRAEL
ISRAEL
Tema: (O namoro do goi com a judia).
"BORRADOR"
Dadinho estava feliz da vida, o banheiro não estava tão ocupado como antes,
voltaram as cores normais do seu rosto, na faculdade ficaram surpresos com a
sensível melhora do nível das notas e entregas de trabalhos em tempo, não ia
mais a zona do Pina, estava todo tempo com um sorriso estampado no
rosto e nos lábios.
Em suma feliz, feliz da vida!
Tomou coragem e se encontrava com Xóxa as escondidas, acompanhava a ela de longe ao sair do colégio, para as amigas não desconfiar.
Nos sábados e às vezes nos domingos viajavam de bonde para o horto de
Dois Irmãos ou para a praia de Olinda.
Ela mentia para os pais. Dizia que ia se preparar para as provas disso ou
daquilo na casa desta ou outra amiga e os pais acreditavam, só pediam que não
voltasse tarde demais.
Quando afastados do mundo que os rodeava, Dadinho aproveitava para
"garanhar" (acariciar as partes intimas) ou "botar nas cochas" (mais que isso ela não
consentia).
Tomavam uma gelada de mangaba (a melhor do Brasil), na Pracinha do Varadouro.
Caminhavam um pouco pela praia do Carmo, pois Dadinho tinha uma paixão por
esta praia e seus botecos.
Lá de vez em quando encontravam o saudoso compositor Capiba e os filhos
do maestro Levino Ferreira, (autor dos frevos-de-rua, pernambucanos), Bueno
e Paulo Ferreira e outros compositores que de vez em quando vinham tomar
um banho salgado de mar e sentavam nalgum boteco para tocar, fazer musica e
tomar (caipirinha), cachaça com gelo açúcar e limão.
Às vezes Geraldinho do pandeiro, trazia umas garrafas de "cachaça de
cabeça" com suco de maracujá, uma delicia. Este aguardente ele produzia no seu alambique de barro, que tinha
bem escondido na sua granja na Jaqueira. Aí a festa era mesmo de "botar
pra rachar" (muito animada).
Xóxa que estava vivendo esta atmosfera pela primeira vez na sua vida,
estava feliz com o clima de liberdade e amava ainda mais o seu namorado que lhe
proporcionara este aspecto diferente da vida no Recife.
Resultado, dois jovens felizes naquela festa deliciosa até que chegava
a hora do bonde do Farol, (lá era o ponto terminal), passar pelo
Varadouro, retornando pro Recife.
Tomavam o bonde e voltavam para casa cansados mais satisfeitos.
Todos estes encontros eram presumivelmente realizados com grande sigilo para não dar na vista da família da Xóxa e as amigas.
Todos estes encontros eram presumivelmente realizados com grande sigilo para não dar na vista da família da Xóxa e as amigas.
Neste ínterim, Dadinho resolveu escrever para seus pais em Alagoas e
dar à boa noticia que tem uma namorada muito legal e intenções serias
de noivar em breve.
Dizem que os pais ficaram muito satisfeitos e até aumentaram a mesada em
mais 15 contos de réis. Eles sabiam que os gastos quando se
tem namorada seriam mais elevados que quando vivia sozinho, é claro.
Eles pediram detalhes sobre a futura noiva, porem nunca recebeu. Não
pressionaram e a coisa ficou isso mesmo.
Isto não aguentou por muito tempo e tudo estourou.
O segredo não era mais segredo, eles um tempo deixaram de se
encontrar, principalmente por causa do escândalo que a família de
Xóxa poderia fazer se soubessem quem era o namorado e o que
já faziam as escondidas.
O clima em casa estava tenso, aguentar as indiretas das irmãs os "oi
veis mir", oi a broch "(lamentos e shilicos) da mãe, como se
estivesse sofrendo a ultima agonia".
Um belo dia, um dos irmãos que exercia a função de "shames", (uma
espécie de zelador) na pequena sinagoga na Travessa do Verás, ouviu a estória
do romance da sua irmã Susana, por completo.
