sábado, 14 de setembro de 2013

O desembarque dos imigrantes judeus no porto do Recife.


"VAPORES DA EUROPA PARA O RECIFE".

                                    Embarque e desembarque no Porto do Recife no passado





                                       Vista aérea  do marco zero no Porto do porto antigo do Recife


                                                     O Recife e seu antigo porto

Fotos: Google, Internt

Tema: O desembarque dos imigrantes judeus no porto do Recife.
Paulo Lisker de Israel

Nota: O glossário, no final da croniqueta.
      Os judeus europeus que fizeram do Recife sua nova pátria, muitas vezes estavam com  a passagem marítima comprada para terras mais longínquas, como o Uruguai, Argentina ou mesmo para o sul do Brasil (São Paulo, Rio Grande do Sul ou para o Rio de Janeiro).
 Então por que cargas d'água desembarcaram no Recife?
 Sabemos que não era o "supra sumo" das cidades brasileiras para uma rápida adaptação vindo do outro lado do mundo.
Eles almejavam um lugar que oferecesse condições para arranjar facilmente uma moradia (ha shtub), manter a família que viria mais tarde, caso já tivessem uma "parnusse" (em iídiche, atividade rentável).
 Seria de bom proveito, caso já houvera um "ishev" judaico (comunidade judaica em iídiche e que vem da palavra hebraica ISHUV) e se não estivesse pedindo muito, um "Beis hakneisset  (sinagoga também do iídiche e que tem origem hebraica "Beith Ha Knesset"), um "Beis ha Oilam" (também do iídiche e hebraico= Cemitério), pois os judeus têm seu próprio cemitério em qualquer parte do mundo e que obedece a uma serie de critérios religiosos, antes do funeral (purificação do cadáver, vestir a mortalha), no funeral (as rezas especificas) para o evento, dizer "kadish" (encomendar a alma do finado ao Senhor) e se não estavam mesmo pedindo demais, queriam saber se já se tem no "ishev" um "miniem" (minian do hebraico), que nada mais é que um grupo de pelo menos 10 homens, para se iniciar a reza em qualquer oportunidade, seja no "beis hakneisset" (no Shil, também recinto para rezar)  ou  qualquer outro lugar onde se tenha por obrigação faze-lo, sempre é necessário um "minian".
 Os solteiros também se interessavam saber se no lugar que desembarcariam, tem moças judias, pois juraram (hobn gueshfoirn, bli neider) aos seus pais ortodoxos que ficaram na Europa, que nunca se casariam com uma "goia" (que não pertence ao povo judeu).
Era muito comum escutar os novo imigrantes contando que os pais judeus ortodoxos, que ficaram para atrás ao se despedir, imploravam que não casasse com uma "shikse" (goia nativa do local), dizendo para que todos do "shteitel" (aldeia) ouvissem:
"GOT ZOL MIR UPHITEN TZU ZAIN A ZEIDE FIN SHVARTZE EINICKLECH, OI HABROCH, DI BOBE VET SHTARBN FIN HA APOPLEXIE"! ("Deus me livre e guarde de ser avô de netinhos negros, a vovó com toda certeza morrerá de um ataque cardíaco").
Queriam saber muito mais, se tem abate e comida cusher, (comida preparada segundo critérios e recomendações religiosas da alimentação humana e ademais seguem uma serie regras de cuidado higiênico).
Tem alimentos permitidos (cusher ou casher) e outros terminantemente proibidos ("threifá").
O abate deveria ser segundo as leis de máxima misericórdia para com os animais e aves, que seriam depois servidos nas casas judaicas. 

Era por demais importante saber se já tinha no local de desembarque  no novo mundo, um "Rebe" (rabino), "Shoihet" (aquele que cumpre com as leis judaicas quando abate os animais e aves permitidos segundo a Bíblia Sagrada).
 "Moheil" (aquele que está autorizado a realizar a circuncisão dos garotos com oito dias de vida, "a iídiche Shul" (escolinha), "melamed" (mestre que ensina o "Alef Beith" = abc) e as rezas elementares do dia a dia as crianças do primário.
 É praxe no povo judeu, que em qualquer parte do mundo a alfabetização, vem até antes do ter o que comer.
 Se tem pensões decentes para morar nos primeiros tempos até que tenham condições de alugar um casebre (há shtub) qualquer! 

