sábado, 12 de outubro de 2013

INCIDENTE GUARARAPES (Partes 1, 2 e 3)

INCIDENTE GUARARAPES

 

                                                                     Foto Google Internet
Coisas do Recife que me contaram

Paulo Lisker de Israel

"Incidente Guararapes"  (Parte 1)
(Antigo Campo de Pouso do Ibura, aeroporto do Recife até 1958). Daí para adiante passou a ser denominado, Aeroporto Guararapes e em 2001, depois de toda remodelação para adaptá-lo as normas internacionais foi "batizado" como: Guararapes-Gilberto A. Freire.


Como vocês podem entender eu não presenciei este complicado incidente, pois um par de anos antes vim embora para Israel.
Tudo que relato nesta croniqueta escutei de outrem e li aqui e ali em fontes diversas.
Diz a lei da justiça em Israel que desse jeito não serve como testemunha para um fato a ser julgado nos tribunais.
Se viu a coisa, muito bem, presenciou o acontecido, foi testemunho ocular é valido para todos os efeitos, não sendo assim a coisa se torna duvidosa e não aceito como prova de nada.
Neste caso eu acredito plenamente que este caso aconteceu na realidade, pois gente de alta confiabilidade e familiares residentes no Recife me relataram com muitos detalhes e nomes de envolvidos.   
Agora, acredita se quiser no acontecido em 1960 no Aeroporto Guararapes.
O "incidente Guararapes", teve um roteiro fora de serie e que se desenvolveu num cenário que nem os melhores roteiristas de Hollywood, nem de longe fariam melhor.
Coisa mesmo "da pontinha", se lembram da expressão? Fazíamos segurando a parte inferior do lóbulo da própria orelha, que significava como a coisa era muito boa mesmo, preciosa.
Pois bem, vou tentar colocar vocês na atmosfera em que este incidente "Hitchcookiano" se desenvolveu e concluiu-se com um êxito de filme de suspense.
Estava eu dando turno lavando pratos no refeitório comunitário do kibutz, onde vivia naquela época.
Não sabem o que é o kibutz? 
Pois bem, é um assentamento agrícola comunitário, comuna, comuna mesmo, sistema socialista de vida e trabalho, inexistente em parte alguma do mundo, ultimamente até em Israel está mudando as suas feições, deixando o sistema capitalista se enfronhar no seu cotidiano.
Sobre este sistema socialista sui-generis e único no mundo todo, vale a pena tecer comentários numa crônica a parte.
Estava eu cá puto da vida, pois era um sábado em que a equipe de futebol da segunda divisão do kibutz disputava um jogo da liga local contra um time de imigrantes marroquinos de uma cidade nova, vizinha ao nosso assentamento agrícola.
Eram bons futebolistas, pois tiveram educação esportiva francesa desde meninos nas escolas do primário quando o Marrocos foi uma colônia francesa, ou melhor, dizer, o "alem mar" francês.
Nossa equipe era formada por brasileiros em quase toda sua totalidade, treinávamos duas vezes por semana de tarde depois do trabalho.
Um jogo como este seria sensacional e logo hoje fiquei impossibilitado de participar pois me tocou o turno de trabalhar na cozinha lavando pratos e panelas resultantes do almoço do "shabat". No Sábado o almoço era sempre mais reforçado, tinha até um pudim de sobremesa, porem o ponto alto da refeição era uma feijoadazinha falsificada (faltava a farinha de mandioca e até tentaram substituí-la com farelo de pão torrado, mas o resultado foi um fracasso).
Esta comida brasileira (a feijoada, não a farinha de pão torrado), foi uma conquista das companheiras brasileiras ao introduzir no cardápio por demais uniforme do refeitório comunitário. Coisa de socialismo principiante quando tudo faltava num Estado que tudo era racionado e cada pessoa tinha a sua cota semanal de ovos a carne e assim por adiante. Lembro-me que uma noite ao sentar no restaurante para cear, o camarada que estava servindo me pergunta:
- Que desejas comer? Um ovo duro ou seis azeitonas em conserva?
Depois me disseram que tanto este como as outras, tem uma composição idêntica e contribui com o necessário para o sustento diário do corpo humano. Imaginem isto como prato principal depois de uma faina esgotante de trabalho no campo. Pão tínhamos na mesa a vontade.
Ainda bem que no almoço do sábado tinha a bendita "feijoada" que era um verdadeiro "bate entope" gostoso. Aí meu Deus, assim foram os primeiros tempos do socialismo ingênuo kibutziano, baixo um regime de racionamento de tudo.
Bem, voltemos a "vaca fria" (a carne deste animal também estava racionada).
- Mas logo tu na cozinha? Perguntou Zeca o meu vizinho de barracão que chegou bufando e reclamando. 
Sim, vivíamos no kibutz em barracos de madeira e o teto de zinco (imagina o calor no verão escaldante de Israel e o frio no inverno). Mas que importa, éramos jovens cheios de entusiasmo, o proletariado agrícola judeu, recém chegados a sua pátria ancestral.
- Porque  por todos os diabos estás escalado para lavar pratos? Pergunta Zeca.
O teu lugar de goleiro está sendo ocupado pelo "gordão" Liberman. Nem começou o jogo e ele já "engoliu um frangueiro" (gol sem nenhuma estúpida razão de ser), estamos perdendo por um à zero. Porra, mas não foi isso que vim te contar e sim a noticia que deu na radio local, agorinha no noticiário extraordinário das 16 horas.
-Que diabo de tão importante aconteceu que foi necessário trazer uma noticia extraordinária a esta hora da tarde? Alguma nova guerra com os árabes?
- Não! Coisa muito mais importante. O primeiro ministro Ben Gurion, anunciou no noticiário extraordinário há uns minutos atrás que o criminoso nazista, Adolf Eichman, responsável pelos transportes dos judeus de toda Europa para os campos de concentração e extermínio nas câmaras de gás durante a segunda guerra mundial, foi sequestrado na Argentina pelo pessoal do "Mossad" (serviço secreto israelí).
Não faz uma hora o avião que trazia o ministro de Relações Exteriores, Aba Eben, de volta das festividades de independência da Argentina, trouxe também o arquiassassino Eichman para ser julgado pelos seus crimes contra o povo judeu e a humanidade, aqui em Jerusalém.
-Foi mesmo? (Até me caíram uns pratos das mãos, ainda bem que eram de plástico e não houve estrago algum). Tens certeza mesmo ou é coisa de primeiro de Abril? Retruquei.
-Não tem nada de primeiro de Abril, pegaram esta "peste" no subúrbio de Buenos Aires, Garibaldi e possuía falsa identidade, trabalhava como contador numa fabrica de motores da Mercedes Benz.
Seguiram seus passos pelo mundo afora durante meses ou mesmo anos, desde que desapareceu da Alemanha.
O "Mossad", não deixará nenhum desses criminosos escapar, cada um deles chegará seu dia e terá que prestar contas a nossa justiça e a do Criador.
De repente se ouve o publico gritando: "goool, gool", lá do lado do campo de futebol.
-Vai lá correndo Zeca, vai ver se empatamos ou foi outro gool deles, vai homem...
-Deixa de pensar em besteiras, cabeça de matuto nordestino só pensa em merda.
Que me importa de quem seria o goool, a noticia quente agora foi a captura e o sigilo de toda esta operação, sem que as autoridades argentinas dessem conta do caso, pois estavam ocupados com os festejos do centenário e as centenas de convidados oficiais voltando para seus países. Aeroporto entupido, o trafego aéreo atrasado, a policia toda ela mobilizada patrulhando para evitar problemas com os milhares de turistas que se encontravam nas ruas fazendo compras de ultimo momento, nos bares e hotéis, tu não imaginas o ba-fa-fa que a coisa criou na cidade capital argentina, Buenos Aires. Agora imagina tu uma situação melhor que estas para o desenfeixe desta missão de agarrar o criminoso nazista Eichman . 
-As Autoridades desconfiaram de alguma coisa? Perguntei.
