UM AMOR IMPOSSÍVEL (novela)
Fotos Google Internet (ilustração unicamente)
"BORRADOR" (Quarta feira, 10-11-2010).
Autor: PAULO LISKER
Israel
Tema: Racismo, aonde? (Parte 2) CONTINUAÇÃO DO TRECHO ANTERIOR.
- Como é seu nome menina, seu namorado nem lhe apresentou a família, não foi? Falou o coronel com sua voz de machão.
-Chegou o tempo de lhe conhecer.
Dona Marisol sorria de satisfação e as meninas também.
Os "marmanjos" (os jovens rapazes), já tinham se marchado com os trabalhadores para orientá-los na faina diária e se encontrariam com o irmão e sua noiva na hora do almoço.- Meu nome é Susana e meu apelido é Xóxa, termino este ano o curso Normal, pretendo estudar Farmácia na Faculdade de Medicina do Recife.
Olhando para Abelardo, o pai pergunta:
- Ela é filha de estrangeiros? Donde vem este nome, são de descendencia espanhola, italiana, argentina? De onde?
- Ela é filha de estrangeiros? Donde vem este nome, são de descendencia espanhola, italiana, argentina? De onde?
-Pai, o senhor não acertou, a família dela é da Lituânia, chegaram ao Recife há anos atrás, fugido das perseguições contra os judeus naquele país.
Acrescentou Xóxa:
-Minha família é de origem judia e claro que assim sou eu também.
-Minha família é de origem judia e claro que assim sou eu também.
Foi demais para o coronel que com toda sua experiência de militar no passado, quase cai pra trás, dona Marisol abriu uns olhões como se escutasse a noticia da morte de um ente próximo, só as meninas continuaram a abraçar os braços de Xóxa e estavam pouco ligando.
O coronel ao se recuperar do choque de sua vida, dirigiu-se a Dadinho com os olhos fuzilantes e exclama:
-Que aconteceu com você rapaz, nós somos uma família tradicional conhecida em toda Alagoas. Somos com muita honra Cristãos, Católicos Apostólicos Romanos, amicíssimos do bispo Don Etelvino Soares, que até participou com o Papa no ultimo Concílio em Roma. Que direi a ele, que meu filho quer casar com uma judia do Recife?
Já que estamos falando serio menino, me diz mais uma coisa, esta moça judia é virgem ou já perdeu a virgindade antes de pretender casar?
-Não pai, ela não é mais virgem! Eu fui o primeiro homem que ela namorou, mas que tem isso a ver com o caso? Fui eu quem "descabaçou", tenho intenções de casar com ela, pai.
-Meu filho, quem casará vocês? O padre dos judeus?
O meu amigo Bispo, nunca o fará! Judia e desonrada, tá vendo!
Mas que embrulhada você nos meteu menino, essa agora não é "café pequeno" (maneira de se expressar quando o caso é complicado), esta é mesmo de "rachar" (problema insolúvel).
O coronel estava com a cara vermelha como estivesse a ponto de ter um ataque cardíaco...
Dona Marisol e as meninas não sabiam onde meter a cabeça, no fim levou as meninas para a cozinha para preparar limonada e evitar ouvir esta conversa machista de merda.
O senhor coronel continua o seu inquérito.
-Desculpe-me moça, me desculpe mesmo, porem na nossa família que eu me lembre, nunca houve, nem nunca haverá mestiçagem nem com negros, índios e muito menos com judeus, ainda mais já desvirginada, isso é contra nossos princípios católicos, de vocês judeus não é assim também?
Enquanto eu viver isso não acontecerá na nossa família.
Eu sinto muito! Se vocês vieram pedir minha bênção ou o consentimento da sua mãe, podem "tirar o cavalinho da chuva" (coisa impossível), nunca a receberão. Aqui termina esta conversa que seria melhor nunca ter acontecido!
Dadinho estava perplexo e lágrimas rolavam dos seus olhos.
Xóxa estava também a ponto de cair em pranto.
Moça inteligente, logo entendeu que o clima de ódio que se formara para com a delicada situação deles, não era em nada melhor que aquela criada pelos seus pais arraigados ortodoxos judeus, no Recife.
Tudo que é religião, é mesmo uma grande merda, dizia com seus "botões"
Nos dois dias seguintes o silencio imperava na casa grande, o coronel nos seus afazeres, os irmãos de Dadinho depois de uma curta conversa entre eles quase não trocavam nem mais uma palavra, só as meninas continuavam agarradas com o jovem casal.
As refeições já não eram de toda a família junta.
O jovem casal fazia no quarto que foi reservado para eles e a comida servida pelas meninas e a mãe dona Marisol que não se conformava com o acontecido, andava choramingando e se lastimando pelos cantos da casa grande.
