domingo, 1 de junho de 2014

RACISMO AONDE??? (Parte 1)

          "UM AMOR IMPOSSÍVEL"
O Caju, fruto  nativo nordestino

Nordeste católico

Fazenda nordestina tipica

                  







                                                       



                                                  Fotos de Alagoas e Palmeira dos Índios. Internet-Google
                                             
 "BORRADOR" (Quarta feira, 10-11-2010).

Autor: PAULO LISKER
 Israel
 Tema: Racismo, aonde?   (Parte 1)

Na noite do casamento do filho de seu Lemle com a filha de seu Vassertaich, realizado no salão da sociedade iídiche (Israelita), toda a família de Xóxa estava convidada, assim como, também, quase toda a colônia judaica do Recife.
Aprontaram-se, só Xóxa com pretexto de não estar se sentindo bem, ficou de cama.
Foi à hora H do plano de fuga do jovem casal da nossa estória.
Nos dias anteriores com a ajuda da empregada fiel Maria José, os dois amantes enviaram bilhetinhos que levavam afora palavras de amor, também o tal plano de fuga, coisa muito comum que acontecia no nosso Recife matuto quando as famílias dos enamorados eram decididamente contra tal união.
Na realidade era esta a noite ideal,  com ninguém em casa, os dois jovens  com o mínimo de bagagem, tomariam o ônibus e iriam buscar guarida na fazenda "OS três CIPÓS", do coronel Monteiro*, pai de Abelardo, em Palmeira dos Índios em Alagoas que ficava bastante distante  de Maceió.
Assim foi, dito e feito.
Ao voltar do casamento lá para as tantas da noite, Susana já tinha "batido asas" e na pensão de Abelardo tinham certeza que ele tinha ido fazer uma visitinha no "randevou" de madama Boteiro, no Pina.
Quando deram conta que Dadinho não voltara na manhã seguinte, ficaram deveras preocupados, queriam até dar parte a policia, mas resolveram esperar mais um pouco. Quem sabe estava dormindo bêbado na cama de sua puta preferida. Tudo podia ser viável naquele tempo de estudante.

Na casa de Xóxa um verdadeiro reboliço, não havia naquela época telefones nas casas para se comunicar e perguntar se a menina estava por lá com as amigas ou coisa assim.
No dia seguinte de manhã bem cedinho os irmãos e irmãs de Xoxa saíram correndo para realizar esta missão. Resultado zero, como se a terra  a tivesse tragado!
A empregada fiel Maria José, vendo o vexame e desespero da família, encostada a porta da cozinha falou para a patroa:
-Patroa, eu acho que dona Xóxa foi com seu Dadinho para estação Rodoviária no cais de Santa Rita e parece que se "mandaram" (viajaram depressa, no jargão popular), para Alagoas, onde mora a família dele. 

Prá que, foi como estourasse uma bomba dentro de casa.
A pobre mãe arrancava os cabelos brancos e lamentava em iídiche: "Gotinhu vus machtmen, ver ken helfn, zi is a meshiguene oifen gantzen kop".(Meu Deus, que fazemos, quem pode ajudar, esta menina esta completamente doida).
O pai, senhor Shlomó, com os olhos apagados, se meteu num quartinho defronte de uma grande janela e continuou a consertar relógios, a sua profissão ainda na Lituânia.
Murmurando (em iídiche), mas para  que todos ouvissem:
-"Far mir iz zi shoin gueshtorben, ich vil zi shoin nisht zein in main leibn" (Eu já não quero vê-la nunca mais na minha vida, para mim ela morreu).
Uma verdadeira tragédia guardaram em segredo o fato por dois ou três dias, por que mais que isso no Recife judaico isto era impossível e o boato correu rapidamente de ponta a ponta da pequena colonia e era o tema quente do momento. Era só do que se falava nos encontros da comunidade.
Desembarcaram em Maceió e seguiram no trem das 10 para Palmeira dos Índios, muitas paradas no caminho, até boiadas atravessam com muita calma os trilhos do trem.
Finalmente chegaram, cansados, mas felizes.
De "charrete", (muito comum naquele tempo), chegou o jovem casal a porteira da fazenda.
Lá estava de guarda um vigia armado de peixeira e espingarda e perguntou o que procuravam.
Dadinho desceu da charrete e disse que ele ele é o filho do Coronel Monteiro* que veio de Recife com a sua noiva fazer uma visita.
O vigia que era novato, não conhecia o filho do patrão que vivia no Recife.
-"Me perdoe meu Sinhô, eu tô por aqui somente dois mês, não cunheço vosmicê e a orde é, de num deixá ninguém entrá"!
-Como é seu nome senhor vigia? Perguntou Dadinho.
-"Oli meu sinhosinho, eu me chamo Sandoval Boamorte de Campo, filho de seu António, da serra dos Viadu, lá pru bem em cima de Sergipe".
-Muito prazer o meu nome é Abelardo, faz favor vá e avise prô meu pai, o coronel, que o seu filho está aqui na porteira, com sua noiva e pede permissão para entrar com a charrete.
-Ta bem meu sinhôsinho, já mando o outro vigia fazê o seu pedido...
Acordou um outro vigia que cochilava debaixo de uma frondosa mangueira carregada de frutas de cor rosada e encostada a cerca do lado da porteira e ordenou:
 -"Fedegoso, levanta aí home, vai correndo pra casa grande pro mode de avisar prô coroné que ele tem visita,  é o filho com a senhora noiva dele, vai home, deixa de sonera, parece que ficô atés de madrugada no Forró de dona Amelia, ô chente, anda, vai, corre bichu do mato"!
Demorou  não mais de 3-4 minutos e Fedegoso voltou correndo e bufando:
-"O coroné mandô revistá os visitante, ele nun tem notiça que o filho tá pra chegar, pode ser genti di Lampião, vá saber, revista e depois manda entrá, mais sem a charrete". E assim foi. Todo cuidado naquela época era pouco.
Junto da casa grande, muita gente estava recebendo ordens do que fazer durante o dia de hoje e amanhã.
Ordenava o coronel: 
-Vocês aí,  pra cortar cana para o engenho de rapadura.
Para outro grupo: 
-"Vão cuidar do fogo", você do boné, "arrancar mandioca para secar e fazer raspas", "tu pra ordenha",  "tu aí Joca e Mané vão cuidar dos cavalos e do rebanho bovino".
Fazenda produtiva segundo o IBRA, não tinha duvidas.
Muitos pares de olhos voltados para a parelha de jovens que chegaram de visita.
O pessoal foi embora para trabalho, foi então que a alegria do encontro chegou ao seu apogeu.
Muitos abraços, beijos, pequenas perguntas que ficaram sem respostas. Dona Marisol* chamou todos para a mesa forrada com um lindo trabalho de Renda do Ceará.

