domingo, 18 de maio de 2014

O NAMORO DO GOI COM A JUDIA




              Recife no tempo do bonde puxado por burros. (Principio do seculo XX)
                                         Fonte: Google- Internet    

"Um amor impossível"   (Capitulo 3 da novela)
por: PAULO LISKER
 ISRAEL
 Tema: (O namoro do goi com a judia). 
                                      
                          "BORRADOR" 

Dadinho estava feliz da vida, o banheiro não estava tão ocupado como antes, voltaram as cores normais do seu rosto, na faculdade ficaram surpresos com a sensível melhora do nível das notas e entregas de trabalhos em tempo, não ia mais a zona do Pina, estava todo  tempo com um sorriso estampado no rosto e nos lábios.
Em suma feliz, feliz da vida!
Tomou coragem e se encontrava com Xóxa as escondidas, acompanhava a ela de longe ao sair do colégio, para as amigas não desconfiar.
Nos sábados e às vezes nos domingos viajavam de bonde para o horto de Dois Irmãos ou para a praia de Olinda.
Ela mentia para os pais. Dizia que ia se preparar para as provas disso ou daquilo na casa desta ou outra amiga e os pais acreditavam, só pediam que não voltasse tarde demais.
Quando afastados do mundo que os rodeava, Dadinho aproveitava para "garanhar" (acariciar as partes intimas) ou "botar nas cochas" (mais que isso ela não consentia).
Tomavam uma gelada de mangaba (a melhor do Brasil), na Pracinha do Varadouro. Caminhavam um pouco pela praia do Carmo, pois Dadinho tinha uma paixão por esta praia e seus botecos.
Lá de vez em quando encontravam o saudoso compositor Capiba e os filhos do maestro Levino Ferreira, (autor dos frevos-de-rua, pernambucanos), Bueno e Paulo Ferreira e outros compositores que de vez em quando vinham tomar um banho salgado de mar e sentavam nalgum boteco para tocar, fazer musica e tomar (caipirinha), cachaça com gelo açúcar e limão.
Às vezes Geraldinho do pandeiro, trazia umas garrafas de "cachaça de cabeça" com suco de maracujá, uma delicia. Este aguardente ele produzia no seu alambique de barro, que tinha bem escondido na sua granja na Jaqueira. Aí a festa era mesmo de "botar pra rachar" (muito animada).
Xóxa que estava vivendo esta atmosfera pela primeira vez na sua vida, estava feliz com o clima de liberdade e amava ainda mais o seu namorado que lhe proporcionara este aspecto  diferente da vida no Recife.
Resultado, dois jovens felizes naquela festa deliciosa até que chegava a hora do bonde do Farol, (lá era o ponto terminal),  passar pelo Varadouro, retornando pro Recife.
Tomavam o bonde e voltavam para casa cansados mais satisfeitos.
Todos estes encontros eram presumivelmente realizados com grande sigilo para não dar na vista da família da Xóxa e as amigas.
Neste ínterim, Dadinho resolveu escrever para seus pais em Alagoas e dar à boa noticia que tem uma namorada muito legal e intenções serias de noivar em breve.
Dizem que os pais ficaram muito satisfeitos e até aumentaram a mesada em mais 15 contos de réis. Eles sabiam que os gastos quando se tem namorada seriam mais elevados que quando vivia sozinho, é claro.
Eles pediram detalhes sobre a futura noiva, porem nunca recebeu. Não pressionaram e a coisa ficou isso mesmo.
Isto não aguentou por muito tempo e tudo estourou.
O segredo não era mais segredo, eles um tempo deixaram de se encontrar, principalmente por causa do escândalo que a  família de Xóxa poderia fazer se soubessem quem era o namorado e o que já faziam as escondidas.
O clima em casa estava tenso, aguentar as indiretas das irmãs os "oi veis mir", oi a broch "(lamentos e shilicos) da mãe, como se estivesse sofrendo a ultima agonia".
Um belo dia, um dos irmãos que exercia a função de "shames", (uma espécie de zelador) na pequena sinagoga na Travessa do Verás, ouviu a estória do romance da sua irmã Susana, por completo.
Contou-lhe um descendente duma família que se considerava  "cristãos novos" de nome Beck que viviam no Rio Grande do Norte.
Este jovem queria "le hitgayer" (voltar por completo ao judaísmo) e buscava a ajuda do "shamash" para que lhe mostrasse o caminho como transformar este seu sonho em realidade.
Ao par dos fatos, sentou-se primeiro com as irmãs e irmãos e lhes contou a tragédia que se aproximava do lar que tanto prezava pela conservação da religião judaica, suas tradições e modalidade de vida.
Tudo isto causado pela leviandade da irmã caçula Susana ao se "entregar" a um "sheiguets, goi", (um sem vergonha e ainda mais não judeu).
Ela não ponderou nem a mínima consideração pelos "issurem" (sofrimentos) que causaria aos velhos pais, com este seu comportamento.
 Os dois com a saúde já meio avariada, eles não aguentariam esta situação vergonhosa.
Não era para menos, isso para  toda família e perante a colônia judaica.  Aí que vergonha!