Estes tipos de informação tinham até demais das cidades das quais tinham as passagens, mais do Recife "necas", absolutamente nada e quem pensava em ficar no Recife, ninguém!
 Nem sei se nas agências de viagem na Europa conheciam o porto deste lugar no Brasil. 
Então como se consegue respostas fidedignas em iídiche (idioma falado unicamente pelos judeus ashkenazim, oriundos do leste europeu, uma espécie de dialeto de origem alemão), para este monte de informações necessárias, totalmente desconhecidas e tão importantes, para decidir se descer no Recife pra ficar, ou continuar para o sul, depois de tanto tempo de viajem da Europa em condições da terceira classe, nos "vapores" daquela época.
A viagem já lhes saia pelo nariz. 

Por mais incrível que pareça os primeiros imigrantes judeus (ashkenazim) europeus no principio do século XX, apesar de     analfabetos ao chegar ao Recife e apesar de toda problemática de adaptação nas condições desconhecidas do "novo-mundo", logo que se instalaram, formaram  o "vaad fin ishev" (comissão da comunidade).
Como era um grupo diminuto, sabiam que não aguentariam o rojão.
Seria urgentemente necessário assimilar, mais e mais judeus novos imigrantes ("di Grinne", verdes=novatos), para criar e poder manter as diversas entidades sociais necessárias, para o bom andamento de um cotidiano judaico nas "novas terras". 
Logo e sem muita democracia formaram um (a Vaad ou "a comissie") comitê de absorção de ajuda aos novatos (di Grine).

Sabiam eles, que o primeiro porto para os navios apinhados de imigrantes (não só judeus), que vinham da Europa a caminho do continente sul americano, seria sempre o Recife e estes estavam sedentos da informação acima citada.

O Vapor, assim chamavam naquele tempo os navios que faziam à travessia do Atlântico e que durava quase um mês  nas condições da terceira classe, não eram nada "confortáveis".
Havia aqueles que denominavam o vapor de "paquete", pois vinha uma vez por mês , assim como, a menstruação com todas suas "fragrâncias"!

No Recife ancoravam no porto (bastante primitivo naquela época), que de vez em quando, enchia de areia, a tal ponto que estes vapores de grande calado não tinham condições de entrar para ancorar o faziam fora da "barra" ou faziam escala em Dakar.
Lá os armadores marítimos os supriam de combustível e mantimentos necessários para continuar a viagem diretamente para o Rio, Santos ou mais para o sul, Uruguai e Argentina.
Porem quando este fenômeno negativo não ocorria, os vapores entravam certos como relógio suíço no porto do Recife.
Aí é que entrava em jogo a perícia da comissie dos judeus locais.
A "comissie" (comissão de absorção) estava lá presente no cais, perto do ancoradouro do vapor.
Estes dados a comissão conseguia pelas boas relações que tinham com as companhias marítimas que atuavam no Recife.
Sempre estava alguém deles conversando com algum funcionário, perguntando pelas datas, nome dos navios e se as primas dele a dona Golde, Freide ou Zeilde, estariam por acaso na lista de passageiros deste navio, que está por arribar.
Desta maneira sutil, conseguia o nome, a data  e o lugar que atracaria o próximo barco.
Munidos desta informação todo o grupo da "comissie" estava presente quando o barco atracava, mesmo que "chovesse canivete" ou fizesse um calor danado, como no sertão do Cabrobó! 

A "comissie" se espalhava ao longo das docas (de cabo a rabo) e começava a gritar para os passageiros a bordo que olhavam admirados esta situação surrealista, meio absurda que se criava, quando um grupo de gente desconhecida gritava  para eles a bordo, em iídiche:
-SHMÁ ISRUEL, BURECH HA BÓ, (Ouça Israel, seja bem vindo).
-IDEN, IDEN, IR ZAINT IDEN? (judeus, judeus, vocês são judeus?).
 -KUMT ARUNTER, MIR ZAINEN OICH IDN, MAIN FAINER ID, KIM ARUP!
 DU IZ A KLEINER ISHEV, A SHEINER UN A GUTER PLATZ TZU VOINEN UND ARBETN, NEMT DAIN RENTZEL IN KIM BE SHULEM! (desçam, nós também somos judeus, estimado bom judeu desce, temos uma pequena comunidade, o lugar é bonito e saudável para habitar e trabalhar. Vai buscar tuas malas e venha em paz).
-SHMÁ ISRUEL, SHMÁ ISRUEL, ELOHEINO EL EHAD (Louvado seja Deus de Israel, nosso Deus Único).
-BURECH HASHEM! BURECH HABÓ! (Louvado nosso Deus, Seja bem vindo).

