domingo, 11 de agosto de 2013

A PORTINHA DA AGUA SODA

A Portinha da Agua Soda
                                                              O autor das crônicas
A PORTINHA DA AGUA SODA

Paulo Lisker, de Israel

No principio do século passado a Praça Maciel Pinheiro no Recife, pelo menos nas primeiras décadas do século vinte era o centro nevrálgico da colônia judaica.
Do dia que colocaram a fonte jorrante com a índia (alguns acham que é uma cabocla), em cima de quatro leões e cercada de uma piscina rasa que nem piaba criava, o local se transformou numa grande atração para os transeuntes.
Não foi qualquer canto do Recife que se viu prestigiado com estas honrarias num logradouro publico. Algo tinha esta praça.
Os seus bancos (muito incômodos, diga-se de passagem) ao redor da fonte, nunca estavam vazios, sempre tinha gente sentada ou de pé em volta conversando, "tirando linha" (namorando em nordestino), discutindo até política internacional, contando boatos e fuxicos muito comuns nesta cidade nordestina.
Os prestamistas judeus e os comerciantes das lojas circunvizinhas encontraram nesta praça um lugar ideal para descansar, conversar, tratar de negócios, escutarem novidades, conseguir empréstimos, conhecer novos imigrantes recém chegados ("griners" em iídiche), estamos falando das primeiras décadas do século passado.
Pela noitinha era o lugar ideal para tomar uma brisa fresca que soprava lá do lado do alto mar e emborcava pelas ruas da Imperatriz, Hospício e da Matriz, esta última pegava também a frescura da maré cheia do rio Capibaribe e penetrava pela praça adentro refrescando o ambiente.
Os judeus diziam em iídiche um ao outro:
"A vint ha mehaié" (Ai que ventinho gostoso).
Recife de clima quente, úmido e de aguaceiros esporádicos quando menos se esperava. Naquele tempo era assim!
Hoje não sei com todas essas mudanças no clima mundial se ainda é a mesma coisa, pois não visitei o Recife, minha terra natal, desde meados de 1955.
Em volta da nossa pracinha estava presente uma "comitiva respeitável" de estabelecimentos, eram as inúmeras lojas; duas farmácias, padaria, açougue, miudezas, secos e molhados, os Correios e Telégrafos, movelarias, o estacionamento de meia dúzia de carros de aluguel com as fubicas (Ford bigode 29), que nunca se acabavam e no fim ainda serviam de "carro escola". Eu mesmo recebi minha carteira de habilitação (de motorista), num carro desses. Naquele tempo faziam coisas que não acabavam nunca!
Os choferes nas horas de descanso, "puxavam" baforadas dos charutos nacionais "Flor de Cuba e Florinha", com aquele cheirinho adocicado e fumaça azulada,
Nunca esqueci o grupo de carregadores sempre a espera de fretes das movelarias, sentados nas calçadas na esquina da Rua da Matriz, perto das bancas do "jogo do bicho" e os vendedores de bilhetes das diversas loterias do Brasil. Sonhavam com o grande prêmio da semana.
Um microcosmo da sociedade comercial do Recife.
Como esquecer ali também a mitológica "Água Soda" do senhor Vasserman? Impossível.
Estava encostada no sobrado da família Bacal, quase na esquina com a Rua do Hospício.
Em cima do balcão de pedra estava à amostra as inúmeras garrafas com néctares artificiais de frutas, de cores diversas para misturar com a água soda e dar o gosto à bebida.
Estas garrafas continham os sabores de morango, limão, groselha, tangerina, maçã, hortelã, pêssego, cereja, etc. Um verdadeiro Carnaval de cores e sabores.
A água soda era servida sempre "tinindo" (bem gelada), ótima para o caloroso Recife de verão eterno.
Minha tia Dina, morava conosco quando jovem e era solteira.
Ela me levava quando menino novo, para tomar água soda na "portinha" do Vasserman, era o passeio da tarde, uma Disneylândia para pobres.
Neste ínterim, minha mãe e as empregadas descansavam da faina diária.
Lembro-me perfeitamente desta "portinha da água soda".
Sempre tinha gente em pé (não havia mesas ou cadeiras), prestamistas judeus conversando sobre o trabalho nos arrabaldes e refrescando a alma com um copo grande de água soda bem fria, depois de um dia ensolarado, caminhando com uma trouxa cheia de objetos pra vender ou cobrando as prestações e viajando nos bondes para os arrabaldes do Recife.
Quando entravamos, os presentes faziam lugar junto ao balcão, respeitavam a minha tia, (esta que veio da Áustria e sentia um certo ar de superioridade, mais culta, com um imaginário "titulo de nobreza" em relação aos imigrantes do leste europeu). 
Os presentes, entretanto não deixavam de olhar para o seu corpo esbelto, muito "bem esculpido", como se fosse um "manjar dos deuses". Não falavam nada, mas olhavam, olhavam.