Logo foi servido o café feito na hora, no coador, cheiroso a bessa de dar gosto, bolinhos de goma, especialidade de dona Marisol e no fim as meninas serviram limonada dos frutos que produziam no quintal os velhos limoeiros do tempo dos avós do senhor coronel.
Sentaram, saborearam o  gostoso e aromático café "da Terra" e os bolinhos de goma com aroma de rosas, verdadeira obra de arte das mãos de dona Marisol, uma receita que passava de mãe pra filha, diversas gerações.
Agora podiam começar a conversar a vontade depois de tanto tempo que não viam o filho querido que estudava no Recife.
As duas meninas sentadas nos dois lados de Xóxa seguravam cada qual um dos braços e faziam-lhe caricias.
Dona Marisol não tirava os olhos da possível "futura noiva" de Dadinho e quem sabe, já pensava em casamento, para o próximo verão.

NOTA: Uma rápida resenha sobre a moradia ( CASA GRANDE), do Coronel Monteiro e dona Marisol:

Nesta casa não era comum ter empregadas e todo o trabalho era realizado pelo ramo feminino da família".
Raramente, quando era necessária uma grande limpeza ou faziam uma festa, chamavam algumas mulheres que viviam com os trabalhadores da fazenda num vilarejo próximo. Porem de resto, todo o trabalho, era mão de obra familiar.

Fazenda bem administrada, limpa, não se via uma mosca, aqui e ali usavam "papel pega mosca" que em geral tinham pegado outros insetos e não moscas.
Não tinha agua potável encanada, utilizavam um cata vento junto a uma velha cacimba  que levantava a agua para uma caixa d'água e as sobras conduziam pelo "ladrão" para uma cisterna que também recebia agua das chuvas que escorria pelas calhas que contornavam o enorme telhado de telhas vermelhas e segundo as lembranças de Dadinho dava para o uso durante todo o ano (até piabas viviam nas suas aguas límpidas).
Na cozinha, nos 2 fogões, usavam lenha ou carvão vegetal que compravam na vizinhança.
Luz eletrica ainda não tinha chegado por aqui (esta situação era normal em quase todo interior do Brasil), usavam candeeiros a querosene e alcoviteiros para iluminar de noite.
O pior de tudo eram que as fossas, (havia 4 delas), para evitar que enchessem muito rápido, estavam afastadas da Casa Grande e com muita razão, pois se estivessem perto de casa poderiam contaminar a única cacimba que fornecia o precioso liquido para todos os usos da casa e de família". 
Esta construção tinha na época pelo menos 200 anos, segundo as escrituras no Cartório do escrivão Dr. Macedo situado em Maceió das Alagoas. 
Até aqui a rápida resenha descritiva sobre a casa grande dos Monteiro.**
 Trecho 1, deste capitulo.
Todos os direitos autorais reservados.
Cuidem com os créditos.
*  O nome dos pais de Dadinho são fictícios, assim como os pais de Susana, para evitar que o caso seja identificado, mesmo hoje.

** A totalidade da narrativa na fazenda "3 cipós", não foi  fruto de testemunha ocular e sim narrado por outrem que presenciou o desenrolar dos fatos in loco e nos transmitiu anos depois do acontecido.
        


3 comentários:

  1. Dr. Ary Rushansky Israel
    DISSE:
    Emocão do principio ao decorrer de toda narrativa.
    Paulo, você é o maior.
    Ary

    ResponderExcluir
  2. Profa. Dra..Tânia Neumann Kaufman Recife
    Está ótima a crônica.
    Gostosa de ler.
    Tania

    ResponderExcluir
  3. Eng.I. Coslovsky São Paulo-Brasil
    DISSE:
    PAULO
    AS MESMAS DESCULPAS PELO ATRASO EM COMENTAR.
    MAS FOI COM O MAIOR INTERESSE QUE LI ESTE CAPITULO.
    PARA MIM ESTA PERFEITO, NO “ TIMING” E NA FORMA DE DESCREVER OS FATOS E A AREA DO INTERIOR...
    EXISTEM ALGUMAS REPETIÇÕES SILABICAS QUE DEVEM SUMIR NUMA REVISÃO E TAMBEM A PALAVRA VECHAME DEVE SER COM X. NO MAIS, ESTA TUDO PERFEITO.
    ABRAÇO
    ISRAEL

    ResponderExcluir