Assim os imigrantes judeus,  no tempo que o vapor estava ancorado no Porto do Recife recebendo combustível e viveres para continuar a viagem, ao ouvir os  patrícios em terra firme, falando para eles o único idioma que dominavam e os  convidando para se juntar a eles e ficar no Recife, não pensavam duas vezes e logo exigiam seus passaportes ou salvos condutos e já estavam prontos para descer.

Às vezes não era fácil e só com a ajuda de um despachante (Sr. Rangel),  amigo  da comissie que "engraxava" os oficiais e funcionários portuários encarregados da documentação, a coisa funcionava.
Aí os judeus desciam rapidamente satisfeitos da vida já como "imigrantes legais e documentados".
Esta ação não tinha sempre 100% de êxito!
Pois não desciam aqueles que tinham parentes em outros portos e que já sabiam de sua chegada e lá os esperavam.
 Porem, os imbuídos de começar a nova vida no Recife, iam rapidamente trazer suas trouxas e maletas, jogavam as passagens de continuação para o sul no mar e efusivamente se abraçavam com os judeus que estavam nas docas a  espera, fazendo este trabalho "santo"!
A finalidade era de imbuir a esta gente a permanecer e constituir esta nova comunidade em formação e absorver o máximo de imigrantes judeus.
Dever-se-á, em tempo lembrar que de bagagem pessoal, desta pobre gente, não trazia nada ou quase nada. Porem sempre traziam a sua "caixa de ferramentas", (arbeit kastn, mit tchvokn, hamers un drud= caixa de madeira, cheia pregos, martelo, arame, etc.).
Fosse qual fosse à profissão, sempre uma caixa desta natureza os acompanhava mesmo nesta incerta travessia do Atlântico, via o "novo mundo".
 Não tinham roupa, porem ferramentas e livros sagrados, sempre carregavam consigo, alguns deles até traziam um instrumento musical, assim como, violino, balalaica, flauta etc.
A comissie, não deixava escapar aqueles que ainda duvidavam.
 Subiam a bordo e os convenciam conversando em "mame lushen" (língua materna-Iídiche), prometendo moradia, ajuda financeira e contatos com as lojas que dão credito a aqueles "griner" (novatos) que querem começar a trabalhar vendendo mercadorias à prestação, nos arrabaldes do Recife.
Nestes grupos, vinham pessoas de todas as profissões que eram muito comuns entre os judeus nas pequenas cidades interioranas européias (fin a Klein Shteitel= pequenas aldeias).
Entre outros vinham: 
O "melamed" (professor de primário), logo arrumavam para ele, um grupo de crianças para alfabetizar ou ensinar para o "Bar Mitzva" (evento religioso quando o menino se torna homem adulto aos 13 anos) e que já pode ler na Toráh (as escrituras da Bíblia segundo o velho Testamento) e participar do "minian", (o grupo de 10).
Vinha mesmo de tudo.
Alfaiates, sapateiros, ferreiros, marceneiros, rabinos, ourives, saboneteiros, Chazanim (cantores de rezas na sinagoga), Moheil e Shoheit, (autorizados de praticar a circuncisão e abate animais e aves),  músicos, fotógrafos, pequenos comerciantes, e até cozinheiras de pensão (keherin).
Estas não perdiam tempo e logo depois de chegar, abriam "uma portinha", na Praça da Independência ou Maciel Pinheiro (já não lembro bem) e começavam a cozinhar comida "cosher" para os judeus que ainda conservavam o costume e tradição culinária religiosa.
Comida derivada de leite (milerchdik) e carne (fleishechdik) nunca na mesma refeição, pois assim diz a Bíblia numas de suas passagens, "não cozinhais o terneiro no leite da sua mãe", daí derivou este costume de não misturar carne e leite na mesma refeição!
Ademais nunca usam a mesma panela ou talheres que foram utilizados para comer carne ao se passar  as comidas derivadas de laticínios.
Lembro dona Tzipke, que afora manter a cozinha "cosher" na sua casa, também alugava quartos para os "grine" (novos imigrantes)!
A esposa do Sr. Volodie, dona Sara, na esquina da Rua da Imperatriz e do Hospício, também fazia o mesmo. 
Mesmo nossa família, em determinado tempo, comprávamos comida "cosher" destas famílias acima citadas.
 Comida iídiche é muito gostosa. (em geral utilizavam "shmaltz e grivalach", gordura animal em geral proveniente de galinhas velhas e gordas).
 Naquele tempo não se falava do colesterol e outros "bichos" que fazem mal a saúde.
Era o tempo que se usava a marmita para as encomendas de comidas para levar.
Um artefato genial (deviam dar ao inventor prêmio Nobel).
Eram três ou quatro panelinhas de alumínio uma em cima da outra, sempre brilhando de limpo que até podia servir de espelho para se barbear, naquele tempo com navalha.
Nunca despejava nada! Sempre um dos componentes da marmita era a sopa de galinha com chuchu, jerimum e verduras da época, muito aromática pelo uso  de condimentos frescos, assim como, endro salsa ou coentro. Chegava sempre quentinha e gostosa.
Na outra panelinha vinha uma porção de carne de gado ou galinha com molhos imbatíveis. Não tem formula escrita e passavam por herança de geração a geração.
Só as "keherin" (cozinheiras judias sabiam como preparar), outra panelinha vinha com casha (arroz sarraceno de cor marrom) ou mesmo arroz branco, outra panelinha, pasta ou "kiguel" (uma espécie de torta de macarrão, às vezes doce) e finalmente a panelinha do "compot" (compota de frutas frescas, quando estas rareavam no mercado,  então faziam uso de frutas secas, assim como, passas de uva, ameixas e abricós).
