Paulo
Lisker
Israel
O GRANDE LARANJAL ESTÁ LONGE DEMAIS. Parte 2 (final)
Num país dinâmico como Israel o desenvolvimento não pode parar, ademais quando estava recebendo levas e levas de novos imigrantes sobreviventes dos campos de concentração nazistas na Europa e de outras partes do mundo em que tribos diversas encontraram raízes judaicas e começaram aos poucos a realizar a volta (até á pé), ao pedaço de chão como dizia a Bíblia, a tal "terra prometida para o povo preferido".
A
pressão era enorme para construir moradias para esta gente.
Assim
foi que o "grande laranjal" foi perdendo mais e mais arvores para
permitir a construção de bairros residenciais na maior velocidade possível a
tal ponto que se via a "olhos-nus"
como o laranjal se distanciava do meu edifício de apartamentos. Outros novos
edifícios recém construídos, e eram agora os meus visinhos. Aos poucos se formava
um verdadeiro mega-bairro, com toda a infra-estrutura necessária para poder
viver como área urbana.
A
cor verde das arvores ficava cada vez mais embaçada pela distancia até se
perder no horizonte e do cheiro da floração ninguém mais se lembrava.
Não
restam duvidas que todos os amantes da natureza estivéssemos deveras muito
frustrados.
A
vida era cada vez mais urbana, as estradas não mais de terra, tudo pavimentado
assim também as calçadas, ônibus durante todas as horas do dia, vendas,
padarias, bancos, posto de saúde, um verdadeiro "formigueiro" humano
caminhando pelas ruas, um verdadeiro inferno para aqueles que imaginavam
habitar uma área campestre e agora tudo se transformou em concreto urbano.
Os cantos de passarinhos nem nos sonhos, desapareceram todos, devem ter voado para outras bandas, eu só faltava chorar quando em vez da cantarolada de passarinhos, me desperto com as buzinas de carros e ônibus, logo pela manhã.
Os cantos de passarinhos nem nos sonhos, desapareceram todos, devem ter voado para outras bandas, eu só faltava chorar quando em vez da cantarolada de passarinhos, me desperto com as buzinas de carros e ônibus, logo pela manhã.
Na
realidade a maior perda mesmo foi o cheiro da floração das plantas cítricas que
sem nosso consentimento foi substituída pelo cheiro dos rebocos de cal dos
novos edifícios. Que frustração!
Alguns
sustentavam a tese que este é o preço do desenvolvimento e do progresso que
atravessava o país depois de fundado para os judeus da diáspora, passados 2000
anos.
A
verdade, com toda simpatia pelo desenvolvimento fiquei meio triste e abatido,
especialmente quando sentado na minha rede no pequeno terraço do meu novo apartamento, o
vento da primavera já não trazia consigo o aroma da floração dos laranjais,
estes que um dia beiravam o meu edifício.
Aquele
vento que trazia consigo no passado uma espécie de alegria para a alma
(pulmões), depois de um dia de trabalho árduo, assessorando nos campos dos
"moshavim e kibutzim" (modelos israelis, sui-generis de assentamentos
agrícolas cooperativos).
Este
foi meu primeiro trabalho como assalariado na Agencia Judaica de Colonização
Agrícola (antes disso fui membro de um kibutz, na entrada do deserto do Neguev,
no sul do país).
Quanto
aprendi nesta etapa de trabalhador braçal, muitas vezes mais que nos quatro
anos na Escola de Agronomia de Dois Irmãos, no Recife. Quanto conhecimento
agrícola está involucrado nestes assentamentos e que universidade nenhuma
(naquele tempo, anos 50), podia ou tinha para transmitir.
Desculpem-me
os professores que não possuíam estes conhecimentos ou não sabiam
transmiti-los. Soltam o aluno no fim dos "estudos" com diploma, porém
vazio de conhecimento prático, como dialogar e orientar o agricultor de como
agir no campo agrícola para produzir mais e melhor.
Quanta
vergonha passei no inicio da minha vida profissional.
Os
agricultores israelis, possuíam mais conhecimentos de como fazer agricultura
que o agrônomo formado em Dois Irmãos, no Recife e agora nomeado (pelo diploma
que possuía), como extensionista dessa gente.
Os
agricultores nestes assentamentos sabiam como "produzir pão", ou
morreriam de fome, e minha função era orientá-los para produzir mais e melhor.
Ta vendo né!
O
conhecimento por eles acumulados durante anos, levaram a agricultura de Israel
aos pontos auges a nível mundial e acima dela. Muito aprendi com eles e depois
transmiti estes conhecimentos práticos nas minhas missões de Cooperação
Técnica, na África e na América Latina.
Em
tempo útil dever-se-á lembrar que Israel é um país semi-árido e grandemente
desértico. Quando os investimentos eram aplicados com honestidade e sapiência, o
deserto se transformou em verdadeiros jardins e hortos produtivos (às vezes eu
imagino o nosso sertão, de clima tão parecido).
Ai
da vergonha (um dia escreverei sobre o assunto).
Bem
voltemos a "vaca fria".
Não
era somente eu que estava insatisfeito por não mais sentir os efeitos do
laranjal que desaparecia o olhos vistos.
Dona
Zohara Pinto, minha vizinha do terceiro andar, não teve mais paciência e um
belo dia foi a um viveiro de plantas fruticolas e comprou três mudinhas
(plantinhas jovens) de limão.