-Não sei não. Sei que a senhora esposa do tal criminoso deu parte a policia, alegando que seu marido não voltara do trabalho. Era mais um "cidadão" argentino que não voltara pra casa, isso já faz quase uma semana. Coisa muito normal na Argentina, terra dos "Don Juan, Gavilanes"!
-E a policia? Não saiu às loucas em busca do desaparecido?
-Tu es ingênuo ou leso, com todas estas festas do centenário da Independência, a partida amistosa entre a Argentina e o Brasil (me parece), os milhares de turistas que rodavam pela cidade, tu achas que a policia não tem coisa mais importante a fazer e sair à procura de mais um cidadão que não voltou do trabalho para casa. Ta vendo né?
Fora disso quem sabe que o desaparecido é Eichman? Só ele mesmo e o "Mossad". Este cachorro trocou o nome e toda identidade, hoje se chama Ricardo Clemente e vivia em paz e feliz num arrabalde pobre de Buenos Aires. 
Olha quando terminares o teu turno, vem tomar uma café lá no meu barraco (Tsrif, em hebraico), minha mulher preparou uma torta no estilo "engasga lobo" *, toda a brasileirada vai estar lá para escutar as novidades sobre o caso e o resultado do jogo contra os marroquinos. Vem, viu? Combinado?
-Estarei lá, sem falta. Respondi.
Não vi à hora de terminar o meu serviço, corri para o meu quarto, peguei uma toalha e fui tomar banho no chuveiro coletivo (tinha para homens e mulheres em separado, ai vocês não sabem o que é o verdadeiro paraíso socialista) e água quente de vez em quando, só para as mulheres, para nós era do estilo P-40, água fria mesmo, mas aguentávamos em prol da causa sionista e socialista. O banho frio não era muito ruim no verão eterno de Israel, com um calor danado durante quase 10 meses do ano.
"Mente Sã em Corpo São" era o que dizíamos antes de receber a ducha fria do "P40" e até que ajudava.  
A reunião no barracão do Zeca e Sarah, estava muito animada, todos falavam ao mesmo tempo, porem novidades sobre o caso, ninguém acrescentava.
Era o tempo que as noticias mais rápidas chegavam pelo jornal do dia seguinte e por cartas aéreas (levavam de duas a três semanas), que eram enviadas por nossas famílias que ficaram no Brasil.
Depois de algumas semanas começaram a aparecer detalhes desta missão, porém nunca em noticias oficiais é claro. Serviço secreto, nunca vai contar como a coisa aconteceu mesmo.Os jornais locais copiavam noticias dos jornais estrangeiros, que não estavam controlados pela censura israelí.
Como já disse no inicio desta crônica, acreditem se quiser, aqui mesmo muita gente não acreditava que isto poderia acontecer num país com boa policia como a Argentina e que politicamente seus governantes deram guarida a centenas senão a milhares de criminosos de guerra nazistas.
Não foi somente a Argentina, tudo começou com os passaportes diplomáticos (falsos) concedidos pelo Vaticano, a Cruz Vermelha (tinham bons amigos por lá também), colaboradores que em tempo forneceram esconderijos seguros, lugares de embarque menos vigiados pelos exércitos aliados na Espanha, Portugal, Itália, meios de transporte (Até submarinos), e assim esta laia de criminosos nazistas com esta ajuda de seus colaboradores espalhados em todo canto, chegaram ao Brasil, Chile, Argentina, Paraguai, Bolívia etc. Nestes países ninguém os perseguia, muito pelo contrario, eram muito bem recebidos e bem cuidados. Caso algum país europeu pedisse a extradição desse ou daquele criminoso de guerra, sempre recebia resposta negativa. Era tempo perdido.
A Israel e ao "Mossad", não restava outra solução a não ser caçá-los como animais ferozes nas selvas e traze-los para as barras do tribunal a prestar contas dos seus atos criminosos na segunda grande guerra. 
Contam que esta busca começou meses ou mesmo anos antes.
Havia uma lista de criminosos nazistas e seus colaboradores que sempre estava presente debaixo do travesseiro de cada agente do "Mossad" e que entre outras tarefas tinha mais esta de capturar e trazer vivo quando possível a julgamento em Jerusalém, caso a coisa se complicasse, o julgamento era no local e a pena de morte era executada sem muito duvidar.
Um caso desses aconteceu no Brasil e a esposa recebeu seu marido num baú com uma carta relatando os seus crimes e o veredicto (mas isso são outros quinhentos mil réis e ficará para outra oportunidade, "caso Cukurs", atraído por um agente do "Mossad" para fazer negocio de turismo em Punta del Este no Uruguai e lá foi executado).
Não pensem que o "mossad" não falha.
Falha, pois são humanos, alguns agentes entre eles mulheres pagaram com a vida no "campo de batalha", na América Latina, quando seguiam as pistas de Menghele, Eichman, G. Stangl, R. Wagner, Kops, E. Piebke, K. Barbie, Heim e muitos outros que viviam até ultimamente na América do Sul.
Outros "farejaram" que o "mossad" estava em seu encalço se refugiaram nos paises árabes como Egito, Síria, Iraque, etc. De lá era mais difícil traze-los para Israel.  
O "Mossad" tivera sérios empecilhos nas suas missões, isto pelas enormes dificuldades colocadas pelos nossos "governos democráticos" na América Latina (Brasil, Argentina, Chile, Bolívia. Paraguai, Uruguai), e se esqueci algum ou alguém, que me desculpem, isto não é pesquisa nem doutorado de nada é simplesmente uma croniqueta que tem a ver no fim das contas, com o nosso aeroporto dos Guararapes no Recife.
Para escrever esta croniqueta, entrevistei pelo menos 15 amigos do Recife e dos que vivem em Israel.
A maioria (13), foram categóricos e disseram: "Isto é uma fabula urbana, uma historia para boi dormir, nunca algo assim ocorreu no aeroporto do Recife, caso fosse verdade, saberíamos com certeza. Não seja ridículo e ponhas a tua credibilidade de tuas crônicas em jogo com um boato tão inverossímil", etc.
Fiquei frustrado, será que a minha memória está a tal ponto me traindo e o que pensava ter sido verdade, não passa de uma "miragem" nos campos desérticos do meu velho cérebro?
Aí recebi dois telefonemas de amigos recifenses que vivem em Israel. Eles souberam através de conterrâneos, deste meu problema para escrever sobre o incidente nos Guararapes e me juravam por Deus (sem isolar) que a estória era verídica e que familiares deles estavam na comissão de israelitas que foram designados para fazer uma rápida homenagem ao ministro e ao fato de ser o primeiro avião israelí que pousava no Recife.
Não bastou esta boa noticia, agorinha mesmo tocou o telefone e mais uma conhecida me conta que o marido de sua muito boa amiga, hoje aposentado, foi um dos pilotos deste avião que levou o ministro para as festividades e de volta trazia de também o criminoso nazista Adolf Eichman, como esse mundo é pequeno!
Quase comecei a cantar e dançar de alegria com as novidades recebidas e não aguentei mais ficar sentado datilografando "O INCIDENTE DOS GUARARAPES".
Fechei o computador e fui dormir, amanhã continuarei a colocar os fatos assim como me lembro e o que me contaram sobre este inédito incidente da passagem do avião que conduzia o nazista Eichmanno aeroporto recém inaugurado, o Aeroporto Guararapes, no nosso Recife.
Continua no próximo capitulo se Deus quiser.
Agora dizer, acredite se quiser, já não faz mais sentido, me desculpem.
"Engasga lobo" - Uma torta com o mínimo de componentes (era mais ar que qualquer outra coisa, o tal racionamento). Conta à lenda que um dia um tratorista que trabalhava no campo longe do assentamento levava no embrulho do seu almoço a tal sobremesa, uma fatia bem grande da tal torta, claro que conhecendo as suas propriedades a atirou no campo e se foi de volta para casa.
No dia seguinte, conta a fabula, voltou ao trabalho e se deparou com um lobo morto e junto do cadáver um bilhete que dizia o seguinte: Obrigado pela excelente torta, mas por favor, pelo amor de Deus, deixa uma lata de água.
Desde este acontecimento a torta de zero componente se passou a chamar "Engasga lobo" e nem as cozinheiras do Kibutz acharam ruim.

