O comunista (Parte 3)
No dia das "batidas" da policia nas casas dos judeus era um reboliço danado.
Nem sempre a informação destas "blitz" chegava em tempo. Era um corre-corre danado para esconder ou se desfazer de algum material suspeito como subversivo na opinião dos "defensores" da sociedade, na luta contra o comunismo tupi, ainda mais quando era de judeus.
Quando a "batida" vinha de surpresa, então a coisa era séria mesmo.
Só no dia seguinte ficávamos sabendo.
Desta vez, de manhãzinha, fizeram uma "batida" na casa de Faivel Blanche no bairro da Madalena em busca de Marcos, jovem "sarará", um dos dirigentes-mor do movimento juvenil judaico de esquerda, o "Hashomer Hatzair", no Recife.
A ordem dada aos intrépidos agentes antisubversivos era que nesta oportunidade o prendessem para interrogatório e trouxessem toda "literatura vermelha" encontrada em todas as dependências da casa.
Possivelmente eles esconderiam no quarto das empregadas ou até no canil no fundo do quintal do palacete, na Rua José Higino.
Caso não encontrassem "o dirigente juvenil", pelo menos não deixassem sequer uma revista do leste europeu comunista ou "livros vermelhos subversivos", pois estes serviriam como provas incriminatorias.
Ficamos sabendo que dona Zína a dona da casa, mãe de Marcos, "o vermelho", conseguira ludibriar os "agentes anti-subversivos" duas vezes nesta oportunidade.
Uma vez quando em tempo útil, mandou o seu filho Marcos, de oitão a oitão para casa dos seus vizinhos, os Frechtman, que também tinham dois filhos neste movimento, mas que de momento estavam numa convenção no Rio.
A outra, foi quando ela colocou nas pastas escolares dos meninos menores, não os livros normais de ensino, porém tudo que era literatura marxista leninista e as "revistas subversivas" que tinham em casa.
Depois o seu marido o senhor Faivel levaria os meninos com as pastas cheias do material incriminatorio no seu calhambeque para o colégio iídiche, na Rua da Gloria.
Os agentes não saíram de todo com as mãos vazias, depois que tomaram um café bem forte, coado na hora, servido fumaçando dum bule verde de ágata e saborearam as torradas com manteiga e fatias de goiabada "Cascão", servidas por dona Zína, só então iniciaram a sua missão.
A ordem era prender o líder juvenil vermelho e juntar tudo que fosse "literatura subversiva vermelha".
Deveriam cumprir ao pé da letra a tal missão.
Pediram desculpas a dona da casa e se meteram em todas as dependências em busca do líder juvenil e do material subversivo escondido em algum lugar da casa.
O líder juvenil, claro que eles não acharam, pois á tempo fugiu pelo oitão para a casa dum visinho no fim da rua, porém levaram todos os livros cuja capa era de cor vermelha, rosada ou roxa ou que o titulo da obra lembrava a palavra "subversiva", vermelho, e não importava o tema. Levaram: "O Chapeuzinho Vermelho", "O Barão Vermelho", "Preto e Vermelho", "A dama de vermelho", "O cartão vermelho", sobre as novas regras oficiais do Futebol Association e assim por adiante. Pobres agentes da lei. Cumpriram a ordem ao pé da letra, nada de cor encarnada escapou a "batida" dos agentes da lei.
Juntaram tudo, colocaram num saco vazio de "Café Santos" e missão cumprida!
O líder não acharam, porém um dia o pegarão se não em casa, estão no meio da rua no Recife.
Meteram-se nas Radio Patrulha ou nos famosos "tintureiros" (camionetes que serviam para levar os presos) e se mandaram de volta satisfeitos à delegacia, com todo o "material subversivo" apreendido.
Claro que na delegacia ao colocar os "livros subversivos" na mesa do delegado, a gozação foi enorme.
Desculpem-me a memória meio frouxa, mas se não me engano toda essa geringonça foi no tempo de João Roma, chefe da policia e Etelvino Lins, Secretario da Segurança Publica e se não foi, que me desculpem.
O que sim sei era o fato que estes dois senhores não eram muito benquistos pela colônia israelita do Recife, pela sua atuação "dura demais" para com a comunidade pacifica israelita.
Claro que o fiasco "vazou" e chegou à mídia, dizem que foi tema de gozação mesmo fora do Recife. Chegou ao sul do país e publicado nos periódicos de época, Até na Argentina foi manchete e serviu como tema de gozação.
Um dos jornais dizia na manchete de primeira pagina: "Chapeuzinho vermelho e Pinochio" (capa alaranjada e moldura bem vermelha) foram presos por ações subversivas no Recife.
