ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA-COMPLEXO DE SALAS DE AULA E LABORATÓRIOS. No primeiro plano o campo de futebol. ESAP RECIFE,
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No tempo do Recife
matuto
Agronomia (parte 1)
Agronomia (parte 1)
Tema: Incidente ao escolher a
carreira de Agronomia.
Paulo
Lisker-Israel.
10-06-2011.
Parte 1 – Árdua resistência
no primeiro front, meus pais e minha família.
Para chegar ao auge
deste acontecimento, o ato solene de formatura e recebimento do almejado
diploma de Engenheiro Agrônomo, precisamos voltar cinco anos atrás.
Ao terminar o curso
secundário no celebre colégio Osvaldo Cruz, urgentemente se fazia necessário
decidir qual concurso e qual faculdade escolher.
Caso
"matutasse" demais, perderia um ano sem fazer nada e isso era chato
demais para mim, minha família e também para os amigos de tantos anos de
convivência, amizades nos diversos colégios. Eles com certeza seriam estudantes
universitários com carteira de estudante, passeatas, excursões, festas e eu
ficaria um ano esperando até a nova época de concursos das diversas
universidades. Ai meu Deus que fazer?
Comecei a pensar
com meus botões:
-Engenharia é muita
matemática, esta carreira é para quem gostava de cálculo infinitesimal, diferencial,
logaritmo, demonstrações de teoremas que não tem fim, formula do cone, pirâmide
cilindro, cubo, tudo que era forma geométrica... Virgem Maria, só pensar me dava
medo.
Isso é para Moisés
Roizman, Júlio (gordo) Singer, Jaime Zimilis, Bernardo Katz, Walter e Nussi
Ghelfond, Lhova Krutman e outros deste quilate que eram esforçados pra cacete e
estudavam "feito a peste" pra passar no concurso sempre ou quase
sempre, como os primeiros qualificados.
Isso não é para
"burros" na matéria feito eu.
-Medicina, ta
doido, vou lá cortar gente viva e defuntos, depois trabalhar nos hospitais de
indigentes, envolto daqueles cheiros de éter e outros solventes, estar todo
tempo apavorado para não dar um remédio errado, isto fica pra gente de sangue
frio, já viu, né.
-Direito,
Advocacia, nem me fale. Passar a vida decorando leis e no fim ir defender a
bandidos e ladrões. Deus me livre e guarde, nem penso nisso.
Assim fui matutando
e passando de Faculdade por Faculdade, Ciências Econômicas, Odontologia,
Veterinária, etc.etc.etc. em todas elas só encontrei defeitos.
Na expectativa,
assim de mansinho no "final da picada" ficou coitadinha só a
Agronomia, em Dois Irmãos.
Bom, é com essa que
eu vou, decidi!
Meu bom Deus, agora
como direi isso a meus pais.
Como explicar esta
minha escolha não convencional para um estudante judeu, ainda mais no Recife
"matuto". Estou lascado (totalmente perdido), no jargão da nossa terra, pensei.
Anunciar a pais
judeus que vais abraçar a agronomia seria como confessar a teus entes queridos
que te criaram a base de "pão de ló" até aquele momento, que es um "fresco"
(homossexual passivo), gostas de homem, odeias mulheres e já tens um amante escurinho
a tua espera para formar um lar de "bixas" na zona do "Bom Jesus". Pôrra tem coisa
pior que uma situação dessas?
É mesmo que se
meter numa "camisa de onze varas", entrar num beco sem saída e lá te
espera o lobisomem e uma cobra de sete cabeças pra te comer vivo. Que Deus me
acuda!
Não dormi bem umas
noites matutando com o problema até que me lembrei que o meu amigo de infância
Senha Ribemboim. Ele fez no ano passado concurso de Agronomia na ESAP em Dois
Irmãos.
Foi otimamente bem
sucedido, passou e já cursava o primeiro ano da faculdade e o mundo não veio
abaixo.
Como ele também é
judeu, me veio à idéia de ter uma conversinha sobre o assunto e saber dele que
estratégia ou diplomacia usou para comunicar a sua escolha aos seus pais.
Pois bem, amanhã
mesmo vou procurá-lo para que me instrua como agir perante aos meus pais neste dilema
que me parecia insolúvel e que poderia causar um rompimento total nas relações
familiares, ademais com o filho primogênito, a esperança de ter um doutor ou
engenheiro na família e fim dos suplícios do trabalho de bater de porta em
porta vendendo a prestação, como foram eles quando chegaram ao "novo
continente".
Foi assim mesmo que
procedi.