Era uma moça no meio de um grupo de homens tostados pelo sol castigante das andanças nos subúrbios do Recife e antes de voltar para casa paravam na "portinha da água soda".
Pensando bem, talvez fosse o "primo pobre" dos pubs irlandeses, porem sem cerveja.
Depois da "boa tarde" a todos os presentes, ela fazia o pedido para a nossa soda.
O dela com néctar de limão, seu gosto preferido e para mim, sem nunca me consultar, de groselha.
Eu nunca soube que diabo de fruta era essa, pois no nosso quintal que tinha muito "pé de pau" de frutas, mas essa danada de groselha, não tinha não.
Senhor Vasserman um idoso de cabelos grisalhos, muito gentil, perguntava: "Os dois bem gelados", dona Dina?
E a resposta dela que escutei durante anos:
-Para mim bem gelada senhor Vasserman! Hoje está quente pra chuchu. Para o miúdo, Deus me livre! (se referia a mim).
Para ele "frappé", (deve ser, ao natural, em francês), ele ainda não tem idade para tomar gasosa gelada e complementava:
-Era só o que me faltava, este miúdo pegar um resfriado ou uma pneumonia.
Naquele tempo estas enfermidades não eram causadas por vírus, "eles não existiam" e sim por tomar uma bebida gelada, pegar uma chuva ou um vento frio, era o "tempo matuto".
Especialmente, continuava a minha tia a "se amostrar" (maneira popular de se fazer importante), logo agora que começou a frequentar o jardim da infância na escola iídiche, (Escola Judaica), dizia ela com ares de grande responsabilidade. Nada de gelado para o miúdo, "frappé", senhor Vasserman, frappé!
Todos em volta me olhavam com admiração, pois ali estava de pé, com um metro e vinte de altura, calça curta tipo Boêmia, uma blusa de linho com gola meio afeminada, a primeira geração de filhos de prestamistas judeus que não seria mais analfabeta como eles.
Nestas horas eu ficava corado de vergonha e não sabia onde meter a cara.
Pelo evento o respeitável Sr. Vasserman enxugava as mãos, saia de detrás do balcão de pedra se curvava e me dava um beijo na testa para festejar o evento, ademais me dava um chocolate envolto em papel alumínio que tinha a forma de uma sereia e de um gosto horrível (chocolate nacional de inferior qualidade).
Quando saímos, o atirei na primeira lata de lixo que encontrei na Avenida Manuel Borba.
Mesmo depois de "grandinho", quando a "Portinha do Sr. Vasserman" já não existia mais, eu tinha ódio a três coisas: a groselha, o tal "frappé" e o chocolatinho com forma de sereia.
Foi nesta praça que comprei antes do Carnaval o meu primeiro "lança perfume". Era de vidro, pois para uma de metal o dinheiro não chegava.
Ficávamos com inveja daqueles que "se amostravam", com sua "Rodhoro" de metal de cor doirada.
Foi lá também que tomei a minha primeira Coca Cola, logo que o produto chegou no Brasil.
Sempre para estes eventos se construía uma baita armação e lá se processava essas vendas ao publico.
Não esqueço também as nossas "investidas" a Mercearia de Secos e Molhados, do português Amaro dos Santos colada a Travessa do Veras onde estava sempre dona Santinha sentada junto do seu fogareiro, fazendo tapioca ou milho assado na brasa, dependia da época do ano.
Da mercearia, nós os miúdos íamos arrancar pedacinhos do enorme bacalhau seco e salgado que sempre estava pendurado na porta da entrada. Comíamos cru mesmo e era gostoso danado!
O empregado, um português novato, "gente boa", nunca dava "esporro" pelas nossas travessuras, muito pelo contrario sempre perguntava por qual time de futebol nós torcemos e gritava no sotaque português da Beira: -"Putos* qual o time de vocês?"
Lá no Portugal, ele era torcedor do Benfica, mas aqui sabíamos que ele era torcedor "ferrado" do Santa Cruz, aí respondíamos: -"sou tricolor" e primo do Tará!
Ele só faltava se "esporrar" de tanta satisfação e nós aproveitávamos para arrancar mais um pedacinho do enorme bacalhau seco e salgado pendurado na entrada da mercearia. Saiamos correndo de volta para a pracinha, para ver se com o vento que soprava de momento, não tinha derrubado uns jambos maduros do secular "pé de pau" (árvore em nordestino) de jambo do Pará que fazia sombra gostosa num dos lados da praça, junto à bomba de gasolina e o estacionamento dos carros de aluguel.
Pena, não caiu nenhum, ta ainda tudo verde. Que merda!
Será que este "pé de pau" de Jambo do Pará, ainda está vivo? Se estiver deveria a prefeitura do Recife promulgar um decreto e conceder a esta árvore (Pé de Pau) todas as honras e cuidados que merece algo que faz parte do patrimônio da cidade. Sério mesmo!

