sábado, 28 de junho de 2014

TRIUNFO, A CHEGADA AO IPÊ ROXO (PARTE 1)


                            EXEMPLARES DO IPÊ ROXO  (Handoantros impetiginosus)
Fonte:Wikipedia. Google-Internet
"UM AMOR IMPOSSÍVEL." (novela)
                                             (Paulo Lisker, Israel.)
 Tema: Triunfo, a chegada ao Ipê Roxo

Em principio o interior de Pernambuco era pouco desenvolvido economicamente e socialmente, este problema era comum em todo o Nordeste brasileiro (fora algumas raras exceções).
Possivelmente naquela época todo o interior do Brasil estivesse nestas condições.
Proliferava o "voto de cabresto" (eram eleitos para a política local àqueles candidatos que o "coronel" ordenava), exatamente pelo baixo nível educacional, comercial, de infra-estruturas, de saúde, dos transportes, de comunicação, produção agrícola de baixo nível (nível de subsistência), serviço telefônico precário, água potável encanada e eletricidade nas casas nem em sonho, características do conhecido subdesenvolvimento das áreas rurais.
Toda promessa de melhorar comprava votos a valer, gente humilde, acreditavam em tudo, desejavam um futuro melhor.
A natureza desta gente tão inocente chegou ao auge quando no Recife, capital do Estado, no passado não longínquo, o príncipe Maurício de Nassau (etapa da colonização holandesa que durou 24 anos), tinha a intenção de construir uma ponte.
Faltava parte do capital necessário, então aproveitando o atraso e a inocência do povo, convidou a população para um espetáculo em que ele faria um boi voar, claro que mediante um pequeno pagamento como entrada ao local no qual se realizaria o "milagre".
Parece que no fim da estória, acudiu muita gente pra ver.
Entrou bastante dinheiro, não sei se foi todo o necessário.
Quando o povo exigiu o prometido, os organizadores não titubearam e lançaram um balão em forma de boi que voara pelo céu do Recife.
Ninguém pegou as armas, ninguém se revoltou e aprenderam uma boa lição pela sua inocência. Povo pacato e crente.
Toda pessoa dono de terra era chamado "coronel" e o resto do povo, matuto.
Triunfo no Estado de Pernambuco também era assim!

A chegada do jovem casal, Abelardo e Susana, era para Triunfo uma dádiva de Deus.
Os dois escolarizados, com costumes de cidade "civilizada", não restavam duvidas que pudessem contribuir enormemente nas funções que lhes atribuiriam no futuro.
A "Sopa" (assim denominavam o ônibus no interior de Pernambuco) chegou de manhã na estação no centro do povoado e lá já estava o coronel Barbosa com sua charrete de dois cavalos e seu empregado, que tratava dos animais e das carroças da pequena fazenda de nome Ipê Roxo.
Trocaram duas três palavras, se montaram na charrete e se mandaram pra casa do coronel Barbosa.
Abelardo não perdeu tempo apresentou a "noiva", entregou um pacotinho com geléia de Araçá e bolinhos de goma, um presente de dona Marisol para a esposa do coronel, dona Genoveva.
Os Barbosa tinham duas filhas porem ambas viviam  com os avós, em Tórino na Itália.
A fazenda no passado tinha muitas glebas (muita terra), porem como viu que não tinha quem continuasse o seu trabalho, foi vendendo até que ficou com um pequeno sitio onde criava galinhas poedeiras e patos, restou  pouca terra para criar gado como no passado.
Ficou uma pequena lagoa onde os patos e gansos faziam uma boa vida.
Dinheiro ele tinha nos bancos na capital do Estado, e era proprietário  de muitas casas na cidade que estavam bem alugadas e lhe rendiam um bom dinheiro que dava para viver, num luxo bastante razoável.
Dona Genoveva era letrada ainda do tempo de menina quando vivia na Itália.
Os pais do coronel resolveram abandonar o velho mundo, vieram tentar a sorte no Brasil e no fim  da odisséia, vieram parar no interior de Pernambuco, em Triunfo. 
Na casa de campo dos Barbosa o jovem casal ficou somente quatro dias, neste ínterim o coronel foi resolver suas coisas na cidade e conversar com o prefeito Dão Sampaio Moura Santos, seu velho conhecido do tempo de farras nas noites quentes, cervejas bem frias e das andanças pelo interior do Estado.
Quando regressou da vila, tinha muitas novidades para contar.
Abelardo seria nomeado professor na Escola Municipal e iria ensinar Geografia e Historia. 
A senhorita Susana seria uma das secretarias na "Comissão de Indenização pela Seca", que funcionava junto à municipalidade e o DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra a Seca).
A estiagem deste ano afetou a muitos pequenos agricultores da área, coisa muito comum na área do nordeste brasileiro.
Este fenômeno era conhecido pelas diversas gerações da população do interior, especialmente no conhecido Retângulo da Seca que englobava parte de pelo menos cinco municípios.
Dizem que a palavra "SERTÃO" deriva de deserto, (DESERTÃO), sei lá, pode ser.

