Fotos ilustrativos Google-Internet
"UM
AMOR IMPOSSÍVEL" (Novela)
Paulo
Lisker
Israel.
Tema:
As bodas de Xóxa com o "Prego" (parte 2)
O
rapaz cotado de 27 anos, apelidado pelos seus "amigos vagabundos" de
"Prego", por ser magrinho e cabeçudo.
Seu
nome de batismo era Itiel em homenagem ao seu falecido avô materno.
Para
aquela época ele era um completo "play boy", passava o tempo com os
seus amigos jogando sinuca e visitando os puteiros da vila.
De
trabalhar com o pai, nem pensar, tinha alergia crônica.
Claro
que os pais ficaram satisfeitíssimos com a proposta que chegara do Recife. Quem
sabe, assim ele entraria no bom caminho, casa, família, e deixaria a vadiagem
inútil.
Os
casamenteiros marcaram o encontro das famílias em Salvador já na semana
entrante para celebrar os "tnoim" (noivado).
Compraram
passagens e embarcaram num "Ita" (navio costeiro da frota brasileira), que vinha do norte e parava no Recife (alguns
dizem que foi no navio costeiro Pedro II) discutível, porem não importante.
Toda
família de Xóxa subiu a bordo incluso a empregada, ademais acompanharam os 2
casamenteiros, e a entidade máxima religiosa no Recife na época, o
"shohet e moel, o venerável Her Rahat" (aquele que segundo as leis
judaicas executa o abate de animais e circuncisão dos meninos na sua primeira
semana de vida), não havia na cidade rabino, ele era de momento a entidade
máxima em temas religiosos.
No "Ita" a viagem do Recife para Salvador durava um dia inteiro.
Logo
depois do desembarque no porto de Salvador foi marcado o encontro das famílias de ambas as partes na
casa dos Fucs (gente graúda na sociedade israelita da Bahia).
Chegaram
a um acordo no que diz respeito às condições da ajuda de cada família para com
o jovem casal.
Na
situação caótica formada, "quanto mais o bezerro quer mamar a vaca quer
amamentar" (provérbio hebreu). Quando os dois lados querem resolver o
problema, as decisões destes encontros são tomadas rapidamente. Comparando com
casos normais em que a coisa se arrasta por semanas onde se discute este "compromisso" toda vírgula e cada ponto!
Quando
se chega a um acordo mutuo é assinado este compromisso ("tnoim"-as
condições), levanta-se um brinde de vinho doce da terra santa, com a celebre
saudação "lê haim", lê haim (pela vida, pela vida), apertos de mão,
abraços e os clássicos desejos (mazal tov) de muita sorte e felicidades para o
jovem casal de noivos recém formado.
O
documento com as condições concordadas por ambas as partes fica aos cuidados do
casamenteiro que se compromete a fazer copias reconhecidas por tabelião e
enviar a ambos os lados participantes.
Interessante neste processo é que o jovem casal não é consultado. O que os pais resolvem é como
os mandamentos que desceram com o Patriarca Moisés do Monte Sinai. Ninguém se
mete ou dá voto! Os anciãos sabem o que fazem e pronto!
A brisa que soprava do mar entrava pelas
enormes janelas do casarão dos Fucs mesmo sem ser convidada e balançava as
cortinas de linho francês, assim como a enorme folhagem das lindíssimas plantas
tropicais plantadas nos enormes jarros de porcelana chinesa distribuídos nos
cantos da enorme sala de visitas,
Do lado
de fora desfilava um bloco carnavalesco ensaiando uma batucada com trombones,
tubas, reco - reco, de primeira.
Algum
sarcástico diria que o som da banda carregado pela brisa, misturado com o que
acontecia dentro da casa do graúdo Senhor Fucs era algo fora do comum numa
realidade anormal.
Três
dias depois foi realizada a "Chassene com a Hupá", (o casamento
religioso), foi o tempo necessário para que o rabino escrevesse a
"ktuba" (documento obrigatório no casamento religioso judaico), e que contem
todos os temas acordados e as obrigações em caso de discórdia e qual a quantia
em bens ou dinheiro que deveria ser pago por indenização em caso de divorcio.
Um
grupo de famílias judias baianas da sociedade israelita organizou a comida e os
apetrechos religiosos necessários para o evento
A
cerimônia foi realizada na casa do Comendador Montenegro, (Shwarzberg, no
passado europeu), filantropo e uma figura importante nos meios governamentais
brasileiros e na colônia judaica de Salvador.
Esta
família vivia num enorme casarão na ladeira do Pelourinho.
Todos
os apetrechos religiosos da comunidade foram postos a disposição da
comemoração, só faltou a musica, mas não era obrigatório.