Desculpem-me se um dia volte a recordar esta praça, pois ela foi o coração das nossas brincadeiras e traquinagens quando miúdos.
-"Você pode sair da praça, porem a praça nunca sairá de você".
Parece um "barril sem fundo", quanto mais se conta sobre ela, surgem mais e mais estórias que começaram ou terminaram lá, nunca se esvaziará.
Ela sempre terá novos temas para serem contados sobre algum período do seu passado.
Assim ficará para a posteridade e aqueles que não tiveram a sorte de viver, brincar, "tirar linha" (namorar, na língua do povo), tomar uma brisa ao anoitecer, descansar num dos seus bancos inconfortáveis e mesmo tirar uma soneca rápida nesta pracinha, pelo menos poderão ler as crônicas dos enamorados dela.
Isto na época que se "amarrava cachorro com linguiça", no nosso Recife matuto.
E de repente se ouvia em todo canto:
-Corre, corre, "pernas pra que te quero", aí vem um aguaceiro danado.

Vê só o bafo quente subindo da calçada quente quando chove.

Chove chuva, chove sem parar, cuidado com o resfriado, corre, corre, pernas pra que te quero.
Ai meu Deus, assim era a inesquecível "nossa pracinha" a Praça Maciel Pinheiro** das décadas 30 e 40, será que tudo isso ainda é assim mesmo ou o "vento levou"?
Dizíamos nós os matutos: "tudo avuou daqui, pro mode de não vortar nunca mais não, foi tudin pra banda do esquecê e pronto se acabô".
Agora só me falta mesmo, sentar é chorar......


* "putos" em português de Portugal, significa meninos, miúdos.

**A atual Praça Maciel Pinheiro foi inaugurada no dia 7 de Setembro de 1876, no coração do bairro da Boa Vista, em comemoração à vitória das tropas brasileiras na guerra do Paraguai (1964 -1870). Da Praça, ou em direção à mesma, começam e/ou finalizam as seguintes ruas: Hospício, Imperatriz Thereza Christina, Matriz, Aragão, Conceição e Manuel Borba. (Fonte: Semira Adler Vainsencher. Fundação Joaquim Nabuco).

PAULO LISKER, ISRAEL.
Memórias do meu Recife "matuto".
05-05-2010
(Todos os direitos autorais registrados)

6 comentários:



  1. Samuel Hulak RECIFE
    DISSE:

    Recebida,lida,muito apreciada e resgatadora
    de mil lembranças.
    Obrigado,
    Samuel.
    --------------------------
    Matilde Recife
    DISSE:

    Caro Paulo

    Gostei muito da sua cronica da Praça Maciel Pinheiro. Moravamos na rua Velha e depois, no Beco do Veras no edifício Ruth.Pertinho mesmo da praça Maciel Pinheiro,Tenho tambem boas recordações da pracinha. Como você sabe estou agora em São Paulo mas quando voltar para Recife ,no dia em que passar pela Praça vou olhar se ainda existe o tal pé de Jambo.
    Moro longe há muitos anos sai da Boa Vista e moro em Piedade perto do Hospital de Aeronautica um pouco depois de Boa. Viagem.
    No dia em que eu passar pela praça e caso o pé de Jambo estiver por lá escrevo lhe dizendo. Não sei exatamento quando isso acontecerá mas de vez em quando passo pela Boa Vista. Pode aguardar que mando lhe dizer.
    Tudo de bom para você e sua família
    --------------------------

    Dr. Meraldo Zisman Recife
    DISSE:

    Quanto ao Recife... continuando e voltando ao tema, diria com os gregos: é impossível atravessar o mesmo rio duas vezes...