Agora só faltava encontrar um "caminho suave" para relatar "der broch" (situação caótica), aos velhos e orgulhosos pais.
Pediram o auxilio de senhor Anshel, de dona Beilke, e do senhor Leibele personalidades conhecidas pelas suas atividades de cunho social efetuados na colônia israelita.
Foi realizada uma reunião num clima de tensão enorme.  
Os diálogos proferidos e as discussões, chegaram a um tom de voz nunca ouvido nesta casa pacata.
Para captar e transcrever o que se passou nesta noite seria necessário uma pessoa com a experiência de um dramaturgo ou coisa parecida.
A família toda reunida na sala de jantar,  os três   mediadores de cara seria, outros presentes choravam, a senhora mãe soluçava, os irmãos propunham dar uma surra no tal namorado "sheiguets" (goi, cristão), o pai citava passagens de rezas e exclamava desaforos em iídiche, contra tudo e todos que sabiam e não fizeram nada para evitar tal vergonha, um "scandal (escândalo) que mancharia a família toda.
A única que não estava presente era a causadora deste "desastre".
Xóxa estava no seu quarto e ouvia tudo que se passava na sala de jantar. Ela estava apaixonada por Dadinho e não adiantaria fazer nada, pois estava decidida a continuar o namoro com ele para o que der e vier.
Nesta atmosfera tão carregada nem chá foi servido.

Depois que toda a raiva foi expelida, os mediadores tomaram a palavra e resumiram quais as ações que deverão ser tomadas  para resolver este impasse.
Foi resolvido que dona Berta teria uma conversa séria com Xóxa na casa dela, o senhor Anshel junto com o senhor Leibale, iriam dialogar com este "sheiguets" descarado, que está criando problemas sérios à uma família pacata, que tudo que deseja é possibilitar o que a tradição judaica ordena, um noivo judeu para uma donzela judia!  
É uma obrigação de todo bom judeu que cumpre com os mandamentos de Deus fazer o possível e o impossível, para evitar a desgraçada "assimilação" e conservar a continuidade eterna do povo judeu. 
As relações do goi com a senhorita Xóxa deveriam terminar já, sem adiar nem uma hora mais! Uma verdadeira vergonha ("A groisse bishe" em iídishe), para toda a colônia judaica do Recife.
Os encontros dos mediadores com os dois envolvidos no caso foram realizados, porém em nada resultou.
Muito choro no encontro de dona Beile com Xóxa, porém não chegaram a um denominador comum.
O mesmo, no encontro com Dadinho realizado no café dos Faierman, junto à ponte Velha.
Falaram duros com Dadinho, mas no final da estória cada um saiu com sua opinião e nada foi conseguido.
Mais uma mostra que o amor não é açúcar que derrete com a primeira água.
Fim do capitulo 3.
Todos os direitos autorais reservados.
Cuide com os créditos.





segunda-feira, 12 de maio de 2014

Quem é Abelardo, o estudante de Direito no Recife.



                 A Praça Maciel Pinheiro no principio do seculo XX, o centro nevrálgico da comunidade judaica recém chegada ao Recife. 
Foto: Prof. Dantas e Internet  

"UM AMOR IMPOSSÍVEL" 
Paulo Lisker
 Israel

Tema: QUEM É ABELARDO  (capitulo 2 da novela)

