TEMA: "POR ONDE ANDARÁ DADINHO". (parte 3- Final)
(BORRADOR)
Paulo Lisker
Israel.
Na
madrugada do dia 9 de novembro o delegado Motta veio às pressas a pensão e bateu
forte na porta da entrada do casarão onde viviam os estudantes colegas de Dadinho,
-Abre
a porta bando de vagabundos, levanta da cama seus molengas, acorda macacada!
-
Quem é a essa hora da madrugada? Pergunta um dos estudantes
ainda meio dormindo.
-Sou
eu o delegado Motta, levanta cambada de preguiçosos, vocês não querem noticias
do vosso amigo desaparecido?
Dentro
da casa se ouvia um reboliço danado, era gente se vestindo e correndo pra cá e
pra lá.
-Parece
que acharam o Dadinho! Gritavam um para o outro enquanto se vestiam.
-Acharam
o Dadinho, senhor delegado, onde acharam ele? Ele está bem?
Toda
essa conversa ainda com a porta trancada.
O
delegado já arretado com a demora deu uns socos na porta e quase a derruba.
-Achamos,
achamos bando de "frescos" abram a porta e já!!!
Vocês
vêm agora mesmo comigo ao necrotério do Derby para identificar o cadáver que
foi encontrado no mangue nesta madrugada. Quem sabe é o tal amigo de vocês.
Como é mesmo o nome dele? Gente se apressem o dia já está clareando.
Quando
abriram à porta as primeiras que "caíram fora" (saíram), assanhadas,
com uma tremenda cara de sono e se vestindo enquanto corriam para a rua, eram três
ou quatro empregadinhas (domesticas) que trabalhavam nas casas vizinhas das famílias
judias que de vez em quando depois de umas cervejinhas ficavam para dormir com
os estudantes e como de costume logo bem cedinho voltavam para o "batente"( trabalho de empregada domestica).
-Gente,
vamos rápido, levem a carteira de identidade ou mesmo a carteira de estudante. O
chofer do "tintureiro" (viatura
de cor preta que trás e leva presos para o xadrez), é quem vai nos levar ao necrotério,
o coitado não dormiu a noite toda, atarefado com o caso do cadáver encontrado no
mangue bem pertinho da Avenida Cruz
Cabugá, vamos gente, o sol já clareou, já ta dia feito, vamos embora fazer o serviço!
Chegaram
ao necrotério, já na porta os espera o sanitarista e o médico legista.
Tiraram
o cadáver da câmara refrigerada e apesar de estar muito mal tratado pela ação
dos peixes carnívoros, caranguejos e siris, não restavam duvidas que o cadáver era mesmo do Dadinho.
-Vocês
reconhecem o "dito cujo"? Averigua o delegado Motta com tom de voz autoritário
e volta novamente e pergunta de novo.
-Olhem
bem e digam logo, não temos tempo a perder. O médico legista necessita do cadáver
para fazer a necropsia e elaborar o laudo da "causa mortem". Estou "falando grego"(linguagem incomprensivet) para estes estúpidos que amanhã serão nossos advogados, Deus me livre e guarde.
Quem sabe ele foi assassinado antes de ter sido jogado no mar, entenderam "bestas ao quadrado" ou será que foi mesmo suicídio, vá lá saber o comportamento desses vadios que só vivem ou morrem para dar trabalho às autoridades da lei.
Quem sabe ele foi assassinado antes de ter sido jogado no mar, entenderam "bestas ao quadrado" ou será que foi mesmo suicídio, vá lá saber o comportamento desses vadios que só vivem ou morrem para dar trabalho às autoridades da lei.
Você
que está aí fungando, como reconheceu o cadáver do seu amigo? A cara está toda machucada
e corroída pelos siris, como tu tens certeza que é ele mesmo? Olha bem de perto e não tapa o nariz, este cheiro não mata ninguém, vai seu fresco!