O
rabino Ben Atar (veio num voo direto do Rio) para dirigir o ato e trouxe vinho doce Kasher da Palestina. A comida foi preparada
de "hoje para hoje": Varenikes (massa recheada com carne), cocletim (cocretes) de
frango e cochinhas assadas, compota de maçã), tudo doado pelas senhoras
prestativas da comunidade judaica de Salvador (a maioria eram todas de
origem ashkenazitas, daí o sortido cardápio quase todo de origem leste europeu).
Para elas este ato de ajuda era considerado uma "mitzvá" (dádiva
enaltecedora e gratuita).
Nunca
poderia faltar também o tradicional "Fluden" preparado pelas famílias
Rostolder (confeiteira caseira) e eximias no preparo dessa fantástica e
gostosa guloseima que consiste numa massa enrolada com recheio com todo tipo de
frutas secas, sésamo, nozes, castanhas, amêndoas, frutas cristalizadas, cravo,
canela, essência de rosas e de raízes de orquídeas. Uma delicia do paraíso.
O
"fluden dos Rostolder" (produto da confeitaria judaica originaria das
aldeias interioranas da Romênia) era conhecido não só no Brasil, mas também
fora dele, não só por ser uma delicia culinária, como pela sua durabilidade
quase ilimitada (meses pelo menos), sem conservantes ou refrigeração, um verdadeiro
milagre. A pequena comunidade sefaradí de Salvador ( Pariente, Asulin, Saade, Abitibul e
outros) colaboraram com vestimentas típicas para serem usadas pelos noivos no
ato do casamento e claro como não podia deixar de ser, a comida da cozinha
oriental judaica, assim como, "kuskus", "postas de peixe" (khraime), em molho extremamente apimentado (possivelmente derivado do uso da "pimenta malagueta"), que é de tirar lagrimas dos que se aventuravam experimentá-lo, diversos tira-gostos e guloseimas típicas dos países da Magrebe (norte da
África).
Na
cerimônia religiosa judaica, o casal de noivos, os seus pais, familiares
próximos, os casamenteiros e claro que também o rabino se põe de pé debaixo de
uma cobertura de seda ("há Hupá") e quatro testemunhas seguram cada
qual uma das pontas desta cobertura que estão prezas cada qual a uma vara de 2
metros aproximadamente.
Ali, depois das rezas proferidas pelo rabino Ben Atar, vem o celebre
"quebra copo" que o noivo executa pisando (de sapato é claro) com a
planta do pé, isto como uma eterna lembrança (para nunca esquecer), a
destruição do templo sagrado de Jerusalém há 2000 anos atrás. (Eta povo de
memória ilimitada, não é mesmo)?
Terminada
as bodas o jovem casal foi levado para o aeroporto de Salvador no carro do
Comendador Montenegro, não antes dele presentear ao jovem casal com dois
relógios de ouro 24 quilate e 18 rubis de marca Patheque Philippe. (maquinas de
medir o tempo de tão perfeito que eram), uma verdadeira obra de arte da
relojoaria suíça.
Com
um vôo da Cia. Varig seguiram em transito para o Rio de Janeiro, troca de avião para um vôo transatlântico D10 da TAP (Transportes Aéreos
Portugueses), para Lisboa e no dia seguinte embarcaram para Antuérpia na Bélgica,
destino final.
Os
familiares e acompanhantes voltaram para o Recife, por sorte estava entrando no
porto de Salvador o barco costeiro o Pedro I, rumo a Belém do Pará e fazia
escala no Recife com uma carga de carne de Charque e arroz gaúcho.
A
família de Xóxa não ficou por muito tempo no Recife, se mudaram para São Paulo
e foram morar no bairro do Bom Retiro
que praticamente era um bairro de judeus de origem ashkenazí (leste europeu) no
coração da cidade.
PAULO
LISKER, Israel.
Fim
do trecho 2.
Todos
os direitos reservados.
Cuidem
com os créditos.


Lic. Bella Rushansky Recife-Pernambuco Brasil
ResponderExcluirDISSE:
Continue escrevendo, historias que são gravadas no tempo.
Dr. Ary Rushansky Israel
ResponderExcluirDISSE:
Impagável. de a Acordo com o figurino,.otimo.
. ary e lea
Sra.Sluva Waintraub Salvador Bahia Brasil
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Paulo:
Tenho recebido suas crônicas, inclusive a que fala do casamento na Bahia.
Obrigada .
Abcs., Sluva.
Eng.I. Coslovsky São Paulo Brasil
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PAULO
PERFEITO, SEM COMENTARIOS.
ABRAÇO
ISRAEL