O clima estava por demais tenso e chegou a tal, que num dia dessas "batidas", dois "secretas" deram ordem de prisão em nome do DOPS a um grupo de jovens judeus que estavam sentados na Praça Maciél Pinheiro, discutindo sobre temas "internacionalistas", não muito bem quistos pelas autoridades.
Veio o tintureiro levou todo o grupo de jovens para a delegacia. Depois de empurrões, mandaram sentar num banco defronte da sala do delegado a espera da interrogação que logo mais começaria.
O comissário perguntou:
-Quem são estes moleques e que fazem por aqui?
-São agitadores judeus comunistas. Os pegamos em ação na Praça Maciél Pinheiro.
-Reagiram com violência contra a ordem legal de prisão? Pergunta o Delegado.
-Não senhor delegado. Entregaram-se sem nenhuma violência, como se estivessem a nossa espera, parece ser tudo um bando de frescos!
-Ah, filhinhos de mamãe, desses riquinhos, bancando "machão vermelho". É assim? Pra que eu entenda. É assim?Pergunta aí a este bando de "frescos" se querem que algum adulto ou advogado da comunidade esteja presente na investigação?
A garotada pediu que chamassem o senhor Benjamim, figura conhecida na comunidade e membro ativo da comissão diretiva do "BNEI BRITH" (Uma especie de Maçonaria judaica), assim foi.
Ao chegar à delegacia ele perguntou ao delegado que problemas estes jovens estão causando a lei e ao respeitável delegado e este respondeu: --Comunistas, estavam tramando contra a nação, o lugar deles é na cadeia. Pelos meus registros esta gente até faz "retiro" fora do Recife e lá cantam o hino e hasteiam bandeira, não a nacional, comem o que cozinham, igualzinho aos grupos pré militares subversivos e o pior, escutam conferencias todas as noites sobre temas subversivos e de gente que nem nós temos idéia quem é. Com certeza são bandidos criminosos armados!
Então senhor Benjamim, o que fazer com esta juventude de esquerda depravada? O negocio é meter toda essa gente na cadeia e fim de subversivos soltos pelas ruas. Não esqueça que vocês judeus são hospedes aqui no Brasil e essa gente está minando as bases da nossa boa vontade em recebê-los e dar-lhes guarida na pátria mais democrática do mundo, não é mesmo senhor Benjamim?
Senhor Benjamim sorriu e tirou da pasta que trazia um alvará de funcionamento legal do movimento Hashomer Hatzair ("O Jovem Guardião") e que estava confiado e depositado sob a tutela do senhor Moishe Schwarz, presidente da coletividade judaica no Recife.
-Solte estes meninos, as mães deles já devem estar preocupadas, pois a estas horas já deveriam estar em casa.
Tudo que o senhor descreveu senhor delegado, é a pura verdade, eles fazem tudo isso, nem a nós eles contam, feito a Maçonaria. Porém posso lhe garantir uma coisa senhor Delegado, eles não são comunistas, nem querem de maneira nenhuma afetar a autoridade democrática brasileira, dou a minha palavra de honra, sim senhor!
-Então pra que todo este sigilo das atuações realizadas, este treinamento nas fazendas, não são escoteiros, então que diabos é esta gente?
Agora senhor Benjamim riu de boca cheia e disse:
-Tudo isso que essa gente faz é exatamente esta palavra que vossa senhoria usou. Treinamento.
-Então para que este treinamento?
-Para viajar para a Palestina e lá tentar construir uma pátria para os judeus não só do Recife, porém para os judeus do mundo todo!
Mande soltar toda essa gente, se eles fizerem socialismo ou comunismo não é aqui não, senhor delegado. É na Palestina.
-Senhor Benjamim, o senhor também irá pra lá?
-Se Deus quiser e me der anos de vida irei com toda minha família, pois lá, será erguida num futuro bem próximo, a pátria dos judeus. Para nós o presente é como uma nuvem passageira, às vezes ela demora séculos, mas um dia o sol voltará a brilhar. Pode ter certeza senhor Delegado. Assim é a natureza e Deus não esquece seu povo preferido. Não é assim que está escrito na vossa bíblia também?
-Seu Benjamim. Não sabia que vosmecê tinha "dom de literatura".
Com os olhos esbugalhados, como se não acreditasse numa só palavra do senhor Benjamim, contudo isso ordenou libertar todo o grupo que logo ao sair da delegacia começou a cantar na rua em coro, a internacional e foram rápido para o bar na esquina do Largo da Santa Cruz saborear um excelente Caldo de Cana com um "pão doce", nunca tão gostoso como este depois da visita na delegacia do famigerado DOPS.