Fui à casa de Senha
(o nome dele era Alexandre), na Avenida Conde da Boa Vista onde no passado
jogávamos pela tarde uma "zorrinha" com seu irmão Duda que era um
exímio jogador de "zorrinhas" de terraço.
Sua genitora dona
Clara, amiga de minha mãe e uma grande ativista
(inesquecível figura na comunidade judaica do Recife), em prol dos necessitados
e novos emigrantes judeus, me atendeu e perguntou o que desejava.
Perguntei por Senha
e ela me disse que ele estava estudando por que amanhã tem uma prova de
Botânica e favor não molestar agora.
-Quando posso bater
um papo com Senha, perguntei a dona Clara.
-De noite lá pras
22hora, ele já terá encerrado os preparativos para a prova. Não basta saber a
matéria acrescenta dona Clara, ele precisa preparar um herbário, sabes o que é
isso?
-Sei não dona
Clara, mas vou saber, pois quero estudar agronomia como Senha é por isso que
quero falar com ele, vou fazer este ano concurso desta Escola em Dois Irmãos.
-Ótimo vem mais
tarde e ele estará a tua inteira disposição. Diz-me uma coisa Paulinho, teus
pais, tua família, já sabem desta tua decisão de ir estudar agronomia?
Meu Deus pra que, me deu um troço, um rebuliço na barriga, quase me cago
de medo só em pensar na situação complicada na qual iria me meter.
Mais tarde voltei e falei com Senha e ele
nesta oportunidade me mostrou o herbário (uma pasta de papelão cheia folhas e
flores dessecadas, com seus nomes vulgares e em latim). Depois me mostrou uma
caixa com uma tampa de vidro, cheia de insetos espetados em alfinetes (para as
aulas de entomologia no terceiro ano da escola).
Ele comprou esta
coleção de outro estudante que frequentava o quarto e ultimo ano da Escola e já
não necessitava mais dela.
Senha sempre foi um bom aluno, inteligente demais e tinha um acurado
senso de comerciante. Pressentindo que uma caixa destas para organizar daria no
futuro muita correria pelo mato "caçando" insetos e um trabalho com a
paciência de Jô para encher a caixa de tantos "bichos alados"
(insetos), espetados em alfinete, imagina.
Para contornar tudo isso ele resolveu comprar mesmo que ainda estava no
primeiro ano da escola, uma das melhores coleções de um aluno que já estava às
vésperas de terminar seus estudos. Puro senso comercial, comprar já no primeiro
ano esta caixa com os insetos para usar só ao chegar ao terceiro ano da Escola.
(Investimento de futuro no valor presente, quem não entende do que falo que
pergunte a um economista).
Tudo isto me entusiasmou
mais ainda.
Esta é a Faculdade
do meu inteiro gosto, falei com "meus botões".
Vi no herbário as
folhas secadas ao sol de mangueira, laranjeira, videira, tomate, chuchu, melão
de São Caetano, jurubeba, goiabeira, urtiga, capim santo, até erva mate. Muitas
delas, minhas conhecidas que vegetavam no nosso quintal e no sitio de seu Ramos,
encostado na parede dos fundo do nosso casarão.
No fim perguntei
meio matreiro:
- Qual foi o motivo
forte que usaste para que teus pais aceitassem esta tua decisão de estudar agronomia?
-Já não me lembro,
faz tempo. Meus pais não fizeram grandes empecilhos a esta minha decisão.... Espera,
espera aí um momento, agora me lembro, quando eles perguntaram por que não
engenharia, eu respondi que na família já temos um estudando engenharia, o
irmão Duda, eu quero agronomia, pois gosto muito das coisas que ensinam lá.
Nisto mais ou menos
terminou a apresentação da minha "tese", resumiu Senha Ribemboim, meu
amigo da infância e acrescentou:
-Eles até ficaram
muito satisfeitos quando passei o concurso em primeiro lugar e a família toda
foi ver na Rua da Imperatriz o desfile dos "feras" (o Trote), que os
veteranos faziam com os calouros do primeiro ano. Eu desfilava com os outros
calouros todo melado de tinta e salpicado de farinha de trigo parecia mais um
fantasma do além.
Tu podes alegar o mesmo,
tens um irmão e ele seria a estrela brilhante da família e iria estudar
Engenharia ou medicina para honrá-la. Que tu achas, funcionará, com teus pais
também?
-Sei lá vou tentar, respondi meio
indeciso.
Saí do encontro
noturno com meu amigo Senha quase que saltitando de contente pela Avenida Conde
da Boa Vista até a minha casa na Gervásio Pires.
Esta noite dormi
mais descansado e crente que meus pais receberiam de bom agrado a minha decisão
como fato consumado, um agrônomo, o primogênito deles, depois viria um engenheiro
ou um medico.