    A Praça Maciel Pinheiro mudou muito, mas ela continua viva dentro de você.
    Gosto de suas crônicas e como psicoterapeuta e seguidor de Freud, acredito ser— na infância —, que construímos nossas lembranças. Suas crônicas são provas destes apontamentos.
    Costumo mencionar um ditado que aprendi com um dos maiores psicanalista de nome David Donald Winnicott, meu professor:
    - A criança é o pai do Homem. Que por sinal pertence a um poeta romântico inglês.

    Paulo, atingimos a maturidade ( independente da idade cronológica) enquanto vida tiver nesta criança interior.
    Porém não devemos ser por ela dominada.
    Continue nas suas recordações de infância.

    Aceite um grande abraço, do prazer que me proporcionou ao lembrar da Praça Maciel Pinheiro dos ano 1940
    Seu leitor e admirador
    Meraldo Zisman
    É somente isto que tenho para escrever. Obrigado amigo Paulo e se possível acuse recebimento desta mensagem.





    Anônimo Anônimo disse...
    Samuel Hulak RECIFE
    DISSE:

    Recebida,lida,muito apreciada e resgatadora
    de mil lembranças.
    Obrigado,
    Samuel.
    3 de novembro de 2012 10:39
    Anônimo Anônimo disse...
    Matilde Recife
    DISSE:

    Caro Paulo

    Gostei muito da sua cronica da Praça Maciel Pinheiro. Moravamos na rua Velha e depois, no Beco do Veras no edifício Ruth.Pertinho mesmo da praça Maciel Pinheiro,Tenho tambem boas recordações da pracinha. Como você sabe estou agora em São Paulo mas quando voltar para Recife ,no dia em que passar pela Praça vou olhar se ainda existe o tal pé de Jambo.
    Moro longe há muitos anos sai da Boa Vista e moro em Piedade perto do Hospital de Aeronautica um pouco depois de Boa. Viagem.
    No dia em que eu passar pela praça e caso o pé de Jambo estiver por lá escrevo lhe dizendo. Não sei exatamento quando isso acontecerá mas de vez em quando passo pela Boa Vista. Pode aguardar que mando lhe dizer.
    Tudo de bom para você e sua família

    3 de novembro de 2012 10:48
    Anônimo Anônimo disse...
    Dr. Meraldo Zisman Recife
    DISSE:

    Quanto ao Recife... continuando e voltando ao tema, diria com os gregos: é impossível atravessar o mesmo rio duas vezes...

    A Praça Maciel Pinheiro mudou muito, mas ela continua viva dentro de você.
    Gosto de suas crônicas e como psicoterapeuta e seguidor de Freud, acredito ser— na infância —, que construímos nossas lembranças. Suas crônicas são provas destes apontamentos.
    Costumo mencionar um ditado que aprendi com um dos maiores psicanalista de nome David Donald Winnicott, meu professor:
    - A criança é o pai do Homem. Que por sinal pertence a um poeta romântico inglês.

    Paulo.

    Atingimos a maturidade ( independente da idade cronológica) enquanto vida tiver nesta criança interior.
    Porém não devemos ser por ela dominada.
    Continue nas suas recordações de infância.

    Aceite um grande abraço, do prazer que me proporcionou ao lembrar da Praça Maciel Pinheiro dos ano 1940
    Seu leitor e admirador
    Meraldo Zisman
    É somente isto que tenho para escrever. Obrigado amigo Paulo e se possível acuse recebimento desta mensagem.




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  2. Paulo Lisker Israel
    Responde aos leitores:
    Agradeço os vossos comentários sem eles não valeria a pena escrever nada.

