13 DE FEVEREIRO DE 2011
A nossa pracinha Maciel Pinheiro

A NOSSA PRACINHA MACIEL PINHEIRO
Paulo Lisker
Tudo começou na Praça Maciel Pinheiro, como muitos episódios da comunidade judaica no Recife.
Nesta praça pacífica viviam em harmonia quase tudo que compunha a natureza.
Poderíamos sentir o "cosmos" das energias positivas desta gente que frequentava o local, o jardim bem cuidado assim também os bancos, as grades, a fonte com a índia e os 4 leões, água jorrante 24 horas do dia, isto é, quando não faltava água na cidade.
Não me lembro de vandalismo de espécie alguma.
Quem não sentia o cheiro da grama no dia que foi aparada (cortada), ou do monte de esterco curtido que traziam das vacarias de Beberibe para adubar o gramado e as plantas da pracinha (assim nós a chamávamos).
O senhor Juvenal, o jardineiro, dizia quando alguém reclamava do cheiro do esterco fermentado e já pronto para ser espalhado no gramado e no jardim da praça, que "este cheiro, é o cheiro da vida"!
Onde poderiam ver hoje o espetáculo do "acendedor" dos postes de iluminação a gás ao entardecer e a meninada correndo atrás dele, de poste em poste para apreciar o fenômeno de "prender o lume" em cada poste da praça.
O secular pé de jambo do Pará que quando carregava de frutas maduras, a molecada atirava pedras para colher algumas bem vermelhinhas e doces como mel de uruçu.
Neste clima de "equilíbrio cósmico", ocorreram fatos sui generis, num ambiente pacífico, assim como as reuniões dos prestamistas judeus no início de seus primeiros passos no novo mundo.
A quase situação surrealista dos carregadores descalços, cantando, carregando na cabeça, pianos ou móveis de "madeira de lei" maciça, pesadíssimos, que eram enviados para o seu destino final, e que foram comprados por gente de posse, horas atrás.
Comícios políticos flamantes antes de eleições.
Soldados na Revolução de 30, atirando nos fios da Tramway e não em gente!
Estudantes colocando o rádio no parapeito da varanda do seu quarto alugado na pensão, para possibilitar ao povo que não tinha rádio ou não sabia ler os jornais da época, ouvir a transmissão dos jogos do selecionado brasileiro na Copa do Mundo que se realizavam na Europa.
Neste ambiente de paz, lógico que o romantismo também irrompia como o sol da madrugada.
Quantos namoros não começaram e se acabaram nessa praça, quantas relações não terminaram na cama dos estudantes "secos" e ardentes, loucos para fazer o amor com quem fosse, com as empregadas que para lá vinham nas suas horas de folga, ou com as donzelas de boas famílias que rondavam por lá ao anoitecer, procurando um possível namoro com algum estudante com futuro garantido. Qualquer que fosse, seria um desabafo!
Acreditem se quiser, mas eu mesmo presenciei, neste clima tão romântico, até gatos e cachorros vindo "trepar" no gramado da praça.
Faço um parêntesis para relatar um fato humorístico que fui testemunha e depois contei a todos meus amiguinhos que riram a bessa.
Foi assim a coisa: num lado da praça passavam bondes que iam e voltavam dos subúrbios. Acontecia que às vezes eles se encontravam em trilhos paralelos e passavam um bem pertinho do que vinha no sentido contrário.
Como em geral vinham apinhado de gente, muitos passageiros viajavam pendurados nos estribos dos dois lados do bonde.
Era deveras muito perigoso e então era muito comum o condutor cobrador, nesta situação anunciar com sua voz potente que se ouvia mesmo na praça onde brincávamos.
Ele anunciava: "ATENÇÃO, OLHAR A ESQUERDA, ATENÇÃO OLHAR A ESQUERDA", como uma alerta para o pessoal que viajava nos estribos, que se cuidem do bonde que vinha no sentido contrário. Que se cuidem para que este não os arranque do estribo onde viajavam.
Uma senhora "inocente" que viajava no bonde com sua pequena filha e não conhecia o eminente perigo que se aproximava, gritava de volta: "NÃO OLHEM NÃO, SÃO GATOS TREPANDO NO GRAMADO, ESSE CONDUTOR É MUITO SEM VERGONHA E ENXERIDO, NÃO OLHEM NÃO, É PURA SAFADEZA!".
Isso virou anedota e passou rápido no Recife todo, mesminho como no "tempo dos boatos" de antigamente.
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Dr. B. Rushansky Recife
ResponderExcluirDISSE:
Parabéns , ótima memoria, a casa onde morou Clarisse Lispector , a escritora era em frente
a Praça, existe uma escultura em sua homenagem.
Eng. Isaias Rosenblatt Recife
ResponderExcluirDISSE:
Vou ver se numa hora dessas eu passo pela casa dela (Clarice Lispector) e tiro uma foto da placa comemorativa que colocaram, para lhe mandar.
Além de fotos da atual Praça Maciel Pinheiro.
Eng. I. Coslovsky São Paulo-Brasil
ResponderExcluirDISSE:
PAULO
IGUALMENTE PERFEITO. SEM COMENTARIOS. NÃO SABIA QUE A FAMILIA DA CLARISSE LISPECTOR HAVIA PASSADO TAMBERM POR RECIFE. GOSTEI MUITO DA HISTORIA DO OLHAR A ESQUERDA...
UM ABRAÇO
NECO - ISRAEL
Lic. Bella Rushansky Recife
ResponderExcluirDisse:
From: Bella Rushansky
Parabéns , ótima memoria, a casa onde morou Clarisse Lispector , a escritora era em frente a Praça, existe uma escultura em sua homenagem.