(Parte 3 de 3)
Tema: "A DROGA MILAGROSA"
Crônica de PAULO LISKER
Crônica de PAULO LISKER
Israel
Isto posto, dever-se-á acrescentar umas palavras sobre a estratégia adotada
para injetar em tantos pacientes, cada 4 horas, durante 24 horas do dia,
durante uma semana pelo menos.
O herói desta proeza foi seu Odon (na nossa casa todos o chamavam com muito respeito, senhor Adão), balconista e
vendedor na "Farmácia Salutar" na Praça Maciel Pinheiro.
Ele era quem aplicava injeções na farmácia, caso alguém necessitava.
Naquele tempo uma infecção ou furúnculo era tratado com injeções de "Anti-Piogênica", meio século antes da Penicilina.
Então durante o dia ele aplicava as injeções na própria farmácia, mas na "etapa penicilinica" era necessário ir a casa do paciente fosse de noite ou de madrugada com chuva ou calor.
Este trabalho era bem pago pelos pacientes judeus, ademais de uma boa gorjeta, porem não lhe dava tréguas! A noite toda, 24 horas de correria.
Vendo o peso da tarefa, deixou a farmácia e se tornou autônomo, trabalhando por conta própria.
Mesmo assim era humanamente impossível dar conta do "recado".
Foi aí que lhe veio a idéia de contratar empregados de outras farmácias, aqueles que tinham experiência suficiente para tal função.
Contratou mais oito "enfermeiros" para a labuta noturna, e assim de alguma forma cobriram toda colônia judaica do Recife, ansiosa de se "vacinar" com a droga milagrosa.
Seu Odon e seus colaboradores "corriam" pelo bairro da Boa Vista, Coelhos, chegava até a Madalena, Torre, Espinheiro e quem sabe onde mais.
Mesmo nossa família, toda ela, e mais as nossas empregadas, tomamos durante uma semana inteira, as injeções de Penicilina.
Exigimos que fosse seu "Adão" que o fizesse, pois o conhecíamos da Farmácia na Maciel Pinheiro, quando comprávamos remédios, em geral para algum "desarranjo intestinal", muito comum naquelas épocas sem geladeira e comprando carnes do "miudeiro", aquele que andava com um cachorro feio e cheio de pulgas, então não era para menos.
Diga-se de passagem que quase ninguém tinha geladeira elétrica. Nós quando passamos para a "etapa burguesa" da nossa vida, meu pai comprou no leilão da Rua da Conceição, uma "geleira" que funcionava com um quarto de barra de gelo.
Este comprávamos todas manhãs na carroça puxada a cavalo de seu Arlindo, que parava nas portas dos casarões da rua Gervásio Pires.
Ele era quem aplicava injeções na farmácia, caso alguém necessitava.
Naquele tempo uma infecção ou furúnculo era tratado com injeções de "Anti-Piogênica", meio século antes da Penicilina.
Então durante o dia ele aplicava as injeções na própria farmácia, mas na "etapa penicilinica" era necessário ir a casa do paciente fosse de noite ou de madrugada com chuva ou calor.
Este trabalho era bem pago pelos pacientes judeus, ademais de uma boa gorjeta, porem não lhe dava tréguas! A noite toda, 24 horas de correria.
Vendo o peso da tarefa, deixou a farmácia e se tornou autônomo, trabalhando por conta própria.
Mesmo assim era humanamente impossível dar conta do "recado".
Foi aí que lhe veio a idéia de contratar empregados de outras farmácias, aqueles que tinham experiência suficiente para tal função.
Contratou mais oito "enfermeiros" para a labuta noturna, e assim de alguma forma cobriram toda colônia judaica do Recife, ansiosa de se "vacinar" com a droga milagrosa.
Seu Odon e seus colaboradores "corriam" pelo bairro da Boa Vista, Coelhos, chegava até a Madalena, Torre, Espinheiro e quem sabe onde mais.
Mesmo nossa família, toda ela, e mais as nossas empregadas, tomamos durante uma semana inteira, as injeções de Penicilina.
Exigimos que fosse seu "Adão" que o fizesse, pois o conhecíamos da Farmácia na Maciel Pinheiro, quando comprávamos remédios, em geral para algum "desarranjo intestinal", muito comum naquelas épocas sem geladeira e comprando carnes do "miudeiro", aquele que andava com um cachorro feio e cheio de pulgas, então não era para menos.
Diga-se de passagem que quase ninguém tinha geladeira elétrica. Nós quando passamos para a "etapa burguesa" da nossa vida, meu pai comprou no leilão da Rua da Conceição, uma "geleira" que funcionava com um quarto de barra de gelo.