Outra surpresa para nós, foi quando descobrimos que a Organização Chaim Jithlovsky e Vitka Kempner no Recife congregava adultos da sociedade judaica com orientação comunista e anti sionista (eram contra a fundação de um Estado Judeu na Palestina) e favorável a assimilação dos judeus nos lugares que habitavam e imaginavam que desta forma o problema judaico teria uma solução pacifica.
Isto apesar do que "O Sol dos Povos", o próprio Stalin, ter doado ao povo judeu um enorme território chamado Birobidjan, na Rússia asiática, nos "cafundós de Judas", com o intuito de nele formar uma pátria para o povo judeu.
Claro que o experimento fracassou, pois "pátria para judeus" sem Jerusalém é "papo furado ou feijoada sem feijão", não funcionou apesar do local existir até hoje, porem sem judeus.
Neste grupo de esquerdistas judeus no Recife, estavam congregados pessoas cultas, médicos, políticos, literários, comerciantes, donos de bar e até prestamistas fracassados.
Alguns deles tinham muito boas relações com Francisco Julião das Ligas Camponesas e que em tempo se refugiou em Cuba de Fidel, outros pertenciam a Associação Pernambucana de Solidariedade a Cuba.
Este grupo era denominado pela colônia judaica Sionista, de "Progressistas" e que não os "via com bons olhos".
Eles se recusavam a contribuir com donativos em dinheiro para toda e qualquer causa sionista que estivesse ligada ao embrionário Estado de Israel, ou permitir aos seus filhos se afiliar aos movimentos juvenis sionistas, que de alguma forma pretendiam num futuro imbuí-los de ir construir uma nação socialista judaica, na Palestina.
Para nós eles eram "comunistas de salão", apesar de que alguns deles tivessem participado em governos de esquerda, assim como do governador Arraes e Pelópidas Silveira.
Não tive conhecimento se este grupo tenha sido perseguido pela policia.
Sei que em determinadas épocas deixaram de atuar abertamente, me parece que foi no tempo do "Estado Novo" e no governo militar, que proibiram a atuação do Partido Comunista, da Maçonaria e por mais incrível que pareça também dos Terreiros de Xangô.
(Todos os direitos autorais reservados)
Nem sempre a informação destas "blitz" chegava em tempo. Era um corre-corre danado para esconder ou se desfazer de algum material suspeito como subversivo na opinião dos "defensores" da sociedade, na luta contra o comunismo tupi, ainda mais quando era de judeus.
Quando a "batida" vinha de surpresa, então a coisa era séria mesmo.
Só no dia seguinte ficávamos sabendo.
Desta vez, de manhãzinha, fizeram uma "batida" na casa de Faivel Blanche no bairro da Madalena em busca de Marcos, jovem "sarará", um dos dirigentes-mor do movimento juvenil judaico de esquerda, o "Hashomer Hatzair", no Recife.
A ordem dada aos intrépidos agentes antisubversivos era que nesta oportunidade o prendessem para interrogatório e trouxessem toda "literatura vermelha" encontrada em todas as dependências da casa.
Possivelmente eles esconderiam no quarto das empregadas ou até no canil no fundo do quintal do palacete, na Rua José Higino.
Caso não encontrassem "o dirigente juvenil", pelo menos não deixassem sequer uma revista do leste europeu comunista ou "livros vermelhos subversivos", pois estes serviriam como provas incriminatorias.
Ficamos sabendo que dona Zína a dona da casa, mãe de Marcos, "o vermelho", conseguira ludibriar os "agentes anti-subversivos" duas vezes nesta oportunidade.
Uma vez quando em tempo útil, mandou o seu filho Marcos, de oitão a oitão para casa dos seus vizinhos, os Frechtman, que também tinham dois filhos neste movimento, mas que de momento estavam numa convenção no Rio.
A outra, foi quando ela colocou nas pastas escolares dos meninos menores, não os livros normais de ensino, porém tudo que era literatura marxista leninista e as "revistas subversivas" que tinham em casa.
Depois o seu marido o senhor Faivel levaria os meninos com as pastas cheias do material incriminatorio no seu calhambeque para o colégio iídiche, na Rua da Gloria.
Os agentes não saíram de todo com as mãos vazias, depois que tomaram um café bem forte, coado na hora, servido fumaçando dum bule verde de ágata e saborearam as torradas com manteiga e fatias de goiabada "Cascão", servidas por dona Zína, só então iniciaram a sua missão.
A ordem era prender o líder juvenil vermelho e juntar tudo que fosse "literatura subversiva vermelha".