Quem sabe, tudo
resolvido da melhor maneira possível à moda judaica na diáspora no "novo
continente".
As cores naturais
me voltaram à pele, meio tremulo e cambaleante fui dormir, tomei um calmante
para sossegar, coisa que normalmente nunca faço,
Vejam só que merda.
Até aqui a primeira parte "Escolher a carreira profissional"
Todos os direitos autorais reservados.
Cuidem com os créditos.
Até aqui a primeira parte "Escolher a carreira profissional"
Todos os direitos autorais reservados.
Cuidem com os créditos.

Eng I. Coslovsky São Paulo
ResponderExcluirDISSE:
Muito bom, Paulo. Quando vem o resto, a parte 2 ???
Um abraço
Israel
Eng.I. Rosenblatt Recife
ResponderExcluirDISSE:
\\\Vc iria se surpreender com a UFRPe hoje em dia. é um mundo de cursos e de prédios de um e do outro lado da rua que vai de Dois Irmãos até a Caxangá. atende estudantes do mundo inteiro, de graduação a doutorado. é reconhecida como centro de excelencia e não só de agronomia e veterinaria. antes ela ficava no fim do mundo, hoje o mundo se ligou a ela, tem muitos condominios em volta e o transito é pesado na área, inclusive pq a BR que liga o Sul ao Norte passa pertinho.
Eng I. Rosenblatt Recife
ResponderExcluirDISSE:
Na verdade a orientação e expansão agronômico-veterinária tem sido um movimento globalizado e com a internet tudo ficou facilitado. E como o Brasil se tornou ha mais de 30 anos um dos principais exportadores agrícolas do mundo, com safras recordes ano após ano de produtos transgenicos que aguentam pragas e agentes nocivos, através de grandes investimentos de empresas de grupos internacionais, a nova geração tem focado muito nessas áreas e o numero de faculdades expandiu para todo o interior. O problema tem sido encontrar bons professores que queiram ensinar e morar nesses lugares, mas até o interior hoje tem de tudo, de prédios a shopping centres, de Caruaru a Petrolina... A UFRPE tem hoje mais de 40 mil alunos eu acho, e tem cursos de quase tudo. Penso que hoje não é mais um problema pro aluno judeu chegar em casa e dizer pros pais que quer seguir essa carreira... Os tios da Aronita eram agrônomos famosos, Adolfo e Sarita Krutman. ele, ainda está vivo mas pouco lúcido, por exemplo, criou conservantes químicos e naturais para toda a linha de produtos de sorvetes e sucos da Maguary-Kibon Nordeste. Lembro tb. de Mote Kreimer já falecido que era muito chamado pelas usinas de açúcar para controlar níveis de acidez dos terrenos e outras coisas.
Dr Gilberto Krutman São Paulo
ResponderExcluirDISSE:
Olá Paulo
Èramos muito jovens na época e também atualmente para decidirmos por uma profissão.
Também passei por esses dilemas e finalmente, como tinha uma tendência humanitária e até certo ponto sob a influencia do primo Salomão Kelner estudei Medicina.
Acontece que naquela época não consegui entrar na Medicina da Federal e, isso me abalou muito pois quem entrava na Ciências Médicas era considerado um estudante de 2ª classe. Acontece que o tempo demonstrou que não era essa a realidade pois, alguns colegas da Ciências Médicas tornaram-se Titulares de diversas cadeiras da Medicina Federal.
Eu, por exemplo, migrei para São Paulo, me especializei e cheguei a ser o diretor do Departamento de Anestesia do Hospital do Câncer e depois Diretor Clinico do mesmo Hospital. Além disso participei na formação de uma associação de Hospitais de Câncer de todo país, que até hoje existe em plena atividade.
Enfim, o inicio é difícil mas vc também demonstrou sua capacidade e é um vencedor.
Abs
Gilberto
Dr. M Rosenblatt Hadera-Israel
ResponderExcluirDISSE:
Eu gosto de todas as suas croniquetas infantiloides (como voce chama). Nao ha’ necessidade de dizer isso toda vez que voce manda mais uma.
Me diga uma coisa: dizer a um agronomo “Va’ plantar batata” e’ insulto ou elogio??? Hahahahaha
Dr. Ary Rushansky Israel
ResponderExcluirDISSE:
Excelente descrição. Vivi todos os personagens citados e o sentimento de suas famílias. Aguardo a continuação
Ary
Dr.I. E. Lederman Israel
ResponderExcluirDISSE:
Paulo, estou esperando pelo 2o. capitulo.
Um abraço,
Helinho