quarta-feira, 19 de novembro de 2014

POR ONDE ANDARÁ DADINHO (parte 1) Novela

                                                    A praça Maciel Pinheiro, no Recife.
                                                                Foto: Internet-Google


"UM AMOR IMPOSSÍVEL" (Novela)

TEMA: "POR ONDE ANDARÁ DADINHO".
(Parte 1)
                                                           
                                                                         (BORRADOR)
                                                                 
Paulo Lisker
 Israel.

Dadinho terminou o ano letivo em Triunfo e foi homenageado com o título do melhor professor do ano.
Nesta oportunidade lhe presentearam com uma condecoração em prata de "Benemérito Honorius Causa" da cidade de Triunfo.
Desistiu de uma vez de ser nomeado diretor do instituto escolar Getúlio Vargas em Piaçabuçu nas Alagoas e voltou na primeira sopa (ônibus no jargão nordestino) para o Recife.
Xóxa não lhe saia do pensamento, ele não via à hora desse reencontro mesmo contra a vontade da família dela, depois de tantos meses de afastamento.
O que não fizeram os fazendeiros do município para aproximá-lo das filhas, com muito bom dote e até terra propunham, mas Dadinho preferia não se comprometer com esta gente interiorana.
Ele "tirava a diferença" com as putinhas da cidade depois das noites de sinuca e cerveja com os amigos professores solteiros e até alguns casados cujas esposas sabiam que na sexta feira o marido "tirava férias" para "jogar cartas" com os amigos, pois a vida no interior era muito monótona, para não dizer "chata pra caralho".
Dizem que as esposas sabiam na realidade o que acontecia nesses encontros chamado "jogar cartas" e se despediam do marido dizendo com sarcasmo: "dá lembranças a Maria..."
A "sopa"(ônibus) chegou "capengando" (nos seus últimos suspiros), na estação Rodoviária do Recife. Digo capengando, pois no caminho dois pneus estouraram e só tinham um de reserva em condições de uso, os outros dois estavam com as câmaras de ar furadas. Que azar danado, coisa muito comum naquele tempo com as vias de barro mal cuidadas, as "sopas" já há muito tempo passaram os 10 anos de uso, quase sem manutenção e os pneumáticos na "lona" (totalmente gastas, na língua do povo).  Não seria surpresa nenhuma quando isso acontecia no meio do caminho das estradas interioranas, especialmente no nordeste brasileiro.
O atraso foi de quase 3 horas até que numa camionete da empresa rodoviária trouxera as peças de reposição necessárias para poder continuar a viagem.
A entrada do transporte para o Recife (a capital do Estado de Pernambuco), passava quase que obrigatoriamente pelo "Gasômetro" (empresa industrial de elaboração e fornecedora do gás de cozinha aos clientes da cidade), localizada no bairro do Brum.
O processo industrial da elaboração do gás exalava um cheiro sufocante característico que enchia o ar da cidade durante horas (quem no passado viveu no Recife conhece este fenômeno negativo muito bem).
Quando começava a brisa ela carreava este mau cheiro para fora da órbita da cidade.
Dadinho foi recebido nesta atmosfera fedorenta, ele que tanto esperava por este reencontro com a sua amada na cidade dos rios e pontes, a Veneza brasileira.
Ao sair da estação a primeira coisa que fez foi tomar um caldo de cana duplo com muito gelo, pois estava morto de sede das horas de viagem na "sopa" que vinha cheia de gente, ademais "capengando" e com um atraso danado.
Foi caminhando a pés ao lado do carregador da mala até a Praça Maciel Pinheiro. Lá se encontrou com seus colegas e amigos de faculdade e os da pensão que servia de "republica de estudantes" num dos casarões ali localizada.
Subiram a escada de madeira do prédio que chiava com a pisada em cada degrau resultado do produto da secular engenharia portuguesa.
É bom em tempo frisar que os "pés de escadas" desses sobrados tinham uma função sumamente importante, serviam de mitorio para centenas de transeuntes que de passagem pela praça não encontravam outro lugar para urinar.
Parece que na herança da arquitetura portuguesa à engenharia brasileira esta não legou a necessidade de lugares públicos para esta função tão importante.
Num perímetro enorme da praça não existia um lugar para estes fins e talvez em todo Recife.
Naquele tempo parece que isso não era importante, então restava os "pés de escada" para "quebrar o galho"(solucionar o problema urinário), e como fediam as escadas nas entradas dos prédios, nem imaginem!