O estudante de nome Abelardo, mas conhecido por todos os amigos pelo apelido de "Dadinho". 
Ele estudava na faculdade de Direito que se situava num edifício bem antigo de estilo conservador no Parque 13 de Maio, no Recife
Era o filho predileto de pais ricos, família tradicional Católica Apostólica Romana, donos de engenhos que produziam rapadura e farinha de mandioca, no interior de Alagoas. (os Monteiro, se não me engano).
Ele foi o único dos 5 irmãos e 2 irmãs que recebeu a regalia de estudar no Recife e recebia todo mês uma boa mesada para sobreviver e estudar com a cabeça livre.
Não se sabe quando  ele se apaixonou seriamente pela donzela de nome Susana, que era conhecida por Xóxa, na roda de sua amizade.
Esta jovem judia, filha caçula da família Lithvack de tendência ortodoxa judaica, cujos antepassados na Europa descendiam de importantes rabinos na Lituânia.
Dizem que quando seus pais  resolveram abandonar a Europa e viajar para o "desconhecido" continente sul americano, foi uma verdadeira tragédia.
Os  "patriarcas" (gente de elevada posição nos meios religiosos ortodoxos na Lituânia), fizeram um "sud" (uma espécie de tribunal) e o veredicto foi que os excomungaram deste grupo fanático!
A ultima frase que ouviram dos mais velhos foi: "Segue teu laico destino e deixa-nós e Deus em paz". Shalom (paz).
Agora que conhecemos os fundamentos básicos das duas familias envolvidas, voltemos ao caso que relatamos. 
Dadinho estava mesmo apaixonado, mas de uma maneira aplatonica.
Os colegas que com ele viviam nos quartos alugados do casarão da Praça Maciel Pinheiro contavam que muitas vezes era necessário forçar ele sair do banheiro (só havia um no casarão) onde ele costumava seguidamente "tocar punheta" imaginado um encontro amoroso com sua querida Xóxa.
Nos estudos não estava concentrado, as notas caíram e ele parecia mais a um Zombe que um jovem vivo e satisfeito com a juventude que tinha pela frente.
Os amigos queriam ajudá-lo e transmitiram para as amigas de Xóxa, bilhetes como se fora ele quem escrevera endereçado a ela, declarando seu amor e admiração e propunha ser o seu namorado.
Nada disso funcionou.
Os amigos vendo como Dadinho sofria, cada dia mais franzino e abatido, propuseram que depois das aulas, ele a acompanhasse quando saia da escola Normal que se localizava perto da Faculdade de Direito
Assim fez, porem as diversas tentativas não resultaram exitosas e isto o deixou ainda mais frustrado.
Mas Deus não ficou indiferente ao sofrimento do Dadinho.  
Um dia caiu um "toró" (Um aguaceiro medonho), no meio do caminho de volta para casa e Xóxa correu e se escondeu no sagão do cinema Parque na Rua do Hospício.
Ficou sozinha, pois as outras colegas com as clássicas sombrinhas, correram para casa, pois iam se preparar para a prova de português que seria no dia seguinte.
Aí caiu do céu a oportunidade que Dadinho tanto esperava. Ele também molhado até os ossos entrou no sagão do cinema e sem titubear foi ao seu encontro e se declarou, lhe propôs namoro e a capa impermeável contra a chuva para que pudesse voltar para casa em tempo.
O aguaceiro parecia que ia demorar bastante tempo até passar.
Era daqueles bons aguaceiros, frequentes no Recife "matuto" que aguava os canaviais e a zona da mata toda.
Vocês se lembram do cheiro gostoso que exalava a terra nordestina depois de uma estiagem e vinha um aguaceiro? Daqueles acompanhados de relâmpagos e muita trovoada?  Era cada estrondo que não tinha guri que não ficasse teso de medo!
A situação foi embaraçadora para ambos os jovens, porem pela primeira vez Xóxa observou-o de cima para baixo, todo molhado e encabulado e trocou com Dadinho umas palavras agradecendo a sua ajuda.
Ela recebera boa educação em casa e na escola.
Esperaram uns minutos mais olhando os cartazes ( Fotos dos filmes que seriam exibidos nas próximas semanas) e resolveram enfrentar a chuva com a ajuda da capa impermeável em cima das suas cabeças.
Saíram abraçados (tudo por causa da capa), não se sabe se trocaram mais algumas frases ou a situação criada com o primeiro contacto físico com sua amada, até o momento virtual, os deixou mudos, gozando estes  momentos agarrados até que chegaram em casa.
Despediram-se na porta da casa dela, deixou a capa com ela e pediu que se encontrassem outra vez com o pretexto de devolver a capa.
Ela concordou e ele correu para o seu quarto no casarão defronte. Possivelmente se trancou no banheiro e se livrou da tesão que o importunava e se criou desde que abraçou sua amada na chuva debaixo da capa!  
Dadinho estava no sétimo céu, finalmente, finalmente, começaria um namoro que tanto tempo almejava.
Naquele tempo no nosso Recife matuto as relações amorosa entre dois jovens sempre começava com um namoro. Este namoro poderia durar meses e até anos. Algumas vezes iria até a realização de um noivado e casamento.
Neste caso as coisas pareciam ser algo complicado pois ele católico e ela judia.
Vê lá não é "café pequeno", muitos obstáculos a enfrentar daí pra frente.
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