Este comprávamos todas manhãs na carroça puxada a cavalo de seu Arlindo, que parava nas portas dos casarões da rua Gervásio Pires.
O gelo vinha "bem conservado" coberto de pó de serra, para não
derreter no caminho.
Na "geleira" de nossa casa ao chegar as 22 horas, não restava dele nem mais o cheiro!
Recordem que as "garrafinhas" que continham o liquido da droga deveriam estar todo o tempo em condições refrigeradas.
Assim era minha gente, algumas vezes tomávamos as injeções da droga na temperatura natural que conseguia manter o interior de lata da pobre "geleira" e seja como Deus quiser!
Eu acho que da nossa família, só quem escapou a esta aventura, foi meu primo caçula Nussi da Barão de São Borja.
Ao ouvir que o "enfermeiro" chegou, saltava o parapeito do terraço de sua casa no segundo andar, se agarrava num enorme mamoeiro (naquele tempo tinha deste porte também) e escorregava abraçado no seu tronco. Ao chegar a terra "são e salvo", corria e se escondia na casa de Lea e Perinha Berenson até que o "perigo" passava!
Para facilitar o trabalho logo no inicio da "campanha de vacinação", seu Odon comprou uma bicicleta Raleigh, isto para facilitar sua locomoção e respeitar os horários loucos que exigia nesta missão quase que impossível.
Será de bom proveito, em tempo, explicar com que instrumentos realizavam esta incumbência.
Levavam um estojo de metal, e dentro dele uma ou duas seringas, quatro ou cinco agulhas de diâmetros diferentes.
Numa sacola a parte, uma mecha de algodão uma garrafa de álcool etílico e uma caixa de fósforos.
As mesmas seringas e agulhas eram usadas continuamente e para pacientes distintos, depois de fervidas no estojo de metal, para tal função usavam o álcool.
De tanto uso as agulhas já estavam com a ponta meio "cega" e causavam certo desconforto na aplicação quando aplicadas no braço, então em lugar de trocar as agulhas, passaram a ser injetadas em geral na bunda. Ninguém reclamava, pois a "vacina" valia qualquer sofrimento.
Contam, não sei se é verdade, que numa ocasião a agulha de tanto uso, se quebrou dentro da bunda de um paciente (parece, se não me engano, foi na bunda do senhor Bogater, o padrasto do nosso amigo Vivi).
Nunca conseguiram detectar onde ela andava dentro do seu corpo, mais o apelido pegou "Yankel fin di nudel" (Jacó da agulha).
Seu Odon, com a ajuda dos outros "enfermeiros" por ele contratados, conseguiu de uma maneira exitosa respeitar o horário das aplicações e no final da campanha, esta boa alma, estava "podre de rico", relativamente a aquela época das primeiras décadas do século XX.
Ele nunca mais voltou a ser assalariado, foi-se embora para Piracicaba e lá com uma prima abriu sua própria farmácia e a chamou "Adão e Eva". Bonito, não é?
Na "geleira" de nossa casa ao chegar as 22 horas, não restava dele nem mais o cheiro!
Recordem que as "garrafinhas" que continham o liquido da droga deveriam estar todo o tempo em condições refrigeradas.
Assim era minha gente, algumas vezes tomávamos as injeções da droga na temperatura natural que conseguia manter o interior de lata da pobre "geleira" e seja como Deus quiser!
Eu acho que da nossa família, só quem escapou a esta aventura, foi meu primo caçula Nussi da Barão de São Borja.
Ao ouvir que o "enfermeiro" chegou, saltava o parapeito do terraço de sua casa no segundo andar, se agarrava num enorme mamoeiro (naquele tempo tinha deste porte também) e escorregava abraçado no seu tronco. Ao chegar a terra "são e salvo", corria e se escondia na casa de Lea e Perinha Berenson até que o "perigo" passava!
Para facilitar o trabalho logo no inicio da "campanha de vacinação", seu Odon comprou uma bicicleta Raleigh, isto para facilitar sua locomoção e respeitar os horários loucos que exigia nesta missão quase que impossível.
Será de bom proveito, em tempo, explicar com que instrumentos realizavam esta incumbência.
Levavam um estojo de metal, e dentro dele uma ou duas seringas, quatro ou cinco agulhas de diâmetros diferentes.
Numa sacola a parte, uma mecha de algodão uma garrafa de álcool etílico e uma caixa de fósforos.
As mesmas seringas e agulhas eram usadas continuamente e para pacientes distintos, depois de fervidas no estojo de metal, para tal função usavam o álcool.