-Seu delegado, reconheci pelo
brinco de madre perola na orelha esquerda do defunto, respondeu Bebeto. No
Recife isto não é comum entre rapazes, só os "frescos" tinham um
costume mulherengo assim. Bebeto enxugava as lagrimas com a ponta da manga
da camisa de fustão amarelo.
Horas
depois o laudo médico dizia claramente que o dito cujo praticou suicídio há tal
hora, no tal dia e assim por adiante com todos os dados técnicos necessários para
as autoridades fechar a investigação e o caso do desaparecimento do tal estudante.
O delegado Motta sibilava assim de baixinho: Não é para menos, eu estou puto da vida, já 3 dias que não sei o que é dormir numa cama, o secretario Plínio vive em cima do meu lombo (deve haver gente de importância cutucando na urgência deste caso, só pode ser por isso, toda essa pressa!
Na roda de amigos e do pessoal que frequentava a praça, ninguém necessitava de laudo médico coisa nenhuma, os boatos no Recife sempre foram muito mais rápidos que qualquer jornal ou estação de radio e só existia uma, a Radio Clube de Pernambuco (PRA 8), cujos estúdios não ficavam longe do local do acontecido, os manguezais que beiravam a Avenida Cruz Cabugá.
O delegado Motta sibilava assim de baixinho: Não é para menos, eu estou puto da vida, já 3 dias que não sei o que é dormir numa cama, o secretario Plínio vive em cima do meu lombo (deve haver gente de importância cutucando na urgência deste caso, só pode ser por isso, toda essa pressa!
Na roda de amigos e do pessoal que frequentava a praça, ninguém necessitava de laudo médico coisa nenhuma, os boatos no Recife sempre foram muito mais rápidos que qualquer jornal ou estação de radio e só existia uma, a Radio Clube de Pernambuco (PRA 8), cujos estúdios não ficavam longe do local do acontecido, os manguezais que beiravam a Avenida Cruz Cabugá.
Possivelmente
isto ocorreu logo depois que Dadinho se despediu do padre Justino na Praça do Varadouro.
Quase de madrugada, Dadinho saiu caminhando até a praia do Carmo ou a dos Milagres em
Olinda e se jogou nos "braços de Iemanjá" e ali se afogou.
A
maré arrastou o cadáver para longe (mar brabo danado neste trecho, muita gente com esta nefasta tendencia, escolhia esta praia para ir-se deste mundo). O corpo ficou encalhado no "manguezal" do aterro do caminho para Olinda, lá pros
lados da Escola Aprendizes Marinheiros.
Depois
de uns dias um "catador" de siris e caranguejos se deparou com o cadáver
e avisou a policia.
Os
pais de Dadinho foram avisados, vieram para o Recife e levaram o cadáver num
avião
bi motor de um amigo piloto aposentado.
Em Alagoas foi realizado o enterro com a presença de um grupo de amigos da família de Dadinho.
"UM AMOR IMPOSSIVEL". final da novela:
bi motor de um amigo piloto aposentado.
Em Alagoas foi realizado o enterro com a presença de um grupo de amigos da família de Dadinho.
"UM AMOR IMPOSSIVEL". final da novela:
(Borrador)
Paulo Lisker, Israel.
Tema: "ROMEU e
JULIETA NO RECIFE MATUTO". SAUDADES.
Estava eu sentado
na Praça Maciel Pinheiro com senhor Sadigursky, judeu pobretão, um protótipo
muito especial que vivia num quarto no "pé de escada" na praça,
encostado a farmácia "Saúde".
Ele foi no passado
mascate citadino, vendia bugigangas, escrevia musica de "kleizmer"
(musica judaica das pequenas aldeias européias), era às vezes também maestro da
Banda Acadêmica ou da orquestra da Policia do Derby quando estas eram
contratadas para animar casamentos ou outra qualquer festividade no Clube
Israelita. Até o famoso Capiba o conhecia e lhe dava as honras merecidas (a
batuta de maestro).