Deveriam cumprir ao pé da letra a tal missão.
Pediram desculpas a dona da casa e se meteram em todas as dependências em busca do líder juvenil e do material subversivo escondido em algum lugar da casa.
O líder juvenil, claro que eles não acharam, pois á tempo fugiu pelo oitão para a casa dum visinho no fim da rua, porém levaram todos os livros cuja capa era de cor vermelha, rosada ou roxa ou que o titulo da obra lembrava a palavra "subversiva", vermelho, e não importava o tema. Levaram: "O Chapeuzinho Vermelho", "O Barão Vermelho", "Preto e Vermelho", "A dama de vermelho", "O cartão vermelho", sobre as novas regras oficiais do Futebol Association e assim por adiante. Pobres agentes da lei. Cumpriram a ordem ao pé da letra, nada de cor encarnada escapou a "batida" dos agentes da lei.
Juntaram tudo, colocaram num saco vazio de "Café Santos" e missão cumprida!
O líder não acharam, porém um dia o pegarão se não em casa, estão no meio da rua no Recife.
Meteram-se nas Radio Patrulha ou nos famosos "tintureiros" (camionetes que serviam para levar os presos) e se mandaram de volta satisfeitos à delegacia, com todo o "material subversivo" apreendido.
Claro que na delegacia ao colocar os "livros subversivos" na mesa do delegado, a gozação foi enorme.
Desculpem-me a memória meio frouxa, mas se não me engano toda essa geringonça foi no tempo de João Roma, chefe da policia e Etelvino Lins, Secretario da Segurança Publica e se não foi, que me desculpem.
O que sim sei era o fato que estes dois senhores não eram muito benquistos pela colônia israelita do Recife, pela sua atuação "dura demais" para com a comunidade pacifica israelita.
Claro que o fiasco "vazou" e chegou à mídia, dizem que foi tema de gozação mesmo fora do Recife. Chegou ao sul do país e publicado nos periódicos de época, Até na Argentina foi manchete e serviu como tema de gozação.
Um dos jornais dizia na manchete de primeira pagina: "Chapeuzinho vermelho e Pinochio" (capa alaranjada e moldura bem vermelha) foram presos por ações subversivas no Recife.
O clima estava por demais tenso e chegou a tal, que num dia dessas "batidas", dois "secretas" deram ordem de prisão em nome do DOPS a um grupo de jovens judeus que estavam sentados na Praça Maciél Pinheiro, discutindo sobre temas "internacionalistas", não muito bem quistos pelas autoridades.
Veio o tintureiro levou todo o grupo de jovens para a delegacia. Depois de empurrões, mandaram sentar num banco defronte da sala do delegado a espera da interrogação que logo mais começaria.
O comissário perguntou:
-Quem são estes moleques e que fazem por aqui?
-São agitadores judeus comunistas. Os pegamos em ação na Praça Maciél Pinheiro.
-Reagiram com violência contra a ordem legal de prisão? Pergunta o Delegado.
-Não senhor delegado. Entregaram-se sem nenhuma violência, como se estivessem a nossa espera, parece ser tudo um bando de frescos!
-Ah, filhinhos de mamãe, desses riquinhos, bancando "machão vermelho". É assim? Pra que eu entenda. É assim?Pergunta aí a este bando de "frescos" se querem que algum adulto ou advogado da comunidade esteja presente na investigação?
A garotada pediu que chamassem o senhor Benjamim, figura conhecida na comunidade e membro ativo da comissão diretiva do "BNEI BRITH" (Uma especie de Maçonaria judaica), assim foi.
Ao chegar à delegacia ele perguntou ao delegado que problemas estes jovens estão causando a lei e ao respeitável delegado e este respondeu: --Comunistas, estavam tramando contra a nação, o lugar deles é na cadeia. Pelos meus registros esta gente até faz "retiro" fora do Recife e lá cantam o hino e hasteiam bandeira, não a nacional, comem o que cozinham, igualzinho aos grupos pré militares subversivos e o pior, escutam conferencias todas as noites sobre temas subversivos e de gente que nem nós temos idéia quem é. Com certeza são bandidos criminosos armados!
Então senhor Benjamim, o que fazer com esta juventude de esquerda depravada? O negocio é meter toda essa gente na cadeia e fim de subversivos soltos pelas ruas. Não esqueça que vocês judeus são hospedes aqui no Brasil e essa gente está minando as bases da nossa boa vontade em recebê-los e dar-lhes guarida na pátria mais democrática do mundo, não é mesmo senhor Benjamim?