De tanto uso as agulhas já estavam com a ponta meio "cega" e causavam certo desconforto na aplicação quando aplicadas no braço, então em lugar de trocar as agulhas, passaram a ser injetadas em geral na bunda. Ninguém reclamava, pois a "vacina" valia qualquer sofrimento.
Contam, não sei se é verdade, que numa ocasião a agulha de tanto uso, se quebrou dentro da bunda de um paciente (parece, se não me engano, foi na bunda do senhor Bogater, o padrasto do nosso amigo Vivi).
Nunca conseguiram detectar onde ela andava dentro do seu corpo, mais o apelido pegou "Yankel fin di nudel" (Jacó da agulha).
Seu Odon, com a ajuda dos outros "enfermeiros" por ele contratados, conseguiu de uma maneira exitosa respeitar o horário das aplicações e no final da campanha, esta boa alma, estava "podre de rico", relativamente a aquela época das primeiras décadas do século XX.
Ele nunca mais voltou a ser assalariado, foi-se embora para Piracicaba e lá com uma prima abriu sua própria farmácia e a chamou "Adão e Eva". Bonito, não é?
Vale a pena salientar, que no Recife naquela época, ninguém nunca fez uma
pesquisa acurada do porque do nível de sanidade mais elevada da população
judaica, em comparação com as demais.
Isto estava na cara, era raríssimo a paralisia infantil, tuberculose, sífilis, gonorréia, lepra ou outras enfermidades da pele muito comuns que se via em todo lado pelas ruas do Recife (mendigos a pedir esmolas nas pontes da Boa Vista, expondo as feridas abertas em geral nas pernas).
Quem sabe, eu meditando como matuto e meio primitivo, seria isto uma decorrência direta da famosa "campanha penicilinica" que este grupo humano judaico recebeu?
Penso que no mundo de hoje, sem a inocência, escolarizado, cheio de médicos e especialistas em todos os ramos, Ongs de defesa ao indefeso e mais o "diabo a quatro", isto seria terminantemente proibido.
Mas naquele tempo a
"campanha judaica de vacinação" em massa foi de um êxito sem
precedentes. Levou muitos anos para se descobrir que esta "droga" não
era vacina cosa nenhuma, mas vá convencer uma comunidade de judeus imbuídos de
que sim era uma droga que salvou a parturiente da morte certa, então não
importa se hoje todo mundo sabe que penicilina é um antibiótico e não é vacina,
mas naquele tempo era e pronto!
No fim desta estória, a penicilina venceu e o ishuv** judeu "ganhou saúde". Será?
* O nome da empresa aérea não tenho certeza, desculpem, pois já se passou muito tempo e muita água salobra correu por baixo das pontes do velho rio morto Capibaribe.
No fim desta estória, a penicilina venceu e o ishuv** judeu "ganhou saúde". Será?
* O nome da empresa aérea não tenho certeza, desculpem, pois já se passou muito tempo e muita água salobra correu por baixo das pontes do velho rio morto Capibaribe.
** Ishuv= comunidade em hebraico.
N.B. Alguns nomes dos envolvidos nesta crônica são fictícios, assim como as entidades citadas.
Isto por ser um tema médico que exige total sigilo destes. Será?
N.B. Alguns nomes dos envolvidos nesta crônica são fictícios, assim como as entidades citadas.
Isto por ser um tema médico que exige total sigilo destes. Será?
Fim da cronica "A DROGA MILAGROSA"
Todos os direitos autorais registrados.
Cuidem com os créditos



Lic. Jacques Cano Haifa Israel
ResponderExcluirDISSE:
Não tenho certeza sobre se Fleming era judeu. Onde vc viu isso?
O Sr. Moyses Schvarts não foi "homenageado" coisa alguma.
A família comprou por contrato (leonino) o direito perpetuo de colocar o nome no colégio.
Até já tentaram tirar um vez e o contrato não permitiu...
Lembro da morte dele e do enterro... Enterraram junto a antiga casinha do velório no cemitério antigo do Barro, mas com o crescimento dos túmulos e um novo velório ele ficou logo esquecido... E agora com o novo cemitério mais ainda. E depois que a Malharia caiu (acho que ele não fazia a manutenção direito) o nome entrou em declínio...
O nome do farmaceutico que aplicava injeção nos membros da comunidade era ODON e não Adão como você relatou.
Dr. Moshe Rosenblatt Israel
ResponderExcluirDISSE:
So’ eu sei quantas injeções levei na bunda por Odon da farmacia da Maciel Pinheiro.
Estoria sensacional.
Eu tenho um livro de Farmacologia de um falecido primo meu, médico. O livro e’ de 1944 e ele fala das sulfas como o melhor tratamento para infeccões...