O cheiro e o gosto da cozinha judaica que com o tempo desapareceu do cardápio da colônia, hoje ao escrever esta crônica, ainda sinto o aroma, tal e qual sentia quando menino.  
 A pensão judaica familiar de Burech e Manha Krumer, na Praça Maciel Pinheiro, defronte do centenário "pé de Jambo do Pará", albergava as famílias recém chegadas e era uma espécie de "quartel general" onde se tomavam as decisões de como agir no dia de amanhã.
Meu avô Iossef  (José) e suas três filhas moças e  um varão, ao chegar de Viena, morou durante alguns meses nesta pensão familiar.
Foi lá que meu pai Meier (Maurício), conheceu a minha mãe, dona Hanna (Anna).
Não sei dizer se foi namoro normal ou arranjo através de um "shidechmacher" ou "ha shadchen" (respeitável casamenteiro)
Em geral essa gente de confiança e respeitáveis membros da comunidade, se encarregavam de apresentar aos pais de famílias das moças e rapazes solteiros,  candidatos possíveis, com a finalidade de que dessa atuação, saíssem casamentos.
Este trabalho denominado "mitzve", não era feito de graça caso resultasse positivo e logicamente, casamento.
Nestes casos ele recebia certa quantia de dinheiro como combinado no inicio da sua atuação.
Era uma profissão respeitável como outra qualquer entre os judeus da época! 
Lá pelas 17 horas, quando o calor do Recife amenizava, os "grine" saiam do hotel, atravessavam a rua e iam tomar uma brisa na praça.
 Lá escutavam as novidades, faziam negócios, arrumavam "shidach" (informação sobre homens ou mulheres solteiros/as "dando sopa"),  com boas e sinceras intenções para casar.
Não menos importante era conhecer as possibilidades da família da futura noiva prometer um bom enxoval (mohar ou nedunie), montar e cuidar da casa, caso no futuro o casamento fosse realizado! Queriam que a futura esposa fosse uma "balebuste", (mulher "pau pra toda obra").
 Esta praça era um verdadeiro parlamento e o melhor centro de informações para os "griner", (recém chegados).
Agora, vosmecê acredita se quiser neste fenômeno que se passou na nossa comunidade do antigo Recife, aí vem a "bomba":
Eu mesmo poderia ser Uruguaio, pois meu pai tinha a passagem para o Uruguai (os únicos na América do Sul que naquele tempo davam visto, para russos) e meu avô para Argentina! (país que sempre teve boas relações com os países de formação germânica, e meu avô era austríaco)!
Ai meu Deus, que sorte tive eu, que eles escutaram o pessoal da "comissie" gritando em iídiche no Porto, tentando convencer aos judeus imigrantes a bordo, para descer do vapor, e ficar no Recife.
Dou graças a Deus mil vezes, te imagina, eu argentino, Deus me livre e guarde!  
 P.S.
1- Agora vosmecê sabe como se formou o enorme contingente de prestamistas judeus no Recife dos quais a grande maioria deles, tinha passagens para outros rincões da América do Sul!
Segundo meu pai essa gente, vestiu e calçou o povo humilde e pobre dos subúrbios do Recife.
2- Quero com muita reserva, mas muita reserva mesmo, também relatar o fato (não suficientemente comprovado por "doublé cross", pois isso não é pesquisa).
Um persistente boato corria em volta dos postes de iluminação a gás, na Praça Maciel Pinheiro.
Havia algumas pessoas que a comissão nem sempre tinha êxito na sua  "santa missão" para fazer descer do vapor.
Aí que Deus me perdoe, estas eram as putas que vinham da Europa com "contrato de trabalho nas mãos" e uma "cafetina ou até duas as acompanhavam e cuidavam de todas suas necessidades a bordo".
Em quase todo vapor que chagava, havia pelo menos de dúzia para mais destas mulheres ("carne branca", muito procurada nos meretrícios das grandes cidades, naquela época).
Elas vinham da Europa num grupo organizado, não viajavam como os emigrantes na 3ª classe e estavam destinadas as casas famosas do meretrício em Buenos Aires, Montevidéu, São Paulo e Santos.
O êxito  da comissão (comissie) foi relativamente pequeno, mas contam (não boto minha mão no fogo, se o fato é verdadeiro), que algumas delas baixaram no Recife e imediatamente as levaram para um "refugio" (dizem que era em Vitória de Santo Antão).
Lá eram recebidas por um par de "guite neshumes" (senhoras bondosas) da comunidade e um medico local, isto por um período de 2-3 semanas.
Este programa permitia um rigoroso exame medico e tratamento se necessário (sífilis e tuberculose eram as doenças mais comuns na época).
Ademais tentar uma ré-educação moral, aprendizado de prendas domesticas algo sobre as tradições, religião, comidas e cozinha judaica, e a volta delas ao estilo de vida familiar!
Era tentar realizar o impossível, possibilitar a estas pobres almas retornar a uma vida decente e normal.
Aquelas que com todo este esforço o processo não resultava positivo, as levavam para fora dos limites de Pernambuco, com seus pertences e alguns contos de réis e lhes desejavam êxito na sua vida profissional no Brasil.
As outras em que o processo sim exitou, foram assimiladas pela comunidade e até casaram com rapazes solteiros e formaram famílias exemplares.
O mais importante neste processo foi que ninguém nunca mais lembrou abertamente o passado delas e as deixaram começar um período de vida totalmente novo sem as "nuvens escuras" do passado.  