Senhor Benjamim sorriu e tirou da pasta que trazia um alvará de funcionamento legal do movimento Hashomer Hatzair ("O Jovem Guardião") e que estava confiado e depositado sob a tutela do senhor Moishe Schwarz, presidente da coletividade judaica no Recife.
-Solte estes meninos, as mães deles já devem estar preocupadas, pois a estas horas já deveriam estar em casa.
Tudo que o senhor descreveu senhor delegado, é a pura verdade, eles fazem tudo isso, nem a nós eles contam, feito a Maçonaria. Porém posso lhe garantir uma coisa senhor Delegado, eles não são comunistas, nem querem de maneira nenhuma afetar a autoridade democrática brasileira, dou a minha palavra de honra, sim senhor!
-Então pra que todo este sigilo das atuações realizadas, este treinamento nas fazendas, não são escoteiros, então que diabos é esta gente?
Agora senhor Benjamim riu de boca cheia e disse:
-Tudo isso que essa gente faz é exatamente esta palavra que vossa senhoria usou. Treinamento.
-Então para que este treinamento?
-Para viajar para a Palestina e lá tentar construir uma pátria para os judeus não só do Recife, porém para os judeus do mundo todo!
Mande soltar toda essa gente, se eles fizerem socialismo ou comunismo não é aqui não, senhor delegado. É na Palestina.
-Senhor Benjamim, o senhor também irá pra lá?
-Se Deus quiser e me der anos de vida irei com toda minha família, pois lá, será erguida num futuro bem próximo, a pátria dos judeus. Para nós o presente é como uma nuvem passageira, às vezes ela demora séculos, mas um dia o sol voltará a brilhar. Pode ter certeza senhor Delegado. Assim é a natureza e Deus não esquece seu povo preferido. Não é assim que está escrito na vossa bíblia também?
-Seu Benjamim. Não sabia que vosmecê tinha "dom de literatura".
Com os olhos esbugalhados, como se não acreditasse numa só palavra do senhor Benjamim, contudo isso ordenou libertar todo o grupo que logo ao sair da delegacia começou a cantar na rua em coro, a internacional e foram rápido para o bar na esquina do Largo da Santa Cruz saborear um excelente Caldo de Cana com um "pão doce", nunca tão gostoso como este depois da visita na delegacia do famigerado DOPS.
Outra surpresa para nós, foi quando descobrimos que a Organização Chaim Jithlovsky e Vitka Kempner no Recife congregava adultos da sociedade judaica com orientação comunista e anti sionista (eram contra a fundação de um Estado Judeu na Palestina) e favorável a assimilação dos judeus nos lugares que habitavam e imaginavam que desta forma o problema judaico teria uma solução pacifica.
Isto apesar do que "O Sol dos Povos", o próprio Stalin, ter doado ao povo judeu um enorme território chamado Birobidjan, na Rússia asiática, nos "cafundós de Judas", com o intuito de nele formar uma pátria para o povo judeu.
Claro que o experimento fracassou, pois "pátria para judeus" sem Jerusalém é "papo furado ou feijoada sem feijão", não funcionou apesar do local existir até hoje, porem sem judeus.
Neste grupo de esquerdistas judeus no Recife, estavam congregados pessoas cultas, médicos, políticos, literários, comerciantes, donos de bar e até prestamistas fracassados.
Alguns deles tinham muito boas relações com Francisco Julião das Ligas Camponesas e que em tempo se refugiou em Cuba de Fidel, outros pertenciam a Associação Pernambucana de Solidariedade a Cuba.
Este grupo era denominado pela colônia judaica Sionista, de "Progressistas" e que não os "via com bons olhos".
Eles se recusavam a contribuir com donativos em dinheiro para toda e qualquer causa sionista que estivesse ligada ao embrionário Estado de Israel, ou permitir aos seus filhos se afiliar aos movimentos juvenis sionistas, que de alguma forma pretendiam num futuro imbuí-los de ir construir uma nação socialista judaica, na Palestina.
Para nós eles eram "comunistas de salão", apesar de que alguns deles tivessem participado em governos de esquerda, assim como do governador Arraes e Pelópidas Silveira.
Não tive conhecimento se este grupo tenha sido perseguido pela policia.
Sei que em determinadas épocas deixaram de atuar abertamente, me parece que foi no tempo do "Estado Novo" e no governo militar, que proibiram a atuação do Partido Comunista, da Maçonaria e por mais incrível que pareça também dos Terreiros de Xangô.
(Todos os direitos autorais reservados)

Eng. Israel Coslovsky São Paulo-Brasil
ResponderExcluirDISSE:
Paulo
Só agora li o capitulo 2 e o 3. Parabens, bons como sempre.
Um abraço
Israel