Abraçaram-se depois que abriram a porta, os amigos inseparáveis quase choravam. Ofereceram ao carregador um copo de água da quartinha que sempre estava na janela da sala. Dadinho pagou o biscate como combinado e o carregador foi  descendo às pressas fazendo a escada de madeira chiar como num concerto de sapos em noite de luar em volta de uma poça de água de chuva.
Passaram a noite "chupando" (bebendo, na língua da rua), cerveja daquela boa, bem gelada e de casco verde comendo castanhas de caju ou  amendoim (mendubim, como anunciava na rua o vendedor do produto), torrado ou cozinhado no sal, como "tira gosto". Quem viveu no Recife naquele tempo se lembra muito bem  deste costume bem brasileiro.
Dadinho contava aos amigos sobre esta etapa de sua vida como professor em Triunfo, do encontro frustrado com seu pai em Alagoas. Sobre a visita e estórias que lhe contara um compadre de seu pai, o coronel Barbosa na fazenda "Ipê Roxo", onde passava os fins de semana com Xóxa.
Agora no Recife, durante os dias ele passava as horas dormindo enquanto os amigos frequentavam a faculdade.
Dadinho requisitou a sua volta aos estudos, porem a Faculdade não podia dar uma resposta imediata e definitiva de uma hora para outra, pois ele ao abandonar os estudos não "trancou a matricula" coisa que dificultava esta possibilidade de voltar aos estudos depois de quase um ano de ausência.
Ele alegou que a ausência fora causada por problemas de saúde e que logo apresentaria um "atestado medico" como comprovante.
Isto ele conseguiu facilmente com o Doutor Julinho de Morais que era amicíssimo deste grupo de estudantes, participava com eles nas farras de fim de semana nos puteiros da praia do Pina e os tratava grátis das gonorréias muito comuns na época estudantil em que a penicilina era rara ou mesmo não existia nas farmácias locais. As drogas para tal, trazia do Hospital  Dão Pedro Segundo, que ficava lá pro lado do bairro dos Coelhos onde ele trabalhava. O tratamento de algumas doenças venéreas naquele tempo eram meio "chatas"  e exigia do paciente permitir ao medico meter o dedo com pomadas no cu do enfermo. Tinha também o lado "machista" pois quem "pegava" uma doença venérea era como se fosse um título de "prova de ser machão", pois dizia o "voz do povo" que quem não pegou uma "blenorragia " ou outra qualquer desta qualidade, ainda não era suficientemente macho de verdade. 
O tempo foi passando e quando Dadinho já não aguentava mais os dissabores da solidão, aí começou a perguntar aos amigos por andava  Xóxa.
Desde que chegou, ele não vê nem ela, nem membros da família na praça ou na padaria.
- Que aconteceu? Vivia perguntando aos seus conhecidos!
- Será que foi mesmo estudar Farmácia noutro Estado? Pois este era o seu desejo do tempo que a conhecera.
- E a família dela por aonde andaria? Por todos os santos, onde se meteram? Não se vê mais ninguém deles na praça.
Que sumiço é esse minha gente. Indagava aos conhecidos e aos colegas da pensão!
Estava desesperado e ninguém tinha respostas para ele.
Na realidade se alguém da colônia israelita soubesse de pormenores do acontecido "fecharam o bico" e não davam a "pala" (informação, no jargão da rua) sobre o assunto para ninguém.
Dadinho rodava na praça, perguntava aos donos de lojas judeus sobre o paradeiro da família de Xóxa, respostas nunca recebeu, como era costume dizer na época, "se faziam de môco" (surdez, no jargão nordestino).
Parece que havia uma espécie de conspiração e ninguém queria estar envolvido nesta "massa que o diabo amassou" (coisa complicada onde estão envolvidos um goi e uma judia, na língua do povo).
Os próprios amigos de Dadinho nada sabiam. Um dia deram fé que a família de Xóxa saiu de viagem, mas isto era comum entre os judeus de melhor situação econômica, férias de fim de ano em Garanhuns, Fazenda Nova, Salgadinho, ou Floresta dos Leões (hoje Carpina) etc.
Dadinho quase "endoida" (enlouquece), pois não conseguia respostas concretas para aonde desaparecera a família de sua querida Xóxa.
 Não estudava, não frequentava as aulas na faculdade, aí começou a tomar grandes doses da "branquinha" (cachaça - aguardente brasileiro), frequentava a zona do baixo meretrício no bairro de São José e vivia mais bêbado do que lúcido.
Os amigos tentavam estimulá-lo, convidavam raparigas e as empregada dos sobradões da Praça para festinhas na pensão, faziam bacanal, muita musica e cerveja. Seus colegas queriam de alguma maneira vigiar seus passos e traze-lo de volta a realidade de estudante serio como no passado, mas Dadinho estava impregnado de uma tristeza crônica, uma espécie de desespero emocional, vivia dizendo para todos que ainda tinham paciência para ouvir seus lamentos, que sem Xóxa ele não era ninguém, nada mais que um "molambo de chão, fodido" (Um João ninguém).
Um dos estudantes, Aparício, "amigo do peito" (muito bom amigo) de Dadinho, também alagoano, foi conversar com frei Novais, igualmente alagoano, para pedir "socorro" espiritual para o amigo.
Frei Novais estava de momento servindo no Seminário Maior em Jaboatão.
Pediu a ele que pegasse uma conversinha com Dadinho e que tentasse reanimá-lo para que voltasse aos estudo  depois que o reitor tivesse a permissão do Diretório consentindo o seu retorno sem mais problemas
Assim foi, Frei Novais se armou de toda verborréia que conhecia e passou uma noite toda conversando com Dadinho que não dava nem "um piu" (total calado), nem olhava em direção dos enormes e lindos olhos de um azul profundo do frei.
Separaram-se lá para as tantas da noite como bons amigos, mas nada foi conseguido para melhorar a situação espiritual de Dadinho.

Fim da parte 1 de "POR ONDE ANDARÁ DADINHO" da novela "um amor impossível"
-Todos os direitos autorais reservados.
Cuide dos créditos

2 comentários:

  1. Dr. Samuel Hulak Recife
    DISSE:
    Paulo,grato pelo envio do nova meguilá.
    Samuel.

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  2. J. Katz Recife
    DISSE:

    Oi Tio Ary,
    Ontem, por coincidência, passei na Praça Maciel Pinheiro e tirei uma foto.
    Abraço,
    Jackson

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