Contou-lhe um descendente duma família que se considerava
"cristãos novos" de nome Beck que viviam no Rio Grande do Norte.
Este jovem queria "le hitgayer" (voltar por completo ao judaísmo)
e buscava a ajuda do "shamash" para que lhe mostrasse o
caminho como transformar este seu sonho em realidade.
Ao par dos fatos, sentou-se primeiro com as irmãs e irmãos e lhes contou a
tragédia que se aproximava do lar que tanto prezava pela conservação da
religião judaica, suas tradições e modalidade de vida.
Tudo isto causado pela leviandade da irmã caçula Susana ao se
"entregar" a um "sheiguets, goi", (um sem vergonha e ainda
mais não judeu).
Ela não ponderou nem a mínima consideração pelos
"issurem" (sofrimentos) que causaria aos velhos pais, com
este seu comportamento.
Os dois com a saúde já meio avariada, eles não
aguentariam esta situação vergonhosa.
Não era para menos, isso para toda família e perante a colônia
judaica. Aí que vergonha!
Agora só faltava encontrar um "caminho suave" para relatar
"der broch" (situação caótica), aos velhos e orgulhosos pais.
Pediram o auxilio de senhor Anshel, de dona Beilke, e do senhor Leibele personalidades
conhecidas pelas suas atividades de cunho social efetuados na colônia
israelita.
Foi realizada uma reunião num clima de tensão enorme.
Foi realizada uma reunião num clima de tensão enorme.
Os diálogos proferidos e as discussões, chegaram a um tom de voz
nunca ouvido nesta casa pacata.
Para captar e transcrever o que se passou nesta noite seria
necessário uma pessoa com a experiência de um dramaturgo ou coisa
parecida.
A família toda reunida na sala de jantar, os três
mediadores de cara seria, outros presentes choravam, a senhora mãe
soluçava, os irmãos propunham dar uma surra no tal namorado "sheiguets" (goi, cristão), o pai citava passagens de rezas e exclamava desaforos em iídiche, contra
tudo e todos que sabiam e não fizeram nada para evitar tal vergonha, um
"scandal (escândalo) que mancharia a família toda.
A única que não estava presente era a causadora deste "desastre".
Xóxa estava no seu quarto e ouvia tudo que se passava na sala de jantar.
Ela estava apaixonada por Dadinho e não adiantaria fazer nada, pois estava
decidida a continuar o namoro com ele para o que der e vier.
Nesta atmosfera tão carregada nem chá foi servido.
Depois que toda a raiva foi expelida, os mediadores tomaram a palavra e
resumiram quais as ações que deverão ser tomadas para resolver este
impasse.
Foi resolvido que dona Berta teria uma conversa séria com Xóxa na casa
dela, o senhor Anshel junto com o senhor Leibale, iriam dialogar com este
"sheiguets" descarado, que está criando problemas sérios à uma
família pacata, que tudo que deseja é possibilitar o que a tradição judaica ordena, um noivo judeu para uma donzela judia!
É uma obrigação de todo bom judeu que cumpre com os mandamentos
de Deus fazer o possível e o impossível, para evitar a desgraçada
"assimilação" e conservar a continuidade eterna do povo
judeu.
As relações do goi com a senhorita Xóxa deveriam terminar já, sem
adiar nem uma hora mais! Uma verdadeira vergonha ("A groisse bishe" em iídishe), para toda a colônia judaica do Recife.
Os encontros dos mediadores com os dois envolvidos no caso foram realizados, porém em nada resultou.
Muito choro no encontro de dona Beile com Xóxa, porém não chegaram a um denominador
comum.
O mesmo, no encontro com Dadinho realizado no café dos Faierman, junto à
ponte Velha.
Falaram duros com Dadinho, mas no final da estória cada um saiu com sua
opinião e nada foi conseguido.
Mais uma mostra que o amor não é açúcar que derrete com a primeira água.
Fim do capitulo 3.
Todos os direitos autorais reservados.
Cuide com os créditos.
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