sexta-feira, 4 de outubro de 2013

TEM ESPIÃO SACANA INFORMANDO (Parte 4 - Final)

TEM ESPIÃO SACANA INFORMANDO

  PARTE 4 FINAL

Tema:  Caso desvendado



Ilustração: Google-Internet
Da serie: "Das conversas com meu avô"




Paulo Lisker - Israel.


- Esta prosopopéia  tem um fim até a madrugada? Pergunta senhor Shvalbmam bocejando à beça.

-Tem, agora começa o principio do fim. Responde meu tio Jorge (o sertanejo) também dando uma gostosa bocejada.
Tudo funcionou as mil maravilhas. Eu que o diga!
-Chegaram seis viaturas com uns 10 agentes especializados no assunto, mais três agentes gringos (ianques).
Vieram também duas camionetes da Cooperativa de Laticínios (só camuflagem), saíram todos de pés descalços pela praia, mandaram Marcelo e seu pai mais para longe, os agentes gringos constataram que o dito cujo estava na realidade transmitindo em Morse para outrem.
Cochichavam em inglês entre si para que os policiais brasileiros não entendessem (Era raro naquela época um milico ou policial local, dominar a língua dos Yankes).
Um sistema de transmissão desse jeito, usando os faroletes traseiros do carro, nunca vimos, nem estudamos nos cursos contra espionagem nos States, eita bicho sabido da peste este "son of bitch".
Para nós foi realmente uma surpresa que nos pegou desprevenidos exatamente no Recife, esta aldeia primitiva e pantanosa. Veja só o que o destino nos regalou, vou fazer deste caso meu estudo de doutorado na universidade de York, quando me libertar do serviço militar, vai ver será uma tese arretada.
Estes gringos na realidade pertenciam à tropa de elite de “assalto imediato”! Um deles era medico, no caso de alguma reação violenta, logo seria aplicada uma injeção para acalmar os envolvidos na ação de flagrante.
O mais importante era prendê-los em boas condições físicas, levar para o inquérito e investigações necessárias no caso.
Em geral estas coisas eram feito no Jiquiá onde tinham uma prisão em conjunto com a policia federal brasileira e lá até defunto confessava.
-Ta ficando tarde minha gente e vocês estão cansados, então para encurtar a estória vos conto que a tropa fez um trabalho excelente. Pegaram os dois sem grandes problemas, como diz o figurino.
Um pouco de violência nunca fez mal a ninguém, a senhorita Gretchen que estava com rapaz gritava que ela é a noiva dele, esperneou um pouco, o medico gringo da tropa de assalto instantâneo lhe tacou (aplicou) uma injeção e pronto, tudo voltou a total calma.
Ninguém viu nada, ninguém ouviu nada!
Neste tipo de ação também os agentes brasileiros estão entre os primeiros na elite melhores do mundo.
E o meu tio Jorge, continuou:
O rapaz, Adolfo Pedro Kroenenbaur, brasileiro de 29 anos, natural da colônia alemã de Gramado no R.G.do Sul.
Estava estudando na Alemanha algo que tem a ver com oceanografia e administração portuária ou coisa parecida. Foi reprovado nos exames finais, aí entrou em ação o serviço secreto nazista e o recrutou em troca do cobiçado diploma. Apesar do fracasso no exame final ele o receberia caso estivesse pronto a "colaborar".
Ele aceitou, voltou para o Brasil já depois de estalada a guerra na Europa.
Dizem os boateiros que foi um submarino alemão que o deixou nas costas do Rio Grande, não boto a “minha mão no fogo" pela veracidade do acontecido.
Depois de uns meses inscreveu-se num concurso para uma vaga na Capitania dos Portos no Recife, com muitas boas recomendações e o tal diploma, foi aceito.
Logo estava atuando com grande autoridade no assunto que estudou em Leipzig e foi colocado no ponto nevrálgico que dominava todas as informações de qualquer tipo de movimentos marinhos no Atlântico.
Não podia haver um lugar melhor para roubar informações secretas necessárias para ajudar o serviço de espionagem nazista. Eles necessitavam dessas informações com a máxima urgência para desbaratar o movimento dos comboios aliados nas costas atlânticas do continente sul.
O consulado alemão no Recife tratou de recrutar a tal senhorita Gretchen, argentina de origem alemã para servir de camuflagem para o Adolfo que era homossexual passivo e declarado. Na Alemanha os seus homólogos na comunidade e na Escola Superior de Oceanografia e Navegação, o adoravam.
Prometeram um salário adicional ao salário de fome que pagavam no Brasil a um “especialista” no assunto como ele. Puseram a sua disposição um carro novinho em folha e lhe ensinaram a tal técnica de transmitir em Morse as informações com os faroletes do carro na praia de Boa Viagem, tendo sempre ao seu lado a simpática Gretchen que servia de camuflagem para o tal “namoro” e os contactos permanentes com o consulado alemão. 
Depois que confessou e contou tudo o que sabia, entre outras deu a lista de centenas de “quinta colunas” brasileiros do norte ao sul do país que colaboravam com os nazistas, nomes dos diplomatas do consulado que eram espiões ativos, códigos, senhas, contas bancarias onde recebia pagamento pelos serviços prestados a mãe pátria, Alemanha.
Ele foi uma dádiva caída do céu e que entre outras permitiu a continuação de transmissões falsas aos submarinos nas costas pernambucanas até que estes “engoliram a isca” e caíram na armadilha armada pelos aliados e foram destruídos ou fugiram para outras bandas.