PAULO LISKER, ISRAEL. 
 (do baú das memórias).
Todos os direitos autorais reservados
Cuidem os créditos
GLOSSÁRIO:
  1. A shtib - Um lugar pra morar
  2. Parnusse - Algo rentável, "um ganha pão".
  3. Ishev - Comunidade, Colônia
  4. Beith Ha Kneisset - Sinagoga, recinto para rezar
  5. Beith Ha Oilam - Cemitério para judeus
  6. Kadish - Oração em homenagem à alma do finado
  7. Minien - Grupo de dez homens ou mais para realizar a reza.
  8. Shil - Pequena sinagoga (Recinto para rezar)
  9. Hobn Gueshfoiren - Juramento sagrado
  10. Goia ou Shikse - Donzelas não judias
  11. Shteitl - Pequena aldeia (em geral na Europa)
  12. Treifá - Alimento não permitido para judeus ortodoxos
  13. Rebe - Rabino, autoridade religiosa
  14. Shoihet - Oficia o abate de animais e aves (conhecido também no Brasil como "O mata galinhas"), segundo manda a THORÁ, o livro sagrado dos judeus
  15. Iídiche Shule -  Escola primária que ensina o abc e o dialeto Iídiche.
  16. Alef Beith - Abc (soletrar)
  17. Di grine - Imigrantes, novatos
  18. Di Komissie - Representantes ou a Comissão
  19. Arbait Kasten - Caixa de ferramentas
  20. Mame Lushen - Língua materna
  21. Melamed - Mestre de ensino básico
  22. Toráh - Biblia (Velho Testamento)
  23. Hazan - Cantor de rezas na sinagoga nos dias de festas
  24. Keherin -  Cozinheiras
  25. Moheil - Que praticam a circuncisão
  26. Milechdik - Comidas lacteas ou artefatos usados com laticínios
  27. Fleishechdik - Como acima, porem para carne, pois nunca se mistura as duas coisas.
  28. Shmaltz e Grivalach - Gordura frita  de aves gordas
  29. Shidechmacher ou Ha Shadchen - casamenteiro
  30. Mitzvé - Favor, mandado
  31. Shidech - Casar com o auxilio do casamenteiro
  32. Mohar ou Nedunie - Dote, Enxoval
  33. Guite Neshumes - Senhoras prestativas, almas bondosas
  34. Balebuste - Boa domestica ou dona de casa cuidadosa.