Ensinava as rezas
aos garotos judeus que comemoravam o "Bar Mitzvá" (ao cumprir 13
anos), eram considerados adultos pela religião judaica, com direitos de rezar e
ler a "TORÁ, o Velho Testamento".
Era também um protagonista
nas peças de teatro em iídiche e que ensaiadas no palco da sociedade israelita
e apresentadas ao publico nas festividades da comunidade.
Em suma fazia de
tudo, um verdadeiro "pau pra toda obra", como dizíamos nós os
brasileiros natos.
Tipo baixinho,
gorducho e feio, homem das mil profissões e nem um tostão furado no bolso ou um
tostão inteiro no bolso furado!
Eu gostava de
sentar com ele e conversar sobre qualquer tema, era um tipo versátil. Misturava
o iídiche com português. Narigudo e fanhoso que às vezes eu pensava que ele ia
se asfixiar se continuasse falando.
Eu ficava calado,
só escutando as experiências da vida dele numa pequena aldeia no leste europeu,
me contou que depois da guerra nunca mais teve noticias dos membros da família.
Possivelmente foram exterminados nos campos de concentração nazistas na
Polônia.
Num lapso da nossa
conversa em que ele tomava fôlego, aproveitei e disse a ele que estava
tremendamente frustrado, pois estava escrevendo uma crônica, relatando o caso
amoroso de Xóxa a judia e Dadinho, católico que começou na Praça Maciel
Pinheiro e eu tinha toda certeza que também ali também terminaria como tudo
acontecia na nossa comunidade naquela época. Escute senhor Sadigursky, eu até
imaginava duas alternativas possíveis:
A primeira, seria: UM BAITA FESTÃO DE CASAMENTO.
A praça cheia de
gente, convidados por parte das duas famílias, ademais o pessoal conhecido da
praça, os guardas noturnos da Delegacia do Aragão (naquele tempo tinha disso no
Recife), a praça totalmente lotada e a paz reinava na terra e no céu.
As famílias dos
noivos apaziguados, isso era o mais importante.
Um coreto todo
iluminado com lâmpadas de todas as cores, a "Banda Acadêmica" tocando
musicas de Capiba e também as suas, estimado "maestro" Sadigursky.
Baixo tua batuta a
banda se transformaria nem que seja numa hora, em "Klezmerim" do
leste europeu, tocando musicas judaicas alegres e que convidavam a dançar e
saltitar no meio da praça.
Muita comida
gostosa, bebidas e alegria sem limites.
A imaginação não
foi tão longe, pois ainda não decidi quem os casaria, se um padre ou um rabino
(entidade religiosa judaica), ou sabe os dois juntos, se na Igreja da Matriz
com o dobrar dos sinos ou debaixo de uma "Hupá" (costume judaico),
junto do secular pé de Jambo do Pará, na praça mesmo.
Neste aspecto ainda
estou em duvida.
Imaginei muitos
fogos de artifício, o céu todo iluminado com foguetes do ar de todas as cores,
a meninada atirando "estrelinhas", jogando confetes e serpentinas.
Um verdadeiro mini-carnaval
fora da época.
A segunda, seria: UMA
TRAGEDIA a ESTILO ROMEU E JULIA.
Que Deus me livre e
guarde senhor Sadigursky, porem imaginei também uma alternativa nesse estilo.
Pelos enormes
problemas causados pelas famílias de credos distintos, a proibição de ambas as
partes para a consumação deste casamento. Xóxa e Dadinho se suicidariam
sentados abraçados junto à fonte da índia e os quatro leões, no centro da
querida pracinha. Não poderia ser uma cena melhor para o desfeche desta tragédia.
Dois enterros cada
um de um lado da praça, a praça totalmente cheia de gente chorando, pois os
dois personagens envolvidos nesta tragédia eram conhecidíssimos pelos
frequentadores e moradores desta Praça no Recife.