    3 de novembro de 2012 11:07
    Anônimo Anônimo disse...
    Paulo Lisker, para Dr, Meraldo Zisman:

    Caro amigo da infância Meraldo.
    Bom Dia.
    Não tenho palavras para agradecer os elogios que vosmecê tece sobre estas memorias de um diletante que temia ficar somente lembrado debaixo de uma laje no cemitério e tudo se acabaria,
    Mesmo sem ter o don de escrivinhador me meti nesta "camisa de onze varas" e coloquei no computador e daí para o WEB na Internet, mais de 100 crônicas sobre o passado judaico do Recife.
    O que me restou na velha memoria, pois vivi muito pouco no Recife. Até os 4-5 anos muito pouco se recorda e eu depois dos 13-14 anos me desliguei do dia a dia da colônia e me meti no Hashomer (Movimento Juvenil) e nada mais me interessava a não ser Aliá (emigrar) e Israel.
    Este curto período de tempo, alimentou depois de aposentado estas crônicas que "tomaram pés" e de mão em mão, correm pelo mundo afora para aqueles que conhecem o idioma português.
    Penso que este "barril inesgotável" que é a etapa da minha infância no Recife, está chegando ao seu final. Como não tenho tendências para escrever, então inventar, não sei.
    Pensei que a nossa comunidade mostrasse interesse neste seu passado visto de uma forma meio sarcástica, porem me enganei. Ninguém hoje da nova geração de "cristãos novos modernos" do Recife tem interesse como viveram seus pais ou avós.
    Você meu estimado, fostes o ultimo dos Mohicanos, com o "Jacó da Balalaica", que tentou enaltecer os judeus, e a comunidade daquela época, através da filosofia de seu pai que enriqueceu o texto tão bem apresentado.
    Agradeço mais uma vez o seu interesse e suas palavras de estimulo para comigo e estas "croniquetas infantiloides".
    Um abraço.
    Paulo.
    -------------------------------
    Dr. Meraldo Zisman, Recife
    Disse:

    Amigo Paulo,
    Fui por muitos anos médico pediatra. Na Faculdade de Ciencias Médicas, pertencente atualmente a U.P.E ( Universidade Estadual de Pernambuco) cheguei [enfrentando muitos obstáculos] a Professor Titular. Concursado. O fato de ser judeu atrapalhou e muito. Não seria pertinente falar nisso agora.

    Acho que você se tiver condição deveria visitar esta cidade que nos viu nascer.
    Ao mesmo tempo não saberia dizer se valeria à pena o tal retorno. A escolha é sua. A mente é única e cheia de mistérios.


    O que importa no meu aqui e agora, falar de suas crônicas do Recife, da sua infância e, sobretudo de sua capacidade como memorialista e escritor.

    Sempre morei no Recife, por motivos de saude do meu pai, fui arrimo de familia desde os dez anos de idade.
    Fiquei fora desta cidade quando fiz residência médica no Rio de janeiro e depois em Bristol e Oxford. Além de Londres. Ausentei-me para dar cursos fora e aqui no Brasil e agora os convites têm diminuidos. Coisas da vida...
    Agora, aposentado, escrevo crônicas e vou levando a vida. Devido a minha formação deixei a Pediatria e sou Psicoterapeuta.

    Quanto ao Recife... continuando e voltando ao tema, diria com os gregos: é impossível atravessar o mesmo rio duas vezes...
    -----------------------------------------



    Ary Ruchansky Israel
    Disse:

    Ótima. Eu vivi esta época e tenho saudades da soda de groselha frappé. Paulo você é o maior e nos faz reviver a época saudosa de nossas vidas.

    4 de novembro de 2012 08:38

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  3. Sluva Waintraub- Salvador- Bahia

    Crônicas
    DISSE:
    Paulo: Li todas as crônicas que você enviou. Gostei de sua crônica sobre o vendedor de bolinhos de cambará. Acho que isso só havia em Recife.
    Li sobre os bondes puxados por burros, e sei que aqui na Bahia também foi assim ao início. A primeira empresa deste meio de transporte. Em Salvador foi estabelecida no séc.XIX por um judeu de origem italiana. Nunca imaginei que eles chamassem os passageiros, uma vez que já nasci no tempo do bonde elétrico, que tinha seus pontos fixos onde esperávamos que parasse.
    Quanto às ilustrações elas já chegam abertas junto às crônicas.
    Sobre o sobrenome Sadigursky de solteira de minha mãe, Rachel Waintraub Z"L, pode ser que tenha se originado da cidade de Sadagora, mas meu bisavô já morava em Sukuron em meados do séc.XIX, quando nasceram seus filhos: meu avô e irmãos. Infelizmente daí para trás é impossível levantar a história da família.
    Mais abaixo envio um artigo sobre sobrenomes judaicos que talvez já tenha recebido de outro internauta.
    Shavua tov, Sluva.
    ------------------------