No terceiro dia de permanência o coronel pediu uma conversa em particular com Dadinho.
Sentaram no alpendre nas clássicas redes sertanejas e o coronel sem muita cerimonia trouxe uma caixa de sapatos e disse a Dadinho:
-Olha aqui menino, aqui nesta caixa de sapatos estão 100 contos de réis contados. Ontem retirei do banco do Estado.
Este dinheiro é para você!
Dadinho se espantou quando ouviu a noticia, ainda mais depois da rude conversa que tiveram no primeiro dia da visita a fazenda.
-Olha aqui menino, aqui nesta caixa de sapatos estão 100 contos de réis contados. Ontem retirei do banco do Estado.
Este dinheiro é para você!
Dadinho se espantou quando ouviu a noticia, ainda mais depois da rude conversa que tiveram no primeiro dia da visita a fazenda.
-Tem dois caminhos para usar este dinheiro, disse o coronel:
-O primeiro é dar-lo a moça judia e que ela hoje mesmo viaje para a sua gente, os judeus no Recife, e faça com o dinheiro o que quiser e bem entender. Estudar, comprar uma casa, gastar no que lhe der na veneta.
Agora isso numa condição que nunca mais tenha nenhum contacto com você, fim da linha para sempre!
Se assim for teu desejo, ti mandarei para o Rio e lá terminarás os estudos e depois abrirás uma pratica de advocacia aqui em Alagoas. Nunca mais pensar em amores com essa judia ou qualquer outra dessa raça.
Se não optas por esta proposta, de qualquer maneira ficará a tua disposição os 100 contos de réis.
Leve a sua judia amanhã mesmo de ônibus para fora dos limites de Alagoas.
Se preferires a segunda opção, mando com você uma carta para o coronel Barbosa, em Triunfo. Ele é gente graúda por lá e conseguirá para ti e para tua judia algum trabalho.
Passa a viver por conta própria, esquece de mesada, ela neste momento se acabou.
Com os 100 contos de réis, poderás ti arrumar por lá, até que tomes juízo.
Dadinho optou pela segunda opção.
Já de manhã cedo a charrete da fazenda os esperava.
Saíram munidos da carta de recomendação prometida pelo seu pai.
Dona Marisol preparou uma caixa com bolinhos de goma, potes de geleia de araçá, laranjas da "Bahia e Mimo do Céu" do quintal (estas últimas parece que em outras partes do Brasil são denominadas "Limão Doce") e um álbum de retratos para que ele não esqueça a família.
A charrete os levou para o centro da cidade e de lá de ônibus rumo a Triunfo em Pernambuco.
A despedida foi cheia de emoções, dona Marisol soluçava as meninas choravam os irmãos deram um abraço, se montaram nos cavalos e cavalgaram para a faina de campo.
O coronel, aborrecido da vida resmungava:
-Que é que é isso, que choramingar é esse.
-Que é que é isso, que choramingar é esse.
Vocês são todas umas "abiloladas", não vêem vocês que agora graças a Deus, Nosso Senhor, estamos livres de judeus na nossa família. Virgem Maria, Deus nos livre e guarde.
O Bispo Don Etelvino, poderá voltar e frequentar nossa casa sem nenhum constrangimento, como fazia de costume todos os domingos apôs a missa para participar conosco do café dominical, que mamãe prepara com suas mãos de anjo.
Dona Marissol abriu num choro histérico e correu com as meninas para a cozinha.
Fim do trecho.
Todos os direitos autorais reservados.
Cuidem os créditos
Todos os direitos autorais reservados.
Cuidem os créditos
* O nome dos pais de Dadinho são fictícios, assim como os pais de Susana, para evitar que o caso seja identificado, mesmo hoje.
** A totalidade da narrativa na fazenda "3 cipós", não foi fruto de testemunha ocular e sim narrado por outrem que presenciou o desenrolar dos fatos in loco e nos transmitiu anos depois do acontecido.



Eng. I. Coslovsky São Paulo-Brasil
ResponderExcluirDISSE:
MUITO BOM MESMO.
LEMBRO AINDA AS PRIMEIRAS VERSÕES E ESTA MELHOROU EM TODOS OS ASPECTOS POSSIVEIS. MUITO BOA A SUA IDEIA DE ENRIQUECER O TEXTO COM LUGARES E AMBIENTAÇÃO NO RECIFE DAQUELA EPOCA. AS REAÇÕES DA FAMILIA JUDAICA,ESTÃO MUITO BEM DESCRITAS E SEMELHANTES COM HISTORIAS QUE VIMOS ACONTECER AQUI NO RIO E EM SÃO PAULO. PARABENS !
UM ABRAÇO
ISRAEL ( NECO)