Um mundo de coroas
de flores e flores ao natural acompanhava o ataúde de Dadinho que era católico,
no de Xóxa nada, pois era judia e segundo o costume milenar deles o corpo vai
numa mortalha e coberto com um manto negro com uma Estrela de David bordado e
nada mais.
Um carro fúnebre
seguido da comitiva dos carros acompanhantes partiria para o cemitério de Santo
Amaro e a outra comitiva para o cemitério de judeus no bairro do Barro.
Os dois amantes
(quando em vida) seguiam agora destinos diferentes e talvez só no paraíso se
encontrassem e desta vez para eternidade.
Até aqui era a
minha imaginação para o desenfeixe desse romance tão falado na comunidade
israelita, naquela época do Recife matuto.
Até aqui era o que
eu imaginava. Que acha vosmecê senhor Sadigursky?
Veja o que na realidade
aconteceu.
Dadinho, católico
foi enterrado no Campo Santo em Maceió e na laje dizia nada mais que:
DEMOSTENES ABELARDO
MONTEIRO (Dadinho o nosso eterno amor)
Data de nascimento
e falecimento.
Já Suzana (Xóxa),
judia, ninguém sabe nada dela, Se virou religiosa ortodoxa na Antuérpia? Tem
filhos? Quantos? O de Dadinho nasceu? Hoje já deve ser homem feito, será que
ele sabe quem foi seu pai biológico? Será que Xóxa ainda vive? Será que voltou
alguma vez de visita ao Brasil depois que a casaram com um jovem judeu da
Bahia, contra sua vontade? Nada sabemos. Uma odisséia, insolúvel!
Veja só senhor
Sadigursky, tudo começou com um namoro inocente na nossa querida Praça Maciel
Pinheiro e deveria terminar aqui também.
A realidade é que
Dadinho está enterrado em Maceió e Xóxa vive ou já não vive nas terras frias da
Europa.
Esta é a minha
frustração senhor Sadigursky.
O axioma pregava
que na colônia judaica tudo que começava na pracinha também nela terminaria.
Axioma, senhor Sadigursky, axioma, sabes que é axioma? Pois é!
Ele me olhou com os
olhos rasos d água e me disse em iídiche:
"Bist a nar, far
inz iidn, iz di Prace Macié Pinheire, di gontze velt".
"TOLO, PARA NÓS JUDEUS, A PRAÇA MACIEL
PINHEIRO É O MUNDO TODO".
O axioma continua
de pé meu jovem, ainda mais o "axioma judeu" que não é limitado nem
no tempo nem no espaço, ele é eterno como este povo!
Olhei estupefato para este homem simples e
humilde e "falei com meus botões":
-Vejam, vejam, o
"Diógenes judeu", um filosofo de pés descalços que vivia entre e nós
não sabíamos!
De mansinho,
lagrimas deslizavam sobre as nossas faces.
Na ocasião passava
o "marmiteiro", o senhor Malaquias, levando as mãos cheias de
entregas para casas de família na vizinhança, um cheiro bom danado de comida
judaica preparada na pensão do casal Volodia no primeiro andar, esquina da Rua
do Hospício com a Rua Imperatriz era de deixar água na boca.
Bom que a meninada
que brincava e corria atrás duma banda de Maracatu que ensaiava a sua bateria e
as tubas, em volta da pracinha e logo seguia em direção da Rua do Aragão, não
deu fé nestes dois adultos sentados num banco, chorando num dia tão bonito na
Veneza brasileira e não por dor de dentes, mas era pura nostalgia e saudades!
TRECHO FINAL DA
CRÔNICA "UM AMOR IMPOSSÍVEL" NO RECIFE MATUTO.
Paulo Lisker - Israel.
(Todos os direitos
reservados)
Junho 2010

Sra.Leila Coifman Israel
ResponderExcluirDISSE:
Otimo, Paulo !
Tchau
Leila
Dr Ary Rushansky-Israel
ResponderExcluirDISSE:
Paulo
Excelente final.