7 comentários:

  1. Dr. M. Rosenblatt Hadera-Israel
    DISSE:
    Se nao fosse você (ou vosmece, como você escreve), quem jamais saberia de tudo isso?!

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  2. Prof.a Tânia N. Kaufman Recife Pe.
    DISSE:

    Linda a sua crônica.
    Tania

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  3. Dr. Ary Rushansky Israel
    DISSE:
    A crônica sobre a passagem pelo Recife dos imigrantes judeus esta fiel e autentica nas minhas lembranças.
    Parte da família da minha mãe endereçada para Buenos Ayres por lá ficou.
    O relato está fascinante desconhecidos pelas novas gerações.
    Shaná Tová (Bom Ano Novo) e um abraço do antigo madrich (Orientador) e amigo.
    Ary.
    Léa é sua admiradora.
    Talento literário de sobra


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  4. Eng. Israel Coslovsky São Paulo BR;
    DISSE:
    PAULO
    EXCELENTE !
    V. JÁ HAVIA MERNCIONADO ESTE ASSUNTO NUM OUTRO DOCUMENTO ANTERIOR, MAS DESTA VEZ ELE VEIO CHEIO DE RICOS DETALHES E RECHEADO DE EXPRESSÕES IDISH QUE LHE DERAM UM SABOR ESPECIAL. Parabens !
    NECO - ISRAEL

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  5. Prof. Amós Troper Rio de Janeiro
    DISSE:
    Querido Paulo,

    Acabo de ler com o auxilio de uma lupa esta maravilhosa crônica sobre a chegada dos judeus em Recife.
    Meus parabéns,

    Abraços,

    Amós.

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  6. Eng. Izaias Rosenblatt Recife
    DISSE:

    Na verdade não sei muito a respeito do assunto.
    Meus pais foram de navio direto pro Rio no final de 48 e depois vieram pro Recife.
    Os donos da futura Livraria Cultura, Hertz, por exemplo, desembarcaram no Recife, acharam que aqui tudo era judeu porque em todos os bares tinha uma "Maguen David" (Símbolo de David, nas marcas originais da Brahma e da Antarctica), depois ele foram pra Buenos Aires, e de lá pra São Paulo.
    Não há muitas histórias conhecidas sobre as "mulheres polacas" aqui - pelo menos não divulgadas na colônia a qual sempre preferiu calar sobre o assunto para não criar maiores problemas numa comunidade pequena onde todos se conhecem e são parentes - e talvez seja melhor assim mesmo.

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  7. Lic. Ismael Gouveia Recife
    DISSE:

    Meu caro Paulo,
    Acabei de escrever um livro com um amigo intitulado Nininha, e que trata de experiências de uma menina no agreste da Paraíba, há quase 100 anos, sem mãe e sem pai. A informação que obtivenos é que sua origem era judaica.Assim, utilizamos material desta sua crônica , devidamente identificado, para iniciar o livro. Quando estiver editado, envio uma cópia para você.
    Abraço
    ISMAEL

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