    IZAIAS- Recife.
    DISSE:
    Paulo,
    A Praça Maciel Pinheiro continua com a fonte.
    às vezes ligam a água e fica bonita, a maior parte das vezes está desligada, e só desocupados sentam nos banquinhos hoje.
    A vida não permite mais que as famílias tenham tempo de freqüentá-la, e em volta o comercio é intenso, sem falar nas carroças de ambulantes de frutas e outras quinquilharias. É gente demais por toda parte, alem do que tem o Bradesco, a padaria, e um ponto de compra de passes eletrônicos pra ônibus que vive lotado.
    É impossível andar na rua do hospício de tanta gente. A Martins Junior da antiga sinagoga (só abre em épocas especiais) está cheia de lojinhas de produtos baratos.
    A Rua da Imperatriz foi pedestrianizada, a maior parte são lojas de roupas, a padaria continua, lojas de produtos chineses importados e baratos.
    A Rua da Matriz ao lado da igreja tem loja de consertos e os prédios estão de fazer pena.
    A praça é um divisor de águas: do lado da Rua do Aragão, onde inclusive morou sua tia Dina nos últimos anos (ela gostava muito de mim, e Pessach era como um irmão meu, e Daniel nasceu no mesmo dia do meu filho Sami). Lá só tem loja de moveis (umas 40-50) e de boas grifes (os moveis populares não existem mais a não ser nas lojas da rua da concórdia como a Insinuante e magazine Luiza). Do lado da Manuel Borba só tem ótica (umas 80 a 100).
    Na Rua da Conceição só tem loja de moveis de escritório (umas 30-40), moveis de 2 a. mão, e as duas funerárias. na Gervasio Pires onde você morou no trecho que vai pra Conde da Boa Vista (que não havia no seu tempo) tem montes de farmácias de manipulação (elas produzem os remédios com as receitas que os médicos passam) de um lado e do outro tem lojinhas menores e lavanderia.
    Acho que o cruzamento mais cheio de gente hoje no Recife é exatamente o da Gervasio Pires com a Conde da Boa Vista devido as grandes lojas e ao shopping boa vista que tem partes em ambos os lados com uma passarela ligando, sem falar no corredor de ônibus. uma loucura andar por ali num sábado. entre no Google earth e veja ao nivel da rua como está a situação. quanto à água soda ainda existe coisa parecida, tem umas carroças que vendem, chama-se raspa-raspa, pq ele bota num copo plástico uma mistura colorida e raspa um gelo enorme pra botar no copo.
    Mas quem tem juízo não se atreve... rs ainda tem também o caldo de cana e outras beberagens pouco higiênicas que só os pobres ousam tomar...

    abcs
    Izaias
    ---------------------------

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  4. Moshé R.- Israel
    DISSE:

    Como eu nasci em 1951, não posso saber o que existia antes. No meu tempo, se vendia os fogos de São João em duas cabanas de madeiras montadas la’ na praça nos dias que antecederam a festa. Durante a festa, a gente comia pamonha e milho cozido naqueles caldeirões improvisados na praça.
    Berale era o gabai do shil, mas você não conheceu, ao que parece.
    Estou satisfeito que agora você já’ sabe o que e’ groselha... hahahaha
    Quando terminar todos os seus artigos, faca um livro ou brochura e mande pra Tânia Kaufman da Sinagoga Kahal Zur Israel que dirige também o arquivo histórico dos judeus de Pernambuco e isso seria uma grande contribuição.
    Vão ai’ mais 2 fotos. Uma com meu irmão na ponte entre a Rua da Imperatriz e a Rua Nova e outra na Rua da Imperatriz que hoje e’ só’ pra pedestre e das lojas sai um barulho ensurdecedor de auto-falantes: Só’ hoje – 3 por 20 reais; quem compra nas casas ... compra bem; e todo tipo de propaganda boba. Ah, sim, a sorveteria Gemba não existe mais. Lembra-se dela?
    Paulo, seu artigo esta’ excelente.
    Você se esqueceu que alem de lança-perfumes no carnaval, em São João, havia duas barracas onde comprávamos peidos-de-velha e traques-de-massa. Eu vivi’ desde 0 a 6 anos na Travessa do Veras, Edifício Ruth e éramos vizinhos de uma outra figura muito conhecida no Shil da Martins Junior: Berale. Lembra-se dele?
    Em agosto-setembro de 2010 levei minha esposa, 3 filhos e nora pra um Tiul Shorashim. Vai ai’ uma foto minha (em pe’) com meu filho maior e minha nora na Praça Maciel Pinheiro. Foi muito emocionante pra mim voltar a essa praça.
    Pra que você foi me lembrar da tapioca quentinha? Fiquei com água na boca... hahahaha.
    Veja esse site pra não morrer nas trevas da “inguinorancia”

    Moshé Rosenblat.