Uma
de limão Galego, outra de limão Rugoso e uma de limão Siciliano. Sei por que
assim estava escrito numa etiqueta pegada em cada muda e não por ser grande entendido
ou conhecedor, formado em Dois Irmãos.
De
noite foi ela com seu marido, cavaram três covas no meio do gramado que
circundava o nosso edifício e lá plantaram as mudas de limão que compraram com
seu próprio dinheiro no viveiro do senhor Crispim, que
ficava num bairro afastado e lá só se chegava de ônibus, a pés não dava.
Com
o amanhecer do dia, o sindico ao ver os limoeiros plantados no meio do gramado, "abriu a boca no mundo" (gritava) como se o maior desastre houvesse desabado no nosso
jardim.
Os
moradores do prédio e dos prédios vizinhos se juntaram para ver a reação do
sindico que de tanto se "enfezar" (alterar demais), parecia que teria
já, já um enfarte fulminante.
Ele
berrava: Quem fez isso? Quem teve a coragem de plantar essa porcaria no
nosso jardim? Que apareça para eu torcer seus ouvidos de burro, ignorante, quem
lhe permitiu fazer esta safadeza, que venha já pra cá e arranque estas
porcarias senão eu mesmo vou fazê-lo! E já.
Eu
me aproximei e lhe disse: Se o senhor fizer isso estará cometendo um crime,
sabe? Está terminantemente proibido arrancar uma arvore frutífera que trará bem
ao ser humano, isso lhe dará três anos de cadeia.
O
sindico empalideceu, ainda balbuciou algumas palavras sem nexo e se foi para
seu trabalho, cobrar as mensalidades dos moradores e abrir o registro de água
para regar o jardim, consequentemente também os três limoeiros recém plantados
e que ele tanto odiava.
Não
se passaram três anos e os limoeiros do nosso jardim (todos enxertados), bem
enraizados começaram a florescer e a frutificar, mas que beleza!
Segundo
os conselhos da bíblia (ela tem muitos conselhos agronômicos, por demais
úteis), não se deve colher os frutos produzidos antes do quarto ano, no intuito
de permitir as jovens arvores, durante três anos se fortalecerem, enrijecer seus
ramos para que possam sustentar a futura carga de frutos, sem que estes se
rebentem.
Derrubamos
a floração prematura do terceiro ano, "as arvores respiraram com alivio"
e robusteceram-se para enfrentar a próxima carga que estava por chegar.
Quase
ninguém tinha interesse nos lindos frutos dos nossos pés de limão, pois frutas
comprariam em qualquer mercado ou quitanda, eles não estavam ali pelas frutas e
sim pelo aroma de suas flores que enchiam os nossos pulmões e nos acompanhavam
ao dormir nas noites da primavera, isto não existe em canto nenhum para
comprar.
Agora
como o grande laranjal já está longe demais, restaram os três limoeiros, o
Galego, o Rugoso e o Siciliano no nosso gramado, florescendo todo ano, cada um
por sua vez, milhares de flores e produzindo o perfume divino desta família de
cítricos.
Mil
vezes agradeço à senhora Pinto, a minha vizinha, pela brilhante idéia e coragem
de realizar esta "proeza" de aproximar, nem que seja com três arvores
cítricas, aquilo que produzia o grande laranjal que com o passar dos anos, já
estava longe demais ou quem sabe, já nem existia.
Fim
da croniqueta: "O GRANDE LARANJAL ESTÁ LONGE DEMAIS".
Todos
direitos autorais registrados.
Cuidem
dos créditos.
Fotos
Internet



Eng. Israel Coslovsky São Paulo Brasil
ResponderExcluirDISSE:
PAULO
LINDO ARTIGO COM DUAS BELAS FOTOS.
GOSTEI MUITO, FALTOU V. DIZER O NOME DA CIDADE...
INTERESSANTE QUE ESTA SEMANA PASSADA PASSOU POR AQUI UM DOCUMENTARIO DA BBC SOBRE YAFO E SUA HISTORIA ATRAVES DOS SECULOS, E O PONTO MAIS DESTACADO FOI A DOS CITRICOS DA REGIÃO, ANTES E DEPOIS DO ESTADO DE ISRAEL. INUMEROS PLANTADORES DE CITRICOS, ARABES E ISRAELENSES DESCENDENTES DE JUDEUS QUE LA ESTAVAM PLANTANDO CITRICOS ANTES DO ESTADO FORAM ENTREVISTADOS E DESTACARAM A IMPORTANCIA DOS CITRICOS NA HISTORIA DA REGIÃO, MAS DE FORMA QUASE TÃO CARINHOSA QUANTO V. DE SUA PLANTAÇÃO VIZINHA.
UM ABRAÇO, SHANA TOVA,
ISRAEL
Dr. M. Rosenblatt Hadera-Israel
ResponderExcluirDISSE:
Quando eu estava no Merkaz Klita de Ashdod (centro de absorção de novos imigrantes),na cidade de Ashdod em Israel, no inicio de 1975, eu ia de ônibus (com cadeiras de ferro!!!) a Tel Aviv. Como não havia ar condicionado, as janelas estavam abertas e entrava frio,mas ao mesmo tempo, passando pelos pomares de Yavne, eu me deleitava com o cheiro das laranjeiras. INIGUALAVEL !!!
Imagino como te doeu ver prédios em vez de laranjais, perdendo o aroma sensacional.
O cara do vaad ha’binian (sindico), era simplesmente um imbecil e retardado mental. Cacete no fdp !