Possivelmente algumas latas de comida em conserva destes submarinos criminosos, torpedeados pela frota de guerra dos aliados, vieram bater na mesa da nossa família. Pois meu pai tinha o costume de comprar estas latas dos jangadeiros que as traziam do mar ou da praia e as vendiam em qualquer praça do Recife. Pensando bem, agora me dá até nojo (leiam "A LATARIA BOIANDO", já postadas nesse blog).
-A senhorita Gretchen teve seu destino amparado pelo próprio Perón e Evita que pressionaram ao governo brasileiro de Getúlio Vargas para fazer extradição pacifica para Argentina sem as luzes da mídia.
Ela possuía passaporte argentino como tantos outros mil e que foram regalados a muitas famílias de nazistas que vieram viver na Argentina antes e depois da guerra na Europa. Isto prevendo qualquer emergência que pudesse acontecer ao regime nazista na Alemanha. Uma forma para preparar um “novo lar” para esta “corriola” de criminosos de guerra, dando a eles guarida contra ação da justiça dos povos.
A noticia que ouvimos dos nossos patrícios em Buenos Aires foi que ela ficou pouco tempo na Argentina e foi ocupar um cargo de tradutora na Embaixada da Alemanha em Assunção do Paraguai, cujo presidente transformou o país numa enorme "estância" (fazenda) e abriu as cancelas para refugiar criminosos de guerra dos mais famosos, depois da derrota da Alemanha nazista.
-Quando indagado do porque desta "nobre generosidade" com criminosos de guerra, ele riu e respondeu:
-Desta regalia só usufruíram aqueles que tinham passaportes diplomáticos e clérigos, fornecidos pelo Vaticano! Aqui não entrou nazista nenhum! 
-O destino de Adolfo o “espião dos pedais”, também conhecido como “O CASO PIRILAMPO” não se tem conhecimento maior.
Sair são e salvo das investigações do “Centro Cultural” do Jiquiá (assim era denominado pelo povo), física e mentalmente, seria um milagre.
Dizem que recebeu uma injeção de água e veio a falecer logo depois. Levaram o defunto para o necrotério do Derby. Avisaram a família sem grandes explicações, disseram que foi vitima de um amante zangado por traição com outro homossexual. O assassino fugiu para São Paulo e que a policia de lá está o par de todo o caso é uma questão de umas semanas ele será preso e conduzido para o Recife para julgamento.
A família fez o enterro em Pelotas no R.G. do Sul, sem nem publicar nota do falecimento no jornal. Em tempo receberam um “conselho” das autoridades federais para não “fazer onda”, pois logo o Brasil inteiro estaria a par do “desvio sexual” do filho querido e naquele tempo ser fresco declarado no Brasil era pior que ser espião nazista.
O carro dele está até hoje no deposito de sucatas do Departamento de Transito do Grande Recife na Imbiribeira.
O consulado alemão no Recife "tirou o corpo fora" e declarou "para Deus e o mundo" que nada tinha a ver com o tal brasileiro, que segundo as autoridades brasileiras, era espião a favor do nazismo e que nunca tinham nem sequer ouvido o nome do dito cujo. Tudo não passava de uma trama para romper as relações diplomáticas com a Alemanha, instigada pelos norte americanos imperialistas.
Até aqui meus senhores. Então valeu a pena vir à reunião desta noite na casa de seu Joseph para escutar tanta coisa interessante? Não é mesmo?
-Que fim levou o menino Marcelo e seu pai o senhor Clodoaldo que foram os verdadeiros heróis nessa estória cheia de altos e baixos, perguntou senhor Tabachnick, já se levantando para sair.
-Quase que esqueci, diz tio Jorge, eles foram agraciados pela colônia militar americana do Recife.
O senhor Clodoaldo recebeu um relógio "Eterna", de ouro, “de precisão protegida, resistente e elegante e que precisão, uma verdadeira maquina de medir o tempo”. (assim dizia o comercial desta marca divulgado na PRA- 8, Radio Clube de Pernambuco).
Ademais um “emprego vitalício” na construção do aeroporto e bases americanas no Recife e Natal. Estava feito, como se dizia na época.
Marcelinho o menino, recebeu cidadania americana e foi por conta deles fazer seus estudos por lá. Formou-se em “Radio Engeneer” em Ohio. Morreu na Coréia, nunca acharam o cadáver, foi considerado desaparecido como muitos outros soldados americanos nesta guerra. Seu nome figura em Washington no Monumento em Memória do Soldado Desaparecido, cujo local da sepultura desconhecido.
Não levou três meses depois que recebeu a triste noticia o senhor Clodoaldo, o pai de Marcelo se suicidou ao se jogar no mar na Ponte Giratória.  
Todo o grupo de amigos do meu avô respirou fundo, soltaram um suspiro acompanhado pelo clássico “oi vei mir in leibn” (ai da minha vida, em iídiche) “engoliram em seco” e cochicharam entre si: “Azamin maisse fin der taifel” (em iídiche: “Mas que estória dos diabos”).
A reunião e a discussão só terminavam quando meu pai perguntava meio cínico:
-Senhores mandar preparar outro chá? (em iídiche “Noch a gleizel tchai?”).
Todos entendiam a indireta e começavam a se despedir como sempre nestas ocasiões.
-A guite nacht, a guite nacht, shalom, shalom, morguen fri zoln mir afile nisht guidenken fin a naier Hitler, imach shemó!!!
(Boa noite, boa noite, paz, paz e que amanhã acordemos sem um novo Hitler e que dele não se recorde nem o seu nome)!
Fim da crônica " TEM ESPIÃO SACANA INFORMANDO".

Todos os direitos autorais registrados.
Versão anterior postada no blog Fubana em 05-07-2011
Foto tomada da Internet.

Um comentário:

  1. Sra. Bella Ruchansky Recife
    DISSE:
    Excelente, todavia seria menos prolixa, shalom

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