Então as coisas estavam correndo mais ou menos bem para o jovem casal.
-O importante é que já temos trabalho, dizia Abelardo, alugaremos um quarto com refeições na pensão familiar de dona Raimunda, que fica bem no centro da vila e perto do futuro trabalho.
O dinheiro do seu pai seria depositado num banco no Recife e quando necessitarmos pedirei ao coronel Barbosa que nos retire a quantia necessária.
Só espero que na escola tenham material didático das matérias que vou ensinar para que possa me atualizar, pois já faz muito tempo que deixei a historia e a geografia para trás.

Na ultima noite na casa dos Barbosa, estavam todos sentados no alpendre, tomando refresco de pitanga feito por dona Genoveva.
A água usada era das quartinhas que estavam espalhadas por toda parte da casa, aparentemente para esfriar o liquido, cousa possível, pois Triunfo tem um clima agradável e faz até um friozinho ao anoitecer que vai até o fim da madrugada.
Estava sentado conosco um rapaz de 16 ou 17 anos que não tinha sido apresentado ainda.
A conversa começou com a dona Genoveva, contando do que se lembrava da infância dela na Itália, depois o episódio em Triunfo, das duas filhas que vivem na Itália e do moço que está sentado conosco hoje.
-Ele se chama Ramiro Souto Barbosa, disse!
Está estudando na escola técnica de Tapera em Pernambuco, está se preparando para administrar o nosso sitio logo que termine também o treinamento militar, este aqui no interior se chama "Tiro de Guerra" e não é muito prolongado, rapidinho termina e volta pra casa se Deus quiser.
Ele veio especialmente vos conhecer. 
Nos não ficamos cada ano mais jovens, continua dona Genoveva, desta forma será difícil para que administremos no futuro todos os trabalhos agrícolas. A compra de insumos, mercadeio dos produtos, cuidar das contas de caixa, das finanças e assim por adiante.
As filhas não têm intenção nenhuma de voltar com os respectivos maridos para tomar conta do lugar!
Esses "comedores de macarrão" não são de nada dizia ela puxando um sorriso leve nos cantos da boca, pois ela mesma é italiana da gema.

Diga-se de passagem, que dona Genoveva tinha um português muito bom com um mínimo sotaque italiano.

-Isto posto, eu e o coronel tomamos uma decisão, acho até muito correta, adotar o Ramiro que na realidade é um filho natural do coronel.
Dona Genoveva contava o fato com a maior naturalidade e sem que nenhum músculo do seu rosto denunciasse qualquer tensão.
-A  mãe dele faleceu há uns 10 anos atrás, ele ainda criança ficou órfão de mãe. O pai um tipo meio escroto, bebia, não trabalhava no final morreu tísico (tuberculoso).
Não duvidamos nem um tiquinho, fizemos toda papelada e adotamos legalmente o menino.
Hoje é nosso filho (oficializado no cartorio municipal) e  no nosso testamento, ele é o herdeiro único de nossos bens.
Para Abelardo e Susana foi à primeira surpresa da noite, eles ainda não sabiam o que os esperava.
O Ramiro muito caladão pediu licença, disse que estava cansado da viagem e iria se recolher e levou um dos candeeiros do alpendre para o seu quarto.
Ficou uma penumbra e o friozinho noturno já se fazia sentir.


Fim do trecho 1 
Todos os direitos autorais reservados.
Cuidem os créditos

7 comentários:

  1. Rosaly Naslavsky Recife
    DISSE:
    Paulo,
    Parabens pela memória prodigiosa.
    Os Ipês são maravilhosos,roxos,amarelos,,florescem por pouco tempo e desaparecem tambem rapidamente
    .Obrigada pelo envio.Abç,
    Chochana

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  2. Dr. Ary Rushansky. Israel
    DISSE:
    Espetacular. aguardamos o desenrolar.
    Abraços
    Ary e Lea

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  3. Profa. Tánia N. Kaufman Recife
    DISSE:
    Lendo o texto dá para se transportar para o cenário e para o enredo da história.
    Você escreve com muito realismo e sensibilidade.
    Tania

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  4. Clóvis Campelo Recife
    DISSE:
    Excelente como sempre, Paulo.
    Vou postar o texto no blog Histórias do Nosso Brasil, ok?
    Abraços

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  5. Dr. Samuel Hulak Recife
    DISSE:
    Paulo,grato pelo envio de Triunfo:a chegada ao Ipê Roxo.
    Samuel.

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  6. Urariano - Recife
    Renato Mayer e Paulo Lisker estão numa forma arretada.
    Capítulo arretado pelo sabor da lembrança.
    A descrição do café, dos alimentos na mesa, dão mais que água na boca: dão água nos olhos.
    Parabéns.

    Abraços
    Urariano

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  7. Eng. I Coslovsky São Paulo Brasil
    Disse:
    ESTE CAPITULO, A CHEGADA AO IPE ROXO, ESTA PERFEITO, NÃO TENHO REALMENTE NADA A COMENTAR. GOSTEI DA FABULA DO BOI VOADOR DOS TEMPOS DO MAURICIO DE NASSAU E PARECE QUE É A PRIMEIRA VEZ QUE V. ME ENVIA ESSE CAPITULO DA NOVELA, NÃO ENCONTREI NADA NA SUA PASTA DOS MEUS ARQUIVOS.

    UM ABRAÇO
    NECO

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