Fim da parte 1
Todos os direitos autorais registrados.
Cuidem os créditos.

Coisas do Recife que me contaram
 PARTE 2

Paulo Lisker de Israel

"Incidente Guararapes"
(Antigo Campo de Pouso do Ibura, aeroporto do Recife até 1958). Daí para adiante passou a ser denominado, Aeroporto Guararapes e em 2001, depois de toda remodelação para adaptá-lo as normas internacionais foi "batizado" como: Guararapes-Gilberto A. Freire.

O grande problema era como depois de capturado, tirar o criminoso, ex tenente coronel da Gestapo, A. Eichman da Argentina.
Isto como dizemos nosotros, não seria "um café pequeno" (missão fácil).
O plano deveria ser muito bem feito para superar todas e quaisquer dificuldades que viessem pela frente, traze-lo são e salvo a Jerusalém e coloca-lo de pé de ante seus juizes que o julgariam pelos crimes hediondos que carregava desde a segunda guerra mundial, nos esconderijos concedidos gentilmente pelos colaboradores e nas fugas as carreiras pela América Latina.
De principio Israel não tinha nenhum interesse em participar das festividades de independência da Argentina*.
As relações entre os dois paises não eram das melhores.  Nem carne de abate casher, permitiam exportar para Israel, ademais a "porta aberta" que ofereceu a Argentina a milhares de nazistas foragidos da Europa e procurados pelos aliados para levá-los a justiça. Isto já era o suficiente para não participar dos festejos na Argentina.
Este país e seu governo, nunca em tempo algum, abriu a mão neste sentido ou permitiu a extradição desses nazistas.
Porém quando chegou um telex ou um telegrama (era o que existia na época), codificado é claro, no gabinete do primeiro ministro de Israel, o senhor Ben Gurion, que dizia laconicamente: "O Mate está barato venham buscar". Decifraram, entenderam que o "pássaro" que tanto procuravam foi capturado. Finalmente, Eichman, está nas mãos do pessoal do "Mossad".
Então mudou tudo.
Imediatamente comunicaram ao governo argentino que Israel teria muito orgulho em participar das festividades do Centenário e o ministro de relação exteriores o Senhor Abba Eben, representaria o Estado de Israel e ademais iria para a parte artística, um grupo de danças folclóricas com orquestra e tudo mais.
Um avião (acho que foi um D 10) de empresa EL AL foi imediatamente requisitado e transformado numa nave oficial com os emblemas oficiais do Estado de Israel.
A força aérea israelí colocou a disposição toda uma equipe de pilotagem, a tripulação quase toda era de agentes do "Mossad" (Serviço secreto israelí).
O ministro foi escolhido "a dedo" pois era um poliglota e falava perfeitamente o espanhol (caso tivesse que ser entrevistado pela mídia local, fazer um pequeno discurso na Casa Rosada ou dialogar com os governantes argentinos nos encontros das festividades).  O "grupo de danças folclóricas" denominado "maim, maim be sasson" ou seja "água, água para alegria", eram quase todos agentes especiais do "mossad". Estes para "quebrar o galho" tiveram até que aprender a dançar, mesmo que na "marra" (sem muita vontade para tal).
Este grupo de danças se apresentaria nos festejos ao aberto nos parques da cidade e daria o suporte necessário ao grupo que tinha aprisionado Eichman semanas antes e o interrogava sobre a identidade, a sua atuação e responsabilidade como alto oficial nazista (Tenente Coronel da Gestapo), no Holocausto dos judeus na segunda grande guerra mundial.
Em Israel "quebraram a cabeça", mas logo entenderam que não havia como trazer o "Mate barato" por vias convencionais.
Não existia nenhum caminho alternativo que não fosse num avião em missão diplomática, com gente graúda do governo israelí.
Dito e feito. O avião saiu de Tel Aviv, pousou num aeroporto da Europa e de lá para o aeroporto do Recife e finalmente aterrizou em Ezeiza, aeroporto de Buenos Aires.
Terminado os festejos, começou a verdadeira odisséia para sair da Argentina levando o nazista.
Deu um trabalho danado para passar todos os controles do aeroporto. Eichman, saiu apoiado por dois tripulantes, "vestido" com a farda e o passaporte oficial de co-piloto. A cara toda enrolada em bandagem, meio grogue como se tivesse sofrido dias antes um acidente de automóvel. Para tal tinham um atestado da policia sobre o acidente e outro do hospital, onde fora tratado, para qualquer eventualidade caso fosse necessário dar explicações as autoridades do aeroporto. Claro tudo falso, nisso o "mossad" é especialista.
O verdadeiro co-piloto saiu da Argentina de automóvel da embaixada israelí, atravessou as fronteiras sem problemas e chegou ao Brasil por Uruguaiana que faz fronteira aberta com o Uruguai .
Nesta longa viagem de carro, aproveitou para comer a gostosa comida campeira (interiorana), do nosso campo gaúcho (aquele gostinho, aquele cheirinho, até do mate de verdade, gostou demais). Comprou no caminho para levar de presente, um monte de "ponchos" de diversas cores e qualidades.
Quando voltou contou a sua família em Rehovot-Israel, que só não comprou um quarto de uma rês, pois não dava como trazer, pois é a melhor carne do mundo. Dizem que isso é devido às condições climáticas e as boas variedade de pastos durante as diversas estações do ano no sul do continente americano.
De Uruguaiana com avião de carreira da VASP para Porto Alegre e com a Varig, para o Recife, até pagou excesso de peso, mas fez isso com gosto.
No cidade se alojou no Grande Hotel, se juntou com uma parte do "grupo de danças" que em tempo abandonou a capital argentina e ficaram a espera do avião que deveria pousar no aeroporto dos Guararapes para abastecimento e embarcar para Israel.
O roteiro planejado dessa gente deveria ser mais que perfeito, caso contrario todo este esforço e empenho em trazer A. Eichman vivo para Jerusalém, poderia ir de "água abaixo" (ser um grande fracasso). 

Entretanto as autoridades no aeroporto de Buenos Aires, desconfiavam que o tal senhor desaparecido dias antes, encontrava-se no avião da El Al, de Israel.
Os motores roncando, esperando a ordem de decolar e nada.
Na realidade as autoridades argentinas queriam interditar a aeronave e fazer uma busca minuciosa para tirar as duvidas.
A Argentina, assim como, o Brasil, Paraguai, ChileBolívia, nunca confessaram que criminosos nazistas foram recebidos de mãos beijadas e os defendiam contra quaisquer buscas ou pedidos de extradição dos países aliados.
Então ninguém ou quase ninguém poderia nem de leve suspeitar que o tal desaparecido de dias atrás fosse algum nazista foragido que vivia muito bem com sua família no bairro Garibaldi de Buenos Aires.
Depois de capturado e colocado preso numa grande casa alugada, foi interrogado durante alguns dias e tiraram à confissão que o tal senhor Clemente, cidadão argentino era na realidade a alta patente da Gestapo nazista, Adolf Eichman.
As autoridades argentinas não são de todo idiotas e alguns deles, começaram a desconfiar seriamente que o dito cujo desaparecido estava no tal avião judeu e passaram a pressionar abertamente as autoridades policiais, controle de passaportes (verificar todos os passaportes minuciosamente) e outros agentes alfandegários (Aduana), que estivessem de alerta com o contrabando de mercadorias (tinha disso na época, em que mercadorias diversas para deixar o país necessitavam de licenças especiais, fornecidas exclusivamente pelo departamento de exportação de bens de consumo).  Que "abram os olhos" (máxima alerta) e abrissem toda e qualquer bagagem suspeita ou não suspeita, somente para causar nervosismo quando começar o embarque dos passageiros e da tripulação, em especial.
Qualquer pessoa suspeita seria imediatamente detida e interrogada, apesar da nave ser um avião oficial do governo israelí e nele viajaria depois das festividades do tal Centenário de Independência que comemoraram durante uma semana, nada menos que o ministro de relações exteriores de Israel, o Senhor Abba Eben e seus assessores de gabinete, convidados oficialmente pelo governo local.
O ministro e o grupo de danças folclóricas que viera para dar duas ou três exibições artísticas ao ar livre na Praça de Mayo e uma exibição no teatro Colon. Quase todos desse grupo artístico era mormente composto por agentes do Mossad, que veio não para dançar e sim dar o necessário suporte aos agentes que durante semanas fizeram todo o trabalho de capturar o cidadão argentino o senhor Clemente, o tal disfarçado A. Eichman, nazista procurado nos quatro cantos do mundo.
As autoridades pressionaram até aonde fora possível, avião parado na pista de decolagem, o cônsul israelí veio ao aeroporto para saber o que estava ocorrendo e comunicar a Jerusalém, reclamou das autoridades do aeroporto e do governo argentino.
-         Pero que pasa com este avion?Este es un vuelo oficial carambas, que problemas hay para evitar su salida en tiempo para Tel Aviv? Miren que demora. Quiem es encargado? Favor, quiero hablar con el. Es posible?
Resposta não recebeu, impediam a decolagem do avião em missão oficial, não faltava muito para desencadear um incidente diplomático que poderia chegar ao rompimento das relações entre os dois paises.
Dias antes uma parte do "ensamble" do grupo de danças ao terminar a sua função de suporte, partiu num avião de carreira em direção do Recife e se livrou deste vexame.
Lá a comunidade israelita e os movimentos juvenis tinham programado uma serie de duas apresentações gratuitas no clube Hebraico e uma para o publico em geral no Teatro Santa Isabel, onde foram convidados o Governador do Estado Sr. Cid Feijó Sampaio, e o Prefeito, Miguel Arraes de Alencar, o recém designado Arcebispo de Recife e Olinda Don Carlos de G. Coelho e outras personalidades civis e militares (Se este evento foi realizado ou se as autoridades acima citadas presenciaram o espetáculo, não é do meu conhecimento, me desculpem).

No "fim dos contados" e muita discussão no aeroporto, entre as autoridades locais e a embaixada de Israel, o avião decolou com todos que estavam a bordo, sem nenhuma inspeção especial, afora o controle de passaportes e nisso não houve maiores problemas. Fim da agonia no aeroporto de Ezeiza, Buenos Aires.
Segundo as cartas de vôo, as autoridades argentinas tomaram conhecimento que o avião pousaria no Recife para abastecimento, pois naquela época um avião não tinha a capacidade de executar um vôo direto de Buenos Aires a Tel Aviv, em algum aeroporto neste trajeto deveria pousar para se reabastecer. Ao executar o vôo de vinda, também houve aterrisagem no Recife.
Se fosse na África, o avião nunca mais decolaria e caso fosse na Europa, fariam inspeção minuciosa, encontrariam o nazista Eichman e mesmo contra a lei que impede fazer algo desta natureza em vôos  diplomáticos, multariam a empresa (neste caso Israel), aprenderiam a aeronave até o pagamento do último vintém, libertariam o nazista, pois qualquer juiz sustentaria a hipótese que neste caso, fora perpetrada uma ação contra um cidadão inocente que se encontrava no avião contra sua vontade.
Assim são os europeus, conhecemos essa laia de colaboradores com os nazistas no seu tempo e em uma semana teria Eichman com a ajuda dos melhores advogados do continente se refugiado em algum país árabe e aí fim da "caça".
Só restava mesmo pousar e reabastecer no Recife.

Lá estava programada uma pequena recepção das organizações judaicas em homenagem ao ministro israelita e seus acompanhantes e o embarque da outra parte do "grupo de danças", que fazia uma turnê no Recife e que não era nada menos que o pessoal de suporte do "Mossad" que saíra em tempo de Buenos Aires e aguardava no Recife, baixo este disfarce.
Algumas horas de vôo em direção ao hemisfério norte, a aeronave não tinha a capacidade de fazer direto Buenos Aires-Tel-Aviv e necessitava pousar no Recife (pois em outros aeroportos fora do Brasil, não teria nenhuma viabilidade).
Aí era necessário se reabastecer de combustível, revisão mecânica completa antes do vôo transatlântico, comida e informação sobre as condições atmosférica.
Com o fracasso das autoridades no aeroporto de Buenos Aires, e se comendo de raiva, não perderam um minuto de tempo e logo comunicaram aos aeroportos de possível pouso desta aeronave as suas serias suspeitas que esta nave levasse um cidadão argentino raptado (radio foto acompanhava a informação), um grupo de guerrilheiros urbanos (naquele tempo isto estava em moda), uma serie de produtos argentinos de exportação proibida, entre eles, sementes de pastagem, sêmen de gado local, produtos semi acabados de couro e lã cuja exportação está terminantemente proibida sem os devidos "permisos"(licenças de exportação).
Claro que quando isto chegou às mãos das autoridades recifenses, não foi necessário fazer outra coisa, dar permissão de pouso e imediatamente interditar a sua saída do Brasil.
Dizem as mas línguas que logo esta gente cheirou que desse vôo sairia muita "grana de propina" (dinheiro para suborno) **, pois onde há judeus, também há dinheiro, ainda mais com esta seria denuncia recebida dos "colegas" portenhos.
Se tem "muamba", tem dinheiro. Então vamos apertar esses judeus.
Estamos nos Guararapes, o avião foi desviado a uma pista lateral no fim do campo.
Nada de abastecimento de combustível, corrente elétrica, limpeza (SATO), alimentação cusher (casher), encomendada em Miami e que estava desde ontem nas câmaras frigoríficas do aeroporto, nada de nada. Viaturas policiais e bombeiros de todo lado, cordão de isolamento, proibindo ao publico ou a mídia de se aproximar o sol inclemente, a pista ardia e dentro do avião um inferno de calor, pois estava proibida toda e qualquer ajuda ao avião até que fosse permitida uma inspeção rigorosa de todos os itens enviados de Buenos Aires e o pior deles o resgate do cidadão argentino raptado.
Assim começou o "incidente Guararapes".
Continua no próximo capitulo, tenham paciência.
* Comemoração de 150 anos da independência.
** Ver livro de Neal Bascomb, Eichman Hunting.
Todos os direitos autorais reservados.
Cuidem com os créditos.

     Coisas do Recife que me contaram

Paulo Lisker de Israel

"Incidente Guararapes"  PARTE 3, Final

(Antigo Campo de Pouso do Ibura, aeroporto do Recife até 1958). Daí para adiante passou a ser denominado, Aeroporto Guararapes e em 2001, depois de toda remodelação para adaptá-lo as normas internacionais foi "batizado" como: Guararapes-Gilberto A. Freire.

Estamos agora no aeroporto Guararapes, no Recife.
O avião da EL AL (de Israel em missão oficial, vindo de Buenos Aires), depois do pouso foi desviado para uma pista lateral no fim do campo.
Nada de abastecimento de combustível, corrente elétrica, limpeza (SATO), alimentação cusher (casher), encomendada em Miami e que estava desde ontem nas câmaras frigoríficas do aeroporto, nada de nada. Um isolamento esquisito e inexplicável pois era uma aeronave em missão diplomática.
Mas na América Latina, naquela época tudo era possível, não existe nada inexplicável.  
Viaturas policiais e bombeiros de todo lado, cordão de isolamento, proibindo ao publico ou a mídia de se aproximar.
O sol inclemente do nosso nordeste, vento nem pra remédio, calmaria total, nada se bulia, a pista ardia feito o fogo do inferno.
Abriram todas as portas do avião para amenizar o infernal calor dentro da nave, mas nada ajudava, nem água para beber ou para descarga dos banheiros sobrava, um verdadeiro inferno.
Da torre de controle comunicaram num inglês mixuruca (básico, sem gramática), que a demora era pelo fato das autoridades não terem recebido consentimento de inspecionar o avião e até lá todos e quaisquer serviços de terra do aeroporto estarão suspensos. Agora decidam vocês como agir diante de tal exigência.  
Uma aeronave levando um ministro e sua equipe de assessores numa missão oficial, só mesmo no terceiro mundo.   
Nesta situação caótica, o nazista raptado e o médico que vinha lhe dopando estavam na primeira etapa do vôo ocupando os últimos assentos e ao aproximar-se do Recife ao tocar o solo, o nazista recuperou os sentidos e começou a espernear, gritar, jogar-se contra a janela, então não houve outra solução a optar a não ser colocar o nazista e o médico dentro de um grande caixote previamente preparado em Israel e que já vinha de Telaviv e estava na parte traseira do avião donde foram retiradas duas fileiras de assentos, exatamente prevendo esta situação de desespero e pânico do nazista ou que a dopagem perdesse os efeitos desejados.
O relato do dialogo entre o chefe da equipe do "Mossad" e o medico, já ouvi de outrem que estava presente na ocasião.
-Que médico é você?  Você meu caro doutor ainda não aprendeu dopar este safado nazista que agora achou à hora de fazer algazarra.  Desse jeito, logo, logo estará toda a policia do aeroporto dentro do avião e não importa a "puta que o pariu" que o ministro de relações exteriores, todos seus assessores e o próprio avião estejam numa missão diplomática. Pelo amor de Deus tacá-lhe meio litro de entorpecente para que vá dormindo descansado e quietinho até Telaviv. É uma ordem, cumpre - lá agora sem discutir, está escutando? Nem uma palavra a mais, seu médico de ”meia tigela" (inexperiente, na língua do povo). Comigo, noutra missão dessa natureza,nunca mais, podes esquecer!
 (Era o calor infernal perturbando o cérebro dum agente dos mais experientes em situações impossíveis).
O médico branco feito cal, não ficou devendo nada ao seu chefe e respondeu a altura:
O senhor quer me substituir?O senhor tem alguma experiência médica de anestesista? Não estás vendo que este "quarto de frango" (em hebraico, "reva of", referia-se ao físico do dopado), nem peso suficiente tem para receber quantidade de entorpecente para mais de duas ou três horas.
Se quiser eu dou uma dose galopante bem maior que a normal nestas condições, mas terás que me dar ordem por escrito pois o resultado será fatal e um defunto chegará a Telaviv. Isto será de sua total responsabilidade!
Segundo o meu conhecimento das leis, o tribunal não vai aceitar alguém nestas condições para prestar depoimento de porra nenhuma, então decida já, quer me substituir como médico? Ou vai me deixar fazer o trabalho?
Também o cérebro do médico estava em pandarecos pelo calor que fazia dentro do avião e a tensão nervosa de todos com a nave interditada e a sua decolagem ninguém sabia para quando seria.
Não houve outra solução a não ser meter o nazista e o médico dentro do caixote e ali dopar-lo na medida em que o médico optaria.
Um agente propôs dar uns tabefes bem merecidos e fazer calar o nazista, porém o chefe não permitiu alegando que agora, o dito cujo está em território israelí e segundo as leis em Israel, dar este atendimento ao prisioneiro é terminantemente proibido. Assim terminou este vexame dentro do avião e o ministro nem ficou sabendo de nada. Todos ansiosos a espera pela ordem de decolagem que não chegava.
Estava proibida toda e qualquer ajuda ao avião até que fosse permitida uma inspeção rigorosa de todos os itens enviados de Buenos Aires e o mais importante era investigar a presença do cidadão argentino raptado e resgatá-lo são e salvo das mãos criminosas dos judeus do "Mossad".
Assim começou o incidente Guararapes.
As noticias correm rápido e a colônia israelita do Recife ficou a par da chegada do avião de Buenos Aires com o ministro de relações exteriores, Sr. Abba Eben, seus assessores, e um grupo de danças folclóricas israelí que vieram participar das festas de centenário daquele país.
Representantes da comunidade já estavam na sala especial de embarque para personalidades importantes (VIP, recém inaugurado), no intuito de recepcionar e dar as boas vindas aos passageiros israelitas em missão diplomática em transito no Recife.
Segundo o que me relataram estavam presentes o Senhor Moishe Troper, um erudito em hebraico moderno e foi incumbido de fazer um pequeno discurso na língua que Jesus falava, o senhor Benjamim Berenstein representando o "Bnai Brith" do Recife (organização de múltiplas atividades em prol da comunidade), Dr. Tandeitnick (cônsul honorário de Israel, não oficial e ligado a Agencia Judaica), Samuel Schor, Salomão Jeroslavsky, J. Zaverucha, S. Averbuch (Organização Unificada prol Israel), dona Berta Margolis (entidades judaicas femininas). Um jovem representando os movimentos juvenis (Não recordo o nome), até a Organização Vitka Kempner (judeus progressistas) enviou se não me engano a senhora Hulak, com um grande buquê de flores tropicais.
Este encontro nunca aconteceu e o quadro original de Abelardo da Hora que trazia o Sr. Moisés Schwartz, muito bem embalado, comprado (ou regalado pelo artista), para presentear o ministro israelita foi entregue a um dos participantes do grupo de danças antes deles passarem pela seção de controle de passaporte ao embarcar. Dizem que este quadro está até hoje exposto num dos corredores da "Knesset" (O parlamento israelí em Jerusalém).
E contudo isso como terminou este incidente que trouxe tanta controvérsia no acontecido?
Na minha terra era costume dizer em situações como estas: "Chegou à hora da onça beber água".
Contam que senhor Benjamim e o senhor Averbuch, assim como os outros componentes da comitiva israelita, resolveram ir pedir satisfação ao administrador do aeroporto que comandava toda esta "guerra santa" contra o avião que pousara no Recife.
-Senhor Malaquias, me desculpe, mas qual o problema para que esse avião seja atendidoJá se passou quase meia hora e o avião não foi atendido pelos serviços normais de terra que qualquer aeroporto no mundo oferece logo depois do pouso. Que crime cometeu essa gente que está numa pista isolada como se fosse um bando de terroristas. Não esqueça que é um vôo diplomático e que todas as nações respeitam, serviço nenhum deve faltar para permitir sua decolagem logo depois. Isso é o normal? Então o que acontece nesse caso?
-Seu nome é? Pergunta o comandante do aeroporto.
-Meu nome é Benjamin, primeiro secretario do "Bnai Brit" organização judaica do Recife e o meu amigo se chama Averbuch membro da secretaria permanente da Organização Unificada. Neste momento estamos representando toda a comunidade judaica do Recife e pedimos de Vossa Excelência, uma explicação para o caso.
-Senhores o problema pode ser resolvido em dois minutos. Recebemos uma denuncia que neste avião que saiu de Buenos Aires existe a possibilidade que na sua carga poderia haver mercadorias que estão proibidas de tirar da Argentina sem as devidas licenças de exportação. Queremos verificar esta questão e se tudo estiver em ordem enviaremos um telex e a coisa estará resolvida. Este é o inspetor chefe senhor Hugo Caldas*, ele irá ao avião e fará uma rápida inspeção no porão do avião, se tudo estiver como nos papeis oficiais, não haverá mais motivo do avião continuar a esperar para decolar.
Posso ordenar a inspeção?
Os dois senhores logo abanaram com a cabeça em sinal de consentimento, pois não se falava de inspecionar dentro do avião, nem da procura de um cidadão argentino desaparecido dias atrás em Buenos Aires, pois isto já seria a mais seria violação de um vôo diplomático, então tudo bem.
Os dois judeus sabiam que o problema não se reduzia somente nesta inspeção de bens que necessitavam licença de exportação, e logo veio o "tiro na mosca".
-Vejam meus estimados senhores, esta empresa não tem linha de pouso constante e permanente nos Guararapes, neste caso todo os gastos com este avião é algo diferente como naqueles de carreira normal em que os pagamentos são feitos através de transações financeiras oficiais. Neste caso todos os gastos desse pouso deverão ser cobertos em moeda corrente (a vista) e logo depois todos os serviços serão imediatamente conectados.
- Pode mandar conectar tudinho que seja necessário para por o avião em condições de decolar para Tel Aviv.
Tem o senhor a lista dos gastos?
- Olhem, não é pouca coisa. Combustível, serviço sanitário, água, energia, armazenamento da comida nas câmaras frigoríficas, taxas distintas de pouso, segurança etc.
- Quanto é isso tudo somado? Perguntou o senhor Benjamim.
O homem não respondeu, entregou a este senhor uma folha com números e disse : -Quanto tempo levará para arrumar esta quantia?
-Uma hora até uma hora e meia. O senhor, entretanto dê as ordens necessárias para que todo o trabalho seja iniciado e que no máximo 4 horas depois do pouso o avião já esteja no ar. Combinado doutor?
-Tem a minha palavra de honra!
Ninguém sabe (talvez saibam porem não contam), a soma em dinheiro era uma quantia fabulosa.
O pagamento chegou ao aeroporto em três malas cheias de dinheiro. Dizem que parte teve origem do Banco Cooperativo Judaico (aquele que funcionava na Travessa do Veras), outra parte era oriunda da Organização Bnai Brit que tina um fundo especial para "problemas" desta natureza, e outra, de uma campanha relâmpago feita entre os judeus ricos do Recife, baixo o lema, "Gmilut Chassadim" ou "Pidion Shvuim" (originado do hebraico bíblico), nos dois casos tem a ver com a compra da liberdade de prisioneiros, neste caso o prisioneiro era o Avião da EL AL.
O grupo de danças, que fez o turnê no Recife e esperava o embarque eram uns 16 entre homens e mulheres. Em menos de meia hora passaram pelo controle de passaportes sem problemas, até o portador do passaporte argentino de Ricardo Clemente (lembram quem era o dito cujo?), não despertou nenhum problema do guarda que carimbou o visto de saída.
O pessoal deixava o Recife alegre carregando as mãos cheias de coisas compradas no mercado de São José. Era bonecos de pau preto, bonecos de barro de Vitalino ou dos seus alunos, pinturas decorativas de Chico da Silva (aquele que põe nas suas pinturas a impressão digital do seu polegar), quilos de passas e castanha de caju e do Pará (me falta o gostinho do ranço dessas passas e do caju em si).
Alguns já iam com seu chapéu de couro de vaqueiro, sandálias sertanejas e até rendas do Ceará. No Recife tem muita coisa bonita pra levar de presente para um país no Oriente Médio.
O vôo transatlântico correu as "mil maravilhas", todos agora calmos e apaziguados, pois cumpriram uma missão que prometeram a seus pais e avós, aqueles que se foram na fumaça dos chaminés dos crematórios dos campos de concentração e daqueles remanescentes que carregam até seu último suspiro sobre a face da terra, o numero de prisioneiro no seu ante braço "lembrança amarga" do campo de concentração na Europa nazista.
Eichman foi julgado em Jerusalém, condenado a morte na forca, seu corpo cremado e as cinzas espalhadas no mar, para que não fique dele nem memória.
Falando serio, será que ainda tem gente que sustente a teoria que tudo isso foi uma "estória para boi dormir" ou uma "fabula urbana" e nada disso aconteceu na realidade? Será?
Fim da crônica, O INCIDENTE GUARARAPES, Eichman no Recife.  

 *Copiado do blog do senhor Hugo Caldas que inspecionou o avião da EL AL, interditado nos Guararapes (Google-Internet).
Já imaginou você, ignorando tudo, na maior inocência, atender ao avião da El Al, Israel Airlines que voltava das festividades da independência da Argentina trazendo seqüestrado no porão, dentro de um caixote, desacordado, o ex-oficial SS Adolf Eichman, fruto de uma bem sucedida ação do Mossad? Pois é, atendi ao avião, fiz depois a inspeção geral de costume e não notei nada de anormal. E o Eichman estava lá dentro, dormindo o sono dos injustos. Dopadinho que só ele!

Essas coisas aconteciam e era a mais banal das normalidades. Hoje, com o passar dos anos e o devido distanciamento me dou conta de que era o tempo, juntamente com a História, passando…
Postado por Hugo Caldas às07h40min AM

 MORAL DA ESTORIA: “QUEM CONTA UM CONTO, ACRESCENTA UM PONTO”.

Todos os direitos autorais reservados.
Cuidem com os créditos.




5 comentários:

  1. Dr. Samuel Hulak Recife
    DISSE:
    Recebi a como sempre ótima crônica "O incidente Guararapes".
    Sobre este "fato" não soube nada.
    Abraços,
    Samuel.

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  2. Eng. israel Coslovsky São Paulo
    DISSE:
    Paulo
    Muito bom como sempre. Esta é uma nova versão, enriquecida com mais detalhes, e portanto ainda melhor que as anteriores.
    Um abraço
    Israel

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  3. Sra. Bella Rushansly Recife
    Franqueza e verdade histórica,
    Continue com as crônicas.
    shalom

    DISSE:

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  4. Eng. I. Rosenblatt
    Recife-Brasil
    Que vc se lembre tudo bem. mas eu era menino e soube que o Prof. Salomão Jaroslavsky e outros membros da nossa comunidade foram ao aeroporto dar boas vindas ao avião da El Al (parou aqui na ida e na volta dos festejos na Argentina).

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  5. Eng. Israel Coslovsky
    São Paulo-Brasil
    Disse:
    PAULO
    LI E GOSTEI MUITO MESMO. BEM MAIS COMPLETA E BEM ESCRITA DO QUE A VERSÃO ORIGINAL QUE VC ENVIOU JÁ FAZ ALGUM TEMPO. GOSTEI MUITO TAMBEM DOS FLASHES DA VIDA NO KUBUTZ ( GAT ?) QUE VC TEM INTRODUZIDO NOS SEUS ULTIMOS RELATOS.
    PARABENS, OBRIGADO POR ENVIAR.
    ABRAÇO
    SHABAT SHALOM
    ISRAEL



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