    Rubem Pincovsky- Recife.
    DISSE:

    Estimado amigo Paulo Lisker,
    Achei excelente a sua crônica sobre os pregões, incluindo as partes referentes aos bondes puxados a burros e ao Jornal do Comércio que, por sinal, continua a mesma porcaria de sempre.
    Lí todas as crônicas que me enviou. Elas são muitíssimo diferentes de tudo o que até hoje escrevi. São originais, inteligentes, saudosas, criativas... Você é, de fato, cronista dos melhores. Fico admirado, como já disse antes, com o seu domínio da língua portuguesa. Até onde sei, está impecável.
    Agora que tenho seu endereço, pretendo enviar-lhe notícias também pelo correio. E um risco, pois o Correio Brasileiro chegou a melhorar mas, hoje, voltou ao que era há 60 anos. Uma desgraça, para dizer o mínimo.
    Meu amigo: continue enviando-me notícias com suas crônicas e ilustrações.
    Receba o meu melhor abraço. Recomende-me se encontrar alguém por aí que ainda se lembre de mim.
    O amigo de sempre,
    Rubem Pincovsky

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  5. Claudio Azoubel,Salvador, Bahia.
    DISSE:
    CARO PAULO:
    Não conheci o A PORTINHA DA AGUA SODA, nem nunca tinha ouvido falar no Sr Vasserman, mas gostei da crônica, sobretudo pelo registro. Aliás, suas crônicas têm o valor do registro de coisas que não são só da comunidade judaica. É interessante a "fotografia" que você faz da interface do convívio da colônia judaica com o povo do Recife, registrando em forma de "crônicas de um Recife que eu não quisera fosse ainda o que era, mas de que tenho saudades por haver deixado de ser o que foi"(Mario Sette ).
    Não sei se em outro local do Brasil existiu a integração que ocorreu em Pernambuco entre os Judeus e os Goim. Foi o único local na fase de Brasil colônia onde se permitiu, por algum tempo, o culto judaico. Estima-se inclusive, que no Brasil holandês, mais de 50% da população de Pernambuco, era de judeus - contando-se com cristãos novos que tinham retornado ao judaísmo. Acho que os judeus marcaram bem a cultura pernambucana resultando um povo com uma postura mais voltada para a produtividade do que os de outros Estados. Você consegue notar isso quando vive por algum tempo em outro Estado.
    O fato de não ter vivido a Gervásio Pires, a Praça Maciel Pinheiro, a Boa Vista, a rua da Gloria, redutos da população judaica das primeiras décadas do século XX e palco de suas crônicas é o que tem me despertado mais a curiosidade.
    Parabens pelos registros.
    Claudio
    ---------------------------------

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  6. Semira Adler- Recife
    DISE:

    Querido Paulo,

    Que memória prodigiosa você tem!
    Incrível!
    E,como ainda escreve muito bem em português,para uma pessoa que está há décadas vivendo em Israel!
    O alemão (Alzheimer) não vai lhe pegar nunca!
    Tirando húmido, que não é mais com H,e pequenos deslizes oriundos das
    novas regras gramaticais da língua portuguesa, sua crônica
    está muito boa, e retrata exatamente o ambiente daquele tempo, que também foi o meu.
    Dá uma saudade danada!

    Passo pela Praça e não vejo mais meu Zeidinho Marcus sentado em um banco, conversando em íidishe
    com o Sr. Sadigursky. Que pena eu sinto! E que saudade!

    O pé de jambo não existe mais, tampouco a bomba de gasolina. Contudo, o cenário é mais ou
    menos, assemelhado ao que vivenciamos no passado. Só mudou o tipo de comércio empreendido
    pelas lojinhas da Praça.

    Parabéns, Paulo!

    